Todo mundo sabe que uma prova começa muito antes mesmo da largada; são dias de preparação, equipamentos, treinos, verificações, compras, arrumar tudo e tentar não esquecer nada... pois é... para nós o pré-prova foi bastante complicado, embora estivéssemos correndo a prova mais próxima de casa nesse ano.
Campina Grande do Sul é o Himalaia Paranaense e no briefing ficou claro que o trekking definiria a prova, um tanto pela dificuldade e distância mas principalmente pela previsão de que estaríamos subindo o Camapuã em pleno sol de meio-dia. Nossa estratégia preliminar era de tentar andar o mais na frente possível durante a primeira perna de bike e trekking, justamente para entrar na água o mais cedo possível, pois o corte naquele PC estava previsto para as 17:30. Até aí tudo bem, mas na prática a teoria é outra. Chegamos para a largada bem cedo, tínhamos ainda alguns detalhes “pendentes”: não conhecíamos ainda nossa integrante feminina pessoalmente, tratamos tudo por telefone alguns dias antes da prova; o Paulinho (navegador) chegara de Mal. Candido Rondon durante a madrugada anterior (são 570km !). Faltava, portanto, a assinatura das inscrições desses dois. Acontece que o envelope ficou para trás na correria e não teve jeito: tive que voltar voando até São José dos Pinhais pegar o tal envelope e ainda um colete salva-vidas que também ficou pra trás. Fui esmirilhando no asfalto com a saveiro e fiz o trajeto de ida e volta em menos de uma hora, chegando uns dez minutos antes da largada, totalmente em jejum até então (detalhe: havia chegado em casa às duas da manhã de uma festa da empresa da minha mulher, que já estava combinado há mais de dois meses – quem tem esposa sabe o que isso significa).
O resultado dessa desastrosa combinação veio muito mais rápido do que eu imaginava. Já na primeira subida de bike me flagrei de volantinho e percebi que a vaca estava indo pro brejo e no ritmo da Body Imports ! Via a galera toda me passando nas subidas e aí começou o castigo. Tivemos uma errada indo pro PC2, coisa pouca e até conseguimos recuperar, encostando na Audax e na Marumby e chegamos praticamente juntos no inicio do trekking. Dali os caras fizeram um risco e é aquela velha história: quem não faz poeira, COME !
Eu já não agüentava mais acompanhar o ritmo da minha equipe. O Anderson é o guarda-costas do time e adora carregar a mochila da gente, mas nem assim eu saia do lugar. Todo mundo tem seu inimigo nas provas e o meu em particular é o sol. Agora imaginem a situação: eu não conseguia comer, ficava meia hora pra mastigar um pedaço de pão, não agüentava nem ver gel na frente, nós em último lugar, as pernas começando a doer, o sol castigando, o resto da equipe tendo que te esperar a cada instante, o morro crescendo cada vez mais ao invés de chegar, todas as equipes já voltando do cume e a gente nem na metade da subida. As coisas ficaram mais dramáticas quando começamos a fazer as contas e percebemos que estávamos bem próximos do corte no PC7.
Chegamos no tal PC exatamente às 17:41 e tivemos duas notícias boas, duas ruins. As boas: o corte fora prorrogado em dez minutos porque a largada atrasou esse tempo, estávamos há oito minutos do segundo pelotão. As ruins: fomos cortados por um minuto e teríamos que retornar andando até as bikes, que estavam há uns 12km dali. Confesso que foi difícil segurar o nó na garganta, sentindo-se culpado pelo fiasco, mas isso não muda nada.
Continuamos nosso duathlon terrestre meio-iron-man e chegamos nas bikes junto com nossos amigos da Tramontrip, que fizeram o remo mas pegaram o corte no PC9. Dali, fomos pedalando até a chegada, eu praticamente rebocado nas subidas, com câimbras e me segurando para não vomitar. O corpo da gente reage rapidamente em condições extremas e eu posso dizer que encostei a mão no fundo do poço. Só não fiquei lá porque os caras que correm comigo são foda mesmo !! e eu estou me referindo também à Jessiê também, que vestiu a camisa e tatuou na pele que é uma FENIX, querendo bater no cara do PC7 com os remos!!
Eu sabia já no meio da prova que nossas chances de competir ainda eram bem remotas, mas tinha a certeza de uma coisa: nós íamos cruzar aquele pórtico nem que fosse em último lugar, não só pra terminar a prova, mas para terminar o que começamos há um ano atrás: o objetivo de ser a equipe revelação de 2007. E eu posso dizer que nós fomos um pouco além: nós aprendemos algumas lições e experiências que nos amadureceram e fortaleceram como uma verdadeira equipe.
Aprendemos a ganhar, a perder e a nunca desistir.Todos nós crescemos individual e coletivamente em 2007, que está acabando, passou rápido, muito rápido, mas para todos nós que corremos esse ano, estranhamente parece que algumas coisas aconteceram em câmera lenta. Os flashes das roubadas vêm na nossa cabeça e a cada vez que nos encontramos não cansamos de comentar. Aquela van levando uma galera com uma carreta de bikes, o siate levando o Paulinho e a Soraya tomar chocolate quente enquanto eu, o Anderson e o Pêda fazíamos uma fogueira para não morrer de frio, o banco na praça de Ribeirão da Ilha escrito “bem vindos à Florianópolis”, a primeira planilha em branco no PC9, 10 e 11, em Antonina, o Anderson da Sulbrasilis passeando com seu carro em Gravatal, a corrente e a lama em Prudentópolis, o primeiro TROFÉU EM IBIRAMA e, uma grande certeza: friends will be friends !
Galera, correr com vocês é uma bênção !
Parabéns ao Nego, Karina, Felipe, Daniel, Rodrigo – SUPER CAMPEÕES 2007 !
Certos de sua atenção,
OBRIGADO !
Alexandre Carrano