Existem mais coisas entre o céu e a terra que supõem vossa vã filosofia...

Por Osmar Bambini - 29 Out 2007 - 19h52

Desde 2003 nossa meta nas Corridas de Aventura é participar da mais importante e difícil prova que acontece em nosso país. O Ecomotion Pro.

Particularmente participei de todas elas.
2003 na Chapada Diamantina.
2004 na Costa do Dendê.
2005 nas Serras Gaúchas.
2006 Sul do Rio de Janeiro.
2007 em Búzios.
O aprendizado sempre foi grande.

A longo destes anos a prova cresceu, se tornou em etapa do Circuito Mundial e ano que vem caminha para ser palco da grande Final Mundial.

Diferente de uma competição de uma modalidade só participar de uma prova como esta exige um “caminhão” de planejamento, estratégia e treinamento.

Não basta treinar corrida, remo e bike, temos que aperfeiçoar as técnicas em águas brancas (corredeiras), técnicas verticais, escalada, planejamento em alimentação e sono, sincronia com a equipe de apoio entre várias outras coisas...

Como disse o Said em uma conversa que tivemos.
Perguntei qual era o segredo das equipes de sucesso.
-“A equipe precisa estar em total sintonia e os atletas devem dar a vida pelos parceiros, o grupo deve respeitar e confiar totalmente naquele que segue ao seu lado.
A prova vai muito além da corrida propriamente dita...”

Neste formato de prova, que chega a durar até cinco dias e percorrer uma média de 500 km, muitas coisas podem acontecer.

Estamos sempre deslizando sobre uma fina camada de gelo que interage em um nível sutil da nossa existência e compreensão.

Filosofias à parte esta foi nossa saga...

Em Setembro tivemos nosso 1º revés na Chapada dos Veadeiros.

O Marcio capitão da equipe torceu e rompeu os ligamentos do tornozelo.

Se tornando a 1º baixa em nossa equipe.

Corremos atrás de outros atletas e fechamos com o Alexandre Machado. Um experiente corredor de aventura e navegador.

A preparação para esta prova é uma loucura. Logística, alimentação, equipamentos, transporte, estadia para antes e depois do evento e diversos detalhes que são um relato à parte...

Uma semana antes da largada a 2º baixa.
O Fran teve que abandonar a prova para cuidar da saúde do pai.

Nada mais justo e válido, que revelou no Fran uma pessoa acima da média, pois mesmo com todos os problemas reais que uma situação de saúde exige ele ajudou até o último momento a equipe.

Participou de todas as reuniões, ajudou o Thiaguinho (que substituiu ele) com equipamentos, roupas.

Não deixou em momento algum a equipe desanimar e mostrou que tínhamos tudo para realizarmos uma prova maravilhosa. [ A prova vai muito além da corrida propriamente dita...”]

Após toda a organização do carro, revisão do motor, freios, últimas compras estávamos prontos para partir.

O planejado era sair na 4º feira pela manhã, conseguimos sair na 5º feira na hora do almoço.
Foram 3 horas só pra montar a carga no carro...

Ficamos em uma casa muito bacana em Búzios.
O astral estava ótimo e o Paulino, o dono da casa, é um mestre de Budismo Tibetano.

Nada mais auspicioso...

Após a entrega dos kits de prova, checagem de equipamentos e cerimônia de abertura o Cortez preparou os mapas, foram 6 horas de trabalho organizando as rotas, horários e direções, poupando algumas horas de sono do Alê que iria dormir e economizar energia.

A largada seria na cidade do Rio de Janeiro, na praia da Urca.

No caminho para o Rio na Via Lagos....POW BWO BWEM !!! Fumaça, cheiro de óleo e um grande susto. O carro de estava fritando...

Começava ali nosso pesadelo....

A largada seria as 21:00 horas Domingo.

As 17:00 olhávamos para o motor todo babado de óleo e com a água do radiador borbulhando.
Fomos guinchados pela concessionária da Via Lagos até a Mecânica do posto Oásis Graal.
Foi detectado um conector de óleo rompido e a impossibilidade de reparo rápido.
Acionamos o seguro. Um guincho que levaria o carro para a Ford em Niterói e um táxi para nos levar para a largada.
O pessoal da Curtlo Lobo Guara levou nossos remos.
O pessoal dos Oskalunga nossas bikes até o PC 2. Até o PC 4 nossa prova estaria garantida dando tempo dos apoios repararem nosso carro para nos encontrar no PC 4.

Via rádio íamos monitorando com o Alê- fotógrafo, que já estava na largada.
O mais angustiante é que era 19:20 quando o táxi chegou. A largada era as 21:00 e o tempo de viajem seria de 1:30 até a praia da Urca.
Meu coração saia pela boca...não morro mais do coração, pelo menos tão cedo...

Não podíamos perder a largada, seria muita ironia do destino...Cada quilometro passado doía.

Ai veio a mensagem do Alê -”Pessoal ao moradores da Urca não estão deixando a organização entrar e a largada vai atrasar...muito...Eles estão mudando para a praia do Forte”...
Chegamos na praia 5 minutos para as 9 horas. A Largada seria as 23:00.
Tínhamos corrido tanto que estávamos até apáticos, meio zonzos.
Estávamos confiantes que tudo daria certo.
Parecia um grande jogo divino de providência.

Cornetas estourando e a Baia de Guanabara a nossa frente.
O visual da noite era incrível, seguir por aquela baía escura por 68 km de remo era algo inusitado.
Remamos forte, passando por debaixo da ponte Rio-Niterói. Seguindo rumo à escuridão...

Por volta das 4 da manhã quase na entrada do rio que levaria para o PC 1 e PC 2 sentimos os caiaques atolarem. Um grande mangue de terra preta e fedida segurava as embarcações.
Para andar nesse mangue..só caranguejo...
A pernas atolavam até o joelho e tínhamos que caminhar, com passos curtos, ou ajoelhos..

O Thiaguinho ia feliz, feito um siri maluco sacolejando na água fedida, pulando e nadando. Dizia”- Ó Faz assim ó”...e ia com uma eficiência incrível adquirida em anos de trabalho com o Lucas da Chauás e natação em mangue.
Quando o dia clareou já estávamos na boca do rio.

O PC 1 tinha sumido, a organização errou o rio...equipes iam e voltavam sem parar. Confirmamos com um pescador que aquele era o rio certo.

Atrás no mangue o cenário era desolador, parecia o inferno dos condenados.
A maré vazia e totalmente seca mostrava as equipes retardatárias atoladas até a tampa.

Seguimos rio acima contra a correnteza, torcendo para que após cada curva o PC 2 surgisse.
Antes a última ponte aparece o Edu Padovani e diz: - “Olha o PC 1 foi cancelado, o responsável errou o rio” ...

Encontramos nossas Bikes e seguimos até Teresópolis subindo a Serra com um desnível de 1000 metros, horas subindo entre as matas, horas fazendo força e em alguns momentos despencando em down-hills alucinantes.

Ia rezando pra o carro estar lá concertado, zerinho. Mas não foi isso que aconteceu.

Foi uma pena. Estávamos indo bem. A poucas horas das lideres no bolo das melhores do Brasil.
Ao chegarmos lá por volta das 16:00 descobrimos que o motor do carro havia fundido e estava na Ford em Niterói.
O apoio ainda estava lá também, tentando alugar um carro.
Ficamos à deriva. Na espera. Com apoio de outras equipes para comer e se abrigar.
Nosso apoio chegou as 20:30. Com uma Montana.
As caixas caberiam as bikes não. O prejuízo seria alto. E estávamos com a grana curta...

Parar ali foi a medida mais sensata. Os sinais estavam indicando que parássemos. A sensação de vazio tomou conta da equipe. O carro nos traiu e não nossas pernas ou navegação, que aliás foi muito boa.
As vezes as coisas acontecem em um espaço paralelo, invisível.

Lutamos contra as adversidades, mas muitas vezes temos que assumir a derrota e para assumir a derrota é preciso muita coragem...

Valeu Alê Machado pela navegação exemplar e experiências compartilhadas.
Thiaguinho pelo astral e força- Seu filho vai nascer um verdadeiro siri patola do mangue de perna aêro dinâmica.
Lu, por suportar meu mau humor e frustração nos dias pós prova.
Cobrinha pela presteza e cuidado (Viva a Cozinha Maravilhosa do Cobrinha)
Cortez pela organização, calma e tentativa de nos manter na prova.
Ao pessoal da Lobo Guara que levou nossos remos pra largada, sem ao menos termos pedido...
Ao pai da Camila (Oskalunga) por levar nossas bikes, mesmo com a filha reclamando na orelha dele...
Ao Fran que coordenou tudo via rádio pra tentar nos manter na prova.
Ao Socci que fotografou, divertiu e comeu nossos M&M’s escondido...kkkkk...
Ao Paulino pela prática de auto-cura e pela hospitalidade.

Fica a lição, o aprendizado para seguirmos mais fortes para o ano que vem.
Que venha 2008, que venha a final do mundial em Setembro.
A gente verga, mas não quebra...só o carro quebra...
Ano que vem, carro alugado.

Osmar Bambini
Por Osmar Bambini
29 Out 2007 - 19h52 | geral |
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