Emma Roca relata a participação da Buff Coolmax no Ecomotion Pro 2007

Por Redação - 19 Nov 2007 - 23h47

A edição deste ano do Ecomotion, a quinta, se realizou nos arredores do Rio de Janeiro. O clima que encontramos foi de calor, umidade e muita chuva (levaram três meses sem ver água e caiu tudo de uma vez só durante a corrida). O Brasil é tão grande que cada pequena parte dele tem caractarísticas completamente distintas das outras.

O Ecomotion é uma corrida do circuito mundial (ARWS) do qual participam as melhores equipes do mundo. Este ano teríamos que lutar com os franceses da Wilsa, os neozelandeses da Orion Health e Merrel, os americanos da Sole, os suecos da Bjufors. Vínhamos com muita vontade, muito treinados e com uma equipe bastante reforçada na parte de orientação. As disciplinas que encontratíamos nos 450km de corrida seriam mountain bike, trekking, técnicas verticais, caiaque duplo, canoa inflável, orientação... passando por praias, montanhas, serra, mar e muito mais. Fran Lopez, Benjamin Midena, Jukka Pinola e eu estávamos preparados para dar tudo.

A corrida começou no domingo 21 de outubro em uma praia da cidade do Rio às 23h, completamente de noite e já com alguns sintomas de sonho. As 56 equipes se lançaram ao mar com os caiaques “sit on top” duplos de plástico rígido para realizar 48km de remo por toda a Baía de Guanabara. À altura dos 75% de percurso ficava o PC1 em lado do rio que desenbocava na Baía, mas com a noite e outros pequenos rios se fez difícil assegurar o ponto exato. Junto com os suecos estivemos buscando o PC, confirmando e remando para cima e para baixo do rio onde deveria estar o PC e não encontramos nada. Perdemos mais de uma hora e meia com a conclusão final que o PC1 não estava no lugar correto. Seguimos remando até o PC seguinte com mau humor e frustração evidentes, já que este tempo perdido tão cedo nos tirava da cabeça da corrida, que era o nosso objetivo.

Depois de remar 11h sem descanso chegamos no final do rio para pegar as bicicletas. A organização confirmou que o PC1 não estava em seu lugar, mas não aplicaria nenhuma bonificação nem neutralização. Pegamos as bicicletas na 20ª colocação e a 2h30 dos primeiros, com uma raiva evidente tomando conta do corpo. Sem dizer nada e com um mesmo objetivo na mente dos quatro, marcamos um ritmo forte, mais do que exigente. Foram 45km de MTB que nos recolocaram pilhas quando vimos que já estávamos na 7ª colocação ao final daquele trecho.

Em seguida veio um trekking de 35km pelo Parque Nacional da Serra dos Órgãos, onde voltamos a marcar um ritmo frenético para recuperar o tempo perdido no caiaque e aproveitar as poucas horas de luz que nos restavam. A orientação deste trekking era particularmente difícil e se pegássemos noite na parte complicada teríamos que esperar, seguramente, a luz do dia seguinte. A surpresa nossa foi que em cada PC que passávamos víamos que encurtávamos a distância com os primeiros até o ponto de chegar à liderança da corrida justamente quando escurecia. As equipes de Wilsa e Orion tiveram alguma dificuldade com a orientação e as equipes Sole e Oskalunga se perderam. Assim, pois, acabamos de colocar o turbo e assinamos em primeiro o PC5, a 15min da Wilsa e da Orion.

A chuva começou a cair justo nesta transição e não nos abandonaria mais até o final. Orion saiu antes de nós e junto com os franceses começamos a pedalar 69km já de noite. Aos 50 minutos desta seção já estávamos as três equipes mano a mano na bicicleta, mas o domínio de Fran na orientação noturna de bicicleta fez as outras duas equipes nos seguirem sem sequer abrir seu mapa. Orion se afastou um pouco e já estávamos só nós e os franceses da Wilsa. No meio da etapa havia um controle virtual, onde se tinha que responder a uma pergunta. Vimos a resposta desde a bicicleta sem parar e continuamos até a transilção, mas os franceses não se deram conta de que havúamos passado este ponto e tiveram que voltar atrás para responder a questão perdendo dez minutos e separando-se definitivamente da gente. Ao chegar à transição fomos obrigados a parar por duas horas (como todo mundo). Chovia, frios e bem molhados nos trocamos rápido, preparamos algo de comida (sopas instantâneas frias) e dormimos como pudemos dentro de um carro.

Dormimos apenas 45 minutos e já tínhamos que nos levantar para começar um trekking de 54km. Estávamos a oito minutos da Wilsa, então era a oportunidade para ir abrindo deles se marcássemos um ritmo forte a pé. E assim foi: todas as descidas e planos corríamos e nas subidas íamos em um ritmo alegre. Quando acabamos este trekking depois de quase 11h sem parar e com uma orientação na selva que Jukka beirou a perfeição, os pés reclamaram. Neste momento os franceses já estavam a mais de 1h30!!

Foi quase uma miragem quando vimos que a organização havia separado quatro cavalos para cada equipe realizar o percurso de 17km, e não dois ou um cavalos como previsto. Assim, com os quatro em cima dos cavalos pudemos desfrutar de uma etapa relaxante (ainda que um pouco fria já que não parava de chover), subindo por uma trilha linda e com algumas pontes de madeira, onde tínhamos que descer dos cavalos para passar a pé. Ao terminar a cavalgada ainda nos restavam 5km para chegar ao apoio passando por uma trilha ao lado de uma autoestrada e como sempre o trote foi o nosso passo. Ao chegar ao ponto do apoio tínhamos muito pouca luz do dia, por isso resolvemos fazer uma transição rápida e sem demorar pegamos as bicicletas para encarar 51km por umas pistas de sobe e desce infernais. No meio da bike teríamos uma outra parada obrigatória de uma hora que nos serviu para dormir uns 35 minutos. Já estávamos com dois dias de corrida e tínhamos dormido apenas uma hora no total, mas andar na liderança da corrida supunha uma série de sacrifício, entre os quais estão andar rápido e não parar para nada.

Ao terminar a bicicleta para arrematar os já doloridos pés veio um trekking de 43km com uma seção de canoa inflável de 7km na parte final. Este trekking fizemos uma grande parte de noite em um lugar difícil de orientar, mas com a destreza de Benja e Jukka pudemos sair bem da região, perdendo apenas 30 minutos. A chuva não cessava e o rio que devíamos descer estava forte. Foram 7km rápidos com uma portagem de 500m que nos fez desfrutar mais do que pensávamos e os pés puderam descansar durante quase uma hora. Quando acabamos o trekking veio uma prova especial de 17km: ir pela linha do trem com um carro antigo por cima dos trilhos. Durante os primeiros 40min o sistema funcionava maravilhosamente, no princípio empurrávamos a pé, mas nos desgastava fisicamente e no final já estávamos todos os quatro em cima do carrinho, cada um com um pedaço de pau empurrando como se estivéssemos remando para avançar. Mas quando deixou de funcionar (as rodas entraram nos trilhos freando o carro) chegou o calvário. Ainda restavam 10km para acabar e tivemos que empurrá-lo na mão – uma pessoa apenas – e o resto ia correndo atrás. Quando a via fazia curva, os quatro tínha que suspender o carrinho e carregá-lo até o fim da curva. Estávamos histéricos, já que da hora prevista para cumprir esta perna levamos três horas e já estávamos imaginando os franceses chegando. Mas por sorte todo mundo teve o mesmo problema e os tempos todos foram similares.

Este trecho nos desgastou muitíssimo, já que não comemos nem bebemos, concentrados com o maldito carrinho. No final desta parte, teríamos a última parada obrigatória de uma hora que, entre trocar de roupa, descansar, comer, reclamar do mal funcionamento do carrinho, etc, não pudemos sequer dormir. Saímos para fazer a última perna de MTB de 23km que nos levaria ao caiaque. Chovia tanto que as rodas ficavam cheias de barro da pista e todos nós íamos calados. Além disso, fazia um vento contra horroroso que nos impedia de avançar bem. Não sabíamos quando vinham os franceses, mas durante a hora em que ficamos parados na última transição eles não haviam aparecido.

Faltavam duas horas para escurecer, tínhamos pela frente 26km de caiaque “sit on top” em alto mar para chegar ao destino, mas chovia e o vento transformaria as coisas em mais difíceis do que imaginávamos. Quando saímos da baía para entrar em alto mar as ondas de mais de um metro nos avisavam do que teríamos pela frente. Chovia, havia um vento contra terrível e as ondas já estavam com cerca de dois metros.

Íamos vigiando a todo o momento para que as ondas não quebrassem em cima do caiaque, evitando assim uma fatídica virada do barco. A remada ia bem, apesar de lenta, até que veio a noite. A tormenta aumentou, as ondas atingiam três metros, o vento não cessava e ainda por cima havia relâmpagos. Seguimos lutando para avançar mas a situação era cada vez mais desesperadora, não conseguíamos enxergar nada na nossa frente por causa da chuva, apenas víamos a costa, mas não sabíamos como poderíamos entrar na praia. Abrimos o rádio desesperados perguntando pelo que poderíamos fazer em alto mar com o temporal que nos cercava.

Apenas pudemos contactar a organização rapidamente e entendemos que o PC26 estava sinalizado com luzes. Mas o problema é que só se viam ondas enormes quebrando e não se sabia onde, se em pedras ou areia. Finalmente – e já hipotérmicos – decidimos ir até a arrebentação e por sorte encontramos uma praia com maré baixa. Não viramos, mas quase. Quando toquei o chão tive uma sensação de grande alívio que me encheu de alegria. Havia passado momentos de autêntico pânico. Olhamos em volta para entrar em alguma das casas da costa mas não abriram a porta por desconfiança. Voltamos à praia e o temporal havia diminuído – já podíamos ver as luzes do PC26. Assim voltamos para a água, a contragosto meu, mas as ondas já não eram tão grandes e o mar havia se acalmado um pouco.

Quando chegamos ao PC a organização disse “graças a Deus estão aqui!” já que estavam realmente preocupados conosco, haviam enviado um barco de resgate a mar aberto. Por sorte nessa hora o mar se acalmou e nos deixaram continuar até a chegada, 10km adiante. A chuva e o vento nos seguiram acompanhando mas sem aquelas ondas infernais. Íamos girando a cabeça para ver se enxergávamos as luzes da Wilsa, mas não encontrávamos nada. No final, a 500m da chegada da Praia dos Ossos em Búzios, começamos, enfim, a desfrutar o triunfo e as lágrimas desceram dos olhos. Sim, havíamos conseguido!! Apesar de o temporal ter estado a ponto de vencer, superamos com nossa tenacidade, ambição, experiência e força tanto física quanto mental para poder acabar este Ecomotion 2007. O mais duro de ritmo e condições climáticas feito até agora. Os franceses chegaram 1h15min depois da gente, tendo passado pelo mesmo calvário no mar. Tanto eles quanto nós havíamos conseguido, com o resultado, a inscrição gratuita para o Campeonato Mundial do ano que vem.

Quando me pus embaixo da ducha e logo em cima da cama, meu corpo não acreditava que finalmente eu o deixava descansar e em menos de um minuto caiu fulminado dormindo, mas cheio de felicidade. Havíamos ganhado o Ecomotion 2007, a prova mais importante da América Latina e uma das favoritas de todo o circuito mundial.

Emma Roca – capitã Buff Coolmax Team
http://www.buffcoolmaxteam.com

Traduzido por Manuela Penna

Redação
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19 Nov 2007 - 23h47 | geral |
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