Superamos uma, superamos duas, superamos todas as dificuldades enquanto equipe, para levar adiante a bandeira da inclusão social de deficientes visuais através da corrida de aventura provando a todos, mas sobre tudo a nós mesmos, o quanto somos fortes e capazes.
Demorei um pouco mais para escrever este relato, sim. Não só pela correria do dia-a-dia, que é praticamente uma constante na vida moderna de todos nós, mas porque gostaria que ele fosse mais maduro, no sentido de expor nossos sentimentos, impressões e conquistas não só durante a experiência da prova em si, mas também e, principalmente, depois da prova, quando a gente pode elaborar tudo isso e potencializar a transformação de um mundo cada vez melhor, mais humano e unido.
A Largada começa bem antes do som da corneta do Zolino...
Seguimos em direção a Ilhabela conversando, dentre outras coisas, sobre os objetivos da ONG, sobre a importância do trabalho desenvolvido todos esses anos e, principalmente, sobre a responsabilidade de vestir uma camisa tão especial. Talvez por isso nenhum de nós tenha pensando em desistir da prova, mesmo depois de quase naufragarmos de duck nos últimos quilômetros da primeira perna, do esforço fora do comum do Cris em um trecho completamente fechado e difícil no trekking pela busca do PC 5, ou ainda, quando parecia não haver mais como continuar sem a bike tandem.
As dificuldades deram um tempero especial para a prova e contribuíram não só para nossa satisfação pessoal enquanto atletas, mas principalmente para multiplicar ainda mais a certeza de que qualquer um pode e faz acontecer!
Plotando o mapa com outros olhos...
Depois do briefing em clima festivo devido às comemorações dos 10 anos de história da Corrida de Aventura no Brasil, as equipes se concentram para os preparativos finais plotando o mapa e traçando as estratégias.
Todos da equipe foram bastante prestativos e logo liquidamos todas essas tarefas aliviados, pois poderíamos descansar bastante até a largada. Confesso que dormir cedo em véspera de prova não é tão comum para nós.
Na recepção do hotel encontramos um pequeno quadro em alto relevo da Ilhabela. Fizemos questão de mostrar para o Cris todo o trajeto da prova e ele logo entendeu perfeitamente o desnível do trekking que estávamos comentando quando plotávamos o PC 4 e o PC 5.
Chuva + Frio = LARGADA
É claro que no sábado já tínhamos certeza que a chuva escolheria data e local para acontecer. Coragem para acordar e levantar da cama escutando o vento e a chuva batendo forte na janela.
Chegamos à praia para separar nossos ducks e infelizmente já não tínhamos mais tantas opções. Pegamos dois deles que estavam com praticamente uma das bananas sem ar. Fizemos um esforço para enchê-los rapidamente antes da largada, mas eu tinha certeza que eles murchariam durante a perna de canoagem. Bingo! Após o PC1 já estávamos gastando muito mais energia e força para conseguir deslocar a embarcação.
No remo: “Direita. Esquerda. Direita, direita, direita. Esquerda...”
Iniciei a perna de canoagem no leme, mas desacostumada a remar em uma embarcação tão desajeitada e lenta no mar, acabei trocando de posto com o Ude. Demoramos um pouco para conseguir entrosar a remada, mas nossa amizade e bom humor contribuíram para superarmos um clima tenso que tentava se instalar bem como a possibilidade de um naufrágio caso o percurso fosse maior, pois chegamos na Praia do Sino equilibrados para o lado do duck que ainda estava cheio.
No Trekking a pergunta: Mas afinal onde está esse PC 5???
Saímos da Praia do Sino determinados a buscar algumas equipes no trote forte enquanto o trecho era de asfalto e estrada de terra aberta. Quando passamos por trilhas de mata fechada o grau de dificuldade da equipe aumenta e o ritmo diminui bastante. Mesmo assim avançamos passo a passo em ritmo e segurança respeitáveis. É impressionante ver a determinação do Cris em seguir sempre em frente e às vezes até impaciente por não querer diminuir o ritmo diante de um obstáculo mais significativo.
Acabamos pegando uma trilha errada e nos deparamos com um trecho de mata extremamente fechada, com raízes suspensas e muita pedra que seguia praticamente em cima da vertente de água que corria na direção do PC5 e da praia. O trabalho em equipe foi fundamental para cada passo dado e a confiança incondicional que o Cris esbanja e deposita em nós é capaz de transformar qualquer fraqueza em energia e força motora.
Graças à visão panorâmica que o Guime foi buscar, encontramos o PC5 e com muita pressa e chegamos até ele para seguir adiante.
Nossa alegria na bike durou pouco, muito pouco.
Encontrar o PC5 e sentir que estávamos de volta na prova nos motivou a pedalar com toda a força e fazendo a bike Tandem voar no asfalto em direção a Pacuíba. Já podíamos até avistar e contabilizar algumas ultrapassagens em potencial quando, de repente, a corrente travou a roda de trás da bike de uma forma tão agressiva e barulhenta que foi difícil de acreditar na manobra radical que os meninos fizeram para não caírem.
Com direito a marca da derrapagem e freada no asfalto e 7 aros da roda quebrados, a brusca parada condenou a bike. Somente com uma nova roda conseguiríamos continuar a prova com a bike.
Desistir jamais!!!
As primeiras participações do Grupo Terra em corridas de aventura eram feitas sem bike, pois não tínhamos esse e outros recursos como hoje, frutos da evolução e experiência de todo um trabalho e a equipe cumpria os trechos programados para o uso de bicicletas a pé mesmo, sem problemas.
Antes de a organização chegar para resgatar a nossa bike já tínhamos decidido que completaríamos a prova sem bike. Foi uma resposta automática e como alguém logo verbalizou a proposta de seguir os 21Km que faltavam correndo (no caso eu), os meninos não pensaram duas vezes e logo aceitaram o desafio.
“Fê, falta quanto para o PC das bikes?”
O “cateye” da minha bike ia fornecendo boletins dos Km's percorridos de tempos em tempos para motivar nossos “maratonistas”. Como eu e o Guime continuamos de bike com o intuito de revezar um pouco ou fornecer uma carona nas descidas, acabamos só conseguindo ajudar nas subidas, pois achamos arriscado demais acelerar as descidas com dois em cada bike.
Nosso incentivo veio de todos os lados!
Na medida em que a chegada se aproximava, mais e mais pessoas manifestavam palavras de apoio e incentivo durante o caminho. A organização fez questão de nos escoltar até a ciclovia e a cada grito “GRUPO TERRA” conseguíamos apertar um pouco mais o passo em direção ao pórtico. Muito obrigada por isso!!!
A CHEGADA!
A recepção calorosa das pessoas reforçou ainda mais essa sensação maravilhosa de vitória, de missão cumprida e de realização. Foram muitas as dificuldades que enfrentamos durante a prova, mas foi com alegria, bom humor, união e confiança que cada um de nós pode saborear com orgulho o valor da nossa conquista e poder da nossa força.
Fernanda Campos Costa
Equipe Grupo Terra
Para conhecer um pouco mais o trabalho do Grupo Terra, visite: www.grupoterra.org
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