Decidimos participar de uma prova que não havia sido escolhida dentro do calendário da equipe no início do ano, por algumas razões. A primeira delas, o percurso longo, o maior do ano, depois do Ecomotion/PRO, o que seria interessante pela minha ausência em particular. A premiação também acabou atraindo o interesse comum de todos, e sabendo que a pontuação em jogo para o Ranking Brasileiro seria boa, não hesitamos em confirmar nossa inscrição. Convidamos o Luís Henrique da Equipe D-Run de Campinas, que nos surpreendeu com a sua dedicação e empenho, ajudou em tudo, filmou, fotografou, contou piada e cantou várias canções, mesmo sem ser correspondido pelos companheiros, todos muito sérios... hahaha!! O Luís ganhou um apelido carinhoso durante a viagem, agora ele é o nosso Kiko... O cara é a imagem e semelhança do filho do seu Madruga, da série Chavez!
Desde o ano passado estamos de fora de uma boa colocação no ranking, em virtude de uma série de fatores, mas agora com a equipe alinhada temos levantado bons resultados e a pontuação antes da prova já nos colocava em 15.º lugar.
A motivação estava acima de qualquer distância ou dificuldade financeira, então vamos nessa galera, mais de 1.000 km de carro pra chegar na linda cidade de Afonso Cláudio, muitas montanhas, muitos picos de escalada, muito morro pra subir... E que venha o Desafio das Montanhas!!!
Sairíamos da base da Pedra Azul, um dos pontos turísticos da cidade, num trekking rápido, para pegar as bikes num trajeto de orientação fina, deveríamos estar alertas... Apesar do percurso longo, o ritmo inicial foi sempre forte e já no segundo trekking, nossa colega Nelma acabou passando mal, colocou as “tripas” de fora... Pensamos nesse momento que não seria possível manter o ritmo que gostaríamos para vencer.
O Dani já havia reforçado em nossa última reunião, momentos antes da largada, que deveríamos, pela qualidade e experiência da equipe, brigar pela vitória no geral, inclusive contra as duplas masculinas. Difícil, mas pensando na prova, estratégia e orientação poderíamos nos colocar nessa condição.
A prova foi de baixo de muita chuva, totalmente imprevisível, já que não chovia no Estado do Espírito Santo há 4 meses. Passamos frio, não imaginava usar abrigo, corta-vento, capa de chuva nessa prova, mas estávamos ligados para não ter surpresas desagradáveis...
Revezamos na orientação, eu e o Dani, e essa combinação foi mortal para as outras equipes. Quando eu não rendia bem, o mapa já estava na mão do Dani. Infelizmente, por razões que fugiram ao controle da organização, não realizamos as etapas de rafting, canoagem em caiaques rígidos e técnicas verticais, então o desgaste foi maior, pois pedalamos e corremos por mais de 33 horas para bater na meta em primeiro.
Revezamos na liderança com algumas equipes, mas sabíamos que se mantivéssemos o ritmo, ao final, a vitória seria uma conseqüência natural. Minha confiança na equipe foi tão grande que em nenhum momento desanimei. A Nelma ao se recuperar na segunda ‘perna’ de trekking colocou seus 3 companheiros nos pés, subiu a serra até o PC 4 numa ‘pegada’ sem comentários... Que companheira de equipe, sua cabeça domina a situação e reverte tudo, elevando o moral da equipe... Nesse momento assumimos a liderança da categoria e chegamos na transição para a bike em segundo no geral.
A segunda perna de bike foi excelente, pois conseguimos assumir a liderança no geral, acompanhados de perto por duas duplas, uma de SP e outra de MG. Foi um dos trechos que mais exigiu atenção na orientação, pois já batia o sono, somado ao frio da noite chuvosa.
A descida ao litoral em caiaques rígidos foi cancelada, então os atletas foram transportados pelos seus carros de apoio, e pagaram 3 horas para retomar a prova num trekking plano e rápido até a última perna de bike, essa bem longa e tensa... Subida de serra, navegação, sono, o foco ia pro espaço... Perdemos a liderança para a dupla de São Paulo, no geral, e já havíamos aberto 4 horas de vantagem do quarteto que ocupava a segunda colocação na categoria, equipe forte do Espírito Santo.
A chuva, o frio e o ritmo forte até esse momento bateram e a equipe chegou a perde o foco na vitória do geral, tanto que cheguei a mentir aos meus colegas. Disse que tinha visto a dupla paulista à nossa frente, que já estávamos colados neles. Momentos depois, o Dani percebeu que a dupla já não estava mais na liderança, pois já não havia marcas dos pneus deles.
Show, vamos com tudo... Sem freio a equipe ficou mais lenta nas descidas, e erramos um pequeno trecho de bike antes de cruzar a linha do trem, próximo ao PC 9. Voltamos e chegamos 10 minutos depois da AKSA, dupla paulista.
Amigos de Estado, sempre mantivemos um clima de competição saudável, trocávamos posição sem saber, um no erro do outro... Briga de gato e rato!
Uma passagem interessante durante a prova foi quando a Nelma, descendo um ‘down hill’ alucinante sem freio com o Dani querendo frear a bike puxando sua mochila, e a Nelma com os pés fincados no chão, sendo arrastada pela gravidade... Eu e o Luis lá de cima vendo a cena do desastre prestes a acontecer... A Nelma passou pela gente gritando... “Sai da frente que eu vou morrer..” hahaha... Não dava pra rir na hora, mas depois foi o assunto da equipe nos momentos de descontração. Poderíamos ter abandonado a prova nesse momento.
Eu sei que de repente encontramos a Nelma caída na estrada com cara de quem havia visto um fantasma... “Nelma, fala seu nome, você está bem???”, perguntou o Dani. “Tô sim, me deixa, vamos embora, não deu nada, mas vocês viram o cara com o facão, quase morri, ele estava na minha direção...” hahaha... Realmente, tinha um cara com um facão subindo a estrada, mas descer a ladeira sem freio era muito pior... Coisas de Nelma!!
No último trekking, pra fechar a prova decidimos por uma rota mais rápida, mas fomos penalizados, não sabíamos da proibição do asfalto nesse trecho. A dupla paulista foi para a seção mais longa e aí encontrou dificuldades, a outra dupla mineira surpreendeu e encostou na liderança, e ameaçou nossa equipe, pois também optou pelo trecho de asfalto.
Sabíamos que para vencer não poderíamos perder o ritmo, e mesmo com os problemas nos pés, bolhas, unhas inflamadas, facite plantar, joelho inflamado, etc... correr seria preciso.
Batemos nos últimos PCs rapidamente, e buscamos cortar alguns caminhos para chegar o mais rápido ao final. Queríamos completar a prova ainda com a luz do dia. Desde o último posto de controle, PC 11, trotamos e trotamos... chegamos na cidade sob os aplausos e buzinas do público presente... Foi uma sensação de missão cumprida, de conquista, de alegria muito grande, de saber que fizemos o nosso papel. A organização promoveu uma surpresa, 4 ‘champagnes’ para comemorar a vitória!! Obrigado!!
Sabemos que tudo isso não seria possível sem a presença constante e firme do nosso apoio Pedro Buery, capixaba, amante da aventura e da natureza.
Dedicamos essa vitória aos nossos parceiros e amigos, nossos familiares e àqueles que sabem como é dura a luta de um atleta amador nesse país.
Em dezembro a equipe volta ao cenário das Corridas de Aventura, serão duas provas contando ponto para o Ranking Brasileiro.
Pablo Bucciarelli
Atleta-Capitão Trópicos AON
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