Em algum momento depois que cheguei da minha Expedição "De Bike pelos Andes", acho que no fim de fevereiro, o Juninho apareceu e me disse que tínhamos que ir pra Costa Rica correr a Copa América. "Costa Rica? Longe demais pra gente, não?". Ele respondeu que era na verdade uma cidade no Mato Grosso do Sul e que ia sediar a edição 2016 da competição continental.
Me animei e teríamos que tentar ir com uma formação diferente, já que o Brou e o Dino não poderiam nos acompanhar nesta jornada aventureira.
Conversei nos dias seguintes com a Marianinha, que também se animou. Faltava um elemento pro quarteto maluco ser formado e rumarmos pro Centro-Oeste do Brasil. Querendo uma formação totalmente mineira, pensamos logo no Caixeta, camarada das antigas das Corridas de Aventura e ultra forte também, em todos os sentidos. Fizemos o convite e para nossa alegria ele disse sim e por fim estávamos prontos pra mais essa aventura.
Preparativos finais, checagem na lista de equipamentos obrigatórios, bikes revisadas! Agora era encarar os 1200km que separam BH de Costa Rica.
Depois de um dia inteiro de estrada, chegamos finalmente e fomos direcionados para uma das "escolas-alojamento". A primeira impressão foi excelente, e todos elogiamos a estrutura do sistema educacional da cidade. Escolas totalmente equipadas, com quadras poliesportivas, salas com ar condicionado, biblioteca super legal, e até uma horta cuidada pelos alunos! Espetacular!
Na quinta feira finalmente a equipe se reuniu completamente e fomos fazer o check-in na prova e depois participamos da mais sensacional Ação Social de que já participamos. Plantamos uma árvore numa das praças da cidade, e ao lado ficou uma plaquinha com o nome da nossa equipe, a bandeira de Minas Gerais e os nomes dos integrantes das equipes! Pronto: agora já temos um motivo para voltar à Costa Rica.
À noite, na véspera da prova, um briefing super organizado, respeitando os horários e com os loucos do Fran e do Lucas dando os últimos detalhes sobre a prova. Depois saímos pra tradicional pizza antes da prova, e fomos dormir na expectativa de amanhã encarar a natureza selvagem do Mato Grosso do Sul.
Largada
Às 10h22, com um pouquinho de atraso e sob um calor sufocante, partimos para uma corrida pela cidade até as bikes, 4km desesperadores e com o coração batendo alucinadamente!
18 minutos depois estávamos já nas bikes, saindo no 2º pelotão, atrás da dupla Advogado Aventureiro e do quarteto argentino Ansilta!
O ritmo seguiu forte, com as equipes revezando no pelotão enquanto estávamos no asfalto e pouco depois começou a estrada de terra e areia na qual pelejaríamos por um tempo. Força, frustração, empurra bike, força de novo. Sentindo muito o começo forte da prova, pedi ao Juninho pra levar minha mochila até eu me ajustar e aí a equipe começou a render melhor e logo estávamos entre os ponteiros de novo. Quando chegamos outra vez no asfalto, estávamos pedalando com a Selva/Terra de Gigantes (que acabou vencendo a prova). Chegamos na transição justo quando a dupla Advogado Aventureiro saía pro Trekking, ao lado da Competition Aroeira (que chegou à nossa frente com uma navegação diferenciada), e um pouquinho à frente da Selva/Terra de Gigantes.
Este trekking era o ponto crucial da prova, mas no começo era uma estradinha sem muitos problemas. Mais ou menos uma hora depois achamos o PC5, onde chegamos antes que todo mundo, junto com a Competition Aroeira.
Dali um mirante dava mostras do lugar lindo e selvagem em que íamos nos meter muito em breve. Uns cânions massivos e grandiosos nos esperavam com seu encanto e beleza diferenciados, mas também com um lugar poucas vezes visitado por seres humanos.
Demos uma olhada à esquerda da crista onde estávamos para ver se dava para encarar a descida por ali, mas como os organizadores insistiram tanto que não dava pra descer, então decidimos seguir pela direita mesmo, caminho sugerido pelo mapa.
Daí em diante parece que vivemos outra vida, em que o tempo parou fora dali e que tudo que presenciamos dentro do Cânion foi mais próximo do surreal.
Encontramos todas as equipes da prova nas 17 horas que ficamos ali, menos a Advogado Aventureiro e a Terra de Gigantes/Selva. Apesar de perdidos, compartilhamos momentos únicos, divertidos, sofridos, de companheirismo e trabalho em equipe.
Junto com a Papaventuras, AMS e Rosa dos Ventos, vivemos uma noite fria e cheia de carrapatos, e quando amanheceu eu e Juninho escalamos um pequeno pico de pedras pra ver onde estávamos e vimos que dormimos na reta do PC6, só que bem mais acima. Nosso trabalho foi então descer até o rio e lá rapidamente sentimos o cheiro da fogueira e deduzimos que o PC não poderia estar longe. De fato, menos de 3 minutos depois assinamos o famigerado PC! Depois de entrar em primeiro, mas tendo passado muitas e muitas horas perdidos, não ficamos totalmente decepcionados por sair em 9º lugar. Ainda tinha muita prova pela frente e íamos tentar buscar a galera da frente.
Transição medianamente rápida para comermos bem depois da restrição de alimentos a que tínhamos sido submetidos durante o trekking mais longo do que tínhamos planejado, e às 9h30 da manhã saímos pra bike mais longa da prova.
Calor forte, subidona incrível pra sair da Transição mas logo estávamos no platô outra vez e fazendo força para reduzir nossa diferença pro 2º pelotão da prova, que era de 4h. Mais estradas de terra, areia, costelas e nada de sombra. Chegamos no PC 8 e dali mais um desafio nos esperava. Um trecho de uns 3km sem trilha até uma estrada que nos levaria ao PC9. Começamos rasgando mato e depois subimos uma trilhinha promissora num pasto que nos levou a uma fazenda com água gelada, mexerica e finalmente, uma ESTRADA! Felicidade às vezes vem com tão pouco…
Mais pedaladas e no PC9 vimos que tínhamos tirado 2 horas do nosso atraso para as equipes da frente e seguimos forte no asfalto rumo à próxima transição, na região conhecida como Laje. Na chegada tomamos uma coca-cola muito esperada ultra gelada de 3L e almoçamos ainda antes de sair pro trekking.
Pelas informações do staff, a equipe mais rápida tinha feito o trekking em 2 horas e a mais lenta em 7h30. Muita diferença e percebemos que a coisa era mais feia que imaginávamos. Entramos num milharal e descemos para um vale onde nos perdemos e nos perdemos e nos perdemos. Demos mais de 10 voltas por todo o vale buscando o PC11, várias vezes pensando que com certeza agora estaria por ali para nos decepcionarmos mais uma vez.
Vimos neste trekking os argentinos que estavam em 2º e 3º lugar e nos animamos outra vez, dando um gás em busca do PC antes que anoitecesse. Mas por mais que navegássemos, que pensássemos nas alternativas, opções e possibilidades, não conseguimos achar mesmo o PC11.
Desistimos e seguimos em direção ao 12 para voltar para a transição, mas no caminho encontramos a AKSA/Saci, que já tinha achado o 11 mas que se perdeu pra achar o 12. Nos deram uma dica de onde estaria o 11 e tentaram um outro caminho rumo ao 12.
Mais uma vez voltamos pro vale, já cansados de estar por ali, apenas consolados pela linda lua que iluminava tudo, mas se recusava a nos mostrar o caminho pro PC11.
Nem com as dicas da AKSA achamos o PC, e aí pelo horário avançado (já eram 21h), e como teríamos que voltar dirigindo no dia seguinte pra BH, desta vez desistimos mesmo. Refizemos nossos passos pela enésima vez, voltamos pra transição e depois de jantarmos arrumamos uma carona pra Costa Rica.
Quando voltamos pra buscar as bikes, eram já meia noite e meia, e nada das equipes que estavam buscando os PC´s 11 e 12. A coisa estava mesmo complicada.
Já eram mais de 2 horas da madrugada de domingo quando finalmente chegamos em Costa Rica com nossos equipamentos.
Sempre penso nas lições que podemos aprender numa prova em que as coisas não saíram como planejamos. O que pensar da Copa América?
Em primeiro lugar, acho que foi muito bom o trabalho que a equipe fez como um conjunto, todos se ajudando e tentando manter o astral elevado mesmo durante as inúmeras vezes em que ficamos perdidos. Pra mim, como navegador, é reconfortante perceber que todos estão confiando em mim mesmo quando não está dando certo.
Depois, valeu com certeza a experiência que me fez perceber que quando a Brou Aventuras sai de casa pra uma corrida é lógico que nossa vontade é andar na ponta, mas quando não conseguimos, também volto feliz porque o que importa é estar com os amigos curtindo esses momentos inigualáveis em meio à natureza selvagem, coisa que aprendi faz tempo com o grande Vavá!
Valeu galera bruta que torceu e se angustiou com nossas perdidas…tenham certeza que fomos felizes durante todas as 35 horas que durou nossa prova!