Fernanda Maciel relata sua participação no Bimbache Extreme 2008 e sua temporada na Espanha

Por Fernanda Maciel - 25 Mai 2008 - 13h37

Desde 2007 corro Raids Internacionais com a equipe espanhola capitaneada pelo Antônio de la Rosa – Teva La Pinilla Trangoworld. Depois da conquista de uma das provas do Circuito Mundial (ARWS), a Estoril Portugal XPD Race (dezembro de 2007), temos como foco para o primeiro semestre a preparação para o mundial de Corridas de Aventura que será realizado este ano no Brasil, Ecomotion Pro 2008.

Primeira prova: Bimbache Extreme 2008 (11 a 18 maio) - Bimbache Extreme 2008 é uma das provas do circuito mundial ARWorld Series, que aconteceu semana passada aqui na Espanha, na região de Castilla y León, a cerca de 100km de Madrid. A prova teve 465 km no total e 9.000m de desnível entre as províncias de Segovia e Peñafiel.

Largamos pela manhã do dia 13 de maio do Arqueduto Romano de Segovia. Estiveram presentes 20 equipes de 7 nacionalidades diferentes. Infelizmente algumas equipes já inscritas na prova não conseguiram correr, como a equipe da Colômbia, que teve problemas na entrada da Espanha. Minha equipe teve como formação desta vez: eu, Fernanda Maciel, Albert Roca, Fran Varella e Aurelio Olivar. Foi a primeira vez que corrermos nesta formação e minha primeira vez com o atleta especialista em Mountain Bike, Albert Roca. Nossa intenção era verificar nosso ritmo de prova depois de já ter se passado 3 meses da última vez que havíamos corrido juntos.

A primeira modalidade da prova foi uma seção de orientação urbana, onde tínhamos que orientar entre as principais ruas e pontos turísticos de Segovia para responder as perguntas corretas planejadas pela organização. Depois de quase duas horas correndo pelas praças, parques, museus, igrejas… uma seção de 10km de “in line skating”, patins por uma estrada de asfalto local, com descidas, subidas e alguma coisa plana para respirar. Coração ofegante, parecia largada de uma prova de 50km.

Os patins foram um aquecimento para começarmos a primeira dura seção de trekking da prova, 49km e mais de 2.000m de desnível com saída e chegada na zona de Granja de San IIdefonso, passando por várias cristas de montanha como o pico de Peñalara, com 2.428m. As equipes Wilsa HellyHansen e Multisport.fi seguiam à frente e longo 15 minutos vinhamos nós, da Teva La Pinilla Trangoworld, seguidos pela equipe La Fuma Sport2000. As condições metereológicas afetaram todas as equipes, muita chuva, neve e intenso frio. Havia muita neve pelas montanhas e ela cobria todas as pedras e caminhos. Era obrigatório o uso de capacete durante toda a modalidade, pois havia muito perigo ao subir e descer as cristas. Sofri muito neste percurso. Para mim, brasileira, era um frio medonho, úmido, muito gelo entrando pelo tênis mesmo estando com polainas e toda a proteção. Corríamos no melhor e mais acelerado ritmo que podíamos mesmo sem haver trilhas, com os barrancos escorregadios e pedras sob gelo. Compensava o esforço as espetaculares cascatas EL Chorro, cachoeiras enormes que nos acompanhavam durante toda a descida de montanha até a próxima seção, uma canoagem de uma hora de duração que fazíamos na represa de Pontón Alto.

A etapa de bike noturna começava após este curto 10 km de caiaque. Essa foi a pior seção de toda a prova para mim, como também para grande parte dos competidores da Bimbache Extrem 2008. Foram 100km de bike com muita chuva, frio de quase termos hipotermia, desnível de 2.250m positivo e tudo isto no ritmo alucinante de começo de corrida. O frio ficava cada vez mais intenso, chuva de granizo, neve por toda parte da Sierra de Guadalarrama que percorríamos. A orientação era impossível (não havia visibilidade de mais de 5m ) e a muita dificulade de progressão. As equipes Buff e Gallaecia Bugarent-Cucos foram umas das que abandonaram a prova nestas condições. Nós, por volta das 2h da madrugada, tivemos que nos abrigar por quase uma hora para esquentarmos nossos corpos com manta térmica e sacos bivac e assim seguirmos madrugada afora pedalando. A chuva forte nunca parava. Foi uma noite infernal, que confesso querer ter estado debaixo dos meus cobertores no Brasil ou melhor, sob as estrelas numa praia paradisíaca qualquer brasileira.

Pois bem, guerreiros sem perder o foco, fomos até Somosierra, onde trocamos as sapatilhas e a roupa molhada por tênis e um novo mapa para os 15km de trekking pela Sierra Cebollera, com uma espetacular descenção de um “barranco”, como dizem aqui. Era uma cascata com bastante volume d’água, com a obrigatoriedade de usar neoprene de no mínimo 5ml de espessura, e tinhamos que nos colocar fixos às cordas e rapelar toda a seção. Passávamos por 3 seções de rapel cascata abaixo. Sorte minha que chegamos nesta modalidade por volta do meio-dia, com sol, coisa inacreditável. Uma beleza!

Nesta progressão seguia a equipe Wilsa HallyHansen dos meus amigos Franck Salgues (França) e Marcel Hagener (Nova Zelândia), seguidos dos franceses da LaFuma, adiante dos filandeses da Multisport.fi, do conhecido Petri Forsman, agora na terceira posição. Nós seguíamos em quarto lugar um pouco mais lentos que os primeiros por ter tido problemas com um dos nossos companheiros de equipe, Fran Varella que já não se sentia muito bem e estava bastante cansado.

Novamente para as bikes, pedalamos até o “pueblo” de Riaza, onde calçamos os patins para subirmos os 10km de estrada até a Estação de Esquí La Pinilla. Na estação cumprimos as 4h de sono obrigatórias dadas pela organização. Podíamos usar o alojamento da La Pinilla, um luxo para nós, depois de dias no mato e na chuva. Havia banheiro, duchas quentes e cama. Incrieble!

Incrível também a longa tirolesa sobre um penhasco do skifield espanhol, com 120m, que nos fez acordar rapidamente. Havia inclusive uma rampa para que pudéssemos vir a correr, embalar e nos atirarmos. Depois, passsamos por uma ponte tibetana de 115m na zona do Gran Plateau (cota de 1.800m) da Estação La Pinilla. Esta seção de cordas fizemos por volta das 10h da noite, com a lua nos “mirando”. Ansiosos por estarmos apenas 20 minuto à frente da equipe Team Filand, subimos como lagartos a montanha em meio a pedras e gelo até o Portillo del Lobo de 2.274m, entre o Parque Natural del Hayedo de Tejeras Negra e a Tierra de Ayllón. Descemos durante toda a noite o cannyon até o manacial de Manadero e ao amanhecer vimos as montanhas de pedras vermelhas fantásticas, parque de diversão de espeleólogos. Este ponto ficou emocionante para a equipe Wilsa HallyHansen e os também para os franceses da LaFuma Sport2000, pois a equipe que liderava se perdeu muito pelas costas e cristas, abaixando em uma hora a diferença entre elas.

A modalidade seguinte foi um Mountain Bike de 100km, percurso ilustrado por inúmeras casas de pedras. Foram 1.300m de desnível de Grado Del Pico até Vadocondes, beira do Rio Duero. Percurso com tempo recorde de 7 horas de duração. Em Vadocondes, caiaques prontos para remarmos até Peñafiel, 64km rio abaixo, com 6 portagens obrigatórias e com média de 11 horas, sendo que havia um “darkzone” neste trecho de canoagem. Às 9h da noite éramos obrigados a parar onde estávamos e retornávamos às 6h30min. da manhã do dia seguinte.

Paramos às 9h da noite ao lado de uma represa, tiramos toda a roupa molhada, abrimos nossos sacos estanques onde havia roupa seca, saco de dormir e isolante. Nos colocamos a dormir ali mesmo, mas depois de umas 3h de sono, mais chuva. Corremos para uma casa abandonada que havia ali bem próxima. A porta mal se abria, as janelas despencadas, havia entulho, pedaços de madeira e tudo mais de sujo, teias, pó, cimento… montamos uma cama gigante com as tábuas de madeira e assim tivemos nossa melhor noite de sono da prova, super “calientes”. Dormimos cerca de 6h.

Ao amanhecer, fizemos a portagem com os dois caiaques sit-on-top duplos e descemos por mais 6h as corredeiras classe 1 do Rio Duero e ali estávamos, em Peñafiel.  Em direção ao castelo, 175m de desnível até suas entradas gigantescas. Na porta do Castelo me preparava para a ascenção de cordas que eu e Albert teríamos pela frente (somente dois da equipe): 34m de jumar até a torre do Castelo. De lá, nós quatro, ao meio-dia, seguimos até o pórtico de chegada por uma tirolesa do alto da torre até o pátio central do Castelo. Completamos assim com 65h12’ a Bimbache Extreme 2008.

Classificação Final:

  1. Wilsa Hellyhansen (França)
  2. Lafuma Sport2000 Vibram (França)
  3. Multisport.fi (Finlândia)
  4. Teva La Pinilla Trangoworld (Espanha/Brasil)
  5. Team Finland (Finlândia)
  6. Lima Salomon Adventureteam.si (Eslovênia)
  7. Raid Nature 46 (França)
  8. Madilast Sport Lleida X-Team (Espanha)
  9. U.E. Vic- Raidsaventurablogspot.com (Espanha)
  10. Absolute Raid Decathlon St Orens (França)
  11. Reims Champagne Aventure (França)
  12. Gallaecia Bugarent-Cucos (Espanha)
  13. Buff (Espanha)
  14. Proinde aventura (Espanha)
  15. Air France Industries (França)

Agora me encontro na casa de Antônio de La Rosa, uma rústica casa nas montanhas (2.000m de altura) localizada a 70 km de Madrid, com o visual de um lindo lago à frente e atrás, circuitos de MTB, trekking e mirantes que não acabam mais. Tenho treinado todos os dias na companhia de todos da equipe e também do brasileiro Rafael "Los Amigos". Com esta preparação sigo para uma longa Corrida de Orientação que corro sozinha neste próximo dia 25 de maio em Ripoll, próximo à Barcelona e logo depois o Grand Prêmio TEVA, Liga Espanhola de Raids.

Parabéns à toda organização Bimbache Extreme 2008 e à minha equipe espanhola.

Obrigada aos meus apoios Kona, Central de Serviços, Evoke, Nigiri, Ponto do Açaí, Núcleo Aventura e todos amigos que estão torcendo por mim.

Un Saludo,
Fernanda Maciel

Fernanda Maciel
Por Fernanda Maciel
25 Mai 2008 - 13h37 | geral |
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