Fomos com mais duas equipes de van para Pomerode, a Fênix e a Caapuã, chegamos lá antes das 14 horas e após acharmos um local para almoçarmos, fomos logo para o local do briefing e já adiantarmos as bikes e mochilas, enfim... toda aquela logística antes de prova que quase cansa mais que a própria corrida.
Às 18:30 começa o briefing, após pegarmos os mapas e já sabermos local de deixar bikes e alguns PC’s ficou mais fácil nos organizarmos. Metade de cada equipe foi ajeitar as bikes no determinando PC e outros já ficaram comendo as pizzas que encomendamos para antes da largada. Os mapas já prontos com apenas 3 PC’s, pois o restante seria passado somente durante o percurso.
Largada - foi na Praça central da cidade. A garoa havia dado uma trégua, mas o frio ainda estava presente. Largamos todos com blusa e levando gorro na mochila. O Anderson liberou que deixássemos com a organização uma sacola para cada equipe com roupas quentes após o remo da represa, assim ficou mais fácil para não levarmos tanta roupa nas mochilas.Foi dada largada, gaita na boca, e lá fomos nós, aquela quebradeira de largada de sempre. Na primeira subida minha equipe já andou, é melhor não se matar agora, se não o radiador ferve, começa o morro.
PC 1 - A subida foi dura, o coração ainda não estava batendo organizadamente, e pegamos umas trilhas erradas. Ali haviam várias equipes juntas, uma para cada lado, chegamos a ir com a equipe Servajão, mas o Nego logo gritou volta e resolvemos começar fora da trilha novamente. Encontramos o Anderson rindo, decerto pensou "mais uma equipe perdida”, mas achamos enfim a entrada certa, vamos lá então, levanta o ânimo novamente e segue, agora foi só subida. Em duas delas lembro-me de ter tanto barro que fui de gatinho mesmo, segurando nos matos, assinamos o PC 1 quase por último, mas conseguimos passar algumas equipes na subida, agora era somente descer até o PC 2.
PC 2 - Somente descadeirar morro abaixo até chegar no asfalto e depois correr uns 2 km nele, até pegar as bikes. Desde a largada eu não estava muito bem da barriga, do estomago, sei lá, tudo enjoada. Na descida encontramos a equipe Fênix (do meu irmão), conversamos um pouco e seguimos. No asfalto achei até que fosse vomitar, andava para tentar melhorar, mas não aliviava muito, minha esperança era que na bike eu ficasse melhor.
PC 3 - Após pegar alguma comida, colete salva-vidas, capacete e trocar de tênis para sapatilha, seguimos. Começamos girando até as pernas aliviarem, mas não demorou muito para começar aquela serrinha maravilhosa de uns 5 km que pedalei somente os primeiros metros e de vez em quando ela nos permitia sentar para girar três vezes e assim lembrar-mos que era trecho de bike e não de trekking,risos. Tá louco, que subida que não acabava mais, e para ajudar as lanternas das outras equipes que brilhavam lá em cima não nos permitiam sonhar que aquela que estávamos seria a última subida, cada curva mais uma. Assim foi, até chegar no esperado dowhill que fizemos bem cautelosos, pois havia muita neblina e pedras soltas, os faróis com tudo ligado para não correr riscos.
Logo encontramos a equipe Caapuã trocando o pneu da bike do Wilian que havia furado. Demos um "oi" e fomos em busca do PC 3. Pensei comigo, o pior da primeira perna de bike já foi, mal sabia da próxima subidinha de uns 2,5 km que pegaríamos. Aquela foi de chorar também, meu estômago estava mais embrulhado que presente de sacanagem (risos), eu juntava força lá do fundo, o Felipe carregou uns trechos minha bike, para ver se meu coração voltava bater no peito e saia da minha garganta. Graças a Deus após descermos e chegarmos no inicio do remo (PC 3), dei uma melhorada.
PC 4 - Agora o Nego pegou junto com o Felipe todas as coordenadas que estavam faltando, menos o PC 9. Demoramos um pouco até comermos, o Nego plotar tudo, o Rodrigo prender os lightstick nos ducks, fui ao banheiro, nos agasalhamos muito, com gorro, anorak, enfim entramos na água. Eu havia colocado em meu capacete além da lanterna normal, mais um farol de bike. Neste momento minha cabeça já doía daquele peso, após remar algumas horas então... sem contar às vezes que ele ainda ficava de lado, foi de latejar, mas neste trecho a navegação não foi fácil. Remamos certo até entrarmos em um local bem convidativo em relação ao que estava no mapa, mas após remarmos uns 35 minutos, vimos uma luz, e gritei junto com o Rodrigo PC, PC ,PC, o cara grita PC 5. Nesta hora nem me lembrava que PC que estávamos indo, huruuuu gritei, mas logo escuto o Nego dizer que é o 4 que temos que ir antes.
Ainda bem que era de noite, para ele não ver a nossa cara de decepção, mas tudo bem, falei pelo menos agora já sabemos onde está o 5 (tentando enganar o desespero), agora é só remar mais 35 minutos para sair daqui e procurar o 4, onde eles haviam dito para termos cuidado com uns galhos saindo da água e não furar o duck. Graças a Deus achamos, que alivio, após umas 2 horas. Agora só retornar tudo.
PC 5 - Nem preciso dizer muito, retornamos o mesmo caminho, somente fizemos uma portage onde havia uma terra curtinha com pouco mato e dava para passar com os ducks. Tentamos aumentar o ritmo para não perder muitas posições e assinamos o PC 5 em Terceiro, hurruuuuu. Agora colocamos a nossa tão esperada roupa seca da sacola e pegamos mais algumas comidas que ali estavam, encontramos a Frida coma equipe Tramontrip, demos um 'oi' e saímos.
PC 6 - Este PC era o mesmo do 4, só que agora indo por terra. Ali foi um sobe e desce por uma estradinha bem legal, acompanhando a represa na nossa lateral. Este trekking foi o mais tranqüilo da corrida, tirando os últimos kms que judiaram com a subida e barro liso patinando mesmo, e na orientação faltando somente 1 km, juntamos com a dupla do Gêmeo, Servejão e Família Extrema. Nós resolvemos entrar em um canal com água e seguir com a dupla após uma decisão de equipe. Ainda bem, pois após termos varado um pouco de mato com água nos tornozelos, caímos novamente na estrada, e logo avistamos o PC. Que alegria, mantínhamos o terceiro lugar.
PC 7 - Neste PC o Anderson já havia dito para tomarmos cuidado na navegação, pois não havia trilha definida no Pinheral. Fizemos o primeiro trecho deste treking com a dupla aqui do Paraná. O inicio dele foi subir, subir, subir e subiu mais um pouco, até vermos algum pinheirinho (risos), mas como algumas equipes já haviam passado nos ajudaram na navegação, o mato estava abaixado. O Nego confirmou a direção e ali fomos. Nisto a dupla ficou um pouco, pois um deles não estava muito bem e eu também já havia passado até calminex no joelho, e o embrulho aliviou um pouco, mas nesta corrida eu estava mais cansada que o normal.O local deste PC era bem escondido, com certeza se fosse à noite, a coisa seria bem mais difícil de achar, só no grito mesmo.
PC 8 - Agora era mais descida, tínhamos que retornar pegar as bikes. Ali descendo encontramos a equipe Papaventuras que nos disse que a primeira colocada estava logo na nossa frente. Desceu todo mundo junto e logo nos juntamos, foi quando a equipe Mountain Brasil ficou um pouco atrás, e seguimos com a Papaventuras até chegarmos na estrada que dava até o PC, mas ali ainda tinha uns 3 km, ui,ui,ui,ui quase chorei. Mais 3 km, para que isso, nossa mãe!! Mas tudo bem, fomos meio correndo, meio andando nas subidas, enfim chegamos. Ali tenho que agradecer à equipe Caapuã que nos deu salgadinhos, batata e apoio moral, pois estávamos com muita fome. O Rodrigo tinha R$ 1,00 que ele sempre leva na mochila para seu Buda, quando ele me disse isso falei para ele será que se você emprestar para comer um salgado para dividir em 4 ele vai entender? E fala que depois devolve (ele já devolveu). Só pensava comigo, ainda temos 40 km de bike e mais um remo de corredeira, bom... melhor ir logo e acabar de uma vez. A Papaventura estava saindo e logo fomos atrás. Após o Nego plotar o PC 9 no mapa, que ali estava para pegarmos.
PC 9 - Bom, este trecho foi meio que psicológico para seguir. A alegria foi que nos primeiros 16 km foram de subidas bem leves e muitaaaaa descida. Ainda bem, pensei comigo, agora o Anderson não será louco de colocar mais subidas gigantes. Me enganei após encontrarmos a Papaventuras pegando informação. Fizemos uma curva e virando à direita começou novamente a linda subida. A Papaventuras sentou nas bikes e socou, nós resolvemos preparar a cabeça antes, comemos umas bananinhas, uma lata de Redbull, uns goles de água, umas balas e 2 chocolates Lance e seguimos empurrando as bikes morro acima, mas nada é tão ruim que não possa piorar. Vamos lá, sem desanimar, empurra respira, empurra respira, cada curva mais uma subida, em algum planinho daqueles enganadores sabe, que logo sobe de novo. Tentávamos pedalar, mas ainda bem que tudo que sobe desce. Após a descida uma vila e um pedaço de asfalto e pronto, chegamos no inicio das corredeiras.
PC 10 - Tivemos que encher os ducks, força não sei da onde. O rapaz do PC deu uns goles de água para nos animar, minha sapatinha estava totalmente detonada, os dedos para fora. Prendemos as mochilas com extensor, quer dizer menos o Nego que foi com ela nas costas, pegamos as informações sobre as corredeiras e também a portage. O rio Timbó estava bem cheio devido às chuvas, que não parava e lá fomos nós. Na primeira corredeira mais forte, lá se foi o Nego e o Felipe para água, mas depois do desespero tudo bem, e molhado também, mas fomos sempre tomando cuidado. O rapaz da ponte estava lá sinalizando o melhor local para passar, mas logo em seguida pegamos uma corredeira muito forte, onde não sobrou ninguém de nós em cima do Duck. Lembro-me de abrir os olhos embaixo d'água e ver aquele fundo amarelo do Duck em cima de mim, que horror!
Dali fui sendo jogada para todos os lados e pedras, bati quadril, braços, até soltar remo, quando me lembrei de virar a barriga para cima. Mesmo assim a corredeira me levou batendo pelas pedras. O Rodrigo conseguiu salvar um remo, outro o Felipe foi resgatar preso em uma das pedras e após tudo isso, todos molhados, sem um remo, sem mapa, e algumas comidas, foram embora. Ali confesso que o psicológico pegou feio, não via a hora de acabar este trecho. Chegou a hora do portage, somente 2,5 km entre subidas e descidas. Ô coisinha pesada aquele duck, cada passo uma parada. Logo a equipe Mountain Brasil nos passou, na moral mesmo. Na verdade eu estava sem força física naquele instante, eu tentava me esforçar, mas meus braços tremiam. Mas chegamos até local de entrada novamente no Rio.
Ali olhei aquelas corredeiras e pensei em não cair na água novamente, que medo. O rapaz não sabia se podíamos entrar mais a frente ou não e para garantir a colocação entramos ali mesmo. Enfim passamos bem e como não tínhamos mais o mapa, ninguém sabia quanto faltava para acabar aquela canoagem. Ainda sem um remo revezávamos, cada pouco um ficava sem remar, mas não podia ficar muito tempo, caso contrário, congelaria de frio. Virava mil curvas e nada desta tal ponte da cidade de Timbó. Enfim que alegria, a ponte, agora era só tirar o duck da água e fazer as técnicas verticais. O Rodrigo fez a Falsa Baiana (conheço por este nome) e nós fizemos a tirolesa. Tirando o frio foi muito legal, adorei voar por cima daquele rio, nos abraçamos e juntos passamos a linha de chegada!!!!
Tenho que, depois de tudo isso, agradecer à minha equipe, Felipe, Nego e Rodrigo, que apesar de todos os obstáculos, ficamos unidos na garra e na vontade de terminar sem desanimar. Como sempre “sofrer sim, desistir jamais".
Posso dizer que eu, em particular, me senti muito cansada nesta corrida. Não fiquei bem do estômago, mas graças a Deus, não desisti e a cada PC assinado uma enorme alegria, sempre buscando algo para rir. Mas nunca perguntei tanta vezes, se faltava muito de cada modalidade. "Falta muito? Quanto tem ainda? Tem subida? Agora é só descer?", risos. Atormentei nosso navegador, mas como o Anderson diz, “nenhuma corrida é igual a outra”, e nem nós. Tem dias e dias.
Ficamos em terceiro lugar após 15 horas de prova. A largada foi às 21 horas de Sábado e terminamos mais ou menos às 15 horas de domingo.
Obrigada a meus amigos que deram a maior força, comida, abraços, à equipe Fênix, à equipe Caapuã, às mulheres Ju e Adri que acompanharam um trecho da prova e nos animaram muito, aos amigos que treinam junto e nos fazem ser o que somos e à Deus, que nos guiou, que nos protegeu e sempre nos deu saúde para seguir em frente.
Fiquem com Deus
Karina Bruning de Oliveira
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