Nunca é tarde para começar!
Pode um homem de 54 anos começar a participar de corridas de aventura sem ter experiência anterior ? Deve ! Essa foi a sensação que tive ao cruzar a linha de chegada do Desafio de Verão 2010, realizado em Nova Petrópolis/RS, nos dias 6 e 7 de março. Faltando poucos dias para completar os 54 anos de vida, decidi encontrar meus (baixos) limites físicos na categoria Aventura. Não foi fácil! Não a prova - cansativa, mas atraente - mas sim encontrar gente que se dispusesse a abandonar as metas de vitória para acompanhar um estreante sem experiência, mau ciclista e que caminha mais do que corre.
Tentei com um, me insinuei para outro, ofereci pagar tudo para aquele, dei uma indireta para aquela. Achar a pessoa ou os colegas certos parece ser o segredo para começar nesse esporte. Felizmente, o Jandir Bradbury (Danda Bike) tem mais paciência que que aparenta e a dupla estava formada. Por consciência da ruindade, optei por convidar mais dois (Ronaldo Santos e João Ritzel), já que três empurram melhor do que um. Decisão acertada! Deus deve ter tido pena deles e, na véspera, Jandir acabou sendo sorteado com um duck Zefir, o grande prêmio do evento.
A paixão começou ao fazer apoio em prova acontecida em Santa Maria (Desafio do Aço), em 2009, onde pude constatar que as corridas de aventura ainda tem um componente que praticamente acabou nos enduros de moto: a navegação! Competindo em enduros de regularidade desde 1988, vi desaparecer a importância do navegador a cada ano, tanto pelas corridas sempre na mesma trilha quanto a vinda de sistemas computadorizados completos, que chegam a apontar, no segundo exato, quando dobrar para esquerda ou direita.
Na aventura, saber onde está oferece tanta chance de vitória quanto a parte física e isso me animou a buscar um novo esporte, mesmo que tardiamente. Acompanhei a Servajão/Danda Bike no Xokleng 2009 (em Araranguá/SC), onde decidi seguir os competidores da Aventura, extraoficialmente e sem parceiro. Solo, pude observar que as provas de estreantes são muito leves e qualquer um pode (e deve!) experimentar. Com um pouquinho de prática, a etapa superior (Aventura) é garantia de visuais incríveis, boa dose de adrenalina, exercícios musculares, cãimbras suportáveis e um prazer que se prolonga pela segunda, terça, quarta etc (ainda não acabou!).
Bom e os treinos? Tentei acompanhar Jandir, Jairo (irmão), mais a Luiza Saft e o Toninho Pereira, esses da Servajão, em percursos de bicicleta ao redor de Novo Hamburgo/RS, mas as diferenças pouco diminuiram. Saber seus limites, suas deficiências é fundamental para terminar uma corrida e caminhar enquanto os outros pedalam pode ser feio, deprimente, mas é melhor do que "pifar" em trechos pesados e sair da corrida prematuramente. Sou um "pangaré" com menos de dois anos de bike, pedalando leve em alguns finais de semana. Caminho mais do que pedalo, caminho mais do que corro, mas, pelo resultado da corrida, serve para chegar ao final das competições. Falta falar do duck e do rapel. Esse último parece impensável, já que o medo de altura, ou melhor, de ficar pendurado numa corda, sem os pés no chão, bate recordes mundiais de covardia. Já a água foi uma grata surpresa pois a remada na Aventura foi até curta e "curtida" por quem apenas havia remado uma vez na vida.
A primeira vez a gente nunca esquece
Resumindo a participação da Sulbra/Danda Bike no Desafio de Verão 2010, posso contar que saímos entre os últimos, já que caminhei 80% do primeiro trekking pelo desconhecimento total da capacidade de chegar ao final. Era 6h da manhã e algumas pessoas já se levantavam para trabalhar. O peso da mochila fazia diferença (por que a gente pouco treina com mochila carregada?). Ao passar pela primeira transição, a diferença de 25 minutos mostrou a baixa velocidade da caminhada. Contudo, por desígnios divinos, a remada foi vigorosa e pouco atribulada e logo começamos a encontrar concorrentes.
Encerrada a parte do duck (com impressionante recuperação), veio mais trekking, agora em direção ao temível Ninho das Águias. Mais de 2 km de subida íngreme. Bom que já havia passado de moto, muitos anos atrás, e a experiência ajudou na percepção de que é preciso encontrar seu ritmo (cardíaco). Passo-a-passo, o subidão foi vencido.
Lá em cima, Danda, João e Ronaldo pacienciosamente aguardavam o velho. Pegamos as bikes e dá-lhe descidas fortes até o rapel, onde o Danda (Jandir) fez a sua parte. Mais um trecho muito técnico de bike, daqueles onde a gente joga a magrela pra baixo porque não passa o corpo inteiro no buraco. Um pneu furado (João) foi rapidamente consertado e voltamos para a prova. No PC, a surpresa da quarta posição entre os 7 quartetos - tem gente perdida!
Muito empurrabike, paradas estratégicas para reabastecimento, acertos na navegação e o terceiro lugar surge inesperadamente no último PC. O valor da parceria começa aparecer ao final do desafio, quando uma perna exibe sinais de exaustão. Alternando-se nos últimos 5 km, João, Danda e Ronaldo empurram o pseudociclista já no trecho calçado que antecede a chegada. Terceiro lugar !!! Pódio para a Sulbra/Danda Bike !!!
Dizer o quê? Devia ter começado antes! Se voce está pensando em começar nessa aventura, vá bem acompanhado, treine um pouco e nem pense em desistir. Chegue tarde, mas siga e fique com as pernas doloridas e a cabeça leve por um bom tempo.
Marcus Copetti
futuro corredor de corridas de aventura
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