Desculpe, este não será um relato/ post curto, assim como a corrida de Aventura não é simples e nem curta.
Quando estamos em meio a natureza perdemos a noção de tempo, pois ela nos obriga a olhar para dentro de nós, seres animais, com instinto de sobrevivência, que se adapta ao meio que estamos inseridos. E mostra nossa fragilidade como seres humanos.
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E esse sentimento de querer estar em contato com a natureza fez com que eu me apaixonasse pela corrida de montanha, o tal “trail running”. Mas “apenas” correr já não me bastava. E após 3 anos correndo montanhas por aí, fazendo algumas ultras, a corrida de aventura chamou minha atenção.
Meus melhores amigos e meu companheiro, são do mundo “da Aventura”, onde correr não é o suficiente, mas também passar horas na montanha pedalando, navegando com bússola, mapa, remando e escalando.
E foi quando uma prova, com um hiato de 10 anos e considerada muito dura por todos, lançou sua inscrição que o desejo de me aventurar com as modalidades que adoro, e dentro de um esporte, me encheu o coração pelo desafio.
Por um convite de um amigo, a chama reacendeu e decidimos fazer o clássico quarteto. E no final das contas, nosso amigo se lesionou e sobrou para Octávio e eu nos inscrever como dupla mista na prova “Brasil Wild”.
O desânimo dos últimos tempos com os treinos longos que fazia para correr montanha se transformaram em prazerosos treinos longos de bike, canoagem e muito treino de força. Foi necessário ter uma alimentação correta e suplementação devido à minha veganice. Isso tudo em um período de apenas 2 meses, onde tive que aprender do Zero a fazer downhill de bike sem me esborrachar no chão.
Aprendi que apenas um par de tênis e mochila não são suficientes e é preciso ter também bike, colete salva vidas, equipamento de técnica vertical, capacete, cadeirinha, luvas, plotar mapa, saber navegação, etc. É bastante coisa e mesmo assim, não garante que a prova será concluída.
A prova
E foi na sexta feira, antes da largada no dia 12, que a corrida de aventura mostrou sua cara. Pegar kit, separar cada “Drop Bag” com tudo o que será necessário nas transições, assistir o briefing (estar no meio de tanta gente “monstra” e alguns ídolos foi incrível), comer e se hidratar bem, separar toda a comida, roupa, checar a bike, colocar número, plotar mapa, Ufa.. horas de preparativos! Todo detalhe conta! Confesso que é exaustivo e deixa um tempo curto para realmente descansar.
No dia da largada da prova é importante lembrar de comer bem, manter a ansiedade sobre controle e agradecer.
No momento que é dada a largada, nada mais passa na cabeça e nada mais importa. Apenas “sobreviver”, com tudo o que carregamos nas costas (os equipamento obrigatórios e de segurança).
O percurso além de lindo foi um grande presente. Precisamos valorizar as belezas do Brasil e provas como essa, que nos permite desfrutar das belezas que só nosso país possui. A Canastra mostrou que não é fácil transpor suas montanhas. O seu terreno é técnico, seco e pedregoso, mas com paciência, alimentação e hidratação corretos, é possível superá-lo.
Infelizmente não cruzei o pórtico de chegada por erro de navegação, mas foi aprendi que na corrida de Aventura, saber lidar com o imprevisível é mais importante que preparação física. Aqui fica o aprendizado de que sempre dá para continuar, se estamos bem fisicamente!
Mas nada minimiza as imagens do pôr do sol, da lua brilhando, do cerrado, a silhueta das montanhas à noite, do clima ameno, da celebração interior por estar viva, da gratidão. Terminei deitada no chão, olhando as estrelas, e com energia para voltar a fazer tudo de novo.
Na volta para casa, o mapa já estava todo fixado na cabeça, pois é difícil esquecer o que poderia ter sido melhor. E assim nasce mais uma “da Aventura”, com vontade de treinar mais, aprender a navegar e melhorar os pontos fracos.
Brasil Wild foi memorável!
Parabéns a todos que se desafiaram, só quem largou sabe!!
Não poderia ter escolhido uma prova melhor para minha estreia. E me aguardem, pois ainda iremos nos cruzar por muitas montanhas por aí.
Ganha quem aprende!
Momento Xuxa: Agradecimento à minha família (que nem imagina os perrengues); às amigas que monitoraram o Spot; aos amigos do Bonde; à Mica Lopez, que se tornou minha tutora; ao Octávio, minha dupla, parceiro eterno; ao Ude e à Lu, que compartilharam das montanhas; ao Vizi pelos equipos; à galera da Matadentro e à Kaare pelos treinos. E à Osprey pela mochila !
Desafiem-se, pois a Montanha chama e é para lá que eu vou.