Se busca uma corrida bonita e muito exigente, a Ultra Fiord é sua escolha. Mas esteja preparado. – Adventuremag

Assim com descrito por Raymond Wennier, a Ultra Fiord se enquadra numa categoria diferente das ultra trail. Obviamente existem tantas outras pela mundo, mas alguns detalhes a torna diferenciada e desejo de consumo de muitos corredores.

A cidade-base da Ultra Fiord é Puerto Natales, capital da província de Última Esperanza na região de Magalhães e Antártida Chilena. Para chegar é preciso seguir para a capital Santiago e pegar outro vôo até Punta Arenas. Ao sair do aeroporto, um forte vento gelado na cara dá as boas-vindas: "Bem vindo ao Fim do Mundo!" Mas ao olhar para os lados, é possível ver um sorriso estampado no rosto de cada um, indicando que pelo menos este fim do mundo não é tão ruim. Muito pelo contrário, pode ser chamado de Paraíso para os aventureiros.

Para chegar em Puerto Natales – ou apenas Natales para os mais íntimos – é necessário ainda "subir" aproximadamente 250 quilômetros por estrada de asfalto e então sim, se acomodar e se aclimatar para os próximos dias de preparativos e prova.

A cidade é também principal ponto de entrada para o Parque Nacional Torres del Paine e por isso reúne todos os ingredientes para os aventureiros de plantão: lojas de roupas e equipamentos, hospedagem de todos os níveis (de hostel ao extremamente luxuoso), diferentes opções para se alimentar e cafeterias onde pode-se perder no tempo e ficar o dia inteiro conversando com os amigos. Possui também um supermercado grande caso alguém tenha esquecido de levar algum tipo de comida ou bebida específico. É claro que não encontrará as mesmas marcas daqui, mas é grande a chance de encontrar algo similar.

Pelo que conhecia da prova através de relatos e fotos, sempre via a Ultra Fiord como ideal para os corredores de aventura. As características de terreno variável – trilhas, bosques, glaciares, estradas de terra -, aliado ao clima incerto e a necessidade de se adaptar ao longo do caminho fazem parte de qualquer corrida de aventura e ainda, sem a necessidade de ter uma equipe, podendo imprimir seu próprio ritmo e tomar sua próprias decisões.

Vale uma observação: isso não quer dizer que os corredores de aventura são melhores e que ganhariam a prova, mas apenas que desfrutariam da mesma maneira. As velocidades em corridas de montanha e corridas de aventura são muito distintas. Além disso, conseguir se adaptar não é exclusividade de um tipo de corredor e os trail runners e ultratrail runners são muito rápidos!

Não sei o quanto é necessário dizer sobre a paisagem. Só o fato de estar ao lado do Parque Nacional Torres del Paine explica muita coisa e a cada quilômetro percorrido outras formações vão aparecendo, alguns momentos deixando tudo quase branco e em outros, colorindo o caminho com as cores do outono.

E cada competidor de cada distância teve uma experiência diferente desde a largada: Nos 50Km era possível ver a Cordilheira Del Paine no fundo; nos 70Km – no mesmo lugar e no mesmo horário, mas em outro dia – a neblina tomou conta de tudo e não se via quase nada; as 100 Milhas partiram na escuridão e no frio congelante; e os 100 Km tiveram a largada com o Glaciar Balmaceda de fundo, numa manhã de céu azul e limpo.

Largada 50 Km

 

Largada 70 Km

 

Largada 100 Km

 

Largada 100 Milhas

Essa experiência diferente se extendeu por toda a corrida, porque cada um passou em um momento diferente no Glaciar Chacabulco, o ponto alto (literalmente) da corrida. Alguns estavam no começo de prova com toda a energia disponível enquanto outros se encontravam na metade ou menos do seu caminho da chegada.

O fato da prova reunir corredores de todo o mundo é também um atrativo a mais. O espanhol local se mistura com inglês, português, francês, japonês e polonês, como o campeão das 100 Milhas Piotr Hercog (23h16m) que recebia ajuda de seus companheiros para traduzir as conversas com os jornalistas.

Em relação à organização achei interessante o briefing ter sido dividido em 3 salas separadas para os idiomas espanhol, português e inglês. Isso otimizou o tempo e os participantes puderam tirar as dúvidas no idioma mais familiarizado, sem a necessidade de traduções e evitando erros de interpretação.

Percebemos também a preocupação com a segurança no trecho crítico de montanha, com o organizador focando grande parte dos esforços na travessia do glaciar Chacabulco. Leia alguns detalhes aqui.

Juntando isso tudo – prova exigente, bela paisagem, atletas de todos os níveis e de todo o mundo – temos um evento diferenciado que chama a atenção de quem gosta das ultra trails mais duras, não apenas em relação ao desnível, mas também à dificuldade do terreno.

Se essa for sua prova-alvo nos próximos anos, programe-se, prepare-se adequadamente e busque informações com quem já participou. É uma prova bonita, porém muito exigente.

Deve-se levar em conta também que este ano São Pedro estava de bom humor e o clima foi favorável. Nos anos anteriores a chuva, o frio e a neve foram parte integrante da prova durante todo o tempo, aumentando muito a dificuldade e os riscos. O clima nesta região muda rapidamente e é preciso estar preparado para tudo. E acostume-se com esta frase, pois ela será repetida diversas vezes.

Se você cumprir sua obrigação e chegar pronto para o imprevisto, restará apenas desfrutar de umas das corridas únicas e originais em todo mundo que é a Ultra Fiord.

 

Podio 2017
100 Milhas Masculino

1. Piotr Hercog – Polônia – 23h16
2. Emmanuel Acuña – Chile – 25h32
3. Manel Satué – Espanha – 27h55

100 Milhas Feminino
1. Tessa Rooda – Brasil – 28h33
2. Junko Kazukawa – Japão – 37h12
3. Jean Duvall – EUA – 44h29

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100 Km Masculino
1. Luís Soto – Chile – 14h38
2. Weliton Carius – Brasil – 15h27
3. Mauricio Correa – Argentina – 15h42

100 Km Feminino
1. Jacqueline Cárdenas – Chile – 18h32
2. Cindy Ramírez – Chile – 19h10
3. Lucina González – México – 20h25

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70 Km Masculino
1. Pere Aurell – Espanha – 8h46m22
2. Roger Viñas – Espanha – 9h30m26.6
3. Genís Zapater – Espanha – 9h43m08.4

70 Km Feminino
1. Ragna Debats – Holanda – 9h45m21.9
2. Verónica Bravo – Chile – 13h15m57.9
3. Cecile Laurent – França – 15h07m06.7

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50 Km Masculino
1. Fernando Nazário – Brasil – 5h44m54.3
2. Julien Gilleron – França – 5h44.54.4
3. Maicon Cellarius – Brasil – 6h03m37.2

50 Km Feminino
1. Stacey Cohen – EUA – 7h56m35.2
2. Mathilde Closset – Bélgica – 8h11m20.1
3. Susana Soferrey – Chile – 8h19m40.2