Ano: 2016

Relato de Arnaldo Maciel (Olhando Aventura/NP5) na XK Traverse Mendoza 2016 – Adventuremag

Viagem de Ida – Minha primeira corrida de aventura internacional começou com a postagem/convite do amigo Valmir Schneider, da Papaventuras (RS), que queria organizar um ônibus para levar o máximo de atletas para vivenciar esta experiência de correr uma prova em outro País (Argentina) numa prova bem organizada (XK Race) e em lugares fantásticos, Cordilheira dos Andes.

Logo de cara dei o ok e comecei a procurar um parceiro. Primeiro o Gustavo, depois o Ricardo, afinal sendo argentino poderíamos ter uma vantagem, e por fim me inscrevi como solo na prova menor de 150 km, aguardando a possibilidade de correr com a Larissa Schneider ou mesmo encarar sozinho o desafio. Mas depois Valmir me apresentou o Vagner, atleta do RS que acertamos correr em dupla.

Arrumado os equipamentos obrigatórios – que não são poucos e muitas vezes nunca usados por mim – parti para Porto Alegre, onde embarcaria no ônibus que nesta altura, entre idas e vindas, estava fechado com 20 pessoas. Apenas 2 passageiros não participariam das provas, o restante estava inscrito em 3 quartetos na prova de 300km (Papaventuras, Kaaporas Deuter e AMS), 1 Solo (Daniel Romero) e 1 Dupla (Olhando Aventura na de 150km) e Larissa, Lisi e Tiago Perez na Conquista Del Cumbre, uma corrida de montanha que seria no mesmo local.

Saímos de POA por volta de 10hs de quinta-feira com destino a Argentina bastante animados e sabendo da longa jornada que enfrentaríamos pela frente, amenizada pelas conversas para colocar o papo em dia dos que há muito não se viam e apresentações aos novos amigos.

Chegamos a Uruguaiana na fronteira para entrar na Argentina e levamos muito tempo para os trâmites da aduana, entre apresentação de documentação e registro das bikes. E lá infelizmente sofremos uma baixa na nossa turma. Por motivos burocráticos, Daniel não pôde seguir viagem e sua mãe, que o acompanhava também, não seguiu e retornaram a POA.

Com a possibilidade de utilização autorizada dos equipamentos dele, se decidiu com ajuda e insistência preciosa de Rose e anuência de todos que a Olhando Aventura passaria a ter a Larissa e Lisi como nossas companheiras. Uma bike a mais seria conseguida na Argentina.

Para mim foi uma grande felicidade poder correr com a Larissa Schneider. Na minha humilde opinião, será com certeza uma das maiores e melhores corredoras de aventura do Brasil em pouco tempo e nada melhor que poder fazer parte da história dela, seria sua mais longa e a primeira internacional.

Passamos por San Luiz, uma bela cidade do interior da Argentina, paramos para almoçar e chegamos no fim da tarde, quase noitinha de sexta-feira, em Mendoza para algumas compras, trocar dinheiro e seguir para Potrerillos, local da largada da prova.

Em Potrerillos ficamos alojados em cabanas previamente contratadas pela organização e nos dividimos em 05 grupos. Antes disto passamos pelo hotel da organização para pegar mapas, fazer o checkin, etc e jantar. Acabamos, pelo horário, só jantando. Nesta hora eu, como um quase baiano que vive em uma cidade que não se sente frio, já estava sofrendo com a baixa temperatura. Nada que incomodava muitos a gauchada.

Corrida – 1º Dia
No sábado, tudo pronto e fomos pegar mapas e estudar a prova. Nossa categoria seria 150km com um trekking de uns 20km entre pequenas serras, depois faríamos um rafting de uns 15km com guia e finalizaríamos o primeiro dia com uma bike de aproximadamente 40 km. Dormiríamos e largaríamos no dia seguinte para o restante da prova . Este primeiro trecho de trekking e rafting era exatamente igual ao das equipes que fariam 300km.

Acertei com Larissa que ela navegaria no trekking e eu na bike, aliás, grande acerto, pois ela foi impecável na navegação e na tomada de decisões de cortes nos caminhos e cortes na pele, pois invariavelmente cada corte nos jogava em trilhas cheias de espinhos e eu tive muito trabalho para acompanhá-la.

Foi nesse trekking inicial que a “equipe” começou a tomar forma e suas funções serem definidas: Larissa navega; Vagner vira o carregador de mochilas, porque logo entreguei a minha; Lisi a animação e incentivo; e eu sofrendo, mas tentando acompanhar e não atrapalhar o ritmo.

Batemos a AT do rafting com direito a sprint final e ultrapassagem de umas 3 equipes, que nada adiantou pois todos tiveram que esperar os botes retornarem para descer o rio, não havia desconto de tempo.

O rafting foi uma história a parte. Na nossa hora de escolher vi um bote com uma GoPro e logo corri para ele, já que vamos nos divertir, porque não umas imagens. Depois subiram 2 jornalistas meio fora de forma para completar os seis que desceriam o rio Mendoza.

O bônus seriam as imagens que até agora não consegui e o ônus foi descer o rio com estes dois “malas” que nem remavam, nem ajudavam e atrapalhavam e agora nem sei se filmavam.

Muita água gelada na cara e muita diversão nos comandos de “adelante”, “stop”, etc. Descemos o rio sem nenhum caldo e nem viramos, graças ao bom guia que se chamava Marco, que descobrimos ao perguntar em portunhol: “Como se chama este rio?” e ele: Marcos, meu nombre és Marco, deixa para lá e vamos remar.

Após o rafiting fizemos mais um trekking plano até o hotel junto com dois atletas da Kaaporas Deuter, Luis e Batavo, já que os outros dois, Beta e Jonas ainda teriam que fazer uma canoagem de 20 km no belíssimo lago de cor azul que margeia Potrerillos.

Chegamos de volta ao hotel AT para pegar as bikes e sair para um pedal de uns 40 km com 4 PCs. Larissa continuou navegando e eu passando as distâncias. Um errozinho inicial nos custou alguns minutos e logo acertamos e começamos a subir, subir e subir. Cara, como subimos. Encontramos em um trecho com a Papaventuras, batemos o PC da caixa d’água juntos e seguimos até uma localidade chamada Las Vegas, onde seguimos nosso caminho.

Neste momento eu já estava exausto, aliás, tirando o Vagner, as meninas também estavam muito cansadas e para piorar, minhas luzes da bike começaram a “dançar” na minha frente, talvez por conta do sono ou até mesmo de um comprimido que andei tomando, mas não era cafeína e nem droga, rs.

Voltamos ao hotel embalados pela longa descida e um frio de rachar, com direito a cavalo cruzando a pista e dando susto e chegamos para finalizar o primeiro dia.

A menina da organização disse que muitas equipes voltaram sem pegar todos os PCs. Embora resultado não fosse nosso principal objetivo, fiquei feliz com nosso desempenho até ali.

Suplicamos ao maitre do hotel por uma comida quente e após dizer que a cozinha estava fechada, talvez sensibilizado por nossas caras de famintos, nos serviu 04 pratos de massa e coca-cola. Melhor impossível.

Agora era dormir as 03:00 e estar de volta as 7:00 para largar o 2º dia.

Resumo do dia da equipe: Vagner inteiro, Larissa cansada e assada, Lisi com joelho doendo e eu cansado, assado e com joelho doendo.

Corrida – 2º Dia
Depois de uma “excelente” noite de sono com um bastão de trekking cravado nas minhas costas, levantei assustado no sofá e vi que faltava 1:20 para a largada. Fui aos quartos e todos estavam super bem acomodados em suas camas e debaixo de cobertas.

Logo todos levantaram e quase tivemos a primeira baixa. Lisi com muitas dores nos joelhos, insistia em dizer que não queria continuar, mas uma dose de incentivo, uma promessa de ajuda sempre que necessário e um sinal divino em forma de “Tilex” foi o suficiente para convencê-la que o melhor estava por vir.

Relargamos às 7:00 de bike em direção a Vallecitos, uma estação de esqui que ficava a uns 24 km, onde deixaríamos a bike para fazer a tão desejada e esperada alta montanha. Saímos de Potrerillos, que estava a 1.288 mts, e chegaríamos de bike no AT com uns 2.800 mts ou seja, só subiríamos o tempo todo pedalando. Até a placa que indicava que faltavam 12 km fizemos um pedal legal, média baixa, mas satisfatória, o que me fazia crer que em umas 3 horas estaríamos em Vallecitos. Enganei feio. Foi exatamente após esta placa, onde pegamos uma estrada larga de terra, que o pedal empinou.

As subidas em zigue zague para os carros já demonstravam que não tinha caminho reto. Para subir tinha que girar e ir rodeando a montanha. Neste momento nosso atleta de “carga” Vagner voltou a assumir suas funções, ora rebocando a Lisi, ora empurrando a Larissa e ora fazendo as duas coisas ao mesmo tempo e ainda voltando muitas vezes para empurrar minha bike ladeira acima, enquanto eu andava. O Vagner é muito forte, sorte minha ter corrido com ele.

Paramos numa cabana para comer umas empanadas feitas por cozinheiro brasileiro e fomos alcançados pela AMS de Miguel, Benito, Clara e Léo, que estavam no percurso completo e também estavam indo para Vallecitos.

Minhas previsões foram totalmente furadas e chegamos ao AT às 12:40, nada mais que mais de cinco horas pedalando. Pagamos nossa uma hora de para obrigatória, encontramos com a Papaventuras que estavam chegando e saímos para a temida e desejada alta montanha, teríamos 03 cumes para fazer e voltar ao refugio AT.

Mochilas mais pesadas por conta de todos os obrigatórios, saímos em direção ao 1º PC já nos preparando para o que estava por vir. Sem maiores dificuldades alcançamos o 1º cume (Andresitos – 3092 mts), fizemos a foto e seguimos em direção ao 2º cume (Arenales – 3.380mts). Aqui o Vagner, que estava sem bastão por opção, já estava com minha mochila e a de Lisi.

Subida muito íngreme e começamos a ter contato com uma paisagem mais bonita. Línguas de neve desciam das montanhas e o frio já era intenso e o ar rarefeito. Minha respiração estava bastante ofegante pelo ar e esforço, mas não sentia nenhum problema físico até ali, a não ser o cansaço extremo.

Alcançamos o 2º cume e ai veio uma recompensa que não consigo descrever com palavras. Feliz estou de ter podido ver o que vi, impregnar na minha memória aquela paisagem deslumbrante, a cadeia de montanhas da Cordilheira dos Andes, a cidade de Potrerillos lá em baixo com seu lago azul e o céu. Não me faltou vontade de chorar (e o fiz rapidamente e escondido). Meu Deus que local!

 

Que bom que tenha me dado esta oportunidade de ainda ter forças e vontade de ver o que vi e chegar até aqui. Que bom ter colocado esta equipe no meu caminho para me ajudar a chegar e contemplar o que vi, que bom ter me tornado um corredor de aventura, pois 12 anos atrás nunca me imaginaria num local como este.

Bom, passada a euforia e alegria, o 3º cume nos esperava. Cheguei a pedir baixinho para que ele fosse cancelado ou coisa assim, mas não aconteceu e lá fomos nós para conquistá-lo. Não sem antes saber que dentro de 15 minutos o PC do 2º cume se fecharia e ninguém mais subiria, ou seja, talvez seriamos a única equipe do Brasil e subir lá além do Tiago Perez que fazia a corrida de montanha. Nada mal para a resenha da volta.

Seguimos numa trilha mais íngreme ainda, com a temperatura caindo cada vez mais e com maiores dificuldades de progressão. Algumas paradas para buscar fôlego e um ar que teimava não entrar com abundância e ainda queimava a garganta, fomos passo a passo, pedra a pedra, chegar no 3º cume (Lomas Blancas – 3.655 mts)  onde a névoa (ou seria nuvens) já tomava conta de tudo. Não se podia ver nada, mas a sensação de dever cumprido e felicidade pela realização era enorme e partilhar isso com estas três pessoas que ficarão marcadas por toda a minha vida era sensacional.

Bom, como diz nas aventuras: “Quanto pior, melhor”, lá vamos nós descermos para o AT com a sensação de dever cumprido e segundo o fiscal, “Em uma descida de uns 30 minutos”.

Vagner me entrega a mochila e de Lisi e desce na frente. Larissa logo atrás e Lisi e eu em seguida, descíamos num ritmo bom até que Lisi se lembrou de um pedido da filha, Sara, para levar neve. Na impossibilidade, disso bastava umas boas fotos. Gritei para Larissa que iríamos parar para umas fotos e foi o suficiente para ao voltarmos em direção à trilha, não vermos mais nenhum dos dois. Nada que me apavorasse uma vez que a trilha estava bem batida.

Descemos até a trilha não estar tão bem marcada e caímos totalmente para a esquerda da montanha, quando o certo era a direção que Vagner e Larissa tomaram, à direita, indo para a pista de esqui. Percebido que não era aquele o caminho certo, ou pelo menos não o que os dois tomaram, voltar seria muito sacrificante fisicamente e continuar a descer era a melhor opção.

Estava sem o mapa e por intuição vi que a ravina em que encontrávamos levaria ao inicio do trekking da subida. Disse a Lisi: “Vamos descer e lá em baixo eu me acho”.

Durante a descida descobri que o mapa estava na minha mochila e só confirmei que estávamos no lado contrário do refugio. Era tarde para a correção e só nos restava descer por ali mesmo. Só que a descida era muito íngreme e perigosa e com muitas pedras soltas e neve. Tentava não passar minha preocupação para Lisi e não piorar a situação, mas vi nela uma atleta pró-ativa, com decisões acertadas e uma disposição enorme de sair dali. Uns tombos de bunda, umas pisadas em neve e íamos descendo e descobrindo o caminho, ora com adrenalina, ora com tonturas, rs.

Chegamos finalmente numa parte mais baixa onde seguimos a trilha que retornava ao refugio de Valecittos, onde encontramos as duas equipes brasileiras que já haviam voltado dos 2 cumes e uma Larissa e Vagner completamente preocupados e cabisbaixos por se sentirem responsáveis pelo que aconteceu, o que isento totalmente. Agradeço por sermos a equipe que fomos, todos preparados para enfrentar qualquer situação. Passado o sufoco e perrengue, fomos embora para a chegada.

Pegamos as bikes e descemos em direção à chegada juntos com os dois quartetos brasileiros, passando ainda em 2 PCs que eram iguais para todas as equipes e cruzamos juntos a chegada por volta de 21:45, animados, felizes e com a sensação de dever cumprido. Ficamos em 5º na categoria e 11º no geral da prova dos 150km, mas sinceridade, isso foi e será o que menos importou para mim.

Aqui quero agradecer minha equipe: Vagner é o parceiro ideal para qualquer corredor de aventura. Calmo, forte demais, solidário, sem vaidades e extremamente capacitado para quaisquer circunstâncias; Lisi é alegre, pró-ativa, solidária, forte e me surpreendeu na descida do cume. Me ajudou e se teve medo, não transpareceu. Parceira sempre; Larissa é uma menina de 16 anos que após a largada parecia uma veterana das corridas de aventuras. Navegadora nata, forte, eficiente, parceira, líder e ao mesmo tempo uma menina que quer e gosta de aprender. Será a melhor em breve, com a orientação dos pais sensacionais Valmir e Rose.

Esta equipe me proporcionou uma das maiores alegrias que tive nestes 12 anos de corredor, me levou a lugares que nunca imaginaria e me fez almejar outros tantos, com eles juntos espero ou não.

Viagem de Volta
Saímos de Potrerillos após a premiação e exibição do vídeo oficial, passamos nas cabanas , tomamos umas Quilmes e seguimos rumo a Mendonza para conhecer a cidade, almoçar e seguir viagem.

Dividimos-nos e alguns foram fazer passeio de ônibus pela cidade, outros foram comprar presentes e nos reunimos para sair juntos no local indicado.

Alguns problemas pequenos com uma argentina que cismou que pagamos um prato a menos, uma invasão ao banheiro da Loja Havana onde se vende Alfajores (imagino que não seremos bem-vindos aos banheiros da loja) e um comprador que se encaminhou ao caixa sem sua senha e tomou puxão de orelha, voltamos para casa, passando por cidades legais como Santa Fé, que tem um túnel por baixo do rio Paraná com 3.600 m, comendo mediaslunas quentinhas e escutando muita, mas muita história que andei contando pelo caminho. Espero que tenha esgotado todas, porque assim a próxima viagem vou caladinho.

Mais um dia em POA tomando uns Chopp`s com Diogo Rehder e voltei para casa depois de 7 dias intensos e inesquecíveis.

Obrigado a todos que participaram desta viagem e de certa forma fizeram parte de tudo que vi e vivi. Me prometeram baixar em bloco aqui na Noite do Perrengue 5 e estou contando com isso. Todos os 18 e quem mais quiser, vamos preparar uma prova incrível e como disse: “Quem reclamar do Perrengue agora eu mostro a foto da alta montanha. Não sabem o que é Perengue.”

Fui patrocinado nesta magnífica aventura pela APLB Sindicato, do sempre amigo Jorge Carneiro, e apoiado pela Tia Sônia com seus produtos espetaculares que caiu no agrado de todos.

Para minha família, Gal, Guga e Hugo que dão força e apoiam este velho aventureiro, “Tio” de outros tantos e que não se contenta em pequenas aventuras, um muito obrigado, amo vocês.

Arnaldo Maciel
Olhando Aventura/NP5

Em Andacollo, na Patagônia Argentina, bons ventos sopram para os atletas de trail running – Adventuremag

Coração do Norte Neuquino foi palco da segunda edição da Trail del Viento, no último domingo, dia 9. Competição contou com 500 atletas.

 

Há exatamente uma semana, 14 latinos americanos se encontraram no Aeroporto Internacional Presidente Perón, na província de Neuquén, na Patagônia Argentina, de onde seguiram juntos para uma missão de tirar o fôlego e encher a alma de boas energias. Eram atletas, jornalistas, fotógrafos e videomakers do Brasil, do Uruguai e da própria Argentina que tinham como destino a cidade de Andacollo, no norte neuquino, palco da segunda edição da Trail del Viento, realizada no último domingo (9).

460 km separam a Capital de Neuquén do Coração do Norte Neuquino, como é conhecido o município de Andacollo, aproximadamente seis horas de carro. Uma longa viagem pela rota 43, tempo o suficiente para que o grupo pudesse se entrosar – a maioria ali não se conhecia. Para quem saiu de São Paulo ou Montevidéu, por exemplo, a trajetória foi ainda mais longa, entre 15h e 20h.

Porém, os profissionais de aventura, especialmente os atletas, “têm que estar dispostos à renunciar o conforto, pois esse é um luxo que a montanha não oferece”, destaca o diretor técnico da competição Daniel Pincu. Ele recorda ainda que em 2008 levou três dias para chegar ao local da largada da Ecomotion Brasil, que teve como base as dunas de Jericoacoara, no litoral cearense.

Para passar o tempo, os integrantes do grupo arriscaram um bate-papo animado no que podemos chamar de “portunhol inglês”. Mimicas, algumas palavras em italiano e um dicionário auxiliaram na comunicação. Apesar dos idiomas serem bastante similares, a velocidade e entonação da fala e algumas expressões dificultam um pouco o entendimento para quem não é fluente. Na rádio, a canção Cachetada, de Pablo Ruiz, completou a diversão dentro da van.

O caminho que liga Neuquén a Andacollo reserva algumas das paisagens mais lindas da Patagônia. Pequenos vilarejos construídos de casas rústicas, escondidos por detrás de vegetação seca e onde são criados cabritos, o Rio Neuquén correndo na beira do asfalto e a fotografia do Cerro Domuyo no horizonte davam vida àquela estrada quase que deserta e indícios de quão bela seria corrida. Em 2015, a concentração da prova aconteceu em Chos Malal, mas aspectos técnicos levaram a organização a alterar o local da largada.

Pincu explica que a quantidade de corredores da Trail del Viento quase que duplicou da primeira para a segunda edição (de 300 para pouco mais que 500) e que Andacollo possuí um melhor aporte físico, logístico e até mesmo turístico para receber mais gente. De acordo com a secretaria de turismo da cidade, 1500 pessoas participaram do evento e movimentaram mais de 3,5 milhões de pesos.

Quanto à competição, muita coisa mudou além do local da prova. Uma nova distância foi acrescentada para atender a demanda de atletas, o time de staffs e socorristas naturalmente aumentou, o sistema de cronometragem implementado foi inovado, os suplementos para alimentação e hidratação eram de ótima qualidade e até o tecido da camiseta melhorou. Só não mudou a organização impecável do evento e, sobretudo, a receptividade e o carinho dos argentinos.

Para quem está começando agora na modalidade, é incrível. Para quem já está acostumado com grandes eventos como a Ultra Trail Mont Blanc ou a Mont Fuji, por exemplo, talvez não seja nada de tão e excepcional. Mas para quem simplesmente vive a montanha, é mágico. E é essa magia que a organização da Trail del Viento busca preservar.

Apresar do crescimento da prova ser avaliado como positivo no aspecto da competição, há uma grande preocupação por parte dos organizadores em preservar a essência do esporte de aventura, que é proporcionar uma experiência roots, porém física, social e ecologicamente segura.

“Nossa tendência – e queremos isso – é tornarmos referência no cenário de trail running. Porém, nós não precisamos vender essa ideia, aqui nós não temos um plano. Tudo aqui é montanha. A TDV está metida em uma base de montanha. O que decidimos, na verdade, é a distância, a altimetria e os aspectos que nos assegure transitar com equipamento de socorro em caso de emergência. Mas ‘somos’ a verdadeira corrida de montanha. Aqui é montanha pura e a nossa filosofia como organizadores é ser selvagem, mas com todo o recurso de patrulha necessário para que o corredor se sinta protegido”, conclui Pincu.

Daniel pratica corrida de aventura há muitos anos e esse detalhe faz toda a diferença na hora de organizar uma prova, pois ele conhece a fundo as necessidades dos atletas. Porém, a perspectiva e consequentemente as preocupações mudam, é mais difícil, pois envolve muita responsabilidade.

Quanto aos percursos, foram quatro: 10km, 25km, 45km e 60km em um terreno bastante técnico, com declives acentuados e ganho de mais 6000 metros de desnível acumulado na maior distância. Pedregulhos e rios de pedras tornaram alguns trechos bastante escorregadios, dificultando a passagem. Um verdadeiro parque de diversão para quem tem saúde e preparo físico e mental para encarar.

No primeira edição, a ultramaratonista brasileira Manuela Vilaseca venceu a prova principal e se tornou embaixadora da competição. Sem a presença de atletas do Brasil este ano – apenas desta jornalista que vos escreve e que não resistiu ao encanto da Cordilheira do Vento -, o destaque foi para os uruguaios.

Leia também: Um nova corrida, um novo lugar

Lali Moratorio conquistou os 60km com 09h06m11s de prova, meia hora à frente da segunda colocada, Monica Nanculef, e duas horas de distância da terceira, Celia Ruiz. Seu conterrâneo, Fernando de León, foi o segundo colocado no masculino com o tempo de 06h58m22s, dez minutos apenas o separou do campeão Sergio Pereira, já a folga de tempo para o terceiro colocado, Frederico Zamudio, foi de 40m. Festa garantida na viagem de volta do grupo.

Confira o resultado oficial completo: Trail del Viento 2016

“Esta corrida teve trechos muito duros, por isso, foi necessário mudar a técnica e dar o máximo o tempo todo. Felizmente, eu vim bem treinada física e mentalmente. Do mais, tudo muito bonito, paisagens majestosas. Fiquei muito feliz, com os amigos que fiz e por ter aprendido muito de mim e da montanha. Volto ainda melhor.” Lali Moratorio

“Foi uma competição muito difícil por conta do desnível acumulado e do nível de corredores que participaram, mas cheguei a poucos minutos atrás de um dos melhores atletas argentinos e isso me deixou bastante satisfeito. O norte neuquino é uma área perfeita para as corridas de montanha. A organização foi excelente.” Fernando de Léon

A província de Neuquén nasceu em Andacollo. O município foi o primeiro a ser habitado e abriga as primeiras minas de ouro e sítios arqueológicos da região e cultiva ainda uma cultura pré-hispânica muito rica. Na Cordilheira do Vento estão localizados os picos mais altos de toda a Patagônia, argentina e chilena, o Cerro Domuyo, por exemplo, chega a 5000 metros de altitude. A visita ao mirante e a prática de trekking são algumas das principais atividades turísticas de Andacollo.

 

Pintor e pescador de Bombinhas quer o bi nos 100km da INDOMIT Costa Esmeralda – Adventuremag

Entre uma demão e outra de tinta nas casas e apartamentos de Bombinhas (SC), a pesca da tainha e as tarefas de casa, Giliard Altair Pinheiro encontra tempo para se dedicar aos treinos para os 100 quilômetros da edição 2016 da INDOMIT Costa Esmeralda, prova de corrida de montanha que acontece entre os próximos dias 28 a 30 em Bombinhas (SC) e Porto Belo (SC). Campeão da modalidade ano passado após mais de 10h de prova, ele se diz mais maduro e experiente para tentar o bicampeonato.

“Ano passado foi minha primeira prova de 100 quilômetros e não tinha ideia de como meu corpo ia reagir. Como o segundo colocado ficou para trás logo nos primeiros 40 quilômetros, pude seguir com calma”, conta o atleta local que é heptacampeão da INDOMIT Bombinhas, prova de 42 quilômetros que acontece em agosto. “Largamos à meia noite e a madrugada passou rápido, mas quando amanheceu comecei a sentir sono e a ficar irritado”, lembra Gili que pensou em fazer um pit-stop em casa para tomar um banho e despertar. “Também pensei em tomar um café na casa da minha mãe, mas desisti. Queria chegar logo”.

foto: Adriane Carmignan

Apesar de se destacar nas provas de corrida de montanha, Giliard não é profissional e precisa dividir seu tempo com diversos trabalhos para complementar a renda. “Além de pintar as casas, também faço reboco e passo massa, tudo isso no intervalo entre um treino e outro nas praias e morros de Bombinhas e Porto Belo”. E quando chega em casa ele também divide o tempo de descanso com a esposa, as filhas de seis e dez anos e um enteado. “Eles são meu incentivo e em alguns trechos da prova vão me encontrar. E se não os vejo fico até preocupado”.

“Meu treinador monta os treinos de acordo com a rotina de trabalho. E acho que levo uma vantagem em relação a muita gente, pois passo o dia todo subindo e descendo escada, passando rolo de tinta nas paredes e preparando massa. O treino continua no trabalho”, conta o ultramaratonista que leva de dez a 20 dias para pintar uma casa. Outra atividade do corredor é a pesca, principalmente entre maio e junho durante a temporada da tainha. “Também alugo guarda sol e cadeiras na praia para os turistas na temporada de verão”, ressalta.

O “Rei de Bombinhas” costuma sair forte por já conhecer o percurso, mas dessa vez com algumas alterações no trajeto ele deve ser mais conservador. ‘Incluíram um morro que eu não conheço e também não fui treinar por lá. Assim eu vou mais devagar e não me canso tanto no final”, relata Giliard que terá alguns adversários fortes esse ano, entre eles Manuel Lago, diretor da primeira ultra trail de 100 km no Brasil, a IINDOMIT Costa Esmeralda 2014. “Ele é um cara resistente, não é rápido, então não posso bobear”. Outro que promete dar trabalho é o atual campeão dos 100 km da INDOMIT Mendoza, o espanhol Jose Manuel Gasca Perez.

Há 20 anos correndo pelo Brasil e pelo mundo, Giliard elogia a INDOMIT Costa Esmeralda pela dedicação e preocupação com os corredores. “Diferente de muitas provas rústicas, a INDOMIT oferece conforto nos postos de abastecimento e segurança no percurso. Tem café, refrigerante, sopa e a gente pode até deixar com a organização um tênis e muda de roupa para trocar durante a corrida, sem precisar carregar na mochila”.

Além da prova de 100 quilômetros, haverá ainda distâncias de 80, 50, 21, 12 e 5 quilômetros, essa última com parte da arrecadação sendo revertida para a ONG Oncoguia, que cuida de pacientes com câncer.

A INDOMIT Costa Esmeralda é uma organização e realização Bombinhas Adventure Runners e TMX, com chancela da International Trail Running Association e Hotel oficial Pousada Vila do Farol. A prova faz parte de um circuito internacional com etapas no Caribe (Venezuela, em janeiro de 2017), Pedra do Baú (São Bento do Sapucaí, em abril de 207), Bombinhas (Santa Catarina, em agosto de 2017) e Mendoza (Argentina, em maio de 2017).