Faz muito tempo que não faço relatos. Togumi já até disse uma vez sobre isto, ninguém escrevia mais relatos de prova, então aproveitando a experiência legal de tive na Corrida BOA em Brasília, vamos a ele:
Já estava comprometido de ir este ano na BOA, mas como meu parceiro de NP mais uma vez me deixou na mão, o convite da Ligia da equipe Tubaina foi providencial. Me chamou perguntando se tinha parceiro e imediatamente fechamos. Corri com a ela e a QuasarLontra na Chauás e seria ótimo poder repetir a experiência sem os dois monstros da Lontra, pois eu não aguentaria novamente.
Tudo arrumado um dia antes e largamos às 10:38h para um Rogaine onde pegaríamos os PCs de forma aleatória com cada um valendo pontos. Precisaríamos fazer no mínimo 200 pontos para seguir a prova ou não pegar tudo e ser penalizado por minutos. Como de costume saíram muitos nas mesmas direções. Corri sem mochila e Lígia levava todo o equipamento obrigatório, afinal ela era a mais forte da dupla.
Batemos uns 02 PCs com uma galera e ai Ligia sinalizou para irmos logo atrás de um de 20 pontos que ninguém se arriscou e de lá fomos engolindo PC a PC, fazendo contas e fechando com 1:13, em segundo lugar nas mistas e atrás de uma equipe que só havia pego 40 pontos. Então foi muito boa nossa estratégia e deixando meu ídolo para trás, o Valmir da Papa. Aliás, acho que só a Saruês chegou na nossa frente com 200 pontos.
Transição rápida para bike, logo fomos alcançados pela AKSA na subida para o PC1 e acabamos por fazer o trecho neste momento muito próximo deles, da Lagartixa e de umas duplas. Optamos em não fazer o Bônus de 01 hora da Bike e acelerar ao máximo para que não nos fizesse falta no final.
Batemos todos os PCs de bike sem grandes problemas de navegação. Descemos por um caminho errado e logo corrigimos e ao longo deste trecho fizemos uma boa parte próximos da Dupla ALFA dos Militares Pivot e Coronel (chamava pela patente), o que foi legal porque tem o mesmo estilo de navegação que gosto, sempre localizado e com referências para checar.
Atravessamos rio, cipós, muito singles e estradões, pedaláveis e gostoso. No fim do trecho rolou um asfalto e uma descida rápida para o AT onde passaríamos ao 1º trekking da prova e onde encontramos os grandes atletas Camila Nicolau e Guilherme Pahl que também são organizadores da prova.
Abastecemos com muita água, pois o calor era intenso e o ar seco, pelo menos para mim e era 15:00h, quando o sol mostrava toda sua força no cerrado.
Ligia já havia me pedido e eu concordado imediatamente, que no trekking ela queria também navegar e com o mapa na mão dela e eu de consultor, saímos para um belíssimo trekking na região de Planaltina do Goiás de subidas intermináveis e descidas curtas para logo vir novas subidas intermináveis.
Por um erro de estratégia e talvez por termos como objetivo principal fazer a prova completa sem bônus e evitando cortes e no final ver o que dava, não entramos no caminho que nos levaria aos PCs 31 e 30 que daria 04 horas de bônus e seguimos direto ao PC8.
No caminho alcançamos a dupla mista Jorge & Adriana. Conversamos bastante e ele, como escalador e freqüentador do local, nos passou características da região e nos avisou que ao chegar no PC8 faria um caminho levando diretamente ao PC10 e de lá para a canoagem. Decidimos continuar pelo caminho completo, indo buscar o PC 09, onde passaríamos pelo ônibus Fantasma, pela Festa do Fazendeiro e pela Casa de Pedra, segundo informações, o local preferido da onças do Cerrado.
Titubeamos ao bater o PC8 na escolha do caminho ideal. Chegamos a tomar o caminho do PC10, que eu havia marcado na carta, mas logo percebi que o caminho por cima era melhor e mais curto. Uma breve discussão com minha querida parceira Ligia que me corrigia e logo retomamos o caminho certo. Essa indefinição nos rendeu as melhores fotos do mestre Togumi.
Ligia seguiu no comando do mapa e fomos na direção correta, checando as referencias de rios, ravinas, morros e tudo batendo. Encontramos muitos mountain bikers pelo caminho e a piada (será?) era sempre a mesma: a onça está parida e cheia de filhotes, tomem cuidado.
Passamos pela Casa de Pedra logo quando o pessoal chegava e deu tempo de tomar um Guaramix super gelado e seguimos subindo. Às vezes avistávamos a equipe ALFA mais à frente e íamos no nosso ritmo progredindo em direção ao PC 09. Passamos pelo Ônibus Fantasma, ganhamos água gelada do aniversariante, um tanto alterado a ponto de agradecer a Ligia por ter dirigido seu carro até ali, e seguimos sem errar até o PC09, já a noite.
Começamos a descida para o PC10 e pelo mapa senti que poderia ser nossa maior dificuldade. Errei um pouquinho e fui parar na frente de uma cerca de ferro. Checamos o azimute, corrigimos e voltamos ao caminho certo. Neste momento precisávamos achar um caminho que iria por cima de uma crista e só teria ele para atingir o PC10.
Batemos um pouco de cabeça e chegamos a estar em cima do caminho mas não confiamos e resolvemos voltar e atacar uma descida que parecia uma estrada esburacada que seguia na direção do azimute certo. Quando começamos a descer um pouco, vimos luzes lá em baixo e gritos de “não desçam”, “fiquem aí”.
Resolvemos esperar os corredores que viam gritando e subindo e quando chegaram vimos que eram a dupla Alfa do Pivot e Coronel. Nos falaram que não era aquele caminho e nos colocamos a procurar juntos. Mais à frente encontramos a Saruês de Brasília e com meu xará Arnaldo Turque navegando e encontramos juntos o caminho onde eu e Ligia já havíamos chegado, mas sem encontrar e trilha correta.
Dali em diante foi só descida, uns escorregões e a bunda dolorida, mas sem parar chegamos ao cruzamento da trilha que vinha do PC8. Encontramos duplas que vinha de lá e procuravam o PC10, entre eles a Outside da Bahia em sua primeira corrida fora do Estado e Bruno, nosso transfer e seu parceiro. Batemos um pouquinho de cabeça e pronto, chegamos ao caminho correto e subimos horrores para bater o PC10. Descemos e fomos em direção ao AT da canoagem, tinha PC11? Esqueci!
Chegamos ao AT da canoagem, cansados, mas ainda em primeiro das duplas mistas, sem bônus, mas com a intenção de chegar até a 3:30 no fim da canoagem e evitar o corte. Eram 23:30 e teria que dar tudo certo. Mas não deu…
Aqui começa a nossa aventura dentro da corrida de aventura. Já haviam nos alertado sobre o frio e risco de hipotermia se ficássemos muito molhados ou muito tempo na canoagem. Já sabíamos que pelo leito seco do rio teríamos que fazer várias portagens e carregar o caiaque por alguns trechos, que cruzaríamos cercas, enfim, ali era onde teríamos os maiores problemas a serem resolvidos.
Saímos com a Ligia no leme, eu na frente navegando e sinalizando os melhores caminhos. Logo vi que se molhar não era opção, era obrigação e logo estávamos dentro do rio empurrando os caiaques para transpor trechos de pedras, mas como diz um organizador que conheço, se tá ruim para nós, tá ruim para todos. Seguimos em frente, o caiaque pesava e mais a frente a Huascaran de Brasilia nos passou.
Algumas batidas e quase viradas e resolvemos inverter. Passei ao leme e Ligia ia na frente fazendo o caminho. Logo percebi que o leme estava cada vez mais difícil e minha bunda cada vez mais molhada. Continuamos em frente, mas muito lentos e com a dificuldade de fazer o leme as batidas nas pedras era inevitáveis. Numa destas o caiaque virou a primeira vez e eu tomei um banho geral. Somando o frio intenso e a dificuldade de dar direção, outras viradas vieram e o caiaque cada vez mais cheio de água.
Chegamos ao ponto de simplesmente subir nele e a instabilidade era tanta que ele virava até sem se chocar em nada, apenas com o movimento da remada.
Paramos, impossibilitados de ir adiante e resolvemos amarrar o caiaque na borda do rio e decidir o que fazer, mas antes disso ainda tentamos ir puxando ele pela margem e a medida que passavam equipes, pedíamos para avisar que tínhamos problemas e precisávamos de ajuda.
Neste momento houve certo stress entre eu e minha parceira sobre qual atitude deveria tomar. Por Ligia seguiríamos andando pelo rio até o AT, ora dentro d’agua, ora pelas margens, porque caso alguém viesse nos socorrer, nos veriam fácil. Eu, ao contrário, achava que ninguém iria nos resgatar e que o melhor a fazer era sair do rio, subir ao máximo que podíamos e chegar a um platô que pelo mapa parecia ser mais aberto. Lembrando que esta parte no mapa não tinha sido mapeada pelo organizador e não tinha nenhuma trilha sinalizada. Eu pensava em chegar lá, azimutar para o lado do AT e caminhar até bater na estrada que ele estava.
Fizemos uma pequena tentativa de dormir, logo abortada pelo frio intenso e a Ligia se convencendo e confiando que minha sugestão era a melhor, (será?) seguimos escalaminhando as margens altíssimas do rio, num rasga mato insano e quase intransponível, metro a metro, espinhos, escorregões e subindo aos poucos. Numa destas a gente devia estar bem na curva do rio e depois de muita dificuldade para subir, começamos a descer com o mesmo nível de dificuldade e caímos no rio novamente. Foi desolador kkk.
Mas por incrível que pareça, esse problema nos colocou um pouco no mapa, se subimos muito, descemos depois e caímos no rio novamente, percebi que só poderíamos estar numa daquelas curvas em “U” do rio, qual? Não sabia, mas agora dava para azimutar e chegar no platô.
Fizemos isso e lá fomos nós de novo a escalaminhar o barranco do rio e rasgar mato, favorecido pelo amanhecer do dia e de melhor visibilidade. Chegamos ao alto, até escutamos barulho de serraria e corremos em direção e ele, só percebendo bem na frente que estávamos indo na direção errada do AT.
Corrigimos e lá fomos nós num trekking duro, passando por várias ravinas, pequenos rios, que nos obrigava a descer e subir paredões íngremes e cheios de um bambu bem fininho que era ruim de passar. Chegamos a dar uma volta inteira numa trilha que achamos e voltar ao mesmo lugar; outra hora achamos uma trilha perfeita no azimute que nos colocou novamente na beira do rio, mas onde do rio?
Assim fomos acertando mais que errando e não era mais navegar por trilhas, era achar qualquer trilha que nos tirasse dali. Minha parceira solidária me dava força nas erradas e foi aprendendo a importância de azimutar quando se precisa.
Avistamos a fazenda na beira da estrada e ainda sofremos muito para chegar lá. Uma ravina enorme separava onde estávamos para a fazenda e passamos pelo nosso último rasga mato e alcançamos a fazenda. Logo à frente encontramos o Diogo de Sordi e esposa, que estavam nos monitorando pelo SPOT GEN3.
Que Aventura! Que legal poder sair do sufoco com as ferramentas que temos à mão: um bom mapa e uma bússola, como disse o Gui Pahl. Ali era sobrevivência, se não chega a tanto, foi legal sair desse sufoco do jeito que saímos. Estava com um celular que hora nenhuma nos ajudou, saímos do jeito “RAIZ”: Bussola, azimute, coragem e mapa.
Minha parceira querida foi sensacional. Quero correr muitas vezes com ela e com pessoas do espírito dela, que não só consiga ver a competição como resultado esportivo, mas como experiências que vamos adquirindo e guardando para serem usadas sempre que necessário.
Obrigado Ligia!
Parabéns a todo estafe da BOA que nos recebeu com carinho e se preocupou com nossa integridade fisica o tempo todo. Até 2020 e obrigado por me preparar mais um pouquinho para a TG500.
Arnaldo Maciel
#presidentequecorre
Mais informação: www.brasiliaoutdooradventure.com.br