Tudo começou a ser traçado em fevereiro, num jantar/reunião dos integrantes da equipe Pegasus, quando o calendário do ano de 2006 seria planejado. Como a equipe Faap Aventura treina conosco e acima de tudo são grandes amigos, acabou que eles sentaram na mesma mesa e daí surgiu o assunto da próxima etapa do Eco Adventure ser na Patagônia.
Eu, capitão da Pegasus e o Bruno, navegador da Faap Aventura, corremos juntos a última etapa na Bahia e estávamos correndo algumas outras provas juntos. Já havíamos combinados de correr o próximo "Eco", só faltava convidar mais um homem e uma mulher. O atleta masculino foi fácil, Gito, que além de ser uma figura notável e barulhenta, corre muito forte e vinha treinando bastante e fechou na hora! A mulher era um caso delicado, pois seria decisivo em uma corrida com grandes equipes concorrentes. O Lucio, treinador da Academia Faap, nos indicou uma "tal" menina triatleta, Mariana... O Bruno fez contato e fechou com ela de cara. Bom, "vamo que vamo"... com pouca experiência em aventura, mas dois Iron Man na bagagem, ela não deve ser qualquer uma!!!
Caixas arrumadas, equipamentos em ordem, bike desmontada e empacotada... aeroporto... Região de Bariloche, Patagônia argentina... palco de uma das maiores provas de aventura já realizadas, o Eco Challenge 1999.
Domingo, manhã de céu azul contrastando com um clima gelado... 30 equipes alinhadas e agasalhadas no pórtico para a tão esperada largada. Nos juntamos, dei as ultimas palavras de força e confiança para equipe, e pedi para a Mari grudar na minha mochila pois sairíamos forte e... Fooooooooonnnnnn... dada a largada!!!
Um trekking de aproximadamente 10km de muita subida nos esperava... Começamos forte e determinados. Em um primeiro ponto de navegação, seguimos um pequeno vale, acompanhando um riacho oriundo de degelo dos picos nevados... Olhei para trás e a equipe comandada por Allan Panza optou por subir à esquerda em um morro que daria no mesmo azimute para o PC1... Todas as equipes na seqüência optaram pelo mesmo morro e seguimos sozinhos...
Confesso que senti um certo medo, porém conheço e confio muito na navegação e experiência do Bruno, que tem um recente Desafio de Los Volcanes na bagagem além de outras provas do ARS.
Todas as equipes à esquerda no morro e nós em baixo, no vale... Seguimos um pouco mais adiante e ouço uma certa gritaria acima... Não havia continuidade pela rota do morro... As outras equipes teriam que descer um barranco e encaixar na rota que estávamos... Nesse momento sentimos uma oportunidade de apertar a corrida e abrir vantagem. Assinamos o PC1 e senti antecipadamente na panturrilha o "drama" que seria para chegar no PC2 e PC3... Pernada firme e a ajuda do trekking pole acima... A distância que abríamos dos outros nos motivava a continuar apressados. Nós quatro nos sentíamos bem... unidos e focados.
A paisagem era simplesmente fantástica!!! Uma visão de 360° com direito a formações rochosas incríveis, um deserto inóspito, lagos e rios azuis e um vento de cortar a orelha nos acompanhava naquela altitude de 1.800 metros. Mal dava para admirar o visual pelo difícil nível técnico do trekking, mas tudo aquilo nos incentivava muito.
Após o PC3 descemos rasgando para pegarmos as bikes. Avistamos as equipes chegando no PC2 ainda... "Yala yala yala" gritava o Gito, nosso corredor puro sangue "árabe"!!! A pegada era tão firme que nem minhas piadas conseguiam sair... nem dava!!!
Um trecho de 26km de MTB pelo deserto da Patagônia, começando por "chatas"
subidas... A perna já tava dura, mas vamo embora, precisamos manter a liderança.
Giramos bem nos revezando no vácuo.
Agora começo a relatar ocasiões "perrenguiticas" que temperaram com muita pimenta o gosto dessa prova inesquecível: no final de uma subida eu aproveitei para tomar um gel de carboidrato. Iniciamos um downhill e eu ainda estava guardando o sache vazio (essa vale para os atletas porcos que desrespeitam a natureza) no bolso externo da minha mochila... vacilo enorme numa descida rápida e técnica e... plaaaauuuuuu!!!
O que uma pedra no caminho não faz com um atleta desatento!!! Que rola!!! Quando parei, estava com o pé esquerdo preso no quadro e me senti bem zonzo!!! Obrigado capacete, ainda amenizou bastante!!! Bons ralados e uma costela - fiquei sabendo hoje - fraturada. "Gui, você ta bem?" Todos da equipe em cima de mim... "Tô, vamo aí...!!!" Pelo menos a adrenalina me "dizia" pra levantar e continuar socando da mesma forma!!!
Imagino que uns 10km depois (pois meu ciclo-computador foi esmigalhado na queda) nossa formação era o Bruno, a Mari, eu e o Giiiiiiii.... Ué, cadê aquele lesado???!!! "Páááára!!!" eu gritei pro Bruno. Peguei minha bike, comecei a subir e virar a curva cheia de pedras que descemos... e me aparece o Gito com a camisa de prova vermelha (ela era branca)...
"Você tá bem Gito, o que aconteceu?" - "Relaxa, não se preocupa comigo!" ele me responde...
Ai ai ai... eu o parei e vi o estrago!!! " E aí Gui, tá feio?" - essa hora eu me lembrei da Camilão no Ecomotion, com um talho no supercilho...
"Hummmm, então... foi um cortinho... vamos limpar..."Não dava pra abalar o psicológico dele no momento, ainda mais depois dele ter beijado uma pedra!
"Bruno, vem aqui". Chamei ele de canto e falei: "Man, fuuuuu%&*#@*&%#$%!!! o queixo dele foi pro saco... abriu feio!!! Precisamos de um médico já!!!"
O Gito, raçudo e não sabendo do estrago, queria continuar e logo... mas limpamos, e fizemos um curativo (que depois foi elogiado pelo Dr. Clemar).
PC5, ainda em primeiro, porém preocupados com o Gito e com o tempo perdido em duas quedas. PC6 à vista e o giro continuava forte, com o trabalho de vácuo. Nada de médico no AT da canoagem.
"Gito, tá doendo?" - "Não tá doendo... e coloca logo esse colete, man!!!"
Os fiscais argentinos gritando "muy bien chicos, los otros estan lejos". Canoa canadense, diferente dos ducks do Brasil, porém fizemos um treino antes que nos deu base...
Que paisagem... essas ficarão pra sempre na memória dos atletas!!!
Vinte remadas na direita, hip hooo, troca pra esquerda e mais vinte... assim até o fim. Nessa hora as câimbras vinham e iam com a maior facilidade, mas o cheiro da vitória começava a chegar.
Entregamos as canoas numa transição rápida e seguimos mais uns quilômetros de subida forte para um rappel... câimbra??? Bobagem... tá acabando...
Alonga, alonga e vamo aí... e a Mari grita lá de cima: "Olha equipe chegando no rio!" Mesmo sabendo da distância aberta, aquele frio gelou a espinha e seguimos apressados.
Rapel feito, nem olhei pra saber o que tinha... queria despencar logo!!! Vamo... vamo!!!
Mais um trekking curto e o pórtico de chegada!!!
Glória, força, determinação, concentração e espírito de equipe!!! Resumo isso a vitória de ponta a ponta dessa equipe que me orgulho muito de ter feito parte!!!
Bruno, valeu pela frieza na navegação e incrível força que você tem!!! Sua experiência vale muito em qualquer equipe!!!
Mari, já te disse e digo a todos, você é a mulher mais forte que eu já corri! Me deixou bobo!!! Como o Bruno falou, "toda hora que eu puxava o rítimo mais forte, eu sentia uma fungada na minha nuca que não saía de lá!!!" Valeu garota!!!
Gito, você nos mostrou que lutar não é só ter força, mas espírito de equipe e foco!!! Foi uma experiência e tanto ver você correndo e dando apoio a todos mesmo com esses 10 pontos que estão nesse seu queixo "enorme"!!! Bato palma pra você, meu irmão!!!
Agradeço a FAAP, por nos propiciar experiências inesquecíveis como essa e por todo incentivo ao esporte... Não só eu, como vários atletas do circuito, começaram com essa iniciativa da Academia e levam um grande carinho pela Fundação! Somos orgulhosos de ter a FAAP em nosso currículo.
Obrigado Pharmacia Artesanal por meu acompanhamento nutricional e suplementos e a Unigas pelo apoio a equipe Pegasus!!!
Até a próxima (espero que em um lugar tão bacana como a Patagônia) e bons treinos
Guilherme Mattos
Equipe Pegasus Árabe Outlandish
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