Privação de sono, cansaço, tensão e ansiedade fazem parte de uma corrida longa. Embora nunca tenha competido lá na frente, sempre gostei das provas longas por ter mais condições de alcançar objetivos esportivos mais satisfatórios. Prova curta de explosão não estão nas minhas preferidas.
Mas um caso bem interessante aconteceu na minha primeira prova longa, o Brasil Wild Desafio das Fronteiras, que largou em Paulo Afonso, na Bahia, e teve percurso de 500km. Foi a oportunidade de estar ao lado das melhores equipes de corrida de aventura da época.
Depois de 15 horas remando no rio São Francisco, fazendo um trekking e uma bike longa, paramos em Piranhas (AL) para largar as bikes e partir para um trekking longo na Serra Grande. Havíamos descansado pouco e partimos bem cedo por conta do sol e calor escaldante que fazia na região durante o dia.
Andamos na crista da serra por umas 10 horas e o calor era infernal. O sono, cansaço e os pés maltratados pela areia se juntou à sede, porque começamos a racionar a água e não existia local de reposição. Só conseguiríamos encontrar água no terço final da serra.
Adiantei o passo e fui andando bem à frente da equipe e finalmente encontrei um garoto local que disse que encontraria água logo mais em baixo e em abundância, cristalina. Andei por mais uns 50 minutos sob o sol da tarde quando parei para esperar minha equipe se aproximar e perguntei: ‘Viram o menino? Ele disse que teria água aqui e até agora nada.’
Sem entender nada, olharam um para o outro e para mim e disseram que eu estava louco. Não cruzaram com ninguém e muito menos com um menino, ainda mais sozinho naquela serra onde não tinha nada. Alucinação? Sono? Sede? Ou tudo junto? Juro que vi esse menino, mas não achei a água que ele me disse que encontraria.s