Meu Desafio dos Sertões começou muito antes de pensar em correr. Fui convocado por Walter, da Insanos Millennium, para ajuda-lo em algumas coisas na organização da prova. O trabalho primoroso de Walter, Daniel e de sua equipe, incluindo ai os super competentes da Caatinga Trakkers, fluiu de uma maneira tão organizada que pouco se precisou de mim. Cheguei a cogitar mais uma vez estar somente no lado negro da força, até mesmo porque a natação prevista não me seduzia de jeito nenhum. Concordo com Fernando, da Extreme, que deviam abolir aquelas bóias de piscina na prova, vou além, deviam abolir era a natação.
Bom, quando já tinha convencido Walter que ajudaria muito mais ao seu lado, recebi a irrecusável proposta de minha amiga de longa data, Marisa, para correr com eles na Giramundo, de Feira de Santana. Há muito eu vinha prometendo a ela, Geri e Bené que correriamos uma prova juntos, aliás prometia até que ia treinar em Feira, o que acabava não ocorrendo por vários motivos. Tinha ali a chance de realizar uma vontade minha de correr com excelentes amigos.
Combinamos que pelo pouco tempo disponibilizados por todos ao treinos, nossa corrida seria pura diversão, mas tentariamos sempre fazer o nosso melhor.
Cheguei antes em Juazeiro, cumpri minhas últimas funções de auxilio a Organização, entregando os belissímos brindes que meu patrocinador DEUTER enviou para a premiação, reencontrei uma da figuras mais sensacionais da corrida de aventura no Brasil, Togumi da Adventuremag, conversamos muito sobre o futuro do esporte, trabalhei o mapa e fiquei aguardadando a largada.
A largada em uma ilha no meio do São Francisco, entre Juazeiro/BA e Petrolina/PE foi de trekking, onde após subir a ponte, correriamos uns 4 km e entrariamos na natação para fazer o caminho de volta por água. Marisa sentiu um pouco a corrida, Geri ficou com ela e eu e Bené adiantamos cortando o caminho e chegando junto num bolo de equipes mais atrás.
Fizemos o trecho tão temido por mim de natação, mas superaramos bem e chegamos ao AT para fazer rapel e pegar o caiaque para um remo de 12 km contra a correnteza. Tentamos inicialmente eu e Bené e depois mudamos para Eu e Geri/Bené e Marisa. Subimos o rio com muito esforço e a prova começou a nos cobrar a falta de treino de cada um de nós. Eu sofria mais, outros sofriam menos, mas chegamos ao PC5 depois da ilha do Rodeador junto com a dupla da Raso da Cata que tinha se separado momentaneamente e umas 2 duplas.
Saimos para o trekking, vimos o Raso dando uma corridinha, pilhada por Tatiana, minha companheira de outras provas, e seguimos a uma certa distancia. Batemos o PC6 em cima de um morrinho praticamente juntos e a 12 minutos da R2. Sei disso pela preocupação e disputa saudável que a galera do Raso tem com eles, sempre um marcando o outro, sei que depois tem muitos jantares nesta disputa.
Resolvemos fazer um caminho alternativo para o PC7, dando uma varada no sertão cheio de Favelas* e depois de muito riscos na minha perna e uma navegação precisa de Geri, chegamos ao PC pelo lado esquerdo do canal de água, que para nossa sorte tinha uma pinguelinha para atravessar.
Fomos em direção ao PC8, AT para pegar as bikes e já não vimos mais a Raso e mantiamos uma pequena distancia da R2, ou seja, para quem não tinha condições de brigar lá no primeiro pelotão, criamos uma pequena disputa com quem estava imediatamente a nossa frente e fomos já meio debilitados pelo intenso sol que pegamos a tarde em direção as Bikes.
Pegamos a bike, ficamos sabendo que a Insanos Millennium tinha desistido e saimos para o PC9 fazendo a opção mais longa, porém toda de asfalto, não sem antes ter um pequeno problema de acumulo de tranqueira para levar, tipo pé de pato, colete, etc, etc. que fez com que minha calça, que estava na mochila, se engatasse na corrente e dando uma trabalheira danada para tirar. Devo uma calça a Insanos, além de ficar pensando que ela iria me fazer falta no próximo trekking, pois já tava com minhas pernas castigadas. Bem feito, quem mandou eu imitar a galera da Extreme e ir de bermuda.
Resolvido o problema, que foi picotar a calça toda, seguimos em linha com Geri puxando a fila, Marisa, Bené e eu fechando. Fizemos um pedal razoavelmente rápido preocupado com os cortes e encostamos de novo na R2 e ai aconteceu o que a gente menos esperava...
Do PC9, em Junco, para o PC10, em Favela*, era um pedal rápido de 4 km e que pensavámos que não teria outro corte, por isso relaxamos. Comemos peixe, conversamos muito, vesti a calça que mais parecia a perna do Hulk, toda esfarrapada, e seguimos desatentos, lentos e confiantes demais, o que causou uma sucessão de pequenos erros que ia se acumulando no intuito de acertar mais rápido. Até que resolvemos voltar bem próximo do PC9 e recomeçar tudo de novo. Não tivemos vergonha de usar um expediente muito usado nas corridas de aventuras pelo Brasil. Teve equipe no Ecomotion que até filmou, o "moço me ajuda" onde fica Favela*? o perguntecion, que prontamente entendido nos fez ir direto ao PC10, onde encontramos um Organizador de provas faminto e saqueando nossas mochilas. Walter e Neto estavam lá e nos informaram que estávamos cortados. O corte era às 23:00 e saimos às 21:30 do PC9 para fazer 4 km de bike e levamos 2 horas, rs.
A partir deste momento, não podendo mais alcançar ninguém a nossa frente e sabendo também que ninguém nos alcançariam, e que baseado no combatido regulamento da FBCA por mim em diversas ocasiões, equipe desistente ou com a prova completada com corte dá no mesmo - conta até o ultimo PC alcançado - , chegamos a pensar em desistir, principamente pela última perna de natação de 4 km que me dava arrepio, mas que depois de um consenso da equipe, resolvemos descansar um pouco e seguirmos a prova para não sermos "desistentes".
Com o corte nos restou pedalar até o PC15 e depois com mais um corte de segurança, a temida natação não foi necessária e chegamos em Juazeiro pedalando e com festa dos presentes.
Foi muito bom correr com a Giramundo, aliás, estou ficando especialista e correr com outras equipes e outros parceiros, mas sem nunca abandonar a Olhando Aventura que é caso de amor.
Geri fala que está começando na navegação, mas eu que já tive o prazer de correr com grandes navegadores como Pedro, Jovaldo, Gaia, Mauroba, Luciana, Luiz e às vezes eu mesmo navegando, chego a conclusão que ele não está começando, ele está pronto e que o vacilo que demos, aliás o único, entre os PC's das bikes foi por pura auto-confiança e relaxamento, mas servirá de um enorme aprendizado. Valeu, a navegação foi 10!
Sobre Marisa, sou suspeito de falar. Minha amiga, que conheci quando era adolescente lá em Minas Novas (MG) e que a aventura nos proporcionou este reencontro aqui na Bahia, é uma parceirassa. Vejo o carinho e o respeito que muitos corredores tem por ela, o que me enche de orgulho por te-la indicado este esporte, e o fato dela estar sem treinamento só me ajudou a chegar ao fim. Prometo treinar muito para te acompanhar em uma prova no speed.
E Bené, companheiro de rabeira na equipe, mas por minha causa. Só ficamos na frente na corrida inicial, depois pacientemente me fez companhia no fim da fila da bike, do trekking e do descanso, porque fiquei sabendo que meu ronco incomodou ele um pouco. Foi um grande prazer correr com você.
Por fim, Marisa me fez prometer que eu teria que escrever que a Corrida de Aventura está perdendo alguns participantes e o Cicloturismo ganhando outros. Como prometido escrevi, mas com certeza isso é MENTIRA, quando é mesmo a próxima ?
* Favela - origem do termo favela que conhecemos - que possui um espinho - acúleo - que solta uma pequena quantidade de uma toxina urticante. Mas você sabe porque conhecemos os morros do Rio por Favelas?
Durante a Guerra de Canudos, no sertão da Bahia, as tropas federais faziam seus acampamentos de ataque em morros que rodeavam Canudos e repletos de favelas (plantas). No fim da guerra o Exército deu baixa em uma quantidade enorme de soldados, que sem seus soldos e sem dinheiro para morar, começaram a construir suas casas humildes em morros que rodeavam a cidade do Rio, prontamente apelidado de Favelas por associação às condições encontradas no sertão pelos, agora, ex-soldados.
Corrida de Aventura também é cultura.
Arnaldo Maciel
Giramundo nesta prova - Ohando Aventura sempre.
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