Neste final de semana aconteceu a segunda edição do BTC – Brasil Training Camp – em Campos do Jordão, São Paulo. O evento foi formado por um curso de formação de treinadores de trail running, estaç&otild…
Foi só na segunda vez em que me inscrevi que fui sorteada para a Tor Des Geants, uma prova de 330km e 24.000m de desnível positivo acumulado, subindo e descendo por 25 montanhas nos Alpes, com postos para trocas de roupas e suplementos – as chamadas “base vita”- a cada 50km e 150h de tempo limite para completar. A largada e a chegada foram na cidade de Courmayer, no vale d’Aosta, região paradisíaca da Itália que tem o Monte Bianco (o famoso Mont Blanc) como seu cartão postal.
A corrida movimenta toda a região do vale e, como era de se esperar, a cidade sede estava em festa no dia da largada. A multidão que assistia à prova formava um grande corredor, por onde passávamos sob aplausos e gritos de incentivo, enquanto corríamos pelas ruas da cidade. Passada a agitação da cidade, entramos na trilha e a primeira montanha já estava ali com 1500m positivos em 8km. Como eu já esperava, formou-se uma fila e a subida foi lenta, perdi tempo, e tempo em provas grandes é precioso!
Neste primeiro trecho de três montanhas e mais de 5000m positivos acumulados, embora tenha chegado tarde da noite na base vita, tudo estava saindo conforme o combinado com meu treinador Caco. Eu estava ágil nos postos, sem perder tempo, em um ritmo bem confortável. Mais importante ainda, estava me divertindo e aproveitando a paisagem daquele lugar incrível (como tem de ser em uma ultra de montanha).
Tudo parecia bem, mas na descida da 5ª montanha percebi algo errado: não entendia porque não conseguia correr, as pessoas passavam, eu tentava acompanhar, mas o corpo não obedecia! Analisei a situação e percebi que estava muito desidratada. Quando cheguei ao ponto de controle meu marido, que era meu apoio na prova, já estava com tudo preparado para minha hidratação e alimentação, mas para poder me recuperar, precisei ficar um bom tempo ali, juntando forças para conseguir prosseguir. Isso acabou comprometendo toda a programação de tempo da prova. Para piorar, na sequência, subi uma das piores montanhas, com 3299m de altura. Foi duro, mas continuei firme!
No jogo do sobe e desce eu esperava que na terceira parte, dos km 106 ao 151, eu teria tempo para recompor as energias, afinal seriam apenas uma montanha e uma longa descida de mais de 30kms… doce ilusão!!!! A subida teve início na madrugada gelada, com muito vento. Quanto mais eu subia, mais frio ficava e eu já estava quase congelando. Já perto do topo, olhei para o lado e vi que as montanhas que me rodeavam estavam todas cobertas de neve e, quando cheguei a um dos refúgios, a temperatura estava abaixo de zero.
Eu estava exausta e mal sabia o que fazer quando alguém da organização perguntou se eu queria dormir. Mesmo não estando nos planos (eu ainda não havia dormido nada!!), aceitei. Que sono gostoso, dormi tão bem! Embora tenham sido apenas 45′, isso me animou bastante e me deu um novo gás para subir até o alto da montanha.
Ao começar a descer, o que pensei ser um percurso fácil foi um total engano, a descida foi interminável! Um rio de águas muito claras acompanhava boa parte do percurso, estava calor e como minhas pernas queimavam muito eu só sentia vontade de entrar naquela água e relaxar!!!!
Quando cheguei na base vita da linda cidadezinha de Donnas, eu já tinha feito 156km, com boa altimetria e me sentia morta. Já era terça feira, três dias de prova!!! Meu marido me esperava ansioso e, embora tivéssemos tentado fazer o combinado, o pior aconteceu: eu não conseguia comer, a comida já não descia!! Estava com o corpo muito quente, me sentia com febre. Fiquei tentando resfriar o corpo com compressas de água fria e então fiz uma massagem, para descansar mais e sair bem. Como já não podia perder muito tempo precisei seguir em frente. Quando cheguei ao refúgio em Sassa não tive opção, precisava dormir, estava quebrada e sentia um frio terrível. Dormi em uma barraca por 15′, mas fiquei mais 45′ para que meus pés pudessem descansar.
Dalí em diante a subida foi intensa, mas consegui ser rápida e chegar ao refúgio Coda ainda de madrugada, já na metade do percurso da prova. Quando sai dali o sol estava despontando entre as montanhas, simplesmente espetacular! Novamente lembrei que esse era o propósito de eu estar ali… poder viver uma aventura com toda a magia da natureza. Aquilo me fez sentir tão feliz que esqueci da prova, a descida passou a ser divertida e desci para o próximo ponto num ritmo bem mais confortável. No entanto, após já ter saído do refúgio, recebi uma ligação do meu marido dizendo que eu estava devagar, que precisava melhorar o ritmo para não pegar o corte dos 205km!!!
Bem, se tem uma coisa que não gosto de me preocupar em prova é com o corte, pois sempre procuro me manter com tempo de sobra em relação a ele, mas ali não tive escolha e precisei “voltar” rapidamente para a prova e tirar de dentro de mim uma nova força; na verdade, eu simplesmente “fui”!! Só o que eu pensava era: quase 200km e pegar corte… não, não vou pegar, não vou pegar, não vou pegar!!!
Nem sei como subi aquela montanha, era muito difícil, verdadeira escalaminhada, toda de pedras. Assim que cheguei ao topo a descida veio, como sempre, muito técnica, um downhill escorregadio, mas minha única opção era correr, tentar não me machucar e correr….Infelizmente, acabei caindo e quebrando o bastão de carbono e fazendo uma leve torção no tornozelo.
Dei o que tinha e o que não tinha, pois só pensava em chegar em Gressoney, no km 205, antes do corte. No caminho antes de Gressoney, ficava Niel onde a festa dos staffs era grande para quem chegava, pois ainda dava para não pegar o corte.
Eu, claro, passei por ali extremamente emocionada. Foi quando uma mulher me segurou dizendo que eu iria conseguir, que ficasse calma e perguntou: “o que você quer comer ??” Olhei ao redor e vi um panelão com polenta, eu precisava me alimentar… pedi que colocasse aquilo em um copo e sai comendo.
A tal “descida” até Gressoney tinha, na verdade, 980m de ascensão positiva, pouco comparado ao restante da prova, kkkk!!!. Cheguei 40′ antes do corte!!
Como eu ainda estava iniciando o km 206 e tinha muito ainda pela frente entendi que o restante da prova seria neste ritmo, sempre perto do corte!! Meu apoio estava me esperando e já foi dizendo que eu teria de ser mais rápida, mas como eu precisava descansar acabei saindo na hora limite, assim como muitos outros que estavam na mesma situação.
Saímos em direção ao Col Pinter onde a trilha de subida não foi muito técnica. Quando eu achava que estava atingindo o topo, via lá longe, quase no céu, uma luzinha… ficava olhando e pensando: é estrela ou lanterna ?? Hummm, se mexeu, então é lanterna e significa que ainda tem muita subida pela frente, kkkk!
A descida sim, foi muito técnica, com muitas pedras. Nela, de repente, eu comecei a apagar, 1, 2, 3 vezes! Me concentrei muito para não dormir, pois era muito perigoso e rolar ali poderia ser fatal!
Amanheceu e assim que começou a trilha de terra, me arrumei no chão para um cochilo. Como era muito íngreme foi impossível dormir, pois eu escorregava. Desisti e segui em frente, sonhando com uma cama no próximo ponto. Assim que cheguei, fui procurar uma, mas como todas estavam ocupadas fui comer primeiro.
Foi engraçado, pois me dava conta de estar dormindo sentada na mesa do lanche. Consegui dormir um pouquinho e sai novamente, sempre contra o tempo, ou melhor, contra o corte! Na saída o tempo começava a fechar, pronto para muita chuva…
A subida tinha um riozinho acompanhando a trilha, tudo era maravilhosamente lindo, porém meu sono era muito e eu não queria deitar no chão de novo. Para espantar o sono, molhava meu buff e jogava água gelada na cabeça até chegar ao refúgio onde eu quase implorei por uma cama! Foi um sono reparador! Quando sai já chovia muito e fazia frio e foi assim até a base vita em Valtournenche, no km 239.
Pensei: agora só mais 100km e fecho a prova!!! Seria fácil se assim fosse!!!
O cansaço, o sono e o corpo gritando deixaram este trecho de 35kms bem difíceis e assim que cheguei em Oyace, embora não fosse nenhuma base vita, meu marido estava ali e já foi perguntando o que eu queria comer. Sem responder, dei uma olhada ao redor analisando tudo. Era um ginásio, vi as caminhas de campanha, tipo de exército, me joguei em uma pedindo a ele que me deixasse dormir por 15′. Ele me acordou com 25′ e me disse que eu precisava sair logo porque o próximo trecho era muito duro e os staffs haviam dito que as pessoas que estavam ali não conseguiriam chegar em tempo se não saíssem!!!!!
Corte não, corte não !!
Peguei a estrada firme, já tinha decidido há dois dias atrás que não pegaria corte! Quando cheguei na base vita de Ollomont, km 287, tudo era uma grande confusão, lugar pequeno para tanta gente. Tratei de procurar o ponto da fisio e me refazer, as pernas estavam inchadas e, mais uma vez, não consegui comer! Peguei uns lanchinhos e saí para os últimos 50km!!!
Não houve, em todo o percurso, uma montanha que fosse fácil, tão pouco uma descida que não fosse técnica e como estava em cima do corte, precisei correr muito nas descidas. Embora usasse toda a técnica para não machucar os joelhos, com toda essa quilometragem isso foi impossível e faltando 40km comecei a sentir uma dor forte do lado esquerdo do joelho. Fiquei apavorada, ainda tinha muito pela frente! Administrei os pensamentos, não podia me abater pela dor, meu objetivo era o pórtico de chegada, nada mais importava!
No ponto de controle em Bosses, procurei pelo médico e este passou uma pomada e fez um reforço com fitas mandando que eu dormisse. Dormi um pouco e levantei, não podia perder tempo. Segui rumo ao temido col Malatra, última montanha no percurso. Na minha frente uma imensidão de terra com montanhas ao redor mostrava-se linda, mas era impossível sentir algo diferente da vontade única de cruzar a linha de chegada.
Passei pelo refúgio Fassati, situado no alto da montanha, tomei uma sopa e deitei em um banco. Os staffs mandaram que todos saíssem às 9h, pois o corte estava apertado. A subida era muito dura, em Via Ferrata. Um montanhista estava ajudando todos a passar com segurança pois, para quem já tinha mais de 300kms nas pernas, era muito fácil rolar montanha abaixo. Até ali estava tudo bem, mas quando comecei a descer os joelhos gritavam, de tão inchados parecia que eu tinha dois joelhos em cada perna! Fiquei assustada, mas já estava no final, só precisava chegar antes do horário final, corria e chorava de dor, o trajeto parecia não ter fim…
Quando cheguei ao último refúgio, os staff fizeram eu sentar, colocaram um cobertor nas minhas costas e enquanto um fazia massagem nas minhas pernas, o outro preparou um café quentinho. Quase não sai dali!!! Incrível como os staffs dão a mesma atenção a todos, desde os primeiros até os últimos, sem distinção! Perguntei se eu era uma das últimas e me falaram que ainda tinha uns 40 para passar…
Voltei para os últimos 10km de trilha com muita dor, quase não conseguindo dobrar os joelhos. Conseguia correr bem quando era só terra, mas onde havia degraus ficava muito difícil para descer.
E foi assim, com dor e muita emoção que entrei na cidade pelas ruas em Courmayer. As pessoas faziam um corredor e aplaudiam sem parar, as crianças esticavam as mãos para bater, gritos de “brava, brava!!” e eu, chorando de emoção por ter conseguido finalizar uma das provas de montanha mais difíceis do mundo. Passar por aquele pórtico foi nada além de maravilhoso!!!!
Nessa jornada tenho muito que agradecer aos meus treinadores Caco Fonseca e Rafael Melges por terem me preparado para esta grande prova. Aos meus filhos e marido agradeço pela compreensão e paciência durante os treinos e a prova. Aos amigos um super obrigada pelo incentivo e torcida!!!!
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