Chile, Patagônia Chilena, Parque Nacional de Torres del Paine ,7ª maravilha do mundo, 3º Ultra Trail de Torres del Paine e eu.

Um dia antes da competição, a natureza nos deu aquele presente: dia ensolarado, com a possibilidade de visualizar todas as belezas naturais e as cores daquele lugar. O dia da competição foi igual, o que poderia ser um presságio para me mostrar que conseguir 2 vitórias naquele lugar… "Esquece, é melhor não pensar muito", eu dizia. Vamos pra largada.

Como sempre, estava aquele frio intenso às 7 da manhã e aquela vontade enorme de sair correndo e sentir por meio do meu esforço um pouco mais de calor. Nesta 3ª edição e com seu terceiro trajeto diferente, e por saber que não sou tão rápido em provas de 50k, tratei de estudar toda estratégia de hidratação e alimentação baseada em tempos específicos e altimetria do percurso. Diante dos competidores que estavam ali, uma das chances de chegar entre os 3 primeiros colocados era ser impecável na estratégia.

Largamos às 8h10min num ritmo alucinante e eu em quinto lugar. Muito rápido para o que eu planejava. Passamos os primeiros 10k abaixo de 42min. Eu queria extrair o meu melhor naquele momento, meus adversários em suas condições essenciais seriam meu referencial para que eu fosse em busca do meu melhor. Isso não significaria vitória a qualquer preço, mas sim a busca do ser humano em dar o melhor de si em total harmonia com a natureza que me cercava; corri em 5º lugar visualizando o quarto e terceiro bem próximos.

No km 15, com aproximadamente 1h04min, fui o único a hidratar e abastecer a mochila com isotônico, pois sabia que o próximo ponto estaria apenas no km 27. Pela experiência que tenho nesta região da patagônia, não ter uma estratégia bem definida pode custar caro para completar a corrida ou almejar posições no pódio. Segui como tinha planejado, hidratando no máximo de 20 em 20min com aproximadamente 150 a 200ml de isotônico ou água, 1 gel de carboidrato a cada 30min e 1 cápsula de sal a cada hora.

Passei pelo km20 com 1h31min e me aproximando do km 25 encostei no chileno Emmanuel (2º colocado). Perguntei se ele precisava de algo e me disse que queria água. Entreguei minha garrafa de isotônico em suas mãos e falei que poderia ficar com ela por toda corrida. Continuei correndo forte e já em segundo lugar, chego ao km 27 para abastecer minha mochila. Neste momento vejo o brasileiro Pablo em primeiro lugar saindo bem próximo. Rapidamente consegui encostar. Juntos, fomos até o km 30 com 2h39min, e iria começar o longo trecho de subida até o km 45. Nesta hora me senti bem e comecei a colocar meu ritmo com toda força, sem descuidar da alimentação e hidratação.

No final da subida a natureza nos preparou uma linda paisagem: lagos escondidos com patos nadando e pássaros voando no alto da montanha. Essa energia me encheu e a certeza que minha esposa estaria de braços abertos me esperando na linha de chegada fez com que eu fizesse toda a força, superasse toda a dor das câimbras finais sem olhar pra trás.

A poucos metros me recordo de conversar com Deus e novamente, em um momento único de devoção, agradecer o presente e perguntar a ele com os olhos cheios de lágrima: "o que o Senhor quer me ensinar novamente?" Agradeci, a todos pela energia que me enviavam e pela torcida dos meus alunos, amigos e familiares que acreditam mais em mim do que eu mesmo.

Acreditei, lutei e busquei meu bi-campeonato em terras patagônicas com 53km em 4h48min. Recebi o abraço que esperava da minha esposa e o carinho de todos que estavam ali. Com os meus pés firmes no chão e naquele momento com a alma leve, o coração em paz e a cabeça nas nuvens, eu havia conseguido. Não menos feliz pela vitória, mas radiante por saber que chegar até ali valeu mais a pena que qualquer pódio.

Fiz uma competição sem julgamentos, pois se eu conheço toda grandeza da natureza e junto a ela critico a todo o momento minhas fraquezas, retiro de mim o poder do aprendizado superior, mas quando penetro profunda e amorosamente em suas boas qualidades, eu assimilo essa força e assim, busco esta energia pra correr cada vez mais rápido e em Paz.

Muito Obrigado a todos pela energia.

Por Fernando Nazário, apenas um corredor que ama correr.