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No início do ano fui convidado a fazer parte de uma equipe de brasileiros (trio) que viria ao Marrocos para correr uma prova de maratona de MTB: a TITAN DESERT, uma prova em etapas que literalmente atravessa o deserto do Saara marroquino. O trio chamado de SNZ (Sangue nos Zóio) foi composto por mim e os paulistas Ricardo Roldão e Ventura.
Desde que me mudei para o Marrocos há aproximadamente 1 ano e meio, fiquei sem treinar como se deve e acabei perdendo o meu ritmo para provas, principalmente as longas. Isso me deixou bem apreensivo para esse desafio, mesmo sabendo que o nosso objetivo era somente concluir a prova sem cortes e com a equipe inteira e junta.
Acabei indo uns três dias antes para o local da largada, o vilarejo de Erfoud, a leste no mapa marroquino, quase fronteira com a Argélia. Encontrei os meu companheiros um dia antes da largada. A organização da Titan Desert realmente me impressionou. Eles disponibilizaram a todos os atletas uma grande infra-estrutura durante o evento, que durou 8 dias (dia de chegada, 6 dias de evento e dia de partida) com:
- Tendas com colchão, toalha, sabonete e lampião
- Água
- Comida: café da manhã, almoço e jantar
- Todo o deslocamento das bagagens entre os estágios da prova*
- Suporte médico
- Opção de contratar suporte mecânico e de fisioterapia
- Tenda Garmim, entre outros…
Sem contar a simpatia e atenção que todos os staffs nos deram. Eu realmente fiquei muito impressionado. Fazer uma prova como essa, no meio do deserto, é realmente muito complicado. Chegar em mais de 85% das partes do percurso é bem difícil e não nos faltou nada, nunca! E olha que não estávamos na ponta.
Alguns números de 2017 que eu fiz questão de marcar:
- 455 atletas largaram no 1º dia, sendo a grande maioria espanhóis
- 86 Staffs espanhóis e 150 marroquinos
- 3 pontos de água em cada uma das 6 etapas
- 1 ponto de agua em cada largada e chegada
- total de 41.130 litros de água disponibilizados
No nosso primeiro dia, 30 de abril de 2017, fizemos um total de 102,7 km em 06h01, com uma altimetria máxima de 901m e ganho de 676m. Largamos do hotel Xaluca rumo ao meio do deserto. Este dia foi bem complicado, especialmente para mim, pois fiquei bem enjoado e cansado, o corpo não estava mais habituado a fazer força dessa forma com uma temperatura tão alta. Vômitos e mais vômitos depois, chegaríamos ao nosso acampamento no meio do deserto. Lá encontramos serviços de massagem e mecânica para as bikes, além das tendas. Neste 1º dia muitos atletas foram negligentes com relação ao sol e ficaram demasiadamente expostos sem camiseta durante todo o final de tarde.
Acordamos animados para o 2º dia, 1 de maio de 2017. Tomamos café da manhã e nos preparamos para a largada. Foram 98,5km em 6:42h, com 758m de altimetria máxima e 1.246m de ganho, um dia com muito sol e areia fofa pelo caminho. Neste dia eu já me sentia bem e conseguia ajudar de forma mais efetiva os meus companheiros de prova. Novamente a estrutura de prova foi impecável e os pontos de água e alimentação foram vitais para a nossa chegada ao acampamento 2.
Revigorados e animados para o dia 3, acordamos cedinho para os últimos preparativos. Dia 2 de maio de 2017, foram 103,3km em 7:08h, com uma altimetria máxima de 852m e ganho de 722m. Realmente dava para perceber que a parte dura da prova estava chegando, afinal quando o organizador alivia é que vem “chumbo grosso” pela frente.
Foi o dia do desafio GARMIM, onde os atletas tinham que se orientar sem rota marcada utilizando o GPS. No mapa aparecia somente o POSTO DE CONTROLE. Apesar de termos tidos alguns problemas com os nossos GPS’s e de ter sido um dos dias mais duros por conta do calor, foi bem bacana. Conseguimos evoluir um pouco na classificação do trio masculino e escolher bons caminhos até a chegada, o acampamento 3.
O terceiro acampamento foi o mais bem estruturado da prova, afinal nele ficamos duas noites. Tinha até piscina para refrescar os mais ousados. Digo isso pois o sol do Saara é bem forte e todos os que o subestimaram, correram sérios riscos de não terminar a prova. Para nós atletas foi o dia mais confortável, pois pudemos descansar sem ter que arrumar as malas para o dia seguinte, afinal voltariamos no dia 5 para o mesmo acampamento.
Dia 4 – 3 de maio de 2017 – com 103,1 Km feitos em 5:55h, um dos dias mais duros da prova. Na noite que precedeu o dia 4 nós tivemos que fazer uma bela logística para saber o que levar para o próximo acampamento, afinal a organização neste dia não iria levar as nossas malas*. Tínhamos que ser autossuficientes.
Para um corredor de aventura isso é um sonho bom, porém para os outros atletas nem tanto. Muitos estavam com as bikes pesadas e cheias de coisas penduradas, nós optamos por levar o mínimo possível. Esse dia tivemos uma altimetria máxima de 818m e um ganho de 405m. A prova continuava sem altimetria significativa, porém com muito calor e areia. Chegamos finalmente ao acampamento 4, um dos mais remotos e precários. Uma grande tenda coletiva seria o dormitório dos atletas nesse dia e nada seria fornecido além de comida e água. Nem mesmo os mecânicos de bike ou o pessoal da massagem estavam presentes.
O dia 5 – 4 de maio de 2017 – foi o dia mais longo da prova com 145,2km. Especialmente para nós esse foi um dia bem duro, por conta de um problema na roda do Ricardo. Ficamos um bom tempo parados e chegamos a pensar que pegaríamos o corte. Graças a um outro competidor que já havia abandonado a prova, conseguimos uma roda extra e seguimos na etapa. Mesmo após termos ficado em último lugar, conseguimos concluir a etapa em 7:45h.
Essa etapa teve 1074m de atitude máxima e 944m de ganho. Neste dia deveríamos levar todos os equipamentos de pernoite de volta ou deixarmos em caixas para doação, o que a grande maioria fez.
De volta ao acampamento 03, terminamos a etapa bem cansados, porém dentro do tempo e ficamos muito confiantes, afinal haveria somente mais uma etapa. Houve muitas desistências nesses cinco dias de prova, as principais causas foram desidratação e insolação.
Dia 6, todos os sobreviventes estavam muitos contentes na largada deste dia 5 de maio de 2017. Restavam apenas 50,9km para concluirmos umas das provas mais duras que eu já participei. Fizemos a última etapa em 2:51h.
Essa etapa foi repleta de estradas de terra com poucos trechos de areia no final, com uma altimetria máxima de 891m e ganho de 226m. Chegamos no mesmo lugar da largada do 1º dia, Erfoud.
Os organizadores chamaram essa edição da prova de “volta às origens”, pois retornou ao seu formato original com muito deserto e trechos longos todos os dias. Ficamos os três muito contentes de termos encarado e vencido esse desafio no Saara. Aprendi muita coisas com essa prova e tambem revi muitos preconceitos, como por exemplo:
- Existe prova dura de MTB sem muita subida;
- Existe prova dura de MTB sem muitos trechos técnicos;
- Nunca subestime o deserto;
- Nunca subestime o vento no deserto;
- Seja solidário;
- Nunca subestime o sol;
- Corredores de aventura são pessoas diferentes em qualquer lugar do mundo;
- É muito importante ouvir o briefing e o organizador;
- Mono suspensão funciona e muito bem;
- Uma boa organização é fundamental para que os atletas concluam o percurso;
- O valor da inscrição de provas expedição de MTB vale cada centavo pago, os caras têm muito trabalho (provas expedição em geral).
Com certeza estarei de volta em 2018 para vivenciar novamente todas as experiências extraordinários no Deserto do Saara: inúmeros pequenos vilarejos, lugares históricos, crianças, jovens, adultos e idosos que expressam em seus rostos toda a luta pela vida e pela busca incansável ao recurso mais importante do mundo, a água. Uma prova imperdível que deveria fazer parte do calendário de qualquer atleta de MTB.
A Titan Desert 2018 irá acontecer de 29 de abril a 04 de maio, com abertura das inscrições em outubro de 2017.
Para maiores informações sobre a prova, envie email para : contato@moroccoimperialbike.com