O Portugal XPD Race, evento internacional realizado na região de Estoril, Sintra e Cascais entre os dias 06 e 10 de dezembro, foi um evento completo com clínicas, workshops, conferências e, é claro, uma corrida de aventura para fechar a semana de atividades.
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Entre os atletas conhecidos internacionalmente estiveram presentes Paul Romero (EUA), Antonio de La Rosa e Mónica Aguilera (Espanha) e Petri Forsman (Finlândia). O Brasil esteve representado por Rafael Campos, capitão da equipe Mitsubishi Francis Hydratta QuasarLontra, que dividiu sua experiência como atleta e como presidente da APCA – Associação Paulista de Corrida de Aventura.
O primeiro dia foi voltado para os cursos técnicos e englobou todas as funções exercidas nas organizações das corridas portuguesas. Veja abaixo os temas abordados e os responsáveis pelas clínicas:
Sessão 1 - Organização de provas - Alexandre Guedes da Silva (PT) e Ana Gabriel (PT)
Sessão 2 - Treino e preparação técnica - Mónica Aguilera (ESP)
Sessão 3 - Cartografia e traçado de percursos - Jorge Baltazar (PT) e Alexandre Reis (PT)
Sessão 4 - Supervisão e júri de provas - Rui Gomes (PT)
Sessão 5 - Cronometragem e controle de provas - Eduardo Oliveira (PT)
Sessão 6 - Relações públicas e mediatização - Alexandre Guedes da Silva (PT)
Alguns desse temas podem parecer estranhos para os brasileiros mas é de muita importância para o funcionamento das corridas de aventura no país. Todo o conteúdo oferece uma visão geral de como organizar uma corrida de aventura, desde a parte burocrática de contato com órgãos públicos até a preocupação em apresentar o esporte na imprensa em geral.
As corridas de aventura em Portugal estão um passo à frente do Brasil como esporte organizado. Lá eles também tem sua APCA - Associação Portuguesa de Corrida de Aventura - que é uma associação nacional e que trabalha em conjunto com a FPO – Federação Portuguesa de Orientação – e controlam o esporte em todo o território português.
O Portugal XPD Race faz parte da Taça de Portugal de Corrida de Aventura, que conta com provas organizadas por diferentes clubes ou entidades. Para fazer parte desse campeonato, os interessados devem apresentar à Associação Portuguesa de Corridas de Aventura e à Federação Portuguesa da Orientação sua candidatura e após terem sido aprovadas, a equipe de coordenação nomeará um supervisor técnico que será responsável por assegurar que as diferentes provas sejam coerentes com o regulamento do campeonato, e que sejam respeitadas todas as condições de segurança exigidas nas atividades. Essa pessoa também é responsável pelos possíveis processos de análise e decisão de reclamações, coordenando as reuniões do júri técnico sem direito a voto.
Quem imagina ter hoje em dia nas corridas daqui do Brasil um supervisor isento que analisa tudo e que ajuda no julgamento de qualquer irregularidade que possa acontecer? Como são independentes, muitas vezes é o próprio organizador que julga as irregularidades de sua própria corrida...
Essa estrutura organizacional ainda não existe por aqui em nível nacional, mas temos por exemplo os circuitos nordestino e catarinense que buscam trabalhar dessa forma há alguns anos.
O segundo dia foi reservado para uma parte mais prática com a apresentação e uso do software para planejamento de percurso, e técnicas com cordas. O mau tempo fez que as atividade com cordas, inicialmente previstas para acontecer em campo, fosse realizada dentro das instalações do Centro de Interpretação Ambiental da Ponta do Sal, local onde ocorreram todas as palestras anteriores.
António Salguero, diretor da Federação Espanhola de Orientação, encerrou as clínicas com uma palestra sobre Equipamentos e Logísticas na organização de uma corrida de aventura.
Na sexta feira, 08, todos se deslocaram para o Centro Cultural de Cascais, onde foi realizada a conferência internacional. O local possui uma moderna estrutura de som, luz e imagem, contrastando com a antiga construção, onde até 1834 funcionou o Convento de Nossa Sra. da Piedade. Veja abaixo os temas abordados:
O Formato das Corridas de Aventura em Portugal
Alexandre Guedes da Silva (PT)
Painel 1 - O Formato das CA Internacionais
Moderador – Jorge Baltazar (PT)
Palestrantes – Paul Romero (EUA), António Salguero (ESP) e Rafael Campos (BR)
Painel 2 – A perspectiva dos praticantes de CA
Moderador – António de La Rosa (ESP)
Palestrantes – Pedro Pedrosa (PT), Marco Ponteri (IT) e Guntars Mankus (Letônia)
Painel 3 – Mediatização das Corridas de Aventura
Moderador – Alexandre Guedes da Silva (PT)
Palestrantes – Mónica Aguilera (ESP), Robert Howard (UK) e Wladimir Togumi (BR)
Painel 4 – Segurança e Responsibilidade
Moderador – Francisco Silva (PT)
Palestrantes – Laira Campello (BR), Pertri Forsman (FI) e Paul Romero (EUA)
Painel 5 – A tutela Internacional das Corridas de Aventura
Moderador – Rui Gomes (PT)
Palestrantes – Antonio Salguero (ESP), Rafael Campos (BR) e Robert Howard (UK)
Na ocasião tive a honra de dividir a mesa com Mónica Aguilera, conhecida corredora de aventura internacional, e Robert Howard, responsável pelo site mundial de corrida de aventura, SleepMonsters, para falar um pouco de como as corridas de aventura estavam sendo apresentadas na midia em todo o mundo e como fazer com que mais pessoas conheçam o esporte.
Laíra Campello, médica brasileira que está morando em Portugal, passou um pouco da sua experiência nas corridas de aventura brasileiras e mostrou imagens de algumas situações de assaduras, cortes e problemas com os pés. Mas o que impressionou mesmo foram as fotos de picadas de aranha.
Foi interessante ter uma visão do que está acontecendo com o esporte em diversos países diferentes, como saber que na Itália não existem corridas de aventura (apesar disso o país tem seu representante, Marco Ponteri) e que em 2002, após vários conflitos entre os organizadores locais, não foi organizada nenhuma competição em território espanhol.
Tanto a Espanha quanto Portugal têm as corridas de aventura supervisionadas pelas respectivas federações de orientação, que lhe dão todo o suporte legal para organizar os eventos e um dos assuntos colocados em pauta foi se não seria o caso da Federação Internacional de Orientação controlar o esporte mundialmente.
O Formato - Após o encerramento das conferências aconteceu o briefing da prova, que reuniu 46 equipes nas categorias Elite Mista, Elite Masculina e Aventura. A corrida é realizada em trios e a diferença entre as categorias Elite e Aventura é a possibilidade de revezamento de atletas entre as etapas. Na Elite os 3 atletas devem ser sempre os mesmos enquanto na aventura um dos 4 atletas fica como equipe de apoio.
O formato da corrida é diferente do que estamos acostumados no Brasil. Ela é realizada por etapas, que possuem horários de abertura e fechamento, e caso a equipe chegue após 30 minutos do fechamento, ela perde todos os PC’s conquistados.
Outra característica desse formato é que dentro de cada etapa o percurso não é linear, isto é, não existe a obrigatoriedade de passar em todos os PC’s e nem mesmo em ordem numérica. A equipe vencedora é aquela que tiver o maior número de PC’s no menor tempo possível.
Como os mapas são entregues apenas no início de cada etapa não é possível que as equipes escolham com antecedência os postos de controle que passarão, mas elas recebem no briefing um RaidBook com todos os detalhes de cada etapa.
Ele é impresso como se fosse um pequeno livro e possui algumas instruções gerais da prova, contatos da organização e emergência médica e as instruções de cada etapa com as modalidades, horário de abertura e fechamento, horário limite de partida, distância máxima e mínima (já que nem todos os PC’s são obrigatórios), local de largada e de chegada, a quantidade de PC’s da etapa (indicando a quantidade de facultativos e obrigatórios) e uma pequena descrição da mesma, possibilitando ter uma idéia geral do que vêm pela frente.
No final do RaidBook são impressos as altimetrias de cada etapa, a quantidade de PC’s e distâncias divididas por modalidade e ainda duas folhas de reclamação, caso a equipe queira entrar com algum recurso.
Para se ter uma idéia da organização, o RaidBook já prevê em suas páginas a possibilidade do cancelamento da canoagem na primeira etapa, o que acabou acontecendo, e possui impresso as orientações da realização da etapa com a modalidade alternativa. As equipes simplesmente ignoram as instruções da etapa 1 e seguem a da 1A.
Todo o controle de passagem das equipes pelos postos de controle é feito eletronicamente com o uso do Sport Ident. Cada atleta utiliza um sensor preso ao pulso por uma fita inviolável e além da passagem da equipe, o leitor controla também a distância entre os integrantes da mesma. A equipe perde o PC caso a diferença de tempo de leitura entre o primeiro e o último atleta tenha mais de 3 minutos. Caso haja falha no leitor eletrônico as equipes devem utilizar os picotadores, como os utilizados em orientação.
A corrida – A largada da prova aconteceu no jardim em frente ao Casino Estoril, considerado o maior casino da Europa. A principio as equipes se dividiriam, com dois atletas remando e um fazendo orientação pedestre, mas as condições no mar não estavam boas e por segurança optou-se por todos seguirem na orientação pedestre.
Entre as equipes favoritas estava a Team Sole, formada por Paul Romero (EUA), Petri Forsman (FIN) e Aurélio Roldan (ESP), com Mónica Aguilera no apoio. No começo da prova ela teve a companhia de Antonio de La Rosa e se alguém não conhecesse a Team Sole, já poderia imaginar o nível da equipe só por ter esses dois super-atletas como apoio....
O Brasil esteve representado pela equipe Mitsubishi Francis Hydratta QuasarLontra, formada por Rafael Campos, Victor Teixeira e Tessa Roorda, com Úrsula Pereira na equipe de apoio.
Acompanhar esse formato de corrida é mais difícil já que nem todos os postos de controle são obrigatórios, portanto não sabemos onde podemos encontrar as equipes. Optamos por esperá-los na Escola de Escalada da Guia, onde um dos atletas teria a oportunidade de fazer uma escalada e dependendo do grau da via conquistada, que variava de IV a VI, poderia receber a localização de um ou dois PC’s extras.
Foram poucas as equipes que decidiram fazer essa atividade, entre elas estava a equipe Raid LV, liderados por Guntars Mankus da Letônia. A maioria optou por seguir para a etapa seguinte em que cada atleta seguia em uma modalidade: a pé, mountain bike e trikke.
Na rotatória próxima à escola de escalada equipes chegavam de todos os lados e de acordo com sua estratégia, seguiam por caminhos completamente diferentes. Além do frio os atletas tiveram que enfrentar em alguns momentos a chuva gelada que vez ou outra caía. Chegamos a pegar até chuva de granizo no meio do caminho!
A terceira etapa levou os atletas até o Cabo da Roca, o ponto mais ocidental da Europa e que faz parte do Parque Natural de Sintra Cascais, onde ocorreu grande parte da competição. O desnível dessa etapa exigiu muito dos atletas, que saíram do nível do mar e subiram até quase 400 metros. A melhor equipe nesta etapa foi a Exército Português B que fez o melhor tempo entre as 3 equipes que passaram em todos os PC’s.
Em seguida as equipes partiram de bicicleta em direção ao Palácio-Convento de Mafra, uma imponente construção que pode ser vista de longe e que abriga uma das mais importantes bibliotecas do país. Os atletas enfrentaram muitas subidas e descidas e foram poucas as que conseguiram completar a etapa. O sol começava a se pôr no horizonte e o frio passou a ser um desafio a mais.
A etapa seguinte aconteceu dentro das Tapadas Militar e Real de Mafra e incluiu uma escalada e rapel no meio do percurso. A equipe Mitsubishi Francis Hydratta QuasarLontra cometeu um erro em sua estratégia e chegou quase 4 minutos após o fechamento da etapa. De acordo com o regulamento ela conseguiu manter os PC’s conquistados mas teve apenas 6 minutos para fazer sua transição e marcar a saída para a próxima etapa, a maior de toda a prova com cerca de 70 Km em sua distância máxima.
Após perder alguns minutos procurando um dos postos de controle, a equipe brasileira chegou à Praça de Touros na Vila Franca de Xira para a última etapa do dia, uma canoagem noturna no Rio Tejo com 12,5 Km de percurso rio acima, com apenas dois integrantes. Quando a equipe começava a remar um dos responsáveis pelas embarcações brincou dizendo que para chegar no Brasil era só seguir reto.
Terminada a etapa todas as equipes se dirigiram para o ginásio da Universidade Técnica de Lisboa, onde a organização ofereceu uma sopa quente e todos puderam tomar banho e descansar para o dia seguinte.
O segundo dia de prova teve apenas 3 etapas e início na cidade de Sintra, com suas construções medievais como o Palácio Nacional da Pena, localizado a cerca de 500 metros de altitude, e o Castelo dos Mouros.
As equipes começaram com a atividade chamada Score 100, onde cada PC possui uma pontuação e o objetivo é marcar 100 pontos em apenas 45 minutos, utilizando uma fotografia aérea da região na escala 1:5.000.
Em pouco tempos os atletas já estavam de volta ao ponto de largada e pegavam suas bicicletas para seguir em direção ao Convento dos Capuchos onde a equipe se dividia e cada atleta fazia uma atividade diferente: um integrante fazia uma tirolesa, outro atirava com arco e flecha e o terceiro fazia um downhill com o trikke. Aliás, o local onde iniciava a descida de trike oferecia uma vista panorâmica de toda a região.
Os integrantes das equipes se reencontravam novamente no final do trikke e seguiam para a chegada na praia de Tamariz, onde os locais e turistas observavam as equipes que completavam o Portugal XPD Race 2006.
Classificação Final (Total de PC's - 96)
Elite Mista
1 – Team Sport 2000 – Lafuma (França) - 55 PC's
2 – Clube Millennium BCP-1 (Portugal) - 53 PC's
3 – Mitsubishi Francis Hydratta QuasarLontra (Brasil) - 50 PC's
Elite Masculina
1 – Team Sole (EUA/Finlândia/Espanha) - 72 PC's
2 – C.P. Armada / Avalanche (Portugal) - 60 PC's
3 – Portuguese Spirit (Portugal) - 55 PC's
Aventura
1 – Exército Português B (Portugal) - 67 PC's
2 – Elite Aventure / ESDRM (Portugal) - 54 PC's
3 – Azeméis é Vida (Portugal) - 53 PC's
Além de premiar os vencedores a organização prestou uma homenagem à equipe Los Amigos Adventure, formada por brasileiros que estudam em Portugal.
Foi a primeira vez que se reuniu pessoas de diferentes países para discutir as corridas de aventura e acredito que o evento foi muito bem aproveitando pelos presentes.
Dentre os temas discutidos na conferência o que gerou mais repercussão foi a criação de um órgão mundial de corrida de aventura, que é um esporte flexível, com variações de distâncias e modalidades de acordo com o terreno onde é realizado. Paul Romero, por exemplo, mostrou em uma das suas apresentações a diferença entre as listas de equipamentos obrigatórios de cada organizador para a mesma modalidade.
A idéia de ter a Federação Internacional de Orientação gerenciando o esporte mundialmente não soou muito bem para todos, mas é muito difícil se chegar a um consenso logo na primeira reunião.
E também é difícil falar de uma órgão mundial quando não conseguimos nem mesmo organizar o esporte no estado de São Paulo, mas com certeza foi um primeiro passo e espera-se que mais eventos desse porte aconteçam em outros países e a discussão continue.
Mais informações: www.portugalxpdrace.com
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