Para comemorar os 10 anos de corrida de aventura no Brasil, a QuasarLontra buscou encontrar uma competição com este formato. Escolhida a Patagônia Expedition Race, por se encaixar neste perfil, foi montada a QuasarLontra Máster, composta por mim, Victor, por Alexandre Machado, e pelos convidados cariocas Izabela Antunes e Pietro Carlo, que havia participado da competição em 2.007. Os preparativos iniciaram-se em novembro do ano passado, e perduraram pôr 3 meses.
Punta Arenas – O QG da organização
Chegamos em Punta Arenas no dia 06 de fevereiro passado. E, já no dia seguinte, partimos para as compras de mantimentos e de materiais específicos para a jornada: casacos polares, meias térmicas, fleece, polainas, luvas impermeáveis etc.
Conforme o cronograma oficial, a solenidade de abertura ocorreu no dia 09. Na manhã seguinte, passamos pelos testes de caiaque e de verticais. Recebemos os mapas na manhã do dia 11, no suntuoso Hotel José Higueiras, de estilo neo-clássico, e tivemos a primeira surpresa: mapas escala 1:100.000 e 1:200.000, obtidos via satélite. Junto recebemos 5 identificações para as sacolas alimentação, e uma para cada modalidade: mountain bike, canoagem e verticais. E a de trekking: não havia, já que a organização determinava que a condução dos materiais obrigatórios e os casacos polares e fleece tinham que estar sempre com os atletas.
Os números de ATs e PCs para os 560 kms ficou determinado em 08, ou seja, nem sempre mudaríamos de modalidade tendo acesso às bolsas de alimentação. Ficava a critério das equipes a quantidade de alimentos que deveriam portar nas pernadas.
O race book estipulou:
Largada simbólica -Praça das Armas – Punta Arenas- Travessia de Ferry Boat Largada de bike em Povenir tendo ao Pc1 -El Concejo variação de altitude de 500 metros – distância 128km
Pc 1 -El Concejo ao Pc 2 Rusffin – 18 km Trekking
Pc 2 -Rusffin ao Pc3 -Rio Grande– Bike 27 km
Pc3 -Rio Grande ao Pc4 -Chorrillo Los Perros- 110 km trekking
Pc4 -Chorrillo Los Perros ao Pc 5 -Collado Genskowski- Bike 57 km
Pc 5 - Collado Genskowski ao Pc6 -La Paciencia – 46 km Trekking
Pc6 -La Paciencia ao Pc 7 -Fiordo Parry – 25 km caiaque
Pc 7 -Fiordo Parry ao Pc 8 -Bahia Yendegaia – 60 km trekking e cordas
Total: 560 kms
Concentração e Largada
A concentração para a largada ocorreu na Praça das Armas, centro de Punta Arenas, sob uma garoa fina e temperatura de 5 graus. Fomos escoltados até o ferry boat, juntamente com todo o aparato da organização – alimentos, staffs, equipe médica etc.
A travessia de 2 horas e meia até Povenir, porta de entrada da Terra do Fogo, nos mostrou a força da natureza: ventos de 100 kms horários e ondas de 4 metros.
A tensão era evidente nas 11 equipes aventureiras da França, Argentina, Espanha, Argentina, Turquia, Chile, USA e Brasil.
Chegamos a Terra do Fogo e foi dada a largada.
Partimos para vencer 128 kms de mountain bike, em piso de terra batida e pedras, totalmente pedalável, no pelotão da frente, junto com os franceses e espanhóis. Passados 20 kms, tivemos o nosso 1º pneu furado. Além deste seguiram-se mais dois. E quando achávamos que nossa cota de revés neste trecho havia passado surgiu outro problema: o atleta Alexandre urinou sangue. Faltavam 70 kms para o PC/AT1, e pedalamos com cautela. De repente aconteceu uma condição típica da região: chuva de granizo, ventos fortíssimos acompanhados de frio intenso.
Chegamos na 6ª colocação ao PC 1, e passado por avaliação médica, foi dado o diagnóstico para nosso atleta: cálculo renal. A solução: diurético e anti-inflamatório. A 1ª noite se aproximava, eram 21:30 hs, horário que escurece no verão patagônico.
PC/AT 2
Partimos para um trekking de 18 kms totalmente sem trilha, em campo aberto com vegetação rala e repleto de calafates (frutas típicas da região). Encontramos com a equipe da Turquia e juntos prosseguimos a jornada. Atingimos o PC 2, em franca recuperação, na 4ª colocação, e encontramos nossa bolsa 1 de alimento. Mas uma surpresa nos aguardava: nossa bikes não haviam chegado. Eram 6:00 hs da manhã e o dia estava claro. Ficamos 3 horas sentados, sem termos dormido, esperando as bicicletas. Mas tivemos a promessa da organização de que teríamos um bônus por esta parada forçada.
PC/AT3
Com a entrega de nossas bikes, seguimos para vencer o trecho de 27 kms em singles que entrecortavam campos repletos de Guanacos ( animal similar às lhamas).
Vencida esta etapa, sem percalços, com a moral em alta, encontramos nossa bolsa alimento 2, e nos preparamos para o momento chave da competição: trekking de 110 kms, para os quais a organização estimou a progressão em mais de 2 dias. O corte na prova estava previsto para dois dias e meio a frente.
Partimos na 6ª colocação, ainda sem a nossa bonificação.
PC/AT 4 – A verdadeira Patagônia Sul
O trecho era árduo: sem trilhas e presença humana, com inúmeros vales e rios que os entrecortavam. Nossa meta inicial: atingir o Rio Condor e lá fazermos um merecido bivaque.
E a progressão: 3 kms por hora. Ocorre que nas matas, 50% das árvores com caules de 1,5 de diâmetro encontram-se caídas, ou pela ação do vento implacável, ou pela ação de castores que foram trazidos à Patagônia Argentina para a extração de peles. Como não possuem predadores naturais, os castores se multiplicaram, causando uma devassa nas matas, a ponto de ser o único animal autorizado para ser caçado.
Atingimos o Lago Blanco, situado a 6 kms do Rio Condor, às 23 :00 hs. E decidimos lá pernoitar. Nossos termômetros marcavam 0 graus. O frio era terrível. Fizemos comida quente e montamos o bivaque sob garoa fina: piso forrado com cobertor grosso de emergência, sleeping bag e saco impermeável bivaque por cima da cada saco de dormir. E o resultado: não parávamos de tremer de frio. A noite foi interminável. Quando comíamos algo às 6:00 da manhã, pronto para seguirmos a jornada, passaram pelo local as duas equipes Argentinas, que não conseguiram parar à noite por não estarem suportando o frio.
Seguimos na busca do Rio Condor, e o atingimos no início da tarde. Tínhamos, então percorrido 50 kms.
Atravessamos o Rio, e partimos para a subida de vales. Lá a dificuldade de progressão mostrou-se outra: imensos platôs de 3 kms com solo repleto de turvas (tufos de vegetação avermelhada esponjosa), intercalados por lodaçais, nos quais afundávamos até os joelhos. E, num desnível destes aconteceu um acidente: o atleta Alexandre torceu um joelho. O grito de dor foi ensurdecedor e o inchaço imediato de sua perna mostrou a gravidade da lesão. Mas não havia como conseguir atendimento médico: estávamos a 70 kms do AT 4. O jeito foi o uso de anti-inflamatório que resultou numa redução da dor, mas não impediu que nossa progressão fosse mais lenta ainda. Mesmo assim, alcançamos as duas equipes Argentinas e a Chilena, que nos haviam superado à noite.
Escolhemos uma rota diferente das demais equipes que encontramos: descemos o vale e andamos por dentro do Rio Condor. A progressão lenta nos ocasionou mais uma noite de bivaque, similar à anterior: frio intenso, coberto de chuva com granizo. No início da manhã nossa comida praticamente havia acabado, motivo pelo qual iniciamos um racionamento de alimentos.
Acabamos por atingir o PC 4 às 17:00 do dia 16, 6 horas além do admitido. Tirando nossa bonificação, estávamos com 3 horas de atraso. Tínhamos percorrido 283 Kms. No PC-4 estavam a equipe chilena e a francesa Raid74, que haviam chegado poucos minutos antes de nosso time. Faltavam as duas equipes Argentinas e uma equipe americana.
Pôr este PC, só haviam cumprido o horário 5 equipes.
Dois dias se passaram, e nada de americanos e argentinos. O resgate composto por integrantes do exército chileno, os carabineiros, já estava pronto para sair em busca, quando surgiu a equipe Club Patagônia da Argentina, e a informação de que os times Untamet dos USA e Montagne haviam sido resgatados. O estado dos integrantes era assustador: sem comer há 2 dias, estavam totalmente desorientados. Assim, no dia seguinte fomos levados à Povenir para regressarmos à Punta Arenas.
Na volta, tivemos a notícia: o mal tempo havia impossibilitado a realização das duas etapas de caiaque e a ascensão em cordas. Também, o trekking final havia sido reduzido, gerando às equipes que continuaram na prova apenas mais 143 kms cumpridos até o PC4, divididos em trekking glacial e mountain bike. Com isso a expedição teve o percurso total de 426 kms, percorridos em 10 dias.
A classificação final, incluída a nossa bonificação, ficou assim:
1º - authenticnutrition.com - França - 426kms
2º - Canarias - Andalucia Spiuk Tenerifes Espanha - 426 kms
3° - Team Touareg Turk Turquia - 426 kms
4° - Team Littleton Bike and Fitnes USA - Canadá - 426 kms
5º - Medilast Sport Lleida – Sky Espanha - Chile - 426 kms
6º - QuasarLontra Máster Brasil - 283 kms
7° - Raid 74.org - Sky Airlines França - 283 kms
8° - Punta Arenas Chile - 283 kms
9° - Club Patagonia Argentina - 283 kms
10º - Montagne Argentina - 200 kms
11º - Untamet Adventure USA - 200 kms
Como resultado, uma constatação: percorremos locais por onde pouquíssimos humanos passaram, tivemos contato visual com animais totalmente selvagens e sentimos a força bruta da natureza. A mais, tivemos lição de superação pessoal passada por Alexandre Machado, que mesmo contundido nunca perdeu o senso esportivo, de bom humor transmitido pela Belinha e de espírito de equipe transferido pelo Pietro. De mim, meus companheiros ouviram piadas e cantorias infames.
Tivemos o apoio de
Mais informações sobre a equipe: www.quasarlontra.com.br
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