Um Trip Trail para nunca esquecer

Por Manuela Vilaseca - 26 Abr 2006 - 16h04

Sempre tive vontade de fazer o Trip Trail do Ecomotion, mas desde que comecei a fazer triathlon a minha mountain bike ficou um pouco de lado. Consegui convencer meu treinador dessa vez, a quase 1 mês do Ironman de Florianópolis, de fazer parte dessa aventura. Estava inscrita em quarteto com minha equipe de corrida de aventura, Tatanka Addict, mas 1 semana antes da prova recebi uma ligação do Ruy Avancini. Ele me convidou a fazer a prova em dupla com seu filho, Henrique. Eu não conhecia o Henrique mas já tinha ouvido falar muitíssimo bem. Sabia que estaria formando dupla com um dos melhores ciclistas da prova e isso se tornou um grande desafio para mim.

Conheci o Henrique e o Ruy na quinta feira, na estrada, a caminho de Campos do Jordão. No carro conversamos um pouco sobre a prova, que para o Henrique seria uma novidade já que ele compete na maioria das vezes em provas de cross country.

Chegamos em Campos do Jordão à noite e fazia 5 graus! Só ficava imaginando o frio que sentiria para pedalar. Saímos para jantar e fomos logo dormir porque o dia seguinte seria muito duro.

Sexta feira acordamos cedo e ainda estava gelado! Pegamos os kits e começamos a montar as planilhas e distribuir os trechos. Adaptamos as planilhas na bike, dentro da caixinha, e preparamos tudo para ter o menor trabalho possível durante o trajeto da prova. O Henrique se despediu e foi para a largada enquanto eu e o Ruy fomos de carro para o primeiro pc, onde faríamos a troca.

Quando chegamos lá os carros de apoio ainda estavam começando a chegar. Preparei minha bike e fiquei sentada próximo ao pc, já imaginando que o Henrique chegaria em breve. E a previsão foi certa! Em alguns minutos ele chegou, acompanhado das duas duplas da Amazonas. A adrenalina estava no máximo porque seria meu primeiro trecho na prova, e com a responsabilidade de pedalar bem. Saí pedalando e sabia que o trecho seria fácil porque consistia, na grande maioria, de asfalto. Algumas pessoas me passaram, não muitas, e consegui devolver a bike para o Henrique em primeiro lugar na categoria dupla mista.

Nesse momento uma confusão de informação aconteceu que acabou nos custando o primeiro lugar. Recebi a informação de que os próximos dois trechos tinham se juntado e que eu pedalaria depois. Um dos nossos amigos, que estava na categoria quarteto misto, precisava de uma planilha dos trechos que haviam se juntado e eu cortei da minha planilha para dar para ele. Mas a verdade é que apenas o pc no meio de um trecho havia sido cortado e isso acabou gerando uma grande confusão.

Logo que chegamos no pc as duplas da Amazonas chegaram e nós sabíamos que o Henrique chegaria em breve. Preparei minhas coisas e sentei para esperar. Em pouco tempo o Henrique apareceu e me passou o chip, que eu coloquei no pescoço e saí a toda. Mal sabia eu que estava com a planilha errada e que o trecho que deveria fazer era um single track começando pelo trilho de trem.

Saí pelo asfalto, seguindo o que a planilha mostrava e o que acabou comigo é que muita coisa batia com a planilha. O que estava apenas um pouco diferente eram as distâncias, mas achei que fosse uma diferença no meu ciclo computador. Percebi que estava errada quando comecei a perguntar às pessoas da rua sobre as referências da planilha e eles não sabiam me dizer. Eu acho que o maior problema é que eu jamais pensei na possibilidade de estar com a planilha errada e por isso insisti no erro. Algumas pessoas na rua me diziam que se eu pegasse o asfalto eu sairia lá mas eu sabia que não era permitido.

Comecei a voltar para o pc, já com muito tempo perdido,  e encontrei muitos carros de apoio mas ninguém sabia me ajudar. Encontrei 2 garotos numa tandem que estavam como mesmo erro que eu. Foi quando paramos para olhar as planilhas e vimos que estávamos errados. Voltei ao pc e arrumei a planilha certa com um amigo.

Saí pelo trilho de trem, já com a decepção de saber que havia perdido um tempo enorme e muitas posições. Imaginava a preocupação do Ruy e do Henrique mas não tinha como avisar. O trecho era bastante complicado porque era um single track com muito mato fechado. As vezes eu caía e não sabia por que. Quando olhava tinha uma pedra enorme no meio do caminho. Foi escurecendo e meu problema começou a se agravar. Estava com uma pequena lanterna presa na bike mas ela apontava apenas para o pneu. Eu não conseguia soltar a lanterna da bike e com isso não conseguia ver a planilha. Quando cheguei no final do pasto eu sabia que teria que cruzar o rio, mas o que não sabia é que tinha cruzado ele no ponto errado. Eu não enxergava mais nada e estava completamente perdida. Estava desesperada e muito decepcionada comigo mesma porque sabia que o primeiro lugar tinha ficado para trás. Já não achava o ponto onde tinha cruzado o rio e não conseguia voltar para onde estava. Foi nessa hora que vi duas lanternas do outro lado do rio e comecei a gritar. Pedi ajuda e disse que estava perdida e os dois ciclistas me falaram que iam cruzar o rio. De repente eles sumiram e me vi sozinha de novo. Comecei a voltar para a margem do rio, procurando um lugar para cruzar de volta mas eu estava bem acima dele. Foi nessa hora que vi uma lanterna se aproximando e percebi que os ciclistas haviam voltado para me ajudar. Nessa hora fiquei muito agradecida e calma porque vi que ia finalmente sair de lá. Voltei como Lessa, Tobias e um dos meninos que estava na tandem no trecho acima. Ele estava sem corrente e estava apenas conseguindo pedalar as descidas. Chegamos no pc, eu atordoada com o que havia acontecido, e as pessoas aliviadas por estar tudo bem comigo.

O Henrique subiu na bike rapidamente e saiu para fazer 2 trechos seguidos. Combinamos com ele de encontrar apenas no pc do segundo trecho, onde eu pegaria a bike de novo para fazer o penúltimo trecho daquele dia. Estávamos na estrada indo para Silveiras e passamos em frente ao pc por onde o Henrique passaria e continuaria. O Ruy resolveu parar para ver se o Henrique já havia passado e o PC nos informou que não. Era muito estranho ele não ter passado porque era um trecho bastante curto e de asfalto. Eu perguntava para os ciclistas que chegavam mas ninguém havia visto o Henrique perdido ou com algum problema técnico. Desconfiei que ele havia passado direto pelo pc, com pressa e correndo atrás das posições perdidas. O Ruy estava muito preocupado e saiu de carro para ver se encontrava o Henrique. Ficamos muito tempo lá, tentando entrar em contato por rádio com o pc seguinte. Não sabíamos onde o Henrique estava e eu consegui convencer o Ruy de ir até o pc seguinte, já prevendo que o Henrique estaria lá. O Ruy estava muito preocupado e no carro só falava que queria ver seu filho. No fundo eu sentia que estava tudo bem e que ele estaria mesmo lá.

Chegamos no pc e lá estava o Henrique, sentado no chão, morrendo de frio. O mesmo menino da tandem estava lá e dessa vez ajudando o Henrique, emprestando seu casaco. A pressa fez mesmo com que ele passasse direto pelo pc anterior, seguindo direto para o outro. Nessa hora o Ruy já havia se preocupado demais e como muita coisa não estava dando certo ele achou melhor a gente parar. Já fazia muito frio e ele estava muito preocupado com a gente pelos dois trechos que ainda faltavam.

Entramos no carro e fomos até o acampamento. Era muito longe de lá e nos perdemos muito para chegar de carro. Quando finalmente chegamos arrumamos nossas coisas, tomamos um banho, jantamos e fomos dormir exaustos!

No sábado o trecho era um circuito fechado. O Henrique fez para valer e eu fiz como treino. Era um circuito muito legal com subidas e descidas difíceis. Essa noite a organização forneceu um maravilhoso jantar de massas onde os atletas puderam repor as energias para o dia seguinte.

No domingo a largada foi às 5:00 da manhã e o Henrique se preparou para fazer os 3 trechos do dia. Eu estava pronta para substituir caso algo desse errado. Logo que chegamos no pc 1 preparamos as coisas mas o Henrique passou logo com os 2 primeiros colocados da prova e seguiu para o trecho 2. Entramos no carro rumo ao pc2, onde eu faria o trecho 3 independente do Henrique continuar ou não.

No pc 2 ele chegou um pouco atrás dos 2 primeiros colocados mas ainda muito na frente do resto dos competidores. Saí para pedalar esse trecho que seria um downhill emocionante até a cidade de Paraty. O trecho começou com 5km de subida em asfalto e depois emendava em uma estrada de terra, que descia direto até a cidade. Desci curtindo o final da prova e meus últimos momentos de mountain bike antes de voltar a pedalar de speed. Poucos ciclistas passaram por mim e foi ali que vi o quanto estávamos na frente.

A chegada em Paraty foi muito legal e fechou uma prova emocionante com um visual de babar. Com as vitórias no sábado e no domingo fechamos a prova em terceiro lugar e vimos que foi muito importante ter continuado na luta, sábado e domingo, mesmo com a prova desastrosa de sexta feira. Adorei ter participado do Ecomotion Trip Trail e espero no ano que vem fazê-lo mais uma vez. Agradeço a Fuji e a todos que nos apoiaram. Agradeço também aos amigos que lá estavam dando uma grande força e aos que torciam de casa. Sem dúvida foi uma prova para não esquecer!

Manuela Vilaseca
Triatleta e corredora de aventura
Integrante da equipe Tatanka Addict
m.vilaseca@indiodacosta.com

Manuela Vilaseca
Por Manuela Vilaseca
26 Abr 2006 - 16h04 | sudeste |
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