Em outubro de 2018 em sua primeira ultramaratona, a 40-Mile Triple Lakes Trail Race em Greensboro, Carolina do Norte, Jacky Hung-Broersma encarou o resultado de duas tempestades: o furacão Michael, que passou pela Carolina do Norte duas semanas antes, e um tipo raro de câncer chamado Sarcoma de Ewing, que resultou na amputação de sua perna esquerda em 2001.
As trilhas estavam ruins devido às chuvas fortes e o vento, com muita lama, cenário desafiador para qualquer corredor. E para a atleta de 43 anos o desafio era ainda maior. Sua prótese de metal não foi feita para as trilhas e escorregava na lama. Ela caiu antes da metade da prova, torcendo sua perna de uma maneira tão grave que a base da prótese acertou o joelho e a deixando com muita dor.
Com muito a percorrer, um joelho dolorido e uma chuva que não parava e deixava o caminho ainda mais difícil, a atleta se viu se arrastando tentando chegar no final. Em alguns trechos a única opção foi se sentar e escorregar na lama.
O começo na corrida
Uma corrida de 40 milhas não é pouca coisa, ainda mais para uma pessoa que nunca buscou correr longas distâncias. Antes de seu diagnóstico do tumor, Hunts-Broersma não gostava de correr, mas seu marido Edwin sempre gostou do esporte, principalmente as ultras.
Após a amputação ficou mais próxima da comunidade de corredores e queria buscar o mesmo prazer que via no rosto de outros corredores. Para isso buscou uma prótese específica para corrida e saiu pelas ruas.
A corrida aumentou sua auto-confiança, que antes evitava se olhar no espelho e vestia apenas calças, para esconder sua prótese. “Tenho orgulho de me chamar de amputada.”
Aos poucos ela foi aumentando as distâncias, saindo dos 5 Km para as maratonas, mas ficou entendiada com as corridas de rua e passou a buscar coisas novas. Quando alguém sugeriu o trail running, Hunts-Broersma pensou, “Claro, trail running com uma prótese… provavelmente impossivel.”
Sua reação não era sem fundamento. Alena Grabowski, professora assistente de fisiologia integrativa da Universidade do Colorado que estuda as próteses para corrida, disse que não existem próteses desenhadas para o trail running, tornando as incursões off-road particularmente difíceis para os corredores amputados. Além disso, completou, o custo de uma prótese específica para corrida é exorbitante – US$ 10.000 ou mais – portanto o risco financeiro é alto para se danificar uma dessas na terra.
Os protéticos também desencorajaram Hunts-Boersma devido ao risco de lesão.
A paixão pelas trilhas
Mas ela decidiu não seguir os conselhos e se aventurou em uma trilha para ver o que acontecia. “Fiquei apaixonada,” ela disse sobre a experiência. “Tive que aprender uma forma totalmente diferente de corrida. Tive que ficar mais alerta e olhar para onde estava indo. Por não ter o tornozelo, o impacto é grande na parte que liga o corpo à prótese quando acerto uma pedra ou não me desvio de tudo.”
Foi preciso se adaptar. Para evitar pedras e raízes que podem prender a lâmina, ela ergue muito mais sua perna esquerda nas trilhas. E é claro, precisa confiar no seu pé direito para a maior parte da estabilidade e por isso é preciso de um tênis bom e firme.
Quando começou no trail running, esperava encontrar uma comunidade para trocar experiências, mas se viu sozinha. Devido às várias barreiras – custo, profissionais desencorajando, falta de próteses específicas – muitos amputados não conseguem correr em trilha.
Nova adaptação e nova prótese
Devido à grande quantidade de quilometragem rodada com as corridas, seu corpo ficou mais forte e não se encaixava mais na prótese. Correr mais de 20 quilômetros se tornava desconfortável, mas devido ao custo ela aprendeu a superar a dor.
Após terminar a primeira ultramaratona, ela se inscreveu em outra, desta vez de 50 milhas, que completou com sucesso. Seus próximos objetivos são: fazer outra prova de 50 milhas; sua primeira prova de 100 milhas; e ser a primeira amputada a competir no TransRockies Run – 60 milhas em três dias nas montanhas do Colorado.
Para atingir esses resultados Hunts-Broersma adquiriu uma prótese com o desenho de “dedos separados”, o que ajuda no equilíbrio. E adaptou a antiga tirando a sola de um tênis para trail e colando na base da lâmina para ter maior tração na terra.
Texto adaptador e traduzido de
https://www.womensrunning.com/2019/06/get-inspired/shes-blazing-a-trail-for-other-amputees_102592 – autor: Jaqueline Alnes