Ézio Rubbioli, Thiago Mol (ex-integrante), Larissa Lima e Alexandre Teles (Dino) e à frente, Flávio Vianna, Ana Paula e Fábio Brettas (Bió)
A expressão ‘Trotando pelo mundo’ até poderia indicar um hobby ou talvez um grupo de amigos que simplesmente curte conhecer lugares diferentes e exóticos, dividir experiências e depois levar as lembranças para casa. Mas o que dizer desse grupo, ou melhor, de um time cujo resultado de suas brincadeiras, passeios e diversões é estar entre os Top10 do Ranking Brasileiro de Corridas de Aventura?
Essa é a Trotamundo, equipe que estreou na longa e dura Chauás Juréia, em 2004, e cujos integrantes Marianinha, Marcelão Carioca, Mamute e Guilherme Balesteros se perderam por mais de oito horas até a desistência da etapa. Experiências devidamente assimiladas, a equipe cresceu e ganhou coesão e entrosamento. Hoje, Alexandre Teles – o Dino -, 33 anos, Instrutor de Motocross; Ana Paula Silveira Beltrão, 35 anos, Educadora Física; Ezio Luiz Rubbioli, 46 anos, engenheiro civil; Fábio Brettas – o Bió -, 33 anos, empresário; Flávio Vianna – o Flavinho -, 28 anos, coordenador técnico da Leg Assessoria Esportiva; Isabella Ribeiro – a Belinha -, 29 anos, dentista; e Larissa Lima, 34 anos, nutricionista e funcionária pública, dividem o pódio dos tops brasileiros do esporte, compartilhando conquistas e perrengues nas principais competições do país. Na foto acima aparece ainda Thiago Mol, que também teve passagem pela equipe.
Entre os resultados estão a liderança do Circuito Mineiro Try On Adventure Meeting 2005 e 2006; o 27º lugar no Mundial Ecomotion 2008, sendo a sexta melhor equipe brasileira na etapa; a 14ª posição na primeira prova longa da Trotamundo, o Ecomotion 2007, quando também levou a sétima posição entre as brasileiras; o 6º lugar no Brasil Wild Extreme 2008 e o segundo no circuito; e um inesperado segundo lugar na Carrasco 2008.
Esta última, a propósito, ficará na memória destes destemidos corredores provavelmente até a velhice, quando poderão contar aos netos que, assim como na vida, as provas só acabam no final.
Competições só terminam no pórtico
Sair devagar e manter o ritmo para ganhar posições é a estratégia básica da Trotamundo nas provas longas. Apesar de se sentirem apreensivos quando deparam com as equipes ‘famosas’, com seus uniformes padronizados e equipamentos top de linha, a equipe mineira mantém a autoestima e se anima quando vão ganhando posições a cada posto de controle.
A tática tem dado certo nos últimos anos e até já foi motivo de debate durante a Carrasco 2008, na Chapada Diamantina, no estado da Bahia. Enquanto nomes de peso, como Selva Kailash, Team Xpresso e SOS Mata Atlântica, se trombavam em busca da melhor posição debaixo do pórtico de largada, os atletas Ezio Rubbioli, Flávio Viana, Alexandre Ferreira e Ana Paula Beltrão negociavam a estratégia de manter o ritmo sem se preocupar com as outras equipes.
Dada a largada, quem acompanhava a prova pela quase cobertura on line sabia que a disputa estava acirrada entre os líderes e em todas as notas da disputa o nome Trotamundo era sempre citado. Tanto que, a partir do PC16, a dificuldade da prova de 230 km, com frio de 6 graus em pleno sertão baiano, deixou apenas cinco equipes na briga pelo pódio: Selva, Team Xpresso, SOS Mata Atlântica, Competition Aroeira e, claro, Trotamundo.
Apesar da disputa e contra a vontade do companheiro Flávio, Ezio preferia manter os planos iniciais. Enquanto corriam, os dois discutiam:
“Já falei que não vou sair correndo atrás da Selva. Deixa eles passarem, pois o ritmo deles está mais forte”, falava Ezio em tom de censura.
“Quero ver se agente estiver disputando posição com alguma equipe no final da prova se você vai ou não vai correr”, desafiava Flávio, inconformado ao ver outra equipe passar.
“Juro que não vou correr”, garantia Ezio.
A partir do PC22 a disputa parecia definida, com a Selva em segundo lugar e 35 minutos à frente da Trotamundo. Conformados com uma perdida de horas durante a competição, os mineiros também se mostravam felizes com a meta dos top 5 alcançada. Rumo à chegada e depois de duas noites sem dormir, os atletas comemoravam o terceiro lugar à 3km da linha de chegada. Enquanto pensavam no belo banho e cama arrumada que os esperavam no município de Piatã, do nada, surge de uma estrada lateral a equipe Selva.
O susto e um único comentário: “Oh!!! Vocês por aqui?”
As duas equipes se entreolharam e os oito partiram num tiro desenfreado como se estivessem numa prova de atletismo. Com mochila e capacete pendurados, Ezio anulou sua promessa enquanto pensava - já que não tinha fôlego pra falar -:
“Maldito Flavinho. Isso só pode ser castigo...”
No resultado final deu Trotamundo.
Lembranças e objetivos
O resultado da aventura na prova baiana trazia na bagagem a experiência da Trotamundo na Brasil Wild Extreme 2008, realizada também no Nordeste. Esta última, aliás, foi considerada pelos atletas como a melhor prova que já participaram, apesar do calor, da ausência de apoios e das longas modalidades. O desgaste intenso da Extreme fez com que das 60 equipes que largaram, apenas nove concluíssem 100% do percurso, entre elas novamente a Trotamundo, em 6º lugar. Na lembrança, ficaram as imagens, a disponibilidade e apoio total do exército, a hospitalidade do povo nordestino, as travessias pelo Raso da Catarina, pelo cânion do São Francisco e pelas ruínas da igreja no meio da represa.
Sempre em busca de conhecer lugares peculiares e com uma pitada de adrenalina, a Trotamundo tem agendada participações em provas mineiras, como Circuito das Grutas e Biker Minas, e ainda o retorno à Carrasco, Brasil Wild Extreme e Ecomotion.
“É difícil prever que tudo vai dar certo uma vez que as corridas são uma atividade secundária em nossas vidas. Todos têm compromissos profissionais e familiares, limitações físicas e financeiras, que devem ser avaliadas antes de decidirmos (ou não) a participação em uma prova. Qual a nossa expectativa? Conhecer lugares legais, pessoas interessantes e terminar todas as provas. Nunca desistir!”, Ezio.
A rotina
Por não viverem do esporte, cada atleta da Trotamundo segue uma rotina diferente, o que também dificulta os treinos em conjunto, realizados em eventuais fins de semana, com exceção da Larissa, residente em Brasília e que só encontra com os companheiros às vésperas das provas.
Abaixo, um pouco sobre a rotina de treinamentos diários de cada competidor:
“Faço faculdade à noite, dou aula em academia o dia todo e às vezes utilizo minha própria aula para poder treinar e aproveitar o meu pouco tempo livre. O melhor é quando saio do trabalho e vou para a Formula BH fazer o meu treino sossegada, sem ter que me preocupar com ninguém. Dou principalmente aulas de spinning onde o desgaste é muito grande. Para evitar uma sobrecarga, o meu treino principal é a natação, que melhora muito o meu condicionamento e ao mesmo tempo relaxa o meu corpo. Nos finais de semana aproveito para treinar longo e estar com a equipe, pedalando, remando, no trekking. Essa é a melhor parte”, Ana Paula Silveira Beltrão.
“Prefiro os treinos longos e ao ar livre. Na maioria das vezes treino sozinho e seguindo a minha disponibilidade de horário (que é bastante flexível) e disposição. Quando acordo com um dia claro e frio pego a mochila e vou correr no mato. Com chuva e muito barro prefiro pedalar nas trilhas”, Ezio Rubbioli.
“Hoje os treinamentos estão muito difíceis. Geralmente spining e corrida durante a semana e montain bike de final de semana”, Fábio Brettas - Bió.
“Não tenho muito horários fixos. Meus amigos dizem que eu transformo o meu carro em uma casa. Coloco meus equipamentos dentro dele e, quando sobra uma brecha durante o dia, troco de roupa e saio para treinar. Dentro do meu carro tem desde um duck até uma montain bike”, Flávio Viana.
“Tenho uma rotina muito apertada. Espremo meus treinos entre meus dois trabalhos. É muito difícil! Vivo atrasada em tudo, mas não deixo de fazer meu treino, pois na verdade ele se torna meu momento de relaxamento e prazer ao longo dos dias extremamente atribulados. Acordo quase de madrugada e saio para pedalar. Depois vou para meu trabalho número 01. Na hora do almoço vou para o lago Paranoá remar e curtir o silêncio da canoagem. Depois vou para meu trabalho número 02 e no final do dia passo na academia para terminar o dia com chave de ouro”, Larissa Lima.
Realidade do esporte brasileiro
Desde 2006, os treinos e manutenção das bicicletas da Trotamundo são apoiados pela academia Fórmula BH e pela loja esportiva InterTrilhas. Enquanto se dividem entre tarefas pessoais e profissionais, os atletas assistem preocupados a evolução das corridas de aventura no Brasil. Eles notam a estagnação do número de adeptos, provocado, segundo Ezio, em parte pela falta de uma regulamentação nacional e em outra por uma descaracterização do esporte. Ele define a mudança negativa com “cada vez mais corrida e menos aventura”. “Acho que os organizadores deveriam se preocupar mais com o trajeto, as dificuldades, valorizando mais a navegação e estratégia das equipes. Isso é corrida de aventura. Caso contrário, daqui a pouco estaremos praticando triathlon”, desabafa.
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