Chegar pela segunda em vez na Patagônia é algo fantástico em todos os sentidos e ter a oportunidade de correr uma prova como a Ultra Fiord novamente fez tudo valer a pena. Fiquei instalado na pequena cidade de Puerto Natales, que se localizada a aproximadamente 150Km do grandioso Parque Nacional Torres del Paine, buscando aclimatação e já podendo sentir na pele que as horas vão se esvaindo rapidamente mesmo diante do vagaroso badalar do sino da Igreja.
Tudo estava reservado da melhor maneira à todos os corredores de todas as distância, o clima imprevisível não se manifestou em momento algum.
Logo que largamos na manhã de sexta feira – 07/04/17 ( largada dos 100K) começamos a subir e subir…. por trilhas estreitas de uma floresta viva, até chegarmos na base das montanhas mais altas. Rochas e muita neve predominava e ao chegar na base do Glaciar Balmaceda, todos os corredores eram intimidados a colocar seus grampons. Com todo o cuidado e respeito fui explorando cada metro do imenso glaciar.
Montanhistas experientes e especializados em altas montanhas estavam lá nos dando suporte a todo o momento. Um cão farejador, dócil e amável dava boas vindas e segurança a cada corredor que seguia pelas trilhas do glaciar. Éramos alertados a todo momento acerca das fendas e seguíamos seguros, permitindo por alguns segundos que eu deslizasse como se fosse uma criança através do gelo…
As montanhas que no ano passado me assustavam de certa forma, nesta oportunidade me convidavam a sentir de corpo e alma a alegria de correr entre elas. Chacabuco sem nevascas não parecia ser o mesmo, assim como o El Bosque, com tanta lama que não podia crer, pois os corredores do 50k e 50k duo haviam cruzado por estas trilhas no dia anterior…
Em busca da meta final prossegui bravamente, parando em cada PAS para registrar minha passagem no passaporte que cada corredor tinha que guardar como se fosse parte do seu corpo.
Concluindo El Bosque cheguei nas pastagens, sinalizando para mim que estava chegando na Estância Perales onde recebi ajuda e apoio de amigos brasileiros e principalmente do grande Fernando Nazario, que na edição anterior estava juntamente comigo na batalha dos 100k e a maior premiação que recebi foi obter sua amizade e parceria e de muitos outros corredores e amigos, pois para mim isto é o verdadeiro espírito que habita nas montanhas.
Saindo da Estância Perales tinha todo o controle em minhas mãos. Era o líder da prova e me sentia muito forte e bem preparado. Todavía alguns quilômetros depois não me conhecia, não conseguia correr tão rápido como antes e durante alguns quilômetros a caminhada era o mais agradável entre uma corrida e outra… agora me encontrava em novo percurso estabelecido pelos organizadores e o desnível positivo se fazia presente.
E finalmente nos quilômetros finais fui brindado com um trecho de asfalto. Lembrando das minhas corridas de rua, corri sentindo o vento no rosto até cruzar a linha de chegada, onde fui recebido com muita vibração por amigos e por minha namorada, motivação íntima da minha alma que me conduziu até a meta, e que ainda estava confiante de que eu cruzaria a linha de chegada.
Ser o primeiro ou último colocado não importa para aqueles que correm na Jornada dos Fiords, pois o mais importante é simplesmente cruzar a linha de chegada e receber o caloroso abraço da pessoa mais especial de nossas vidas, seja ela esposa, filha, irmã, namorada e até mesmo da própia mãe.
Como Campeão da Ultra Fiord 2016 e Vice-Campeão desta última edição, deixo aqui um breve relato da minha experiência vivada em mais essa viagem pela Patagônia Chilena.
Fica aqui o meu agradecimento ao Pedro Lacaz Amaral, Andre Medeiros e Camelbak Brasil, com os melhores equipamentos destinados a hidratação; ao nutrólogo e parceiro Hugo Coelho Neves com suas preciosas orientações e cuidados diários; e ao meu grande amigo e mestre de sempre Reinaldo Musialowski com os seus cuidado e suporte recebido pela Fisio RM. Especificamente a excelência no atendimento, através da Fisioterapia desportiva.