O Salomon Speedtrak é uma espécie de ‘irmão minimalista’ do consagrado Speedcross, provavelmente o tênis de montanha mais popular do mundo. Digo isso não no sentido de quase descalço, como ficou conhecida a onda que tomou conta do mercado no início da década, motivada, sobretudo pelo livro ótimo ‘Nascidos para Correr’ – no final deste review, trazemos um vídeo bem interessante sobre minimalismo. Quando digo ‘quase minimalista’ me refiro a um tênis parecido com o Speedcross, só que bem mais leve, flexível e com menos drop, mas ainda assim parrudo o suficiente para aguentar corridas de aventura e de montanha, como toda linha Salomon. Isso ficou claro nos dois testes que realizei, como mostrarei a seguir. Com um detalhe: ele é mais barato – R$ 599,90 contra R$ 749,90.
O modelo é oferecido em três cores: azul com preto, preto e amarelo (o mais discreto da família) e vermelho com amarelo e laranja – evidentemente, mais espalhafatoso. Como gosto de equipamentos coloridos nas provas fiquei com esse último sem medo de ser feliz.
Fisicamente falando, embora haja diferenças, o Speedtrak manteve alguns dos recursos que sempre fizeram sucesso no ‘irmão’ Speedcross. Os principais são os sistemas quicklace (que dispensa cadarço e equipa também a consagrada linha XAPro), o sensifit (sistema de proteção nas laterais que ‘abraça’ os pés) e as travas no solado, criadas para dar aderência na lama e facilitar a frenagem nas descidas – chamadas de contagrip.
Mas, tirando esses itens, há várias diferenças. A primeira e mais visível é o drop (a diferença entre a espessura do solado no calcanhar e na base), bem menor no Speedtrak (6 mm) que no Speedcross4 (atualmente, 10 mm). Isso fica claro quando colocamos os dois modelos um ao lado do outro.
Uma vez calçado, fica claro que o Speedtrak é também mais leve: são 240g contra 310g no Speedcross – e 410 gramas no ‘pé de boi’ XAPro, meu preferido. Pensado para ser mais leve, o Speedtrak possui um tecido (mesh) mais respirável na parte da frente, o que o torna também mais flexível. Por fim, há ainda uma diferença menos perceptível: o Speedtrack é mais largo na frente, o que proporciona um ajuste um pouco mais folgado.
Para verificar como essas mudanças interferem na prática, fui para o ‘campo de teste’ do Pico do Jaraguá, em São Paulo. O local é excelente para verificar a reação do tênis a diversos tipos de terrenos. Possui paralelepípedos, terra batida bem firme, trechos com galhos em meio à mata fechada e, no final, pedriscos e uma pequena passagem de asfalto. A ida é toda subindo (343 metros de desnível em 3km) e a volta é despencando, o que permite testar os cravos e o suporte. Aqui, gravei um vídeo sobre o teste.
Aproveitando para treinar para o Haka Race, subi num ritmo forte para o meu padrão (12 min/km). Minha maior curiosidade era verificar como o tênis se sairia no trecho de pedriscos. O sistema de travas, segundo a Salomon, é feito para dar tração especialmente em terrenos com lama. Por isso, ele tende a ser um pouco menos estável em locais com pedras. Mas o Speedtrak tem uma solução de performance melhor que a do Speedcross: por ter menos drop, possui um centro de gravidade mais baixo e, por isso, proporciona mais estabilidade.
Ele se saiu bem o suficiente para não me deixar escorregar, mesmo quando dei pequenos piques. Na sequência, pouco antes do final da trilha, há uma passagem de cerca de 200 metros de asfalto, que também me despertava a curiosidade: afinal, como os cravos se sairiam em piso duro? Para minha surpresa, me senti mais confortável com o Speedtrak do que com um Fila que costumo utilizar no asfalto – acredito que por causa do peso, os já mencionados 210 g da Salomon contra 330g, do Fila, que possui um perfil mais de amortecimento.
Embora tenha um ajuste um pouco menos justo que o Speedcross, tanto na subida quanto na descida não senti o tênis ameaçando se soltar ou meus pés dançando lá dentro.
Também estava bastante ansioso pra ver como seria sua performance morro abaixo, verificando o sistema de frenagem. Desci o mais rápido que podia pelo singletrak do Jaraguá, e me sentindo um pouco (bem pouco…) como Kilian Journet, o maior corredor de montanha do Planeta – se você não conhece o ‘ET’ Kilian, confira no vídeo abaixo.
Faltava, porém, um teste mais definitivo. Por isso, resolvi usá-lo no Haka Race Itanhandu, dia 19 de agosto. Afinal, nada melhor que uma corrida de aventura in loco, para pôr à prova um tênis desse tipo, correndo (em todos os tipos de terreno), pedalando e até descendo por dentro de um rio (water trekking).
Para minha sorte, a etapa foi sob medida para o Speedtrak: com trechos longos de corrida (mais longos que o padrão do Haka) e várias passagens com lama (havia chovido bastante nos dias anteriores), me permitiu conhecer o melhor do equipamento. Nas passagens de trekking-corrida, pude desenvolver um ritmo muito mais confortável que teria feito se usasse seu irmão mais pesado, XAPro 3D. Consegui, inclusive, ser mais rápido que meu parceiro de equipe, André, coisa que raramente acontece. Claro que não dá pra creditar toda a diferença de performance só ao tênis; eu estava bem treinado na corrida e ele tinha feito uma maratona duas semanas antes. Mas a melhoria do conforto na corrida com 170 gramas a menos em cada pé foi perceptível.
Nos trechos de lama ele também não fez feio. Como o irmão mais velho Speedcross, quase não escorregou, me permitindo acelerar sem medo. Por último, um detalhe bem prático: o tênis terminou a prova muito mais limpo que a maioria dos outros que já utilizei (o XAPro e um modelo da La Sportiva), mesmo tendo encarado um water trekking e trilhas com muito barro.
Acima e abaixo, o Speedtrak após o Haka Race Itanhandu: quase sem sujeira
Resumindo: fica a ideia de que o Speedtrak é um produto bem resolvido para quem gosta de tênis leves, não se importando de, para isso, abrir mão de um pouco mais de proteção – principalmente no contraforte – como no Speedcross e no XAPro 3D.
Informações
Salomon Speedtrak
Preço sugerido: 599,90
Peso: 240 gramas
Drop: 6mm
http://www.salomon.com/br/product/speedtrak.html
Obs.
Se você ficou curioso sobre o tema ‘tenis minimalistas’, tratados no início deste review, este vídeo, de Eduardo Suzuki, do site Tenis Certo, e Sérgio Rocha, do Corrida no Ar, fala mais sobre o tema: