Observando a participação das estrelas mundiais do trail nas últimas provas, Brice Cohen fez uma análise para o site U-Ultra e acredita que existe uma tendência delas focarem em provas mais curtas.
Alguns atletas de elite muito competitivos, cada vez menos se arriscam em provas longas e estão se especializando nas mais rápidas: isso aconteceu no UTMB e em uma menor escala, acontecerá agora na Diagonale des Fous.
Em Chamonix, por exemplo, eles optaram pelas provas mais curtas (mas não significando mais fáceis) como TDS, CCC ou OCC.
Como observou Cohen, dentre os grandes nomes apenas François D’Haene estará em uma prova mais longa, a Ultra-Trail Cape Town. Outros atletas como Kilian Jornet, Magnini, Angermund-Vik, Baronian e Lauenstein competirão na final da Golden Trail Series, no Annapurna; Jim Walmsley competirá no Campeonato Mundial na Patagônia; Xavier Thévenard e Thibaut Garrivier irão para o Grand Trail des Templiers.
As provas trail estão cada vez mais rápidas
François d’Haene disse logo no início da temporada que não iria participar da UTMB e Diagonal para descobrir novos lugares (ele participou de MIUT e Echappée Belle em 2019); não podemos dizer que seja uma surpresa, pois quando ganha-se tudo, como ele e como Kilian, é normal querer buscar novos desafios. Por outro lado, os outros atletas optaram por fazer provas de destaque, porém mais curtas.
Isso pode ser um sinal de que o trail está evoluindo e começando a se tornar cada vez mais competitiva. E quando se fala em competitividade, fala-se de velocidade.
“O problema é que nas ultras (e no caso, em um terreno como o da Diagonale), existem tantas incertezas que podem levar ao abandono da prova e são poucas as chances de um novo recorde; nas provas curtas há menos incerteza neste nível. Sorte e acaso ocorrem muito menos, para alegria da elite.”
Vitória da escola americana sobre a européia
Isso pode significar que a escola americana de trail se saiu vitoriosa sobre a européia. Pelo menos nesse momento do esporte.
“Se eu tivesse que fazer uma previsão, diria que os atletas de elite se especializarão gradualmente nas provas mais curtas e rápidas (na esteira da escola americana) enquanto os ‘amadores’ vão continuar a se especializar nas ultras (escola européia)”, escreveu Cohen.
“E dentro desse grupo de ‘amadores’, terá os mais ambiciosos em busca de performance e aqueles que só vêm para participar e finalizar a prova”.
Contra-ponto por Orlando Yamanaka
“Não me parece que exista esta tendência de esvaziamento das provas longas e valorização das provas mais curtas. As duas disciplinas devem continuar existindo com a mesma relevância,” comentou Orlando.
“Como nas provas de rua e de pista há, no trail running, corredores com características diferentes. Há os velocistas, os escaladores e outros de endurance. Poucos são os que possuem as três características, mantendo a mesma competitividade. No masculino poderia-se citar Kilian Jornet, Dmitry Mytiaev e Luiz Alberto Hernando. No feminino, Nuria Picas e Maite Maiora.
“A competição tende a ser mais acirrada nas provas curtas, por causa da Skyrunning Series e, principalmente pela Golden Trail Series. São dois circuitos bem consolidados, que distribuem premiações relevantes, tem provas icônicas e dão uma grande visibilidade aos atletas.
“O circuito das provas longas, a UTWT, ainda não se consolidou, atrai pouca atenção, mesmo entre os atletas de elite e possui algumas provas pouco atrativas. Parece que seus organizadores deveriam repensar seu formato.
“Mas, as provas longas continuarão atraindo grandes corredores, que não tem o perfil para provas curtas ou verticais. Dificilmente veremos François D’Haene correndo uma prova da Golden Trail Series, mesmo sendo organizada pela marca que o patrocina. Isto também vale para Xavier Thèvenard, Pau Capell, Tim Tollefson, Courtney Dauwalter, Mimmi Kotka, Kathrin Götz, Fernanda Maciel entre outros tantos grandes corredores de trail. Todos muito competitivos em provas longas e com poucas chances de pódio em provas mais curtas.
“Mesmo o papa recordes Jim Walmsley não tem perfil para correr provas da Skyrunning ou da Golden Trail Series, exceção feita à Sierre-Zinal, uma prova relativamente “plana” e muito veloz.
“Da mesma forma, muito dos atletas citados na matéria, provavelmente nunca correrão provas longas. Davide Magnini, Stian Angermund-Vik, Marc Lauenstein, Thibaut Baronian e Thibaut Garrivier são especialistas em provas mais curtas ou verticais. O mesmo vale para Judith Wyder, Maude Mathys, Sheila Avilés, Ruth Croft, Elisa Desco, entre outras tantas.”