autor: Susana Avella
“Thirty seconds to go!
O tempo não se acelera, pelo contrário, parece ter parado.
É como se o mundo girasse enquanto está parado para nós.
As pessoas gritam do outro lado da grade, mas eu não ouço nada.
O silêncio é total, absorvido pela tensão à espera do tiro de partida.
Meu pulso fica cada vez mais rápido e potente.
Sou capaz de ouvir cada batida do meu coração em qualquer parte do corpo:
cabeça, mãos, pernas … Dentro de mim começa a contagem regressiva.
Vinte, dezenove, dezoito, dezesseis.
Sinto como as forças fogem de mim e me sinto instável.
As pernas estão rígidas mas tremendo, não parecem capaz de sustentar meu corpo.
Estou convencido de que se ficar assim por mais um segundo, vou cair ao solo.
Dez, nove, oito, seis.
Eu não sei se o tempo para completamente ou se tudo acelera até uma velocidade incontrolável.
Agora não só me tremem as pernas, agora todo meu corpo parece pesado e torpe,
inclusive fica complicado até mesmo mover os lábios para gritar.
Se ninguém me segurar, vou cair ao chão.
Três, dois, um …
De repente, o som retorna,
Estou imerso nesse mundo que gira com velocidade,
E me sinto desorientado
alguns décimos de segundo antes que meu corpo responda
com força, seguindo para a frente.
Agora fica leve como uma pena e é capaz de se mover em alta velocidade desviando agilmente
dos corredores que me cruzam o caminho, até me colocar à frente da corrida “.
(Do livro “Correr ou Morrer” Killian Jornet)
Escolhi essa passagem para ilustrar os estados emocionais prévios em eventos competitivos. Todos nós que fazemos esportes passamos algumas vezes por essas sensações de querer que o confronto comece de uma vez ou de não poder tolerar um segundo mais de ansiedade. Apesar disso ser esperado, frequentemente pode acontecer ao desportista com uma antecedência incomum (uma semana antes) ou com uma intensidade excessiva, tanto para o lado da apatia quanto da mania, causando problemas de descanso, concentração, motivação, na tomada de decisões, coordenação, etc.
Obviamente por não serem controlados de maneira eficaz, esses estados emocionais antecipados causam uma queda no desempenho.
Portanto, é aconselhável que o treinador esteja atento a essas mudanças e pedir, se necessário, a ajuda de um psicólogo especializado em esporte.
O trabalho psicológico inclui:
– Que o atleta adquira um repertório de temas musicais, tanto de relaxamento como de motivação e os use conforme seja pertinente. O uso da música de maneira sistemática potencia a formação de um ótimo estado emocional de pré-largada.
– Trabalhar no controle da respiração: ajudar que o atleta tome consciência das situações que perturbam sua respiração e fornecer o conhecimento para que mantenha um ritmo respiratório adequado às diferentes exigências da competição. A respiração é uma ferramenta de múltiplos usos: ativa e energiza; regula as emoções; focaliza a atenção; conserva a calma e o equilíbrio.
– Uso de relaxamento: aprender a observar os sinais de tensão e sua localização no corpo. O relaxamento das áreas tensas contribui para a redução do stress e previne lesões.
– Fazer práticas imaginárias ou visualizações: é a oportunidade de recriar mentalmente o que se quer alcançar, integrando a maior quantidade de sentidos de maneira vívida. Ao antecipar o cenário da ação, gera-se auto-confiança ao se incrementar a sensação de controle das respostas emocionais.
É desejável que ao longo de sua carreira esportiva, o atleta aprenda a reconhecer suas emoções prévias e tenha progresso no controle das mesmas, tanto para desfrutar de sua atividade quanto para otimizar seu rendimento.
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Lic. Susana Avella
Formada pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Buenos Aires (1993).
Desde 2003 trabalha no âmbito do Esporte na preparação mental de atletas e na capacitação de treinadores em distintas disciplinas: futebol, tênis, Muay-Thai, remo, atletismo e triatlon.
Difunde sua atividade e experiência em:
PsicoDeporteando – psicodeporteando-susanaavella.blogspot.com.ar