Largar é a parte mais fácil em uma corrida de aventura.
A prova começa lá atrás, meses antes.
Os momentos, dias e meses que antecedem uma largada envolvem um universo sem fim de necessidades específicas...
Planejamento de comida, roupa, equipamentos, suplementos, passagens aéreas, peso extra no avião, transporte das bicicletas, translados, material dos patrocinadores, treinos técnicos, treinos sem fim entre outras, diversas frentes que se abrem na organização de uma expedição.
Organizar tudo para correr no famoso e inóspito deserto do Jalapão no estado do Tocantins, pede uma dose extra de cuidado com os detalhes.
Nosso contato com áreas povoadas seria mínimo. O Jalapão é considerado deserto, não por ser seco, muito pelo contrário, a água brota do chão.
É deserto pois não tem nada, nem ninguém além de algumas poucas comunidades quilombolas e muita vida selvagem.
Araras Azuis, Tucanos, Veados, Lobos Guará e o quase extinto Pato Mergulhão, que habita o Rio Novo. São apenas três casais que restam e vivem lá.
Os vales e ravinas se proliferam por entre terrenos de areia e alagados.
Vasto, infinito, majestoso. Chapadas que se erguem ao longe, em planícies tão distantes que por hora confundimos com o horizonte do mar.
Chegar ao Jalapão é uma experiência à parte.
A organização da Brasil Wild contratou 4 ônibus de turismo para levar equipes e jornalistas por um 380 km (180 de terra batida) de Palmas até Mumbuca no interior do parque.
Foi o dia inteiro de viagem, uma parada em Ponte Alta para almoço e deixar os remos.
De lá deixaríamos também o asfalto para trás e a civilização cada vez mais distante.
Uma última parada em Mateiros.
Em uma dessas paradas um atleta de outra equipe resmungava... Eh! Largada longe essa!!... Respondi: É que você não viu a chegada!
Até que...
...à dois Km da comunidade quilombola onde passaríamos a noite, dois dos quatro ônibus que seguiam na frente do nosso atolaram, feio.
Alguns atletas indo de lá pra cá, outros pegando suas cargas, discussões de como desatolar os ônibus, bagageiros abertos...
Pandemônio !
Aleatória a todo o fuzuê a Lua nascia. Escondida no meio dos arbustos do cerrado, revelando suas crateras e sombras, grande, amarela...quase o Sol...
Resolvemos esperar e retornar com nosso ônibus por outro acesso. Pressa, pra que pressa?
Chegando sob o festejo da calorosa comunidade Mumbuca começamos a pegar nossas bagagens no maleiro do ônibus...
Cadê nosso saco 1? Sumiu!
Nele estava toda a comida da pré-largada, do dark zone, do percurso para 2ª,3ª e 4º feira e suplementos para esses dias.
Encontraríamos nossa caixa e 2º ponto de reabastecimento somente na 4º feira.
Voltamos até onde os ônibus estavam atolados no carro do Doc Iversen junto com a Equipe Guepardos...”poderia ter caído na hora que os bagageiros foram abertos”.
Nada.
Procuramos com todas as equipes caso tivessem pego por engano na confusão dos ônibus. Nada. Nada do saco 1.
Toda nosso planejamento inicial de comida tinha ido por água abaixo e comprometeria nosso bem estar.
Lamentamos não poder aproveitar melhor a maravilhosa hospitalidade da comunidade.
Estávamos tensos.
Me lembro de uma música que as crianças cantavam que dizia:
“ tudo vai dar certo, tudo vai dar certo..
Fiquei pensando meio enraivecido..é que não sumiram com o saco 1 delas..hehh
Com a graça e ajuda de várias equipes o Fran e o Maurício conseguiram um suporte de suprimentos.
Conseguimos comida quase suficiente, alguns suplementos e tudo mais. Não era o ideal, mas havíamos conseguido garantir parte das calorias.
Não adiantava mais chorar.
Conformados com o mistério não resolvido fomos dormir ao cantarolar do galo que havia começado seu espetáculo as 2 da manhã feito um relógio de ponto contando as horas para o raiar do Sol.
Iluminados pela forte luz da Lua cheia que invadia a barraca, dormimos.
De manhã levantei, tomei uma ducha na mangueira de água fria. Conversei com alguns amigos das outras equipes.
Preparamos mochilas, os pés e caminhamos para a largada.
Começamos a relaxar e acreditar que sim, iríamos largar, finalmente.
Como era bom estar ali. Na largada. O resumo. O presente.
Quando o hino começou, vi que os olhos da Lú estavam molhados, me emocionei também. Sempre me emociono nessa horas...
Viva o Brasil. AHOU Japalão !
3..2...1 VAI !!!!
O que viria pela frente, já considerando o corte que pegamos...
1. Trekking -47,1 KM
2. Flutuação -6,5 KM
3. Rafting – parte 1 -14,0 KM
4. Dark Zone
5. Rafting – parte 2 -31,2KM
6. Mbike -63,2 KM
7. Trekking -62,2 (32) KM
8. Canoagem 47,0 KM
9. Mbike -118,0 KM
10. Mbike -47,3 KM
-------------------------------------
Nossa Prova = 407 KM
-----------------------------------
...Helicóptero voando baixo, gritos de incentivo, buzinas, aplausos, um emaranhado de sons.
Largamos no bolo, em um trote leve que nos levaria rumo as Dunas e na seqüência para o Rio Novo 43 Km lá na frente.
Estávamos preocupados em não machucar os pés nesta primeira etapa. Sabíamos que a prova seria decidida no segundo trekking de 68 Km que viria depois da flutuação, do rafting e da primeira perna de bike .
No primeiro trekking começamos a seguir um enorme Chapadão que se estendia por quase 30 Km e terminava nas Dunas. A região entre algumas ravinas e mata de cerrado baixo ia longe.
Por horas andávamos em áreas secas em outras por alagados.
Surgiu em nosso caminho um filhote de Veado correndo. Devia estar desesperado com o número de pessoas que haviam passado por lá.
Depois das Dunas seguimos por um rio quase seco de areia engolidora rumo ao Rio Novo para as pernas de flutuação e rafting.
Neste trecho passamos por uma área alagada bem pesada. Mal conseguíamos andar. Nos arrastávamos quase deitados por cima do mato, entre algumas aranhas.
Coloquei a mão em um formigueiro daquela formiga pequena e marronzinha, ardida. As bichinhas até se contorciam pra me picar.
Pode parece loucura, mas foi um dos momentos mais engraçados da prova.
Estávamos em companhia do Rogério e do Alexandre da equipe dupla Pata da Cobra. Vulgos 7º e 8º elementos.(!)
O Rogério desenvolvia a técnica do “sapo ajoelhado”, o Fran, homem do mangue, vencia o charco com uma destreza chauasziana invejável e nos esperava rindo do outro lado do mangue.
Eu quase morro de tanto rir com nossa situação ridícula.
O Mauricio bufava e arfava se afundando no mato alto.
E lá íamos feito novas espécies da fauna do Jalapão.
A técnica “survivor-frog” do Rogério custou parte do seu trekking-pole e sua polaina. Muito eficiente.
Ao anoitecer entramos na flutuação em nossas “bóias-bar”.
Isso mesmo. Bóias-Bar.
São aquelas bóias redondas com espaço para colocar copos e bebidas. Compramos em Palmas de última hora pra ajudar em nossa flutuação de 6 km. Era o melhor custo benefício...
Nem preciso falar que foi hilário. A Lu ia segurando no meu pé e eu fazendo guincho. Eu com os braços, ela com as pernas.
No final funcionou. Cheguei até a dormir remando. Aquelas dormidas de 3 minutos que parecem longas.
Pegamos nosso bote de rafting e remamos 14 Km até o acampamento do Dark-Zone. Lá a organização parou a prova para a relargada na manhã seguinte.
Eles não queriam colocar as equipes no Rafting noturno por questões de segurança. No dia seguinte seriam mais 31 Km de descidas.
O rafting do Rio Novo é considerado um dos quatro mais bonitos do mundo. A água é transparente e potável. Este rio é a casa dos últimos casais de pato mergulhão, das araras azuis e de muita vida !
Largamos de manhã as 8:30. As decidas de classe 2 à 4 eram muito boas. Uma montanha russa de água cristalina !!
No final do rafting um Special-Test (surpresa) maravilhoso. Passamos por trás da cortina de água da cachoeira da ferradura.
Uma obra prima de Deus.
A força da queda era ensurdecedora e poderosa, sai tremendo de lá com muita energia e força para seguir pelo primeiro trecho de pedal da prova.
Seguimos forte e conseguimos avançar bem pelos 63 Km
Resolvemos ignorar o PC virtual opcional. Isso foi uma boa coisa. Passamos algumas equipes e no final muitas delas acabaram não encontrando o tal PC e desperdiçando muito tempo.
Na realidade somente duas equipes encontraram o famigerado PC.
O final da perna de bike foi uma delícia. Um down-hill técnico, dinâmico que nos levava para o PC 8 e para o trekking que mudaria nossa história na prova...
Este trecho seguiu pelas fazendas fantasma. Resultado de um projeto abandonado de um passado não tão distante.
As trilhas apareciam, contornavam, emaranhavam, alargavam, bifurcavam e sumiam.
No mapa de referência 1.100.000 os detalhes são muito restritos e com a metade da definição dos mapas de 1.50.000 que estamos mais habituados.
Resolvemos seguir por uma trilha não atualizada de um antigo e improvável aeroporto.
Foram duas horas de vai e vem. Sem sucesso. Não achávamos a passagem.
Resolvemos voltar e seguir pelo caminho atualizado pela organização.
Nessa hora as equipes de 5º à 30º lugar se embolavam.
O labirinto do Cerrado tomava ares de Mata Atlântica.
Tínhamos 4 PCS virtuais pela frente. De 9 a 12.
No vai e vem de lanternas, o caos tomava conta da prova. Parecia aquela cena do filme ET.
Nessa hora o Maurício veio sorrateiro e nos chamou. Em voz baixa disse... “Encontramos as ruínas. Encontramos o pc virtual.
A pergunta era :
Quantas paredes tem a ruína ?
Era uma parede. Pelo que lembro...
Vamos em silêncio embora daqui. Não deixa ninguém ver...pssss !!!
Até ouvirmos o grito : OOOO galera olha o PC aqui !!!
Putz ! Outra equipe encontrou e cantou pra todo mundo...hehehe
Nosso silêncio foi em vão. Todos que estavam lá acabaram encontrando o PC...
Nessa hora uniram-se a nós o Marcelo e o Maurício da dupla Xingu.
E seguimos para o que seria a noite sem fim em busca do PC 10
Este PC nos levaria para cima de um chapadão cercado de precipícios. Havia apenas um acesso para descida. Achar a saída durante a noite estava muito difícil.
Nosso calculo de horas começava a mudar. Tínhamos calculado 18 horas para essa perna de 68 Km.
Era 3 da manhã e estávamos longe de encontrar a saída. Tínhamos começado a andar as 6 da tarde e avançado apenas 20 KM na direção certa...
As 4:30 resolvemos parar e dormir.
Esperar o dia raiar e ver se clareava um pouco a nossa situação.
Nessa hora encontramos o pessoal da Paradofobia que corriam com o Andre da LandScape.
O Andre disse rindo:
FRAN, DEVOLVE MINHA COMIDA !!!!
DEVOLVE AI Ó !!! A NOSSA TÁ ACABANDO.
Ficamos rindo com essa situação de quase guerra.
Não tínhamos muito o que devolver.
Nosso estoque estava acabando.
Fizemos um levantamento de “estoque”. Suprimentos para apenas 6 horas.
Tínhamos pelo menos 20 horas pela frente.
Percebi nosso navegador, Mauriciones bem abatido. Pelos erros e por uma certa dose de fraqueza por termos comido pouco.
O moral do navegador é sempre fundamental, pois sem confiança e abatido tudo fica mais difícil.
Nossa missão era trazer o Mauricio de volta e a partir dali sobreviver na prova, mesmo que com corte.
Foi quando deixamos de competir para sobreviver na prova.
Uma mudança sublime de comportamentos.
Tentamos pra lá, tentamos pra cá...
Até que apareceu a querida equipe Cão do mato e a iluminada Vanessa.
-Pessoal olha aqui a saída, olha aqui ! Gritava ela !
Eram mais ou menos 10 da manhã.
A única coisa que pudemos fazer foi dizer :
Van. A cerveja é por nossa conta na festa de encerramento !
O estreito caminho pelo desfiladeiro era bem escondido e perigoso.
Fomos com cuidado e atenção, acreditando que a partir dali seria mais fácil...
Lá em baixo foi aonde entramos em contato com o famigerado “capim danado”.
O Tocantins é a famosa terra do capim dourado e do recém descoberto “capim danado”.
É um capim fininho que entra em nossa roupa e quebra, entram nos poros dos tênis e somem.
Ficam lá pinicando e incomodando. Tive que trocar a meia pra poder seguir.
O bom é que com a dor do capim eu acabava ignorando a dor da pequena bolha que se formava em meu calcanhar.
A lei da substituição.
Passamos pelo Virtual 10. Finalmente.
Estávamos no limite de alimentos e rezando para chegarmos logo na caixa. Comer direito e tentar fugir do corte.
Seguiam conosco desde o começo do trekking a dupla Pata da Cobra.
E encontramos de novo a dupla Xingu. Perdidos.
“Pessoal. Estamos aqui há três horas. Que bom encontrar vocês !!”
4 da tarde. Tínhamos mais 1:30 de luz...
Outra noite lá, seria muito complicado...
Subimos um morro e acreditamos ter visto as casas do PC 11 em outro morro, mas para trás.
“Vamos lá”. Olha as casa lá !!
Uhuuu !!!
Fomos rasgando o mato “danado” e conforme chegávamos perto das tais casa, fomos descobrindo que não eram casas e sim folhas de grandes palmeiras plantadas que pareciam casas...
Palmeiras plantadas eram sinal de presença humana. Mas infelizmente a única coisa que existia ali de referência era a referência de estarmos errados. De novo.
Nessa hora paramos para pensar. Sentamos em um platô. Enquanto alguns dormiam, outros comiam.
Minha comida havia acabado. Comi alguns amendoins que a Lú carregava.
Uma fila de pós-batalha se formou. Todos com os pés machucados, unhas inflamadas. Sem comida. Parecia um campo de refugiados, ou refugiados em fuga...
Virei o Doctor Stone do Cerrado cuidando dos pés de toda a galera. Furando bolhas colocando curativos, recomendações.
Prendemos a unha do Fran de volta no lugar com esparadrapo. Ela estava quase saltando do pé !
Foi um momento complexo e único.
Seguimos batendo as trilhas, até vermos umas luzes em outro morro distante de nós.
“HEY !! QUEM ESTA AI !?!”
“É O DOC IVERSEN !! Ouvimos ao longe...
“LIGUEM O RÁDIO !!”
A Xingu ligou o rádio para descobrir que deveríamos seguir por onde estávamos mesmo. Reto, rumo ao PC 11.
Era uma da manhã.
Tínhamos duas opções quando chegamos no PC 11.
Seguir à pé por mais 30 Km ou cortar o Virtual 12 e os 30Km de trekking.
Adiantar a prova e finalizar, ou seguir e correr o risco de quebrar o Mauricio de vez que além da fraqueza começava a apresentar problemas nos pés, algumas alergias.
Resolvemos cortar os 30 Km de trekking, arcar com o corte e seguir direto para a perna de Duck e nossas caixas em Ponte Alta.
Nessa hora tomamos banho, comemos e dormimos um pouco.
Não percebemos que o Mauricio não conseguia comer bem. Esse foi um erro grave da nossa parte. Não termos percebido isso.
Pelo menos cuidamos do pé dele...
Seguimos remando por um lindo e veloz rio que no final estava represado.
No final desta perna o Mauricio estava com frio e abatido.
Realmente o importante seria sobreviver e levar o Mauricio até o final.
A Bike que seguia era a mais longa.
118 Km até o saco 2 e de lá rezar para fugir do 2º corte.
Logo que começamos a bike paramos para deixar o Mauricio dormir e recuperar. Foram 6 horas.
As horas corriam rápido e nosso destemido navegador não recuperava a boa forma de sempre.
O início desta perna de bike era técnico e amarrado. Pedras soltas e buracos por todos os lados.
Fomos sobrevivendo ! Ajudando o Mauricio.
Precisávamos de comida de verdade. Arroz, Feijão, Carne.
O dia começava a raiar
Os primeiros resquícios de civilização se materializaram na forma de um casal de roceiros. Um tiozinho com sua espingarda e uma tiazinha com lenço na cabeça seguindo para a roça...
Por nós passou uma F200 que levava as pessoas para o trabalho e crianças para o colégio no estilo Pau de Arara.
Perguntamos se existia algum lugar próximo com comida.
Nos indicaram o bar do Galego 30 Km adiante...Ufa só 30 KM !!!
No meio deste caminho quando o pequeno caminhão passava diminuiu a velocidade, uma menina de uns 13 anos atirou um saco do carro ainda em movimento e disse:
“É comida, pra vocês “
Abri o saco e vi uma quantidade farta de farofa com carne seca. Eu que acompanhava o Mauricio um pouco atrás do resto da equipe percebi que a cor no rosto dele começava a voltar, só de alegria de ver aquele saco.
“Obrigado, essa aqui é farofa daquelas porretas”
“Vamos esconder da Lu e do Fran e do Rogerio”
“É, no tal bar do Galego fazemos surpresa...”
Antes disso tiramos nossas colheres do bolso e comemos umas boas doses de farofa.
A MELHOR FAROFA DO MUNDO !!!
Chegamos à casa-bar do Galego e do senhor Dionísio, pai do Galego.
Essa hora foi marcante e um dos momentos mais legais da prova.
Fiquei muito emocionado com a história do velinho.
Descendente de alemães, originário de Minas. Um senhorzinho, pai de 8 filhos entre homens e mulheres.
A sala com chão de terra. O sofá, uma banqueta de madeira. Mas por mais surreal que pudesse parecer. Um DVD e uma televisão passavam o show de Gino e Geno.
Com o Hit : “ Tá estressado, vai pescar...Essa semana eu não quero trabalhar...”
Contou das suas idas para Palmas pra cuidar da saúde.
Da visita de funcionários de uma grande corporação que detectaram uma grande reserva de pedra ferro que segue subterrânea até Serra Pelada no Pará.
Querem asfaltar a estrada, comprar a fazenda por um preço muito abaixo do valor, desalojar os inúmeros Dionísios que moram na região, poluir os lençóis freáticos de água pura.
Tudo em nome do progresso. Da riqueza de poucos. Do Brasil que ninguém vê, nem se importa.
Chorei de tristeza, emoção, sei lá.
Acho que o Sr Dionísio percebeu minha tristeza, mas não sei se entendeu.
Fora a lição de vida que tivemos. Comemos feito rei. Arroz com abóbora, feijão, tomate cereja, refrigerantes, peixe frito e é claro FAROFA PORRETA !!!
A cara do Rogério quando viu nossa carga de farofa porreta foi muito engraçada. Foi logo puxando sua colher do bolso da mochila..
Um verdadeiro banquete que o Galego queria cobrar apenas 8 reais e só pelos refrigerantes.
Lógico que deixamos uma grana extra...
Rezo para que a força da natureza impeça a destruição daquela região.
Espero que nossos filhos possam encontrar esses senhorzinhos espalhados pelos interiores do nosso Brasil...
A ameaça da destruição cerca calada e obscura os lugares virgens e puros do nosso país...
Apoiados pelas instituições que visam somente os lucros, e o bem próprio.
Disse mais de uma vez:
“Galego, não vende a sua terra”
“Ela é a maior riqueza que você tem. E nem um caminhão de dinheiro pode pagar o que ela vale “
Seguimos alimentados e felizes. A cor do Mauricio havia voltado, ele não estava mais verde...
Mas sua força ainda era limitada e percebemos que o 2º corte era inevitável.
Teríamos 90 Km a menos de prova, mas completaríamos classificados os 407 KM
Na última parte da bike que ia por volta dos 100 Km, nos deparamos com uma Vaca Nelore e seu bezerro no meio da estrada.
Vimos que a mãe estava tensa, mas quem tomou a iniciativa do ataque foi o pequeno e alucinado bezerro que correu feito um Pit-Bull atrás do Fran com a cabeça a 1 cm da sua roda
Hilário !!!
Nelores são bravos por natureza e no Tocantins são criados livres, sem cercas...glupt !!!
Passamos por outra manada de bois adultos. Foi tenso. Acelerei a Bike para 53 por hora na descida. E os bichos apontando aqueles chifres pra nós..
Ia o Fran, estilo menino da porteira, tocando os bois na nossa frente.
EU HEIM !! ABRI FUGA !!
Chegamos ao PC de Taquaruçu e fomos recepcionados por umas 8 equipes amigas aos gritos e abraços.
Todos estavam tentando sobreviver na prova. Seguiríamos juntos, dali para a chegada em Palmas em comboio.
Mais 35 Km de bike pela estrada de asfalto.
ADIVINHEM O QUE ESTAVA LÁ..
O SACO 1. O FAMIGERADO. ESQUIZOFRÊNICO SACO 1 junto do saco 2.
LÁ ESTAVA ELE. PESADO. REPLETO. FECHADO. IRÔNICO. ENIGMÁTICO. MALEDETO.
QUASE PODIA OUVIR ELE RINDO DE NÓS NA SUA MOLENGUICE PLÁSTICA...
O mistério nunca foi revelado, mas o suspeito apareceu em Taquaruçu. Um duende em pele e osso que habita as montanhas da região...
Voltamos junto com o por do Sol. Pensando que apesar de tudo. O tempo voou.
Cruzamos a linha de chegada com essa galera maravilhosa.
Encontrei o Zolino tomando uma cerveja que logo foi roubada das suas mãos e dividida entre nossa equipe.
Batemos algumas fotos, demos algumas entrevistas rimos e choramos.
Abracei forte a minha mulher, meus companheiros de equipe e todos os amigos de outras equipes, o Rogério nosso 6º elemento estava muito emocionado.
Passados alguns dias e escrito este longo relato. Tenho certeza que alguns detalhes ficaram para trás. As lembranças de provas iguais a essa perduram por muitos anos, para o resto da vida.
O 24º lugar no geral passou a ser secundário. A lição que aprendemos e experiência de vida valeram mais que simplesmente uma boa colocação.
Hoje descobri que a formação oficial da Red Apple Lotus Nexcare 3M, além do Rogério e do Alexandre e do Dito (nosso mascote) contava com a presença especial de um pequeno ser que de maneira sorrateira se uniu a nossa equipe..
Minha mulher, parceira, amor e guerreira, Luciana, correu a prova com um tesouro escondido...
O pequeno ser fingiu que não existia, só pra ir pro Jalapão. Se escondeu direitinho e resolveu aparecer semana passada, quando descobrimos que já deve estar do tamanho de um grão de feijão.
Começou bem. Já tem um Brasil Wild na conta bancaria.
A Lu correu grávida. 400 Km. Noites dormidas ao relento, corredeiras, desfiladeiros, capim danado, aranhas...acho que estou ficando meio zonzo...
O grande preparatório para a largada mais importante das nossas vidas e a corrida de aventura mais desafiadora que iremos enfrentar, começou.
Agradecemos ao Jalapão e a Lua cheia que iluminou e abençoou nosso caminho com sua magia, força e proteção.
A todas as equipes e amigos que nos ajudaram, acompanharam, em especial Pata da Cobra, Xingu, Guepardos, Aroeira, E-Lama, Sempre Viva, Familia Extrema, Selva..e a lista segue sem fim...
Ao Lucas da Chauás pelos Ducks Leves, velozes e bonitos que disponibilizou pra nossa equipe.
A Vit Shop e os produtos da Hammer Nutrition e Solo.
A Adidas Eyewear pelos óculos leves que nos deram.
A Nexcare 3M pelo apoio de sempre.
A Red Apple pela força e crença em nosso trabalho.
Ao Alê Socci, Togumi, David, Cappi e todo pessoal de mídia pelas imagens e fotos maravilhosas.
Ao Henri pelos uniformes que fizeram um baita sucesso.
Ao Jeff, Doc Iversen pela força na hora do sufoco com o saco 1.
A organização da Brasil Wild pela coragem e trajeto maravilhoso. Alemão, Rafael, Julio e para o Zé Pupo. Parabéns pela capacidade logística da Canoar, Zé. Sem precedentes.
Ao Senhor Dionisio e seu filho Galego pela incomensurável generosidade.
A minha mulher Lu que só me da alegria e + alegria.
ALOHA
OZI
Copyright©2000-
Adventuremag - Informativo sobre corrida de aventura - Política de privacidade
Proibida a reprodução, modificação e distribuição, total ou parcial de qualquer conteúdo deste website