Mauricio Estevez conquista a 18º colocação na categoria solo do Endorphin Fix. Leia o relato

Por Mauricio Estevez - 03 Mai 2007 - 08h16

Para as férias de 2007, encontrei uma prova organizada pela empresa que promove o Beast of the East, que foi uma das primeiras corridas de expedição dos EUA.

A corrida chamava-se Endorphin Fix 2 Day Adventure Race, ou simplesmente EFix, a ser realizada entre os dias 20 a 22 de abril de 2007, com 125 milhas (200 km) de duração. Considerada a corrida de aventura de duas noites mais difícil do pais, prometia valer o esforço de me deslocar desde Toronto no Canadá ate o interior do estado de West Virginia, nos EUA.

A prova tinha as categorias quarteto (valido para o ranking da USARA, Associação Norte Americana de Corridas de Aventura), duplas e solo.

O grande desafio da prova era o fato de ser completamente sem apoio, ou seja, tirando o equipamento de água (neoprene e colete salva-vidas) todos os equipamentos obrigatórios da "equipe" e comida para as aproximadamente 40 horas de prova deveriam ser levados desde a largada. Outro desafio era o frio da noite, que atingiu cerca de -5º C no alto das montanhas. O lado bom era que o tempo esteve muito bom durante todo o fim de semana, com dias quentes e noites frias, mas estreladas. Outra diferença era que a prova tinha hora para acabar: 16h do domingo, quem chegasse depois estaria desclassificado.

A largada estava marcada para as 22h. Tive aproximadamente sete horas para montar a bicicleta (que estava na caixa original), checar os equipamentos obrigatórios, fazer o teste de técnicas verticais, montar a mochila e plotar os mapas, além de assistir ao briefing.

Os mapas eram na escala 1:25000, duas folhas de papel de 1m x 1,2m. Os mapas eram originais, ou sejam, eram de 1980 e não foram atualizados, e embora a simbologia tivesse caracteres que não temos nos nossos mapas 1:50000 do IBGE, a escala reduzida dá uma excelente idéia do relevo.

As 125 milhas da prova estavam divididas em 55 milhas de trekking, 50 milhas de bike e 20 milhas de duck, além de um trecho de Via Ferrata e rappel.

Pontualmente às 22h largamos no que era chamado de "Prólogo": sem as mochilas, corremos cerca de 1 km montanha acima e voltamos em direção as bikes para daí sim largar no estilo "Le Mans".

A primeira perna de bike foi muito rápida, porque além de ter algum asfalto tinha muitas decidas e poucas subidas, durando aproximadamente 4 horas.

Às duas da manhã do sábado estava no inicio do trekking, que ao contrário da bike, era uma escalada pela série de montanhas da região. A subida forte foi boa para descongelar os pés e mãos do vento da pedalada. A atenção teve que ser redobrada na parte da mata porque os PCs das áreas mais remotas eram prismas de orientação, e nem todos estavam no meio da trilha. Nas partes mais altas, a paisagem era bem diferente da nossa, pois havia muita neve e algumas poças d'água que congelavam os pés quase que imediatamente.

Cerca de 9h da manhã do sábado terminava a perna de trekking e partia para mais uma de bike. Infelizmente para mim a prova não contou com nenhuma parte técnica de MTB. Pelo contrário, esse trecho foi um longo downhill de asfalto em direção ao local onde seria realizada a parte de técnicas verticais.

Esse trecho era uma travessia de Via Ferrata de cerca de 1h30 de duração que culminava com um rappel de cerca de 80m (que teve uma fila de cerca de 1h).

Terminada a parte vertical era hora de uma caminhada de 2 km para as corredeiras de nível I a III no duck. No meio do caminho tomo o maior susto da prova, pois o mapa que eu iria utilizar daqui pra frente havia sumido. Voltei para o PC do Vertical e lá estava ele, graças a uma equipe que o encontrou no asfalto e o entregou a organização.

Refeito do susto, iniciei a remada num duck individual cerca meio dia. Decidi fazer o trecho sem o neoprene, pois havia começado a sentir dores num dos joelhos, provavelmente pelo excesso de peso na mochila, e tinha esperança da água, geladissima e com fortes tons de azul por ser água de degelo, ajudar a desinflamá-lo. A remada de 32 km foi longa, mas em nenhum momento monótona, pois as corredeiras eram constantes, e remar num rio com uma água tão azul foi um show à parte.

Consegui terminar o remo antes do anoitecer, o que ajudou a secar as roupas na pedalada a seguir. Essa perna foi uma subida de cerca de cinco horas onde tive que empurrar a bike por vários trechos (O PC do fim do remo me comentou que um pescador local, ao saber onde teríamos que ir, comentou que ficava cansado de DIRIGIR ate lá).

Cerca de 22h iniciava o trecho mais difícil da prova, que era o primeiro percurso de orientação: sete prismas de orientação espalhados numa grande área. Para cada prisma não conquistado era dada uma punição de 3h, e para continuar na categoria PRO eram necessários no mínimo 5 prismas. Na categoria ADVENTURE no mínimo 2 e na categoria SPORT 1 prisma. Nenhum prisma significava a desclassificação da prova.

As dores no joelho aumentavam, assim como a dificuldade para encontrar os prismas. Perdi um total de 5 horas no circuito sem achar um único prisma, mas certa hora acabei acertando a mão e marquei dois pontos. Como já era cerca de 8 da manhã do domingo, parti para mais uma perna de bike e às 10h da manha iniciava o último trekking.

A última perna de trekking tinha um trecho de cerca 10 km em que éramos obrigados a seguir por uma trilha especifica. Isso porque as trilhas ao sul passavam por uma área que foi usada pelo exército norte americano na época da 2ª Guerra Mundial e estava infestava de minas e bombas: melhor argumento impossível. Depois desse trecho critico, havia mais um percurso de orientação antes de cruzarmos a chegada. Dessa vez eram quatro prismas: três para continuar na categoria PRO, dois para a ADVENTURE, um para a SPORT e desclassificação no caso de não encontrar nenhum. Como já estava com o tempo limite muito próximo, optei por um caminho mais plano e peguei apenas um prisma, terminando a prova às 15h45, totalizando 41h45 de prova, apenas 15 minutos do limite oficial e completamente exausto.

Minha classificação foi 18º geral de um total de 41 participantes. Meu tempo de sono total foi de menos de 15 minutos: algumas "apagadas" involuntárias no remo e um trecho em que minha cabeça parou de funcionar no primeiro trecho de orientação. Para mim, completar uma prova desse nível foi uma vitória pessoal muito grande. A dinâmica da prova é bastante diferente, pois não há ninguém para te incentivar nos momentos em que você esta mal ou desanimado, o que exige uma disciplina e determinação maior do que quando corremos no formato tradicional.

Segue meus agradecimentos à família e namorada, a todos da equipe e amigos que apoiaram, emprestaram equipamentos e deram dicas.

Mauricio Estevez

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03 Mai 2007 - 08h16 | geral |
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