O BODE E O PRISIONEIRO
Existia uma vez um prisioneiro que preso em uma cela pequena gritava desesperado....
-- Tire-me daqui!!!! Tire-me daqui!!!Esta muito apertado, tire-me daqui!!!
Ao invés de tirar ele de lá, seus algozes colocaram um bode....
-- Tire esse bode daqui, tire esse bode daqui, por favor, tirem o bode daqui!!!!
Quando tiraram o bode ele parou de gritar, e reclamar do tamanho da cela.
PRE PRO
Gramado amanheceu fria, o cheiro de gelo e céu azul que nas mais profundas preces que fiz pedi que perdurasse...
Chegamos a alguns dias da largada. Tempo suficiente para aclimatar, relaxar do estresse paulistano e entrar de
corpo e espírito na prova que esperamos o ano inteiro.
Treinos leves mesclado com jantares pesados, reconhecimento dos rios, da cachoeira do Caracol. Com certeza passaríamos por lá.
LARGADA. DOMINGO. BATO MOUCHE
O estado de limbo do período que antecede a largada é terrível. Tudo que deveria ser feito, já esta pronto.
Pelo amor de Deus apita logo!!! Precisamos sair do conforto nauseante e seguir em frente.
BNNNNAAANNNN!!!!!
Das dunas ao lago. Logo será noite. Logo.
Primeiro terror. Nossa embarcação, não sei porque inferno começou a encher de água. A garrafinha boiava feito um naufrago perdido.
Isso não era bom. A cada lufada de vento as ondas enchiam o caiaque que ficava mais lento e pesado. Acreditávamos que o troço não ia suportar...
Suportou, e logo estávamos saindo em nossas bikes para um trecho curto e tranquilo de pedal.
A PRIMEIRA ESCALADA. GO LITE
Foi lá que encontramos a GO LITE. Hello guys do you know where we are ? (eles perguntaram)
In the Cow track.(respondemos)...follow the cow...just follow the cow....hehehehe
Vara mato sangue nos óio!!! Atenção total nas cordas sujas de lama com uma bela queda logo atrás. Que escalda alucinante ... E lá estavam eles, os Go Lite. Recusavam-se a passar durante a escalada. Ética e educação. Por mais que abríssemos para eles. Lá estavam sorrindo e aguardando.
DEPOIS DO MIRANTE. TEMPESTADE NO DESCAMPADO
Chegar ao mirante foi sossego.Que visual. Calor e gratidão de estar lá.
Agora encontrar o PC 7 foi um parto....
Batemos uma boa dose de cabeça.
Quando achamos e resolvemos seguir em frente, no meio do descampado.Tempestade.
Raios, trovões e nós de pára-raio. Nos entocamos em nossos bivouac’s e rezamos para não virar churrasco gaúcho.
DOWN HILL ESTOMAGO VAZIO
Chegamos para pegar nossas bikes e descobrimos que nem água havia sido deixada por lá...AHH!!! Malditos apoios!!!! Querem nos matar e ir logo pra casa....
!! PUTZ !!! Era proibido deixar o que quer que fosse, nem uma porcaria de gel, nada de nada. Desculpem apoios, foi mal xingar vocês...
Os primeiros sinais de lama começaram a dar as caras.
Descendo a Serra lá estava o Togumi, Só você mesmo pra ficar nessa roça em filho?!?...
No PC antes da igreja. Um baita churrasco. Me senti um vira lata esfomeado...Pedi um pedaço. Pude perceber que sentir fome e frio, mexe com a cabeça do fulano...
BUSCANDO A PRINCESA
Mal sabíamos, mas estávamos prestes a vivenciar o momento mais marcante, pelo menos para mim, durante o evento.
Lidar com uma égua que teria que subir um belo pedaço carregando em sua anca mais ou menos 50 kg. O nome dela era princesa. Me apaixonei. Fiz declarações de amor. Cantei para ela.
Então cometemos mais um erro. A chuva caía forte durante a noite, os rios se confundiam com a enxurrada que varria a trilha. Passamos a entrada principal e com nossas cabeças já calejadas de tanta cabeçada rodamos umas três horas em um pasto. Até descobrirmos que a trilha certa estava mais abaixo. Administrando a capacidade da nossa égua. PAUM!!! Caiu a sela da Princesa!!! Toca amarrar tudo de novo.
E lá no topo lama até a cintura. Lembra da história do bode ?!? Tira o bicho da cela e toca em frente.
Haja psicologia animal!!!! Encontramos algumas éguas empacadas e sacos de comidas abandonados. Estas equipes deveriam ser penalizadas por essas faltas. Por tratar mal os animais.
Ouvi até um fulano falando (não vou citar nomes, nem equipes) Pô abandonamos o bicho lá, quase que eu mato ele, deveria ter matado...
A LIÇÃO!!!
A natureza te dá aquilo que você dá para ela.
BIKE, LAMA E TRAUMA
A alguns meses vinham preparando minha mente para a possibilidade de encontrarmos lama. Na Bahia ano passado, a chuva tirou a equipe que eu estava correndo da prova.
Então pensei. Nem que eu tenha que carregar essa bike nas costas por 70 km. Nem que a lama chegue no pescoço.
Me preparei tanto mentalmente que não achei o fim do mundo. Muita lama, sim. Porém administrável.
Estávamos muito desgastados da noite da tempestade e de perdido com a égua.
O Repo começou a ver os sleep-monsters e resolvemos parar na central do IBAMA para descansar.
Pedalar a noite, sem comida suficiente, com lama e pedra nas decidas não estava parecendo uma boa idéia...
Resolvemos seguir no dia seguinte. Revigorados e prontos.
TREKKING E REPRESA
Chegamos no Hotel Cavalinho Branco e saímos para um trekking que fizemos voando 2:30. Foi um momento de alta coletiva.
Precisávamos correr para não pegar o corte.
Chegamos na represa para sair às 19:00h. Calculamos azimutes, tempos e ritmo.....quem disse que deu certo....
Essa foi a pior e mais perigosa parte da prova para nossa equipe. Remamos até as 4:00 da manhã. Perdidos, sem referência. Assombrados pelo monstro da hipotermia. Saímos com nossos caiaques da água, viramos de lado cobrimos com os biouvacs. Tiramos a roupa molhada nos embrulhamos nos cobertores de emergência e ficamos lá embaixo, aguardando um feixe de luz para encontrar nossa posição. Descobrimos que depois de rodar trocentas horas estávamos a 2km da chegada...
Duas equipes se aproximaram. Passaram e ficamos lá com cara de coco. E sem chances de passar pelo corte.....
TREKKING, JORJÃO E RATOS DE TRILHA
Fomos para o último trekking bem zoados, sentindo os efeitos da represa assassina. Nosso objetivo era cruzar a linha de chegada, para isso tínhamos 24 horas.
Não conseguíamos raciocinar direito. Então encontramos a molecada dos Ratos de Trilha. Todos meio danados. Com bolhas e assaduras. Ajudamos eles a se cuidar e paramos na casa do Sr.Jorjão. Que pessoa. Nos deu arroz de carreteiro, p ão caseiro, doces, cafés....baita banquete.
Depois ofereceu um quartinho (enquanto a tempestade caia, outra vez). Dormimos. As duas equipes aninhadas em um quarto empoeirado, feito bichos no chão....quer saber...parecia hotel 5 estrelas....os Pelegos de cabra meio amarelados
e sujos que me cobri com a calça suja de lama....ÊH!!!beleza.
As duas da matina acordamos revigorados e prontos para finalizar a prova.
BIKE FINAL, HINOS DO RIO GRANDE DO SUL E LÁGRIMAS
Tudo pronto. Vamos fechar a prova com a turma dos Ratos. Molecada aguerrida, corajosa e que cantando os hinos do Rio Grande do Sul, pedalaram ao nosso lado. Veja!! Algumas das bikes nem suspenção dianteira tinham. A Amanda, menina de 18 anos, tem tudo para ser a melhor corredora de aventuras do Brasil. Que determinação!!!
O trecho final foi em baixo de uma tempestade cruel!!! Não pude conter as lágrimas que escorriam pela minha face se misturando a lama e a chuva. Esta foi a terceira vez que tento o PRO. A primeira que cruzo a linha de chegada, mesmo com corte. Sacrifício, treino, horas de sono perdidas e longe da família, namorada. O mundo veio abaixo em forma de lágrimas.
Cruzamos a linha de chegada nas primeiras horas de luz do Sábado, intercalados com a turma dos Ratos.
UFFF!!! Que alívio!!! Que alegria!!!! Um bando de marmanjos chorando. Escrevendo esta última linha meus olhos enchem de lágrimas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Carregamos um bode por dia, compartilhamos com outras equipes e nossos apoios o maior desafio do nosso esporte.
Agradecemos ao nosso técnico, Rafael Campos pela força e conhecimento compartilhado.
A Organização do Pro pela coragem e determinação em realizar um evento complexo, que nem sempre gera fortunas....
A turma da LandScape que compartilhou alguns momentos conosco. Fran e Mendoin, valeu pela força e preocupação com nossa equipe na represa.
A Go Lite Timberland pela ética e respeito. Aprendemos muito com vocês
Ao Goiabada Power pela generosidade e goiabada com queijo.
Aos Ratos pela lição de humildade e força
Ao Jorjão pelo coração que não cabe no peito.
Aos nossos apoios pela paciência e dedicação.
A Natureza por ter iluminado nosso caminho e nos protegido, mesmo que por caminhos estranhos
A Foxboro, por investir em nosso sonho
A Ironman Sunglasses por proteger nossa vista
A Alpha Corpus por preparar nosso físico.
Obrigado a todos vocês
Ano que vem tem mais.
Abraços a todos
Ozi, Marciones, Eli e Repo
Foxboro Senta a Púa Ironman Sunglasses
Copyright©2000-
Adventuremag - Informativo sobre corrida de aventura - Política de privacidade
Proibida a reprodução, modificação e distribuição, total ou parcial de qualquer conteúdo deste website