Relato de Danilo Vivan na K21 Pico do Urubu 2017 – Adventuremag

A K21 Pico do Urubu (realizada no último final de semana em Mogi das Cruzes-SP) foi, para mim, a estreia da temporada 2017 de aventuras e, de certa forma, um retorno às montanhas. Minha última prova de trail run havia sido em abril de 2015 e estava ansioso pra voltar a pôr o pé na trilha.

Antes de confirmar a inscrição, uma dúvida: fazer 21 km ou 10 km? Murilo Ravanini, meu treinador, foi incisivo, acabando com qualquer dúvida: "você vai correr o Haka Race (circuito de corrida de aventura) duas semanas depois. Melhor não arriscar". Vamos de 10k, mesmo.

Quem já correu trail run sabe que não se pode comparar com corrida de rua com corrida de montanha. Uma prova de 10 km na montanha equivale a uma de uns 12km na rua. Se você não acredita, faça um teste simples: corra os 15 km da São Silvestre (que, aliás, é divertidíssima) e, depois, uma prova de 10k em montanha. Anote quantas você pensou "que diabos eu tô fazendo aqui?" em cada uma das duas. Pra quem gosta de números, medindo pelo Strava, minha última São Silvestre registra uma altimetria acumulada de 293 metros. Na K21, cheguei a 543 metros. É mais ladeira, mais piramba, mais perrengue.

Voltemos à prova. Feita a inscrição, faltava retirar o kit. A entrega foi numa loja da Salomon (patrocinadora do circuito), no Shopping Morumbi, em São Paulo. O pacote inclui, além do chip de controle, duas camisetas, uma de tecido tecnológico (para a corrida) e outra de algodão, mais casual e bem interessante. Afinal, corredor que é corredor gosta de mostrar que faz parte da tribo. Quer coisa mais divertida que ir a um bar com amigos ou a uma festa de criança usando uma camiseta bacanuda com os dizeres “K21, EU FUI!” e a hashtag #ForaDoAsfalto?  Pode render conversas e ajuda a identificar possíveis membros da confraria…“uau, essa camiseta é da K21?!! Eu também participo de corridas…”

Kit retirado, equipamento checado (tênis de trilha, meia de compressão, mochila de hidratação com meia carga de água), restava programar a ida a Mogi. Como a cidade fica a uns 70 quilômetros de meu apartamento, me programei pra acordar às 05h, sair às 06h, chegando lá por volta das 07h, com tempo pra resolver qualquer imprevisto. Não tenho problema com acordar cedo, mas me irrito de ter de cair da cama de madrugada. Não quer passar por isso? Durma até às 09h e vá correr num parque…

Viagem tranquila até Mogi (o visual da estrada com o dia amanhecendo compensa a irritação de cair da cama de madrugada), chego na base do evento. Montada num sitio, segue o padrão clássico das provas de montanha: pórtico de largada/chegada, pódio, tendas de assessorias e os tradicionais banheiros químicos.

Já presenciei provas que não ofereciam banheiros, um desrespeito a quem paga caro pra participar. Mas não é o caso da K21. Com 17 anos na estrada, a organização sabe como montar uma base esperta: simples, mas bem funcional pros competidores. No final da prova, uma piscina existente no sítio que serviu de base prá largada foi liberada para os atletas. Ótimo pra soltar os músculos e voltar pra casa limpo.

Às 9h em ponto, largamos e logo de cara me lembrei de como é fazer uma prova de montanha: você mal começa e já dá de cara com uma subida – pra muita gente, essa é a senha pra parar de correr e iniciar um trekking. Nas provas de rua, andar é quase uma heresia; aqui, é uma prática super comum e até estimulada. Em alguns lugares, é simplesmente é impossível correr.

Da largada, seguimos por uma estrada de terra batida até o quilômetro 2,5, de onde iniciamos um singletrak (uma daquelas trilhas mais fechadas pelas quais só passa uma pessoa) e, adivinhem…mais subida.

Como havia chovido bastante na véspera, em vários trechos havia lama e a trilha ficava escorregadia, dificultando o avanço. Com muito sobe e desce, contornamos uma pequena montanha até uma bifurcação por volta do quilômetro 4, onde os atletas inscritos na categoria 5 km se separariam dos demais. Seguimos junto com os competidores da prova de 21 km. Faltando ainda metade da prova, sabia com base em alguma experiência, que as coisas ainda iriam piorar bastante. Por isso, tratei de conseguir um galho de eucalipto pra usar como bastão nos trechos mais íngremes.

Minha intuição não me enganou: a parte mais pesada veio pouco antes do trecho final da prova. Vencemos cerca de 200 metros de desnível em pouco mais de 2 km, chegando a uma altitude máxima de 1.050 metros. O visual de um vale incrível com a cidade de Mogi bem ao fundo compensava o esforço.

Chegando nesse ponto, nos separamos dos atletas de 21km e iniciamos a descida final. A partir dali, pensei, seria só mais 1,5km despencando morro abaixo. Morro abaixo, sim, mas não apenas 1,5km. Depois de algum tempo, ficou claro que a distância de nossa categoria não seria de exatos 10 km, mas um pouco mais. Na verdade, medida pelo Strava e por meu Polar, percorremos 12,5 km.

Mas, como sempre digo, para quem gosta desse mundo das provas de endurance, quanto pior melhor. Sim, eu adoraria não ter acordado às 05h da manhã. Sim, eu sempre me pergunto “que diabos eu tô fazendo aqui?” nessas subidas infernais e, sim fiquei desanimado quando meu relógio marcou 10km e a linha de chegada ainda estava longe. Mas, para quem é da aventura, passar por tudo isso diante da força da natureza é uma uma realização, uma espécie de nirvana.

K21 Pico do Urubu
4 de março – Mogi das Cruzes
Categorias: 5km, 10km e 21k

Próxima etapa: Maresias-SP, 15 de julho

Resultados (categoria 21km)
Masculino
1. Elionay Ferreira Correia
2. Rosival da Conceicao Pereira
3. José Virginio de Morais         
4. Joaquim Donizete de Almeida
5. Alexandre de Souza Gonçalves

Feminino
1. Letícia Saltori
2. Lígia Silveira de Almeida
3. Miriam Aparecida Paulino Santos     
4. Emily Inacio Barbosa 
5. Gabriela Carvalho