Em Andacollo, na Patagônia Argentina, bons ventos sopram para os atletas de trail running – Adventuremag

Coração do Norte Neuquino foi palco da segunda edição da Trail del Viento, no último domingo, dia 9. Competição contou com 500 atletas.

 

Há exatamente uma semana, 14 latinos americanos se encontraram no Aeroporto Internacional Presidente Perón, na província de Neuquén, na Patagônia Argentina, de onde seguiram juntos para uma missão de tirar o fôlego e encher a alma de boas energias. Eram atletas, jornalistas, fotógrafos e videomakers do Brasil, do Uruguai e da própria Argentina que tinham como destino a cidade de Andacollo, no norte neuquino, palco da segunda edição da Trail del Viento, realizada no último domingo (9).

460 km separam a Capital de Neuquén do Coração do Norte Neuquino, como é conhecido o município de Andacollo, aproximadamente seis horas de carro. Uma longa viagem pela rota 43, tempo o suficiente para que o grupo pudesse se entrosar – a maioria ali não se conhecia. Para quem saiu de São Paulo ou Montevidéu, por exemplo, a trajetória foi ainda mais longa, entre 15h e 20h.

Porém, os profissionais de aventura, especialmente os atletas, "têm que estar dispostos à renunciar o conforto, pois esse é um luxo que a montanha não oferece", destaca o diretor técnico da competição Daniel Pincu. Ele recorda ainda que em 2008 levou três dias para chegar ao local da largada da Ecomotion Brasil, que teve como base as dunas de Jericoacoara, no litoral cearense.

Para passar o tempo, os integrantes do grupo arriscaram um bate-papo animado no que podemos chamar de "portunhol inglês". Mimicas, algumas palavras em italiano e um dicionário auxiliaram na comunicação. Apesar dos idiomas serem bastante similares, a velocidade e entonação da fala e algumas expressões dificultam um pouco o entendimento para quem não é fluente. Na rádio, a canção Cachetada, de Pablo Ruiz, completou a diversão dentro da van.

O caminho que liga Neuquén a Andacollo reserva algumas das paisagens mais lindas da Patagônia. Pequenos vilarejos construídos de casas rústicas, escondidos por detrás de vegetação seca e onde são criados cabritos, o Rio Neuquén correndo na beira do asfalto e a fotografia do Cerro Domuyo no horizonte davam vida àquela estrada quase que deserta e indícios de quão bela seria corrida. Em 2015, a concentração da prova aconteceu em Chos Malal, mas aspectos técnicos levaram a organização a alterar o local da largada.

Pincu explica que a quantidade de corredores da Trail del Viento quase que duplicou da primeira para a segunda edição (de 300 para pouco mais que 500) e que Andacollo possuí um melhor aporte físico, logístico e até mesmo turístico para receber mais gente. De acordo com a secretaria de turismo da cidade, 1500 pessoas participaram do evento e movimentaram mais de 3,5 milhões de pesos.

Quanto à competição, muita coisa mudou além do local da prova. Uma nova distância foi acrescentada para atender a demanda de atletas, o time de staffs e socorristas naturalmente aumentou, o sistema de cronometragem implementado foi inovado, os suplementos para alimentação e hidratação eram de ótima qualidade e até o tecido da camiseta melhorou. Só não mudou a organização impecável do evento e, sobretudo, a receptividade e o carinho dos argentinos.

Para quem está começando agora na modalidade, é incrível. Para quem já está acostumado com grandes eventos como a Ultra Trail Mont Blanc ou a Mont Fuji, por exemplo, talvez não seja nada de tão e excepcional. Mas para quem simplesmente vive a montanha, é mágico. E é essa magia que a organização da Trail del Viento busca preservar.

Apresar do crescimento da prova ser avaliado como positivo no aspecto da competição, há uma grande preocupação por parte dos organizadores em preservar a essência do esporte de aventura, que é proporcionar uma experiência roots, porém física, social e ecologicamente segura.

"Nossa tendência – e queremos isso – é tornarmos referência no cenário de trail running. Porém, nós não precisamos vender essa ideia, aqui nós não temos um plano. Tudo aqui é montanha. A TDV está metida em uma base de montanha. O que decidimos, na verdade, é a distância, a altimetria e os aspectos que nos assegure transitar com equipamento de socorro em caso de emergência. Mas 'somos' a verdadeira corrida de montanha. Aqui é montanha pura e a nossa filosofia como organizadores é ser selvagem, mas com todo o recurso de patrulha necessário para que o corredor se sinta protegido", conclui Pincu.

Daniel pratica corrida de aventura há muitos anos e esse detalhe faz toda a diferença na hora de organizar uma prova, pois ele conhece a fundo as necessidades dos atletas. Porém, a perspectiva e consequentemente as preocupações mudam, é mais difícil, pois envolve muita responsabilidade.

Quanto aos percursos, foram quatro: 10km, 25km, 45km e 60km em um terreno bastante técnico, com declives acentuados e ganho de mais 6000 metros de desnível acumulado na maior distância. Pedregulhos e rios de pedras tornaram alguns trechos bastante escorregadios, dificultando a passagem. Um verdadeiro parque de diversão para quem tem saúde e preparo físico e mental para encarar.

No primeira edição, a ultramaratonista brasileira Manuela Vilaseca venceu a prova principal e se tornou embaixadora da competição. Sem a presença de atletas do Brasil este ano – apenas desta jornalista que vos escreve e que não resistiu ao encanto da Cordilheira do Vento -, o destaque foi para os uruguaios.

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Lali Moratorio conquistou os 60km com 09h06m11s de prova, meia hora à frente da segunda colocada, Monica Nanculef, e duas horas de distância da terceira, Celia Ruiz. Seu conterrâneo, Fernando de León, foi o segundo colocado no masculino com o tempo de 06h58m22s, dez minutos apenas o separou do campeão Sergio Pereira, já a folga de tempo para o terceiro colocado, Frederico Zamudio, foi de 40m. Festa garantida na viagem de volta do grupo.

Confira o resultado oficial completo: Trail del Viento 2016

"Esta corrida teve trechos muito duros, por isso, foi necessário mudar a técnica e dar o máximo o tempo todo. Felizmente, eu vim bem treinada física e mentalmente. Do mais, tudo muito bonito, paisagens majestosas. Fiquei muito feliz, com os amigos que fiz e por ter aprendido muito de mim e da montanha. Volto ainda melhor." Lali Moratorio

"Foi uma competição muito difícil por conta do desnível acumulado e do nível de corredores que participaram, mas cheguei a poucos minutos atrás de um dos melhores atletas argentinos e isso me deixou bastante satisfeito. O norte neuquino é uma área perfeita para as corridas de montanha. A organização foi excelente." Fernando de Léon

A província de Neuquén nasceu em Andacollo. O município foi o primeiro a ser habitado e abriga as primeiras minas de ouro e sítios arqueológicos da região e cultiva ainda uma cultura pré-hispânica muito rica. Na Cordilheira do Vento estão localizados os picos mais altos de toda a Patagônia, argentina e chilena, o Cerro Domuyo, por exemplo, chega a 5000 metros de altitude. A visita ao mirante e a prática de trekking são algumas das principais atividades turísticas de Andacollo.