Esse foi o título de um artigo publicado na revista Outside há alguns anos sobre a entrada do grupo Ironman em um esporte de nicho como o Trail Running, algo diferente com uma organização que lida com um número infinitamente superior de participantes.
O parceria entre o UTMB e o Ironman aconteceu em maio de 2021 e desde o início causou furor entre os participantes, que via ali o fim da cultura do esporte e o início da busca do lucro a todo custo. Uma parcela deles via pelo lado positivo de ter eventos melhor organizados, padronização de regras e prêmios em dinheiro. Mas a pergunta que ficava era: será que essa padronização deixaria tudo muito igual, tirando a experiência e a identidade de cada evento?
A entrada do Ironman foi um passo muito bem calculado. O grupo já era dono de provas na Austrália e na Nova Zelândia, mas ao invés de ir adquirindo outras provas aos poucos, com a parceria conseguiu de uma só vez se espalhar pelo globo, se tornando o maior circuito mundial praticamente do dia para a noite.
Andrew Messick, CEO do Ironman, disse no artigo “Os dados são muito claros, o trail running teve um crescimento de dois dígitos ano após ano em todos os continentes por mais de uma década.”
“O trail running é idêntico ao triatlon de 30 anos atrás. Muitas corridas e eventos criados por pequenos grupos de pessoas apaixonadas, mas a maioria delas não quer se arriscar ou crescer de tamanho. O passo natural é ser adquirido por uma empresa como a nossa.”
A World Athletics reporta que o trail running cresceu 15% ano após ano desde a metade dos anos 90, estimando que 20 milhões de pessoas correram em trilhas em 2022.
Sobre a parceria com a UTMB, Messick diz que ambos trabalham muito bem juntos porque possuem habilidades diferentes, mas os mesmos objetivos e valores. O Ironman entra com a experiência e a estrutura para desenvolver novos eventos e o UTMB, com a conexão com a comunidade que garante uma grande audiência e traz muitos participantes.”
Em 2020 a UTMB tinha 10.000 vagas para 32.000 interessados. O que poderia ser um problema, na verdade é uma grande oportunidade para ambas empresas.
Catherine Poletti disse “COVID nos deu tempo para pensar em como seria o futuro. O UTMB era conhecido no mundo, mas tinhamos que encontrar um meio de ir para outros continentes. Foi quando começamos a conversar com o Ironman.”
Para Messick “A idéia era estabelecer um sistema de qualificação único para chegar em Chamonix. E para isso tínhamos que nos mover rápido para encontrar um caminho. Tínhamos o risco de perder clientes para os concorrentes se não tivéssemos uma forma local de qualificação. Desenvolver um circuito em 5 ou 10 anos não era um opção para nós, porque poderia deixar muita gente de fora.”
Sobre a parte econômica dos eventos “É simplesmente matemática,” disse Messick. “Ultra Trail Australia tem mais de 8.000 participantes. Tarawera e Eiger 4.000 cada. Lavaredo próximo a 6.000. Milhares de participantes durante vários dias é o que queremos. Faremos o possível para que as nossas corridas possam crescer para esse formato.”