Por Daniele Pacheco
Através de um whats para uma pessoa mais insana que eu (presidente dos pamonhas), tomei a decisão de fazer essa prova pós Caminho de Santiago. Essa mesma pessoa disse que eu estaria bem treinada e eu acreditei (risos). Fizemos a inscrição e fechamos o quarteto ninja: Ricardo(Presida), Daniel (atleta internacional), Geovani (atleta rambo) e eu (atleta que mais viaja no grupo). Na semana da prova muitas incertezas. Devido à greve dos caminhoneiros a prova corria o risco de ser cancelada e isso causou um misto de felicidade (porque estava cansada do caminho) e decepção (porque voltei a acreditar na minha capacidade).
Terça pré prova. Tudo confirmado. A prova largaria dia 1/06 às 8 da manhã. Organizamos tudo: gasolina, bugigangas e partiu Passa Quatro.
Chegamos às 8:30 na city. Deixamos as coisas na pousada, fomos tomar café e depois eu fui dormir (estava debilitada da viagem, fuso e gripe). À tarde arrumamos tudo, deixamos as caixas organizadas e fomos pegar os mapas e camisetas.
Estrategicamente fui dormir e os meninos foram para o briefing. Pela primeira vez não fiquei responsável por nada. Nem marcar quilometragem no odômetro, race ou qualquer outra coisa, simplesmente fui a mulher da equipe (com muito orgulho).
Largada às 8. Iniciamos com pedal forte. Geovani e presida puxando na frente, eu e o Jair mais pra trás. Estávamos no pelote dos ninjas até os 8 km, momento em que a gancheira do Capitão quebrou. Decisão de empurrar a bike ate o AT (detalhe que ele empurra a bike muito mais rápido que eu pedalo). Foram 4 km subindo. Chegamos no AT para o trekking e nossa esperança foi renovada. Apoio da Guartelá se disponibilizou a nos ajudar. Transição rápida e começamos o trekking.
Corremos bastante no começo. Primeira “pamonhice”: Race Book ficou na bike do Jair. Trekking bem desenvolvido até atravessarmos a BR e pegarmos nosso segundo morro para o PC. Muito calor e muito lixo na trilha (corredores, não deixem lixo). Ricardo muito forte sempre na frente junto com o capitão e jair me ajudando na finalera. Decidimos não fazer o rapel. Passamos bastante quartetos nesse trecho o que nos deu uma leve folga.
Depois de 8 horas de trekking (acho que foi isso), chegamos ao AT pra pegar a bike. Adivinhemmmm!! Nosso anjo da guarda conseguiu arrumar a bike. Viva o Luis Fabiano, fotógrafo, staff e anjo da guarda.
Bike arrumada, transição rápida, capitão engatou mesmo eu falando que não confiava nele (brincadeirinha, confio sim). Chegamos ao PC, encontramos a Guartelá e achei que eles tivessem sido teletransportados (risos). Sairam depois e chegaram antes!
Estava tão quentinho, fui ao banheiro, coloquei anorak, tomamos coca e seguimos. Nos perdemos só um pouquinho para achar o PC9 (odeio pc9), mas logo depois de ficarmos cheios de pico pico, retomamos o caminho, subimos até a vizinha da lua (confesso que nem queria ir:) ) mas o foco era chegar antes das 23:30. Passamos às 22:40, nos livramos do primeiro corte, mais 6 km de bike (os piores na minha opinião) com muito empurra bike, valeta, escuro, trilha bem técnica, muita equipe junta. Nem me senti confortável, estava mal, cansada e com dores e aquele empurra nunca acabava.
Resolvemos seguir até o AT, onde comemos e deitamos 1 hora mais ou menos, para não congelarmos. Às 2 da manhã seguimos para o trekking. Quando tudo parecia bem, o capitão teve sono. Jair de um lado, eu do outro, andando e capitão meio dormindo. Capitão ressucita, eu sinto sono. Resolvi deitar enquanto o capitão picotava o PC13, mas o presida quase me chutou (risos). Eu estava tão quentinha no mato affff.
Seguimos para o PC14, erramos um pouco a entrada da trilha. Vimos uma luzes muito no alto, pensamos que eram montanhistas acampando, mas nãooooooooo, não erammmmm. Tínhamos que segurar a lua nos PC’s (PQP). Quando acertamos a trilha e vimos a ribanceira, quase chorei. Capitão e Jair na frente. Eu e Ricardo para trás. Subi de 4. Escalando mesmo. E lá era o PC 15. O PC 14 tínhamos que descer , subir, descer, sei la quantas vezes. Pegamos o 14 e na volta decidimos dormir no vale por conta do vento.
Deitamos às 5:15 e acordamos às 6. Dia amanhecendo. Melhor estratégia. No topo do PC 15 a vista mais linda do mundo. Jair gravou. Nesse momento os meninos me deram a notícia de que tudo que subimos, teríamos que descer. Panicooooooooo (tenho medo de descidas e o universo sabe).
Chegamos ao AT, pegamos a bike e partimos. Como já estava claro nossa descida foi rápida e eu, surpreendentemente, também. Fiquei feliz comigo. Capitão na minha frente desenhando o caminho e eu atrás, na cola.
Mais downhill e eu quase sem forças (joelhos e braços com muitas dores). Enfim acabaou o martirio e chegamos ao PC de corte 18. Trocamos de blusa, banheiro, comemos e descobrimos que o nosso mapa 4 tinha ficado no PC do restaurante quentinho (segunda “pamonhice”). Como Deus é pamonha, nos deu a chance de pegar o mapa de uma dupla desistente. Obrigada duplaaaa.
Mais 22 Km de bike e chegamos na canoagem. Ricardo decidiu pegar um atalho, mas o dono da propriedade não deixou passar, entãooooooo tivemos que voltar tudo e fazer uns 6 quilômetros ou mais de bike. Tudo bem, a canoagem estava próxima.
Chegamos ao AT às 12:40. Seção de 40 km passou a ser 28 Km porque a corredeira estava forte (graças a Deus). Remo acabaria no PC25 e achamos que a prova também acabaria ali. Nosso remo foi bom. 03:59 remando, rio ajudou. Chegamos ao AT às 16:40. Masss como só termina quando acaba, descobrimos que teríamos que andar até o PC26 para o resgate.
Nesse momento pânico completo. Briguei muito. Estava com muito frio. Mas pegamos nossas coisas e partimos. Chegamos ao PC26. Foram 190 km em 34 horas de prova com altimetria de 6000. Fim de prova.
Agradeço aos meus parceiros de equipe e viagem Presida, Jair, Denise e Capitão, por me ajudarem e não me desmotivarem. Precisei mesmo de apoio nessa prova; minha treinadora Vanessa Cabrini, que sempre tem uma palavra de sabedoria; a equipe Guartelá (Paulinho, Nego e Luis Fabiano), gratidão eterna pelo que vocês fizeram por nós.
Dale Pamonhassssss
Att
Daniele Pacheco