Assim, a Federação Internacional de Orientação (IOF) preparou modelos padrões em 1967. Esta normativa, desde então, é conhecida como ISOM (abreviatura em Inglês de International Specification for Orienteering Maps). As ISOM’s têm sofrido diversas modificações tendo em vista a grande evolução que a Orientação tem vivenciado nos últimos 20 anos. Hoje, com toda a evolução na gestão de informática, Internet e programas como o OCAD por exemplo, temos observado que a cada 8 a 10 anos acontecem novas modificações nas normativas ISOM. Atualmente já se fala na possível atualização em 2010, com trocas ou melhorias nos mapas observando a tecnologia GPS e internet, como até uma possível fusão entre a ISOM e a ISSOM (International Specification for Sprint Orienteering Maps) em uma única normativa.
Sentindo a carência deste esporte no Brasil e admirada pela qualidade que os mapas europeus possuem, no início deste ano me filiei à FEDO, Federación Espanhola de Desportes de Orientación, já na expectativa de quando estivesse por lá, pudesse me inscrever em alguma prova desta modalidade.
No dia 25 de maio, depois de 8 horas dentro do autobus que me levava de Madrid à Barcelona e mais 2 horas de carro à Montgrony (pequeno pueblo situado a 100 km de Barcelona e/ou 80 km de Girona), já me encontrava ali embaixo do pórtico, no alto da Serra de Montgrony, de frente a um hotel-castelo tido como referência, já atrasada em 45min do horário que largaram os atletas da minha categoria: Solo de Longa Distância.
A largada que acontecia às 8h30 da manhã para a categoria longa distância se deu oficialmente mesmo debaixo de todo o temporal que caía na região. Pensei inúmeras vezes se iria mesmo arriscar estar ali naquela missão quase impossível para mim, pois observava o relevo e as condições climáticas e estas eram as piores: chuva forte, neblina, cerca de 1.500m de altitude. Tive muito medo, mas ao mesmo tempo não tive tempo de pensar. Me troquei (por baixo, roupas de polipropileno e por cima, calça e casaco de goretex, buff pela cabeça e pescoço, bússola de dedo) e corri lo mapa.
Com o mapa na mão, na escala 1: 20.000, conferiram meu nome e disseram que não haveria problema de largar atrasada, teria até as 13h da tarde para completar todo o percurso. Eram 13 balizas no total, ou seja, 13 picotadores bem escondidos na mata castelhana. Deram-me boa sorte para enfrentar a neblina e assim fui meio amedrontada meio perdida.
Saí dali apavorada. Norte com norte, azimutei e fui tentando buscar alguma trilha a nordeste que me levasse até a Igreja Saint Pere de Montgrony. Ufa! De lá, já sem trilhas, curvas de nível próximas, subi escalando pedras, seguindo azimute e a obsessão pela cota de 1.567m no meio de um bosque entre um vale gigantesco e uma montanha de pedra. As nascentes do rio já se formavam como grandes enxurradas. Esta foi a baliza que tive mais dificuldade, “bati cabeça”, fui e voltei, fui e voltei no local exato de onde estava, mas não enxergava, demorei uns 40 minutos até encontrá-la. Estava escondida entre arbustos de 1,30m mais ou menos.
Para a segunda baliza desci correndo feito louca do vale onde me encontrava, busquei passar pelo citado no mapa: 1.433m, depois aos 1.650m. A baliza se encontrava no “nariz de uma curva de nível bem desenhada”. Para esta forma mais de 30 min de busca. Apertei com dificuldade o picotador no papel plastificado, minha mão estava já congelada, não sentia os dedos.
Já em busca da terceira baliza, a chuva piorava. Não enxergava mais nada, sensação de medo, pavor de estar ali numa prova bem fora da minha zona de conforto. Em busca das ruínas onde esta se encontrava, fui exata ao ponto e feliz em estar melhorando minha performance.
De lá, fui confiante à quarta baliza. Subi, subi, em companhia de Albert Roca. Miramos as curvas que nos davam os 1.700m, 1.800m e assim íamos atingindo cada vez mais o frio, a chuva forte e o desespero também. Meu rosto e minhas mãos descobertas já estavam muito vermelhas e queimadas de frio, não conseguia mais falar, boca adormecida. Aos exatos 2km de distância que nos restavam para atingirmos a baliza, encontramos com mais outros três competidores que já voltavam desistindo de prosseguir na prova. Desta forma, nos convencemos que seria mesmo uma loucura continuar com aquela competição, diversão ou treinamento.
Resolvi voltar. Já imaginava a nevasca se aproximando. Azimutei montanha abaixo e numa velocidade increible corri com aquela sensação de survivor. Desci 300m de desnível orientada por um fio de alta tensão e por outro que estava todo tempo ao meu lado, e claro que entre um tombo e outro, despencando da montanha, levei um choque fenomenal. Ahhhhhhh... dei aquele grito vindo da alma, que dor, que choque! Cheguei à estrada e segui por um momento desnorteada. Observei que havia um refúgio localizado no mapa, me localizei novamente, dei meia volta e busquei a estrada que me levaria ao ponto de largada da prova.
Após 2h49min. de fantástica e dura experiência, eu tomava sopa de caldo de galinha quente batendo os queixos e me socializando com os outros 98% dos atletas que voltaram com somente completas três a quatro balizas. A prova não foi cancelada e assim por volta das 14h da tarde chegaram os vencedores, Pep Mayolas ganhador na categoria masculina e Georgina Arno, campeã na categoria feminina. Bravo!!!
Eu, contente pelo treinamento e aprendizado conferi minha quinta colocação entre as mulheres e animada com a vivência, segui estrada minha viagem pela Espanha afora para treinar para a próxima Raid de aventura que aconteceria em menos de uma semana, a prova de 220km da Liga Espanhola de Raids de Aventura.
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