26 de maio de 2013 é uma data inesquecível: minha primeira corrida na trilha, minha primeira vitória na modalidade, meu primeiro joelho fraturado, a última vez que fiz a barba; desde esse dia muita coisa mudou em mim e no cenário esportivo outdoor capixaba.
O Circuito “Survivor Trip Trail” foi responsável por um despertar, seja para o MTB ou para o Trailrun e aproveitando os percursos, o Duathlon Cross. Uma enormidade de atletas foi apresentado ao off-road nessas provas.
O vivência outdoor é encantadora: o inesperado e o inusitado contato com a irregularidade do terreno foi completamente instigador e desafiante. Eu mesmo, apesar de vivências na Infantaria e como aprendiz de mateiro, fui completamente surpreendido após 2 décadas de esportes em quadras, ginásio, academias e no ciclismo de estrada, com o desafio de desempenhar na condição de uma surpresa a cada piscar de olhos, uma adaptação a cada 180bpm.
Se a trilha é desafiadora, os “morrinhos bobos” (acho que é uma gíria local do MTBiker Ponciano) completavam o absoluto descontrole sobre as componentes do desempenho até então do que eu conhecia como treinador e atleta. O imponderável desafio do quanto pior melhor reunia os intrépidos da época a se desafiarem.
Se para mim, vir dos esportes convencionais para o Trailrun foi uma forma de me manter competitivo e motivado, há outros caminhos que trouxeram outros tantos para a modalidade para além da clássica troca da corrida de rua. Vários atletas provenientes do Triathlon Cross (via triathlon convencional) e das corridas de aventura chegaram ao Trailrun principalmente com a decadência dessas modalidades quando os principais eventos sucumbiram.
Em 2013 o padrão vigente foi sacudido com um ciclo de provas realizadas em Pedra Azul (K21 em 2013, APTR Series em 2014-2016): menos estradões e pastos, mais trilhas e muito mais altimetria deram o tom “Corrida de Montanha”. Além do padrão dos percursos, o intercâmbio foi essencial quando houve um movimento de corredores locais correrem mais provas fora do estado e atletas de fora virem correr em nossas trilhas. Pela primeira vez o Espírito Santo e sua região de montanhas foi representado nacionalmente como palco esportivo, mesmo que numa modalidade até então estranha e underground.
Todo esse movimento resultou num grande boom de aparecimento de provas a partir de 2017, com perfis, público e estrutura diversificados. Paralelamente cresceu o número de atletas capixabas que procuram provas pelo Brasil e pelo mundo, já com alguma expressividade e alguns resultados esportivos. Diana Bellon vai representar o Brasil no Mundial IAAF compondo a seleção nacional, registrando o grande marco da modalidade até hoje.
Apesar do número de provas e desse resultados supracitados, o estado ainda carece de um mercado específico:
*a maioria dos inscritos em provas não treinam especificamente a modalidade;
*há escasso mercado de equipamentos e vestimenta, o que reflete em poucos estabelecimentos específicos;
*o investimento em apoios e patrocínios a atletas e eventos é irrisório;
*o público fidelizado nos eventos é baixo;
*há pouca demanda por profissionais especialistas (treinadores, fisioterapeutas, nutricionistas, etc.) o que inviabiliza a oferta de novos profissionais envolvidos.
Esse cenário é um grande desafio para o desenvolvimento da modalidade, mas como mencionei antes, o inpoderável desafio do quanto pior melhor é um terreno fértil para o trabalho árduo e a esperança.
Numa próxima oportunidade vou falar sobre as trilhas nos principais points de montanha da nossa Região Serrana. UP!