O que leva uma pessoa a dar um jeito de sair do trabalho ao meio-dia de uma sexta-feira, enfrentar cerca de oito horas de estrada com todo o pesadelo logístico que é a preparação para uma corrida de aventura ? A resposta é, certamente, a expectativa de alguma coisa muito boa...
E foi assim que fomos, saímos de Curitiba na verdade em dois carros, pois nem todos na equipe conseguiram sair no horário previsto e acabaram saindo quase 19:00 para chegar em Ilhabela às 02:00 ! Fomos para essa prova eu e os três irmãos: o Paulinho (Paulo Bruning), o Nego (Carlos Bruning) e a Karina (também Bruning !) Eu estava no primeiro carro e fizemos uma viajem relativamente tranqüila até o local da checagem, na Arena da Praia do Perequê. Após a checagem, fomos para o hotel acertar os últimos detalhes antes da largada e descansar um pouco. Com o mapa em mãos, pudemos ter uma idéia do que viria pela frente. A prova teria um desnível considerável em praticamente todo trecho.
Na manhã da largada, o sol forte deu uma trégua, mas o tempo estava quente assim mesmo. Por volta das 10:00 saímos correndo com todas as categorias pela cidade e, já no caminho para o PC3 a coisa começou a complicar. Víamos equipes correndo em várias direções, saindo do mato, voltando por trilhas, enfim, todo mundo perdido ! Resolvemos insistir numa trilha bem pouco batida, com cara de bem abandonada mas que batia com a direção que seria a certa e, depois de uma hora e meia escalaminhando num ritmo bem lento, chegamos no PC3 exatamente 1:30 atrás dos líderes da prova. Nesse trecho iniciava-se um dos mais bacanas da prova: um canyoning numa laje com uma lâmina d’água que formava pequenas cascatas, mas que também oferecia o perigo de uma queda que, no mínimo, ia dar o que falar. Um escorregão ali poderia tirar qualquer um da corrida. O visual era privilegiado: dava prá ver praticamente todo o lado oeste da ilha, com o porto e o continente do outro lado. Realmente um privilégio!
Saímos dali para a canoagem e entramos na água ainda em segundo, mas bem atrás do primeiro lugar. Fizemos um remo bem pobre no ritmo, embora o vento e maré estivesse ajudando. Saindo dos caiaques, começamos a pedalar em direção ao rapel, numa subida que saia do zero à 200msnm em quase dois quilômetros, coisa prá tatu subir de costas !
No rapel, eu de sapatilha de bike levei um escorregão justamente na hora que a via saia para um negativinho e prendi minha mão entre a corda e a pedra. Nessas horas que a gente dá o verdadeiro valor para a luva, pois, mesmo com ela, meu dedo indicador abriu e começou a sangrar muito. Se eu estivesse sem luvas ou tivesse feito um movimento de pendulo teria amputado o dedo na pedra. Com a adrenalina da correria, não senti dor e o sangue coagulado ofereceu uma proteção natural ao corte, como uma capa rígida. Foi no volta às bikes que pudemos perceber o quanto nosso ritmo lento havia comprometido nossa situação. As equipes que estavam atrás estavam chegando em pelotão !
Até tentamos apertar um pouco mais, mas na saída do PC12 para o PC13 foi que percebemos que todas aquelas subidas que tínhamos passado até então não eram absolutamente nada em relação ao que estava à nossa frente. Foi o trecho mais pesado da prova, estávamos com menos de 10km pedalados e parecia que tínhamos pedalado 200km, não rendia nada, o ciclo nem marcava e o morro parecia crescer à nossa frente a cada passo que dávamos carregando as bikes.
Começou a anoitecer quando estávamos a procura do PC15, ultimo antes da chegada. Nesse ponto, passamos por um trecho urbano e a recepção da população por onde parávamos para navegar marcou muito: as pessoas paravam carros, moto, saíam até de suas casas e vinham perguntar se a gente queria alguma ajuda, se eles podiam ajudar de alguma forma, os vizinhos berravam “passou uma galera por ali! Corram que vocês alcançam !" Em nenhum outro lugar onde já corri vi coisa igual ! Realmente o povo da ilha entrou para o nosso TOP10 encabeçando a lista ! rs
Quando atravessamos o pórtico a Vanessa veio me perguntar o que eu tinha achado da prova. Lembro que respondi : “nasce um monstro !” Claro que problemas e imprevistos ocorrerem, ainda mais na primeira edição de um evento, mas a essência do negócio cumpriu o que prometia: uma prova dura, com navegação e um visual inesquecível.
Foi o tipo de prova que a gente sofre, mas com respeito, onde os perrengues existem e, quando você acha que vai ficar mais tranqüilo é que o bicho começa a pegar. Para nós da Guartelá, a navegação tem que fazer parte de todo o trajeto, em todas as modalidades se possível. Por isso gostamos bastante dessa corrida e, como disse no começo desse release, nossa expectativa era de encontrarmos uma coisa muito boa quando saímos de Curitiba.
Graças à Deus, essa expectativa foi atendida e posso dizer que valeu a pena !
Certos de sua atenção,
Obrigado!
Alexandre Carrano
Equipe Guartelá
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