Texto: Gustavo Coelho
Foto: Marco Pinto/Divulgação

Sabe aquela hora que uma ideia vem à sua cabeça e você pensa: “É agora, ou nunca”. Foi assim que me surgiu a ideia e desejo de escrever este texto hoje cedo.

É um misto de alegria, com felicidade e esperança renovada. Sensação de que algo muito importante aconteceu e, se tudo der certo, o melhor ainda está por vir.

Na noite do último domingo (06/10/24), a jornalista/arquiteta/cicloativista Renata Falzoni foi eleita vereadora da mais populosa cidade da América Latina: São Paulo-SP.

Entre 32.206 votos tem o meu, talvez o teu que está lendo (ou teria/deveria, se você morasse em São Paulo) e também de diversos amigos e amigas que fiz nesses mais de 10 anos trabalhando com bicicleta.

Pensar em tudo de bom que a Renata poderá fazer na Câmara dos Vereadores de São Paulo me faz lembrar meu primeiro ano de trabalho, no Diário Lance!

Depois de uns dias trabalhando lá, percebi que era muito melhor eu fazer os 2,5 km de bike, num trajeto que durava 10-15 minutos, do que de ônibus (dois, inclusive) que levava 40 minutos e em sei lá, entre 6 e 7 km, pois era uma volta sair da Pompeia até o Limão de ônibus, passando pelo Terminal Barra Funda.

O ano era 2008. E naquela época todo mundo me olhava com uma cara feia quando chegava com minha magrela velhinha lá. Qual a lógica de alguém preferir ir de bicicleta? Onde você acha que vai estacioná-la?

Pois é, fato que tinha realmente uma questão importante que fazia sentido. Pedalar em São Paulo nunca foi uma das coisas mais seguras. O trânsito daqui é hostil. A sensação que você tem o tempo inteiro é de que uma hora alguém vai te fechar e jogar pra calçada. Ou então, pelo menos, você ganhará a “fina educativa”, que a Dona Falzoni sempre fala.

Quando passei a trabalhar no primeiro quarteirão da Av. Paulista, em 2013, me arrisquei a ir de bike para o trampo (ZDL) algumas vezes, antes da construção da maravilhosa Ciclovia em 2015, se não me engano. Era um pesadelo pedalar na faixa de ônibus, na mais movimentada avenida da cidade.

Depois que construíram a Ciclovia, era um prazer enorme ver aquele monte de carro parado no trânsito das 18h e eu lá, pedalando tranquilamente pela Ciclovia. Na própria Paulista e também na descida da Av. Sumaré eu contabilizava quantos carros eu passava até chegar no fim de sua extensão.

E é aí que eu chego a um ponto muito significativo dessa minha reflexão: a Falzoni ser eleita é um sinal de novos (e bons) tempos que estão por vir.

O poder de persuasão, com argumentos e muita inteligência, além da voz alta de italiana que essa mulher tem, com certeza vai mexer com as estruturas da Câmara (e da nossa cidade).

Se regredimos tanto nos últimos anos no número de ciclovias e na falta de respeito aos ciclistas (e a vida alheia, principalmente), a Falzoni renova a nossa esperança.

Que mais quilômetros de ciclovias – sempre com qualidade, por favor – sejam construídos. E que as pessoas em carros e motos respeitem de uma vez por todas esses espaços.

Que mais bicicletários sejam disponibilizados pela iniciativa pública/privada. E que as pessoas saibam onde e como poder utilizá-los.

Que, com seu novo cargo, do início de 2025 até o fim de 2028, a Falzoni consiga colocar na cabeça do nosso povo algo que lá fora (Europa, principalmente) eles sempre tiveram: respeitar o espaço do menor (pedestres e ciclistas) e também respeitar o próximo.

Priorizar o transporte coletivo e também possibilitar as pessoas que, optam por se mover pela cidade de bike, possam fazê-lo com qualidade, respeito e, o mais impotante, com segurança!!!

Nossa esperança está renovada por esses próximos 4 anos que virão por aí. Não haveria uma pessoa e nem um lugar melhor no nosso País para essa revolução sobre duas rodas acontecer por aqui.

Vamos torcer muito, enquanto ela e as competentes pessoas que tem ao seu lado vão trabalhar (e muito também, eu tenho absoluta certeza) por uma São Paulo melhor.

O gigante e inesquecível ultraciclista Cláudio Clarindo essa hora nos olha lá de cima e, com toda certeza, sorri no céu, tão esperançoso quanto nós aqui embaixo.

Ainda não tive a oportunidade de encontrá-la para dizer parabéns pessoalmente. Mas, sem dúvidas, essa vitória é tão nossa, eleitores ou não da Falzoni, quanto dela e de sua equipe. Bike é Legal, né! É legal demais!!!