Autor: Adventuremag

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QuasarLontra nos últimos preparativos para o Expedition África 2017. Prova terá dark zone no trekking devido ao perigo dos búfalos. – Adventuremag

A equipe QuasarLontra – Rafael Campos, Marina Verdini, Alexandre Dino e Marcelo Nogueira – está pronta para a Expedition África, etapa do World Series que terá largada no domingo às 07h00 (horário local) com a participação de 39 equipes de 11 países, em um percurso de 520 quilômetros em orientação, trekking, mountain bike e canoagem.

Rafael Campos, capitão da equipe, enviou algumas informações com exclusividade para o Adventuremag, logo após o briefing.

“O primeiro dia da prova tem bastante transições – trekking, canoagem, trekking, bike'”, comentou sobre as primeiras seções curtas. “Depois começam as seções mais longas, sendo as de bike as mais longas, com uma seção de 100Km e outra de 130 Km”, completou.

Duas seções de trekking não são tão grandes comparada com as bike, mas serão bastante exigentes, sendo as maiores de 50 Km e 60 Km.

Uma situação inusitada será o Dark Zone na seção de trekking que acontecerá logo nas primeiras noites. Normalmente a parada obrigatória acontece nas seções de canoagem com corredeiras, mas desta vez o perigo está nos búfalos.

Por isso as equipes deverão buscar um lugar seguro, evitar acender as lanternas e ficar parada até o amanhecer.

“Eles são perigosos e atacam. A orientação é se um búfalo for visto, saia do caminho, suba numa árvore ou se estiver no canion, comecem a escalar com puder, porque existe uma grande quantidade de animais e são bastante agressivos, principalmente os machos”, disse Campos.

Rafael disse também que perceberam algumas grades bem altas e perguntaram o motivo. A resposta foi que existem para barrar alguns animais mais agressivos que existem na região, mas os búfalos são ainda a maior ameaça.

“A temperatura é agradável durante o dia, mas à noite cai para 5-6 graus.”

A equipe terá que entregar para a organização 2 caixas de reabastecimento que serão transportados até as áreas de transição.

“Estamos com um astral bacana e agora estamos na loucura de montar as caixas. No sábado de manhã entregamos as caixas de bike e à noite, as outras restantes.”

 

Relato de Arnaldo Maciel na 12ª PapaCorrida de Aventura – Adventuremag

Vou começar o relato da minha participação na Papacorrida cinco dias antes, quando após correr aqui na Bahia uma prova muito dura, a Peleja, passei uma mensagem para o organizador e amigo Valmir Schneider e quem me respondeu foi minha querida Rose, que todo corredor de aventura no Brasil conhece, vamos ao diálogo:

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– Comandante, qual a chance de eu fazer a prova menor?
– É a Rose
– Diga amiga!
– te #@$%! amigo
– Me quebrei na prova daqui, não quero fazer feio…
– Se tu achou a Argentina dificil, imagina aqui
– Por isso mesmo, kkk
– Quero te ver chorar
– Assim que você é minha amiga?
– Te adoro, fiz a prova pensando em ti

Pronto, o que a Rose queria dizer? Estaria apenas brincando ? Queria mesmo me ver chorar? Quem conhece a Rose sabe muito bem do bom humor dela e encarei aquilo apenas como uma grande zoação no papo.

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Cheguei em Porto Alegre na sexta à tarde e o amigo Benito Brocca me pegou no aeroporto, me despachando após o almoço para Venâncio Aires com o Vantuir. Pelo caminho notei que dois temores meus iam se dissipando: o frio, já que parecia que trouxera o calor da Bahia comigo; e o relevo, já que de POA até Venâncio era tudo muito plano, então era apenas zoação da Rose comigo.

Recepção calorosa pelo amigos, uma corridinha na esteira na academia da Papa, bons papos, boa comida e descanso para o dia seguinte.

Chegamos cedo em Vila Duvidosa, seria o nome um prenuncio de minhas dúvidas? Cadê o frio? Cadê a dificuldade maior que a Argentina?

Ajudei no que pude a organização. Valmir não quis me levar para colocar os PC’s (risos) e pronto, começei a TPP – Tensão pré prova. Como será minha parceira Silvia que nem conheço correndo? Plotar o mapa em UTM, nunca mais fiz isto, navegar a noite, adaptar a bike emprestada de Larissa, etc, etc.

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O ginásio foi se enchendo de corredores de aventura de todos os lugares e um clima ótimo se instalando. Minha parceira Silvia Paz chegou e foi chegando velhos amigos, outros conhecidos apenas de redes sociais e um monte de novos amigos que com certeza a gente acaba fazendo depois de uma corrida de aventura, aliás, uma das melhores coisas que acontece.

Wladimir Togumi, o melhor fotógrafo de aventura do Brasil estava lá, muito merecidamente foi chamado de “Pelé da fotografia” pelo radialista que lhe entrevistava querendo saber sobre sua atuação na corrida e lhe concedendo toda a importância merecida, basta olhar as fotos da corrida para concordarmos com ele.

Clima legal, briefing super organizado (aprendendo sempre), um belo jantar feito pela comunidade local, que acaba por reunir todos em volta de longas mesas proporcionando ainda mais a integração dos corredores, SPOT’s colocados e finalmente mapa entregues, com apenas os cinco PC’s iniciais plotados para um trekking inicial de uns 10km que poderiam ser batidos aleatoriamente.

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Já era certeza pelos comentários de todos que eu trouxera o calor da Bahia para o RS, haja visto que todos já estavam surpreendidos com o clima ameno da noite.

Largamos as 21:00h com fogos, muita gente acompanhando, corredores da Aventura que só iriam largar as 5:00, familiares, staff’s e adrenalina no alto, tomando cada equipe rumos diferentes.

Optei por começar pelo PC-A, seguindo para o C, E, B e finalmente após passar novamente pela largada, pegariamos o D, o mais alto de todos. Junto com outras equipes batemos muita cabeça para pegar o A, que estava num “Talvegue” seco. Eu para falar a verdade nem sabia que era isso, aliás descobri que vem do alemão “Talweg” e num lugar que segundo o organizador até os cachorros entendem alemão (Devem latir “Rolf, Rolf” invés de “Au, Au”). Eu me embolei e levei muito tempo para achar, aliás para acharmos, já que desde o inicio os novos amigos Gustavo e Vanderlei que estavam em dupla masculina decidiram fazer a prova juntos comigo e Silvia.

Batido o PC-A depois de muito tempo, seguimos para os outros sem dificuldades de navegação, mas já com a certeza que o “promessa” de Rose viria a se concretizar. Foram uns 12 km ou mais com uma altimetria de uns 800m e cinco morros para subir, cada um com suas dificuldades diferentes.

Voltamos para a largada em ultimo lugar e saimos logo de bike para tentarmos recuperar posições e fazer a prova da melhor maneira possivel, mas com o principal objetivo de curtir ao máximo e terminar a prova.

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E aí todas as promessas da Rose de tornaram verdades absolutas. Nunca vi tanta subida, meu Deus, para que tanta subida assim? E pior, Valmir com sua parcela de maldade fazia questão de não colocar os PC’s em locais acessiveis, sempre era lá no fundo das trilhas, riachos, pedras, que faziam de cada grampeada uma nova dose de sacrificio, ora escorregando com sapatilhas, ora subindo barrancos escorregadios de barro.

Mas tudo que sobe tem que descer, mas na hora que pensavamos no alivio da descida, encontravamos ladeiras ingremes e cheio de pedras que nos obrigava a travar tudo e descer no maior cuidado, meu Deus agora sim, tá mais dificil que na Argentina (lá eu tinha o Vagner para me ajudar, rs).

Mas como é um mantra do corredor de aventura que quanto pior, melhor, passávamos em locais maravilhosos e a corrida era uma delicia. Navegar neste nivel faz com que cada PC alcançado seja uma grande vitória. É corrida na sua essência, no que tem de melhor para oferecer aos que gostam de navegar, de se perder e se achar, não poderia ter um casamento melhor da organização, Rose buscando nos dificultar fisicamente e Valmir nos dificultar na navegação. Prova dura, mas divertida, dura mas prazerosa, que bela corrida é a Papacorrida.

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O frio não veio, a lua apareceu e lá fomos nós subindo e descendo ladeiras sem grandes dificuldades na navegação. Chegamos ao AT2 cortados, não fizemos o 2º trekking, aliás poucas fizeram e continuamos de bike até o AT4. No caminho descemos e subimos uma ladeira enorme, novidade (risos) e encontramos a Rose neste ponto, feliz e super bem humorada. Via no rosto dela que suas promessas feitas a mim estavam sendo cumpridas, não era falta de aviso, estava sofrido demais.

Novo corte no AT4, minha parceira já bastante debilitada com uma lesão na coxa que vinha desde o primeiro trekking, mas com uma garra incrivel e sem fraquejar em nenhum momento. Continuariamos de bike até a chegada, apenas mais dois PC’s e pronto! missão cumprida.

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Já estavamos sem nossos parceiros que em um determinado ponto deram uma acelerada para tentar evitar o corte e seguiamos com algumas equipes próximas, entre elas a dupla campeã mista, Daniel e Denise que não tinham sido cortados.

Mas quando estavamos no caminho da chegada encontramos com a Rose novamente, desta vez com Togumi. Acho que deve ter pensado que não basta fazer a gente sofrer, tem que registrar o sofrimento. Estava no inicio daquela que seria sua última obra prima da prova, uma ladeira em pé, interminável, escorregadia, que subiamos empurrando as bikes, que empinava no final e que olhava para trás e via ela se acabando de rir do meu sofrimento e eu pensando: “vou achar uma ladeira na Bahia maior que essa, levar minha prova para lá e fazer a Rose subir umas 5 vezes, ela que me aguarde.”

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Batemos um penultimo PC e descemos a ladeira para a chegada. Maravilha, agora só descer, desde que a certa… Descemos a errada e lá fomos nós de novo subir mais um pouquinho atrás do último PC, mas dai até a chegada, novamente junto com nossos parceiros, foi só alegria para finalizar uma das melhores provas que já corri em quase 16 horas e altimetria segundo alguns de mais de 3.000m acumulados.

Uma semana antes já tinha feito uma corrida dura de navegação e estava novamente participando de uma prova durissima fisica e tecnicamente, mas que me trazia uma satisfação enorme de poder correr nestas condições, colocando nossos limites a prova, fazendo da navegação uma parte fundamental da sua performance. Foi isso que me fez apaixonar por este esporte, poder encontrar a dificuldade e ter uma solução para sair dela, poder atingir seus objetivos mesmo que não sejam os de todos, mas são os seus e atrás deles a gente se supera para alcança-los e consegue.

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Brincadeiras a parte, me sinto parte da Familia Papaventuras. Gosto da Rose como ela nem imagina e se ela achou que ia me fazer sofrer, se enganou. Me faria sofrer se me proporcionasse uma corrida balizada, sem mato, sem perrengue, sem subida, sem lama, sem frio e assim vai. Aí sim seria sofrimento sair da Bahia, viajar para tão longe e encontrar uma corrida moleza. Ela me fez sim ser muito feliz nesta corrida, afinal como ela me ensinou quando corremos uma vez juntos, eu estava onde queria estar e isso inclui todas as ladeiras que subi e todos os perrengues que passei. Me convide sempre para este sofrimento, vou vir correndo.

Obrigado a minha parceira Silvia Paz por ter aceitado correr com este desconhecido até então e sem garantias nenhuma que poderia ser bom; aos parceiros de grande parte da prova, Gustavo e Vanderlei pela paciência com meu ritmo; à Familia Papaventuras, Valmir, Rose, Larissa e Lavinia que me acolheram tão bem, me fazendo sentir em casa e a toda a galera do Buzão da Argentina que fazem dos nossos encontros sempre uma festa.

Foi muito legal ser reconhecido nas trilhas com chamados carinhoso de “presidente”. Não sei se poderei fazer muita coisa ou algo diferente com este cargo que assumi na CBCA junto com excelentes colaboradores, mas posso garantir que vou trabalhar para que provas como a Papacorrida tenham vida longa e que nosso esporte se fortaleça sempre e nos proporcione momentos como estes.

Obrigado Familia Papaventuras.

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