Lá estávamos nós alinhados de novo debaixo do pórtico de largada... 14 de Agosto, terceira etapa do CBCA, e desta vez conseguimos repetir a equipe, Eu (Fernando), Luciano, Clóvis e Cris, o que já é um bom começo. Um solzinho de 35graus, algo brando pra região, iluminava o nosso local de largada, a Ilha do Fogo, uma ilhota do Velho Chico que fica exatamente entre as cidades de Juazeiro-BA e Petrolina-PE, e que confesso, me deixou azedo de curiosidade pra saber a que estado afinal pertence, já que o divisor dos estados é o rio ? Em breve Guerra me responde isso no msn...
A situação era a seguinte: Makaíra na primeira posição do campeonato e nós e a Aventureiros do Agreste, empatados em segundo, e as outras equipes com uma pontuação sem muitas ameaças. A missão era simples: ganhar da Makaíra ou se der algo errado, pelo menos chegar na frente da Aventureiros. Vamos nessa moçada marrenta. EXTREME.
Começamos com uma corridinha por cima da ponte em direção a Petrolina, com a cena ridícula de um monte de marmanjo, que se diz atleta, carregando aqueles colchões de piscina por causa de uma natação de 2,5km a favor do rio. Como diria o Silvio Luis, "pelo amor dos meus dois pimpolhos", vamos acabar com isso meu povo. Fico imaginando a TV filmando uma "duríssima" corrida de aventura e aparece os caras com aqueles troços inflados verde limão, amarelo com estrelinhas, passando na tela. Façam-me uma garapa...
Mas, deixemos o desabafo pra trás e voltemos a corrida. Chegamos no PC1, transição para a natação juntos com a Makaíra e um pouquinho atrás da Insanos, que já tinha entrado no rio. Prende os tênis nas mochila, coloca dentro das calças, faz qualquer coisa pra não deixar no pé e não travar a panturrilha no começo da prova. Água abaixo, gelada, linda e limpa, e chegamos de volta a Ilha do Fogo junto com a Makaíra.
Na hora de dividir a equipe, nos atrasamos um pouco e eles entraram nos caiaques primeiro. Quando a minha dupla finalizou o rappel tivemos que ficar esperando um pouco nossos companheiros nos resgatarem. Faz mal não, tá só começando.
Subimos nos caiaques e remamos para a margem de Juazeiro pra passar no PC 3, e aí aconteceu algo bizarro. Pedi o camel da água e me jogam o de Luciano. Não tinha bebido água há mais de uma hora, desde a largada, e tava seco por dentro. Fui direto na golada e quase tive um troço... o miserável pediu pra alguém limpar o camel dele e esse alguém - que por razões de pura amizade eu vou acreditar que não foi ele mesmo - deixou o produto dentro e tacou água em cima! Se era detergente, soda cáustica, Milton, ou veneno de rato eu só vou saber depois de quinta, quando fizer a endoscopia. Resultado, comecei a botar tudo pra fora instantaneamente, os olhos começaram a arder, eu pedia água pra eles e eles me davam gatorade. Fiquei alucinado e me cagando de medo de morrer por envenenamento num vacilo imbecil.
Mas como extremo é extremo mesmo, eles não me deram nem chance de falar. "Rema que passa", diseram, e depois de uma 5 horas não é que passou mesmo... e lá fomos nós pra um remo bem sacana contra o Velho Chico por 12km.
Batemos o PC4 numa ilha a 12min da Makaira e 20min dos Insanos, e nisso a Gantuá e a Aventureiros tinham encostado um pouco. Apertamos um pouco o passo e chegamos no PC5 uns 5 minutos na frente da Gantuá e sem sinal da Aventureiros. A esta altura estávamos a 20 min da Makaíra e uns 30min da Insanos.
Começamos a caminhar, porque eu precisava encher a barriga com alguma coisa, no mínimo pra vomitar o que eu tinha engolido e o troço fazer um estrago menor no meu estomago. Entramos no asfalto e logo a Gantuá apareceu num trotinho, que rapidamente a nossa maratonista se encarregou de mostrar a eles como se faz, hehehe. E fomos em busca do PC 6 que era óbvio, mas ruinzinho de chegar. Tivemos o aperitivo do que seriam os PC's 11 e 12, caatinga na pele, literalmente na pele. Batemos o PC em terceiro e nada da Gantuá. Makaíra e Insanos, juntos a 35min. Pausa para Luciano posar de escalador pro Togumi, e lá fomos caatinga adentro buscar a estrada que levaria ao PC7.
Tudo tranquilo, até que pegamos a esquerda de um canal de irrigação enorme, onde tive a brilhante idéia de seguir pela esquerda mesmo pra ganhar tempo. Até a hora que percebemos que não dava pra saltar o canal. Putz... Volta um pouquinho e passa por debaixo da estação de tratamento, e a Gantuá encosta, grrrrr.
Seguimos juntos num trekking para o PC 7 e batemos juntos a 38min da Makaíra e Insanos. Pegamos a trilha certa e vimos a Gantuá dar um vacilo na navegação, fomos em frente e... tcharam a Insanos... Perdida ou quebrada, seja o que for, a onda de adrenalina se encarregou de deixar todo mundo zeradinho, e tome correr, hehehe. A mente é foda mesmo.
Passamos por eles sem reação alguma e seguimos até o AT para as bikes, chegando lá com uns 10min de vantagem da Gantuá e 39 min atrás da Makaíra. Provavelmente fizemos a transição mais demorada de todos, ficamos quase 30min comendo e bebendo o que podia e não podia. Usamos esta estratégia porque não teríamos onde reabastecer no meio da Caatinga que viria pela frente, e resolvemos não arriscar e principalmente, não precisar parar, já que a região é um calor insuportável de dia e um frio do cacete de noite.
Saímos em sétimo e pegamos um asfaltão por 17km, onde sentamos a pua e chegamos em segundo de novo no PC 9, passando por uma galera ao longo do caminho, inclusive da Aventureiros, que chegou logo atrás da gente no PC 9.
Uma pausa breve pra Luciano se recompor e partimos bem calminhos para o que seria a pior parte da prova em termos de navegação. Fiz um bom trabalho e acertei de prima o PC 10, tirando 10min de vantagem da Makaíra. Fizemos a transição deixando as bikes no caminhão e partimos para o segundo trekking e a parte cruel da prova.
Caímos muito o ritmo no meio da trilha para o PC 11 e a Gantuá aparece das cinzas num trekking alucinante, que com muito esforço conseguimos acompanhar. Batemos o PC11 juntos e partimos juntas para atavessar uma caatinga onde a trilha que tinha no mapa era fruto da marcação do GPS, nada mais. Existiam no mínimo milhares de trilhazinhas formadas por pequenos rebanhos de bode e cabra. A vegetação continha uma planta chamada favela - origem do termo favela que conhecemos - que possui um espinho - acúleo - que solta uma pequena quantidade de uma toxina urticante.
Partimos as duas equipes com umas 4 bússolas marcando o azimute, que hora pendia pra esquerda, ora pra direita, mas sempre no mesmo sentido, e inacreditavelmente batemos em cima do PC12 depois de umas 2:30hs de caminhada sem qualquer tipo de referência, só o azimute.
Partimos para o PC13, que era a transição para a segunda perna de bike. Quando chegamos, Luciano estava bem debilitado e pediu um tempo pra descansar. A essa altura estávamos a 1:40hs da Makaíra e já sabíamos que só se acontecesse uma eventualidade conseguiríamos passá-los.
Nesse momento tivemos que engolir a difícil imagem de ver a Gantuá sair e nós termos que administrar uma baixa na equipe por um tempo. Paciência, lembram do nosso segundo objetivo ??? Pois é. Luciano, você pode descansar o tempo que quiser, mas se a Aventureiros mostrar uma lanterninha ali na frente eu te levanto no chute, se for preciso.
Passados 20 minutos ele mesmo levantou de boa e partimos para 35km de bike. Como que por encanto Luciano começou a pedalar a 21, 22km/h na trilha e tive que administrar entre acompanhar ele e esperar os outros dois, que por causa do repente de Luciano começaram a sentir o desgaste da prova. O resultado é que batemos o PC14 a 8 minutos dos caras, mesmo parando mais 10min pra Cris se recompor e tendo que trocar um pneu furado da minha bike.
Chegamos na entradinha do PC15 e quem aparece na nossa frente ??? A Gantuá. Não foi preciso mais que um olhar entre a gente pra descambarmos das bikes, prendermos tudo e saírmos a milhão pra natação. A Gantuá ainda tentou esboçar uma reação, mas a adrenalina da gente já tinha se espalhado pela corrente sanguínea.
Batemos o PC16 e soubemos que o PC17 tinha sido cancelado, agora era só remar até Juazeiro e correr 2km até a chegada.
Braço pra dentro do rio e partimos a favor da corrente remando numa velocidade que parecia rafting. Só relaxamos o ritmo quando vimos a ponte e olhamos pra trás e nem sinal da Gantuá. Aí foi correr pro abraço, quer dizer pra foto do Togumi, e comemorar a segunda posição com gostinho de primeiro.
Parabéns a Makaíra pelo primeiro lugar e agradecimentos mais que especiais as empresas Datageo Informática e EcoFitness - Moda Fitness pelo apoio que nos deram acreditando no nosso potencial. Agora é esperar a próxima pra fazer melhor ainda.
Fernando Severino
Extreme/Datageo/EcoFitness
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