Relato Aventureiros do Agreste- Desafio dos Sertões

Por Luciana do Agreste - 20 Ago 2010 - 12h27

Só pra começar a conversa, não treinamos quase nada para essa corrida! Tivemos prioridades fora da Corrida de Aventura que não nos permitiram tanta dedicação. Nunca fui tão desorganizada em minha vida! Não arrumei nada com antecedência, não fiz sanduíches gostosos, levei um monte de comida que não gosto, enfim relaxei total! Até mais do que deveria!

Na quinta feira pela manhã começou a correria! Mauro ligou pra avisar que Scavuzzi não correria por problemas pessoais importantes, mas que daria todo o suporte necessário ao atleta que o substituísse. O desfalque nos desnorteou! Ficamos ligando pra Deus e o mundo procurando atleta. Já passava da hora de partir e ainda não tínhamos ninguém! A nossa esperança era Fred querer ir, mesmo sem treinar absolutamente nada, exceto Surf. Dentre outros duzentos compromissos listados, ele tinha o aniversário da fofozinha(diminutivo do diminutivo de vovó) no domingo, e negou veementemente o nosso convite. Já quase sem esperança, Fábio resolveu dar a última cartada com um telefonema que dizia assim: " Velho! É o seguinte: se arrume que a gente vai passar aí em 40minutos!" Pronto! Fred viajou com a gente.

Equipe: Fábio, Fred, Mauro e Luluzinha que vos escreve.

Acabamos pegando a estrada bem mais tarde do que o previsto e chegamos à noite em Juazeiro. Fomos direto para o checkin. Depois de um jantar com musica ao vivo, nos dirigimos à Mansão de Walter Guerra. Dormimos na suíte Presidencial, na companhia de Artur, rezando pra ele não acordar no meio da noite, já que Waltinho nos deixou com ele de propósito. Estava sem babá! rs!

Só pra fechar esse blá, blá, blá, não deu tempo de fazer nada, dormimos tarde e acordamos cedo, como em todas as provas. E, pra variar, a bicicleta de Mauro veio da revisão com um pneu furado. Coisas de Mauroba!

Briefing e largada na Ilha do Fogo. Corremos uns 3km até o PC1. Natação de 2.4km pelo rio São Francisco. Fred me rebocava, Fábio tirou de letra e Mauro ficava lááá atrás intrigado porque eu tava nadando mais rápido do que ele, já que a sua referência do pior sou eu. rs! Mas chegamos! Chegamos para remar os 12km. Eu e Fábio pegamos os barcos. Mauro e Fred fizeram o rappel, descendo dentro do barco. Daí começou o sofrimento das equipes ultrapassando a gente... Eu e Fábio não estávamos remando muito bem! Nunca remamos juntos antes. Na Ilha do Maroto, no PC4, resolvemos fazer uma troca de duplas. Ficou melhor! Mais igual! Pelo menos conseguimos remar perto um do outro. As ilhas dentro do rio São Francisco têm praia com pedras e areia! Lindas de tanto verde!

De lá, remamos para o PC5 por mais 4km, onde vimos que estávamos em 10º lugar. Saímos então num revezamento de trekking com corrida pra tentar tirar o atraso do remo em relação às outras equipes. No começo era um estradão, corremos até a nossa referência, que era o pico onde estava o PC6, e entramos rasgando mato até a subida. Depois seguimos para o PC7 sem erros, exceto por entrar antes do canal. E foi aí que começou a estória de pular cerca! Quanta cerca a gente pulou! E lá em Juazeiro a cerca é daquelas com 7 fios de arame farpado que até a alma da pessoa tem medo de atravessar. Então pulamos a cerca! Fred já estava planejando como ia atravessar a gente pro outro lado do canal, queria pegar corda, elástico e todos os apetrechos para a gente não ter que voltar. Mas, graças ao meu bom Deus, tinha uma ponte estreitinha que nos levava até o outro lado e o PC foi encontrado num esconderijo secreto.

Depois de muito pular cerca e cortar caminho, terminamos o nosso trekking de 16 km no PC8 em Campo dos Cavalos, onde estavam as bicicletas. Lá estavam Extreme, Gantuá, Insanos, Ospato e outras equipes. Ali percebemos que não estávamos tão ruins assim.

Resolvemos pegar o PC11 pelos 17km de asfalto. E foi ali que meu treino fez falta! Minhas perninhas magricelas não acompanhavam o ritmo, toda hora eu tinha que pedir pra galera diminuir. Fábio puxava o ritmo, Mauro acompanhava e Fred me ajudava com uns empurrões. Já o trecho até Favela foi mais tranqüilo, fora o episódio que vou lhes contar...

Por tratar-se de uma biografia não autorizada, terei que mudar o nome dos personagens para evitar exposições. Inclusive, fui ameaçada de ser eliminada no local onde os fatos aconteceram. rs! E fiquei com muuuito medo!

Estávamos pedalando tranquilamente pela linda floresta de cactus, subindo uma ladeira com uma areia bem fofinha quando de repente ouvimos um grito: "Vou quebrar! Vou quebrar! Vou quebrar!" Pensei que uma bicicleta estava sendo quebrada, mas quando olhei para trás, Freddiosvaldo UgaUga caía preso à bicicleta aos berros com as pernas travadas. Foi trágico! Mauronildo Pernalonga Cuca Fresca tentava acudir. Freddiosvaldo xingava até a nossa última geração porque metemos ele naquela corrida, que ele não tinha treinado, que Fabiolindo Fofinho Boagente não deveria ter esquecido as fórmulas anti-cãimbra. E enquanto Freddiosvaldo gritava, Fábiolindo dizia para Mauronildo mexer na perna de câimbra, alegando não saber fazer essas coisas. Mauronildo, por sua vez, tirava o seu da reta, evitando constrangimento. Chegou a massagear o local sem sucesso. Tentamos dar um gatorade ao rapaz furioso, porém ele só queria ficar sozinho, rs! Mas como era possível?! Enfim, eu resolvi partir pra grosseria! Peguei na perna de Uga Uga e orei fervorosamente: " Pé de pato! Xocotô! Mangalô três vezes! Sai câimbra que este corpo não te pertence!" E foi daí que as coisas começaram a melhorar! Como um milagre, Freddiosvaldo levantou e começou a andar devagar. Depois começou a pedalar, nunca mais teve câimbra e foi feliz para sempre!

Deixamos as nossas bicicletas em Favela e partimos para outra perna de 20km de trekking. Dessa vez na companhia da dupla juazeirense, Carranca. Os meninos pensaram em desistir, mas foram convencidos a se juntarem a nós para terminarem a prova. Estavam em segunda posição, não podiam nem pensar em parar! Éramos seis! Fizemos um trekking bem bacana até PC11. Nos batemos um pouquinho pra achar, chegamos a parar para um piquenique, depois atacamos o PC e fomos embora. Dali era só azimutar e lascar "in banda" pelos espinhos do sertão. Mauro ainda me inventou de mandar a gente seguir a estrela Dalva. Eu conferia o azimute e os meninos viam se a estrela estava na frente. E fomos andando saltitantes até o PC12...

No 13 pegamos as bikes novamente! O porta-mapas de Mauro quebrou e tive que navegar sozinha! Minha iluminação estava um cocô e, só pra variar, me bati pra enxergar o começo da trilha! Seguimos então pelo caminho das pedras e areias e o dia resolveu amanhecer. Ufa! Eu tive que contar com a ajuda de Fábio para enxergar. Fui super lenta na bicicleta e dei mil e duzentas desculpas. Do PC13 ao 14, foram 22km. O ritmo do pedal melhorou e a dupla ficou pra trás. Quando percebemos, paramos no asfalto pra esperar, dormir e fazer outro piquenique até eles chegarem. O GPS track está de prova! Não deu pra esperar tanto e fomos embora.

O PC15 ficava na beira do rio. As bicicletas ficaram, tomamos um café na casinha ao lado e entramos na água gelada para a natação de 3,6km até a Ilha do Rodeadouro. Fred já entrou batendo os dentes. Eu, Fábio e Mauro parecíamos melhores! Comecei a tremer com 5 minutos de natação. Os meus dentes pareciam que iam quebrar e a minha musculatura do pescoço ficou com câimbra. Enquanto me tremia, Fábio curtia a natação e explicava a Fred que ele estava muito magro e, por isso, sentia frio. "Meus pneus estão me ajudando!" –dizia Fábio.

Perto da Ilha tinha uma correnteza que parecia não deixar a gente passar. Eu não agüentava mais tremer, já batia o desespero. A cena foi terrível! Alcançamos uma pedra, onde não conseguia ficar de pé, de tanto tremer. Fred tentava me acalmar e pedia que eu deitasse na pedra quente. Que sufoco! O céu começou a girar, pensei que ia desmaiar, queria sair dali depressa! Só pensava em chegar alguma equipe por causa da minha tremedeira. Levantei num salto pra atravessar o resto de água que faltava até a praia. Àquela altura, os outros já tinham chegado à beira, nos encontramos e festejamos a minha recuperação.

Pensamos em comer na Ilha, mas ninguém tinha dinheiro. Pedi um café numa barraca que me deixou zerada. De lá, fizemos o trecho de remo de 12km até a cidade e depois andamos 1,5 para a chegada em quarta posição na prova.

Bom! A prova foi maravilhosa! Achamos o resultado super merecido! As outras equipes fizeram um ótimo trabalho! Nós nos dedicamos dentro do possível e sabemos que tiramos forças de onde não tínhamos para fazer o melhor!

Beijos! Luciana do Agreste!

Esse negócio de GPS track é o bicho da goiaba! Pena que a nossa bateria acabou! Ou será que a gente precisa andar mais rápido!? rs!
http://www.adventuremag.com.br/gpstrack/desafiosertoes2010/

Luciana do Agreste
Por Luciana do Agreste
20 Ago 2010 - 12h27 | nordeste |
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