“Para mim foi uma experiência inesquecivel, algo bastante difícil. Em duas vezes pensei que havia fracassado, porque não tinha alcançado o cume e chegamos a 6.500m. Tivemos que regressar por duas vezes, uma tempestade de neve e por causa dos ventos de 75Km/h que não me deixavam me mover. Realmente foi bastante duro e pensei que não ia conseguir realizar.”
Assim foi como Daniela Sandoval, de 26 anos, começou seu relato da quebra do recorde de subida em velocidade ao Aconcágua para José Elias Neto, que a encontrou em Mendoza, Argentina, alguns dias após a conquista. Ela fez o trajeto Horcones-Cume-Horcones em 20h17, baixando o recorde de Fernanda Maciel em 2h35.
Dani Sandoval em visita a uma vinícola em Mendoza © José Elias Neto
“Mas com apenas um dia de descanso da primeira tentativa voltei à montanha e na verdade o Aconcágua nos deu um dia realmente bonito, com lua cheia, sem ventos. Por outro lado com bastante neve, mas conseguimos conquistar o recorde na terceira tentativa, chegando ao cume após 12 horas desde Horcones e então, completamos a rota,” disse a equatoriana. “Nasci em Quito, que está a mais ou menos 2.800m de altitude, e essa seja uma das vantagens que acredito que tenha ajudado bastante para completar esse recorde, já que no Equador podemos nos aclimatar para todas as montanhas em Cotopaxi e Chimborazo e foi uma verdadeira ajuda para completar o Aconcágua com êxito.”
Veja abaixo o restante da entrevista feita por José Elias:
Agora os 3 recordes que existem no Aconcágua estão com os equatorianos.
Exato. Karl Egloff tem o recorde de Horcones a Horcones e Nicolás Miranda tem o recorde 360º que são cerca 110km em quase 27 horas, que sai de Horcones, desce para o Vale das Vacas, segue a rota até o cume e regressa.
Treina às vezes com Nicolás e Karl?
Ultimamente, antes de vir à Argentina, estive treinando e aclimatando com Nico todo o mês de dezembro. Ele me guiou pelas montanhas do Equador e estive fazendo um pouco de ascensos rápidos. Karl é uma pessoa que me deu muitos conselhos para ter êxito neste desafio.
Me disse que não é corredora profissional. É fisioterapeuta e faz pouco tempo que corre…
Sim, corro a 3 anos como aficcionada e não me dedico totalmente, não sou esportista profissional. Saio para treinar bastante cedo e me dedico realmente ao meu consultório de fisioterapia e realmente treino mais que nada pela paixão.
Quando surgiu a idéia de tentar o recorde no Aconcágua?
A idéia surgiu há 2 anos. No meu primeiro cume nevado, que foi Cayambe, a quase 5.900, a emoção foi tão grande que eu estava indo bastante rápido nos últimos quilômetros e Nicolás estava guiando e me soltou da corda e me disse “Esse caminho é seguro, ande e desfrute”. Quando me disse para desfrutar, comecei a correr a 5.000 metros.
Nico viu então que havia algo em mim que poderia baixar o recorde do Aconcágua.
Quando quebrou o recorde, que horas saiu de Horcones?
Saí às 01h00 de 30 de janeiro completamente sozinha. Fiz os (primeiros) 25 quilômetros em 4 horas até Plaza de Mulas (4.500m de altitude aproximadamente), onde Nico me esperava com a roupa de montanha e botas, onde me troquei, tomei café da manhã e em seguida às 05h30 começamos o ataque ao cume, onde chegamos à 13h40, mais ou menos 12 horas exatas. Descemos para a Plaza de Mulas onde chegamos às 15h00. Aqui perdi muito tempo, quase 45 minutos entre comer, me trocar, descansar e para começar a volta para Horcones, que levei cerca de 4h30.
O que comeu?
Comi bastante (carboidrato em) gel, balas de goma. No café da manhã tomei Pinol, que é uma espécie de aveia, algo muito tradicional do Equador que te dá muita energia e azeitonas na subida, que me dá bastante energia e tinha um pouco de chorizo desidratado para mudar um pouco de sabar (risos).
Quais os próximos desafios?
Os próximos desafios são continuar com as ultramaratonas e estou me preparando para 100 quilômetros este ano e se tudo der certo vou para o México. E nas montanhas gostaria muito de fazer o recorde (de ascensão) ao Chimborazo.