Cruce de Los Andes 2008 ? Equipe Sport Support ? ?La Vuelta de Panterita Rosa?

Por Luli Cox - 17 Fev 2008 - 21h30

Quinze dias antes da corrida, recebo um email do Mario Sanchez que estava atrás de uma dupla para correr o Cruce de los Andes, uma prova de corrida de aproximadamente 90km que cruza os Andes em três dias. A largada é na Argentina e no último dia cruza-se a fronteira com o Chile. Eu havia feito a prova em 2006 e estava morrendo de vontade de fazer esse ano, mas por falta de programação acabei deixando os planos de lado e fui curtir 40 dias de férias na casa da minha mãe na Califórnia. Mas minhas preces ficaram gravadas e Deus mandou o convite! Com duas semanas de programação e NADA de treino, encontrei minha dupla em Bariloche, na véspera da prova.

Quatrocentas e trinta duplas disputavam caixas, coletes de prova e os kits de atletas. Os brasileiros, representados por treze equipes, já formavam grupos.
Um briefing num enorme gramado ao entardecer na frente do Cerro Cathedral mostrava o tamanho de uma prova que começou há sete edições e de quarenta atletas agora éramos quase mil! Adrenalina pairava no ar, principalmente dos que corriam pela primeira vez, ansiosos pelo que estava por vir.

Pegamos carona com uma dupla feminina que estava indo jantar. Aproveitamos a carona literalmente e jantamos massa no mesmo restaurante que fomos deixados. Mais 5 Km para o centro, toca pedir carona de novo, dessa vez 3 argentinos, engraçadíssimos. O Mario foi na caçamba e eu batendo altos papos.

Primeiro dia de prova – pegamos o ônibus que nos levaria até a largada no lago Mascardi e estava um pouco desorganizado e no final acabamos indo a pé. Havíamos pago pelo tranporte mas tudo bem, vamos que vamos! Fotos, fila para o banheiro, fila para o Gatorade e uma largada dividida por categorias: masculina, mista, feminina. A voz do Sebastian, organizador da prova, que tentava comandar a bagunça, mal se ouvia abafada pelos gritos de euforia. Largamos no segundo pelotão e o esforço para não molhar o pé no começo de prova, acabou sendo em vão, estávamos na “praia” de um lago enorme, subimos morros, entramos em trilhas, fomos muito passados e só começamos a passar algumas equipes com duas horas de prova. A vista no topo do morro era de tirar o fôlego, aquelas montanhas lunares com neve eterna no cume. A trilha depois dele também. Era alta e na direita entre as árvores a gente via o lago, azul esverdeado à la “piratas do caribe”. Como disse o Mario, uma paisagem “protetor de tela de computador”. E ali faltava o Andressão da minha equipe de aventura, ele e seus superlativos; “Deslumbrante, incrível, sensacional!”

O primeiro rio que tínhamos que cruzar a água era gelada porém refrescante. Logo que cruzamos fomos seguidos pelo camera-man e outras equipes, empolgados, e num descampado acabamos perdendo as marcações de trilha e quando vimos estávamos perdidos! Pode... Isso porque eu tinha ouvido uma historia de dois argentinos que se perderam e pensei comigo “Como alguém consegue se perder em uma prova que não precisa navegar?!” Nossa sorte era que a gente via o pórtico à distancia então era possível azimutar. Depois disso tivemos que cruzar dois rios com água de degelo. Eu nunca tinha entrado em uma água tão fria na vida, parecia que tinham milhares de agulhas espetadas no corpo e quando a gente saía, parecia pior, os dedos do pé doíam muito... foi uma experiência comentada por todos no acampamento mais tarde! Depois de quebrar um pouco a cabeça localizamos as fitinhas e estávamos na trilha de novo. Uma corridinha final e cruzamos o pórtico com 4:40hs de prova. Ficamos em 277° lugar na classificação geral. Pôxa, os 40 dias de férias estavam pesando...

Montamos nossa barraca perto dos meninos La Selva e Daniel, da turma de corrida de aventura e dos meninos de Santos. Os acampamentos tem um clima delicioso, todos unidos pela mesma causa, curtindo aquela beleza natural, sem civilização alguma por perto. Normalmente na frente de enormes lagos enquadrados pelas montanhas cheias de neve. Eu estava tão cansada à noite, depois de ter curtido uma tarde de alongamento e sol, nem saí da barraca para ver o briefing. No final de cada dia a organização fala sobre o dia seguinte e passa um filme do dia corrido! A dupla mista Cris Carvalho e Alexandre Ribeiro estavam já representando o Brasil na briga pelo pódium.

Segundo dia – A largada foi dividida em baterias de cinqüenta equipes pela ordem da classificação geral. De quatro em quatro minutos saía cada bateria. A gente estava na sexta e nossa estratégia foi sair rasgando para deixar o nosso pelotão para trás. O dia era dos corredores de rua, um enorme estradão sem maiores aclives. Poucas vezes entrávamos em trilha e quando isso acontecia a gente passava muita equipe, mas quando virava estrada, o quadro se revertia... Eram aproximadamente 18 Km e nós fizemos em 2h, foi um tempo ótimo, como a maioria das equipes. Mas já subimos de posição e fomos de 277° para 265°! Ok, já estamos melhor, amanhã a gente recupera mais, hein!

A chegada era ao lado de um rio daqueles... e o dia ainda estava meio chuvoso... acho que a gente ia pular o banho. Encontramos com os meninos que nos fizeram uma proposta indecente; vamos ficar no hotel... Eles já tinham arrumado quarto e era um quarto quádruplo... desmontamos as nossas barracas e ficamos muito bem instalados. A mulher da turma (eu...risos), fiquei com o quarto de casal para mim e esse foi meu upgrade. De um travesseiro feito de um fleece eu passei para uma cama com travesseiro de pluma de ganso! Mais algumas equipes também fizeram o mesmo. A noite foi gelada!

Terceiro dia - Ficamos sabendo depois que o Sebastian ficou enlouquecido ao saber que algumas equipes haviam ficado no hotel e sobrou para uma turma de brasileiros que estava tomando café no hotel. Pelo visto não podia. Na regra que eu li não vi nada à respeito e sem saber não fomos pegos. De manhã fazia muito frio. Era difícil dosar com que roupa largar porque logo o corpo esquentava e o sol também chegava com tudo. A largada foi exatamente como no dia anterior e nós, pela segunda vez, saímos rasgando na frente.

Tinham 3 km de estrada depois sabíamos que viria a trilha. Antes mesmo de chegar nela a gente já havia alcançado o pelotão que largara na frente. Assim fomos passando por muitas e muitas duplas. Hoje era nosso dia, dos corredores de aventura, uma boa distancia, muita trilha, muita raiz, muita pedra, muito tronco e quanto mais, mais equipes a gente deixava para trás. Cruzamos um morro enorme e fomos assim no trote até os últimos 3 Km antes do pórtico, caprichados numa subida final que não terminava mais, regada aos gritos de incentivo dos corredores que já tinham terminado a prova!

E de repente o pórtico. Fizemos em 4:40hs, um tempo excelente! Não conseguimos ir na premiação porque nosso vôo de volta era no mesmo horário, mas do aeroporto já descobrimos que no último dia a gente ultrapassou 100 equipes, nem uma a menos nem uma a mais: 100!! E de 265° subimos para 165° na classificação geral! Na mista ficamos em 30°, de 90 equipes!

Valeu Mario! Valeu Cris e Alê pelo primeiro lugar na mista! Valeu Brasil ! Todas as equipes que correram  mostraram que somos um povo de garra e alto astral!

Fica aqui a dica para quem quer variar de cenário: o Cruce de los Andes é uma prova para nenhum corredor botar defeito. Agrada aos maratonistas e aventureiros, numa região onde se gabam os argentinos e chilenos: o lugar mais lindo do mundo!

Luli Cox
Equipe Sport Support

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17 Fev 2008 - 21h30 | geral |
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