Durante a temporada de 2005 tive a oportunidade de competir o mais estruturado circuito californiano de corridas de aventura – Explore Califórnia. Organizado por um pool de 4 organizadores, o circuito contou com uma prova para escoteiros e amadores, quatro provas de 24 horas e uma expedição final - Baja Travesia. Além dos eventos, convivi com o casal Paul Romero e Karen Lundgren, tive a oportunidade de conhecer outros atletas e equipes e entender melhor a realidade norte-americana das corridas de aventura.
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Na perspectiva das equipes, nada de luxo. Dormem dentro dos carros e encaram largadas às 4 da manha numa boa. Tudo pela diversão... e pelas boas premiações em dinheiro, que chegam a $5 mil dólares por evento (1o. $2mil, 2o. $1200, 3o. $800, 4o.$600, 5o. $400).
Regionalidade
Em 2005 foram realizados cerca de 500 eventos em todo o pais, sendo grande parte corridas de 6 a 12 horas (sprint races) e provas de 24 horas. Porém, como no Brasil, elas são espalhadas pelos diversos estados e a grandeza do pais impede a participação das equipes de ponta nos melhores eventos. Este fato é dificultado ainda pela inexistência de um circuito nacional, forte e organizado.
Equipes de Ponta
As melhores equipes americanas são aquelas formadas por atletas veteranos, competidores de aventura desde os tempos dos primeiros Eco-Challenges e Raid Gauloises. Além da experiência acumulada, estas equipes contam com o apoio / patrocínio de poderosas marcas americanas abertas para uma promoção alternativa e integrada, afinal, elas já aprenderam que o retorno de mídia do esporte é pequeno, mas tem grande valor conceitual e promocional. Alem de patrocínios em dinheiro, estas equipes contam com o apoio de uma grande variedade de marcas atuantes no mercado outdoor – como fábricas de equipamentos e produtos para esporte de aventura.
Weekend Warriors
Com as equipes de ponta competindo apenas as melhores provas de expedição do mundo, os circuitos regionais americanos sobrevivem da presença das equipes iniciantes. Robyn Benincasa os define como “guerreiros de final de semana”, dando nome `aqueles que participam do esporte apenas por diversão.
Canoagem e embarcações
Provas onde os competidores devem levar caiaques como parte dos equipamentos obrigatorios tem se tornado cada vez mais populares.
Paul Romero, atleta e organizador, um dos pioneiros na atitude, afirma que "no inicio muitos atletas reclamaram. Uns levaram barcos não muito competitivos (como ducks e embarcações de plástico) e logicamente as equipes dispostas a brigarem pelas primeiras colocações levaram caiaques adequados para competições. Rapidamente observamos a melhora das embarcações, com equipes comprando o próprio equipamento ou mesmo alugando barcos melhores. Hoje o nivel da canoagem esta em franco crescimento, e ainda vai melhorar muito".
Explore CA
O Explore Califórnia foi vencido pela equipe DART, de Seattle – Washington, que corre também provas no Canadá e em Idaho. A equipe Silly Rabbits levou o segundo lugar, mesmo tendo participado apenas de 3 provas do circuito. Correndo pela equipe E-camp Brasil em 4 etapas, em 3 formações diferentes (boa parte iniciantes), terminamos o circuito em terceiro lugar geral. Não que minha equipe fosse boa, mas o exemplo serve como prova do nível das equipes locais – médio baixo!
Segundo Harald, da equipe Balance Bar, o país ainda sente muita falta do circuito Balance Bar, que contava com as melhores equipes e era transmitido pelo canal CBS. Ele confirma haver um gap na performance das equipes americanas, e a inexistência de equipes de médio porte.
Esta foi a principal motivação do casal da equipe SOLE, idealizadores do circuito. “Há dois anos fomos competir uma prova regional e percebemos que o esporte não estava indo para lugar algum. Com isso decidimos montar o nosso próprio circuito e preparar de fato as equipes americanas para as provas do cenário mundial” narra Karen Lundgren.
Eles sabem do que estão falando. Competindo nos mais altos níveis de performance a oito anos, as provas organizadas pela West Coast Adventure Racing, propriedade do casal, foram as corridas mais técnicas que já participei em 4 anos de aventuras.
USARA – United States Adventure Racing Association
Eles contam com uma entidade regulamentadora, mas esta não conta com o apoio das equipes de ponta. Eles preferem competir os eventos internacionais e ignoram a prova chamada de National Championships (campeonato nacional), que este ano foi realizado na Flórida e premiou o melhor dos... “amadores”.
Robyn acha que a tendência é ter um campeonato nacional cada vez mais valorizado – mesmo pelas equipes de elite. Segundo ela, a ausência do Primal Quest no calendário de 2005 e a falta de um circuito mundial organizado não ajudam o desenvolvimento das equipes. Ela sabe que a presença da televisão nos eventos é a saída para a construção para uma base sólida para a modalidade, e a associação USARA tem conseguido atrair uma boa quantidade de mídia espontânea nos eventos que realiza, levando a crer que no futuro próximo mais equipes de elite participarão do evento.
2006 - O ano chega com a perspectiva de crescimento, uma vez que serão novamente realizados grandes eventos em território norte americano. Em Julho acontece o retorno de Primal Quest (detentor do maior prêmio por evento na historia das corridas de aventura, com 250 mil dólares), um evento classificatório do The Raid World Cup (09 a 11/06 - Idaho) e a final The Raid World Championships, que pela primeira vez será realizado no Canadá. Essas provas certamente darão nova força e motivação aos atletas e equipes norte-americanos em busca da participação nestes grandes eventos.
Conclusão - A idéia deste texto não é definir respostas para o desenvolvimento das corridas de aventura do Brasil, mas sim oferecer ao leitor outros parâmetros para comparação e analise clara da situação atual da modalidade. Pessoalmente acredito que vivemos um ótimo momento, com o número de eventos em crescimento e a presença da modalidade em diversos estados brasileiros, com um grande número de equipes prontas para um próximo passo em direção a uma performance mais competitiva (ao nível que costumamos chamar ‘de ponta’). Acho positivo o fato de todos no meio - organizadores e praticantes – já praticarem detalhes ‘plásticos’ do marketing esportivo, próprios para a atração de investidores e mídia (visibilidade de marcas, equipamentos, banners e afins).
Vejo que o momento é de apoiar o nascimento dos órgãos reguladores, de circuitos nacionais (como o Try On Meeting) e de treinar. Treinar e acreditar que é possível ir mais forte, é possível ir mais longe, é possível competir nos mais altos níveis de performance das equipes mundiais. Basta querer, e trabalhar para acontecer.
Bons treinos e provas em 2006.
Jorge Elage
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