Atividade da creatina quinase (CK), lactato desidronenase (LDH) e nível de citocinas no plasma de atletas

Por Carlos Eduardo Fonseca (Caco) - 19 Ago 2008 - 21h25

Em 1999 me formei em Educação Física e me especializei em Fisiologia do Exercício dois anos depois. Desde então estou envolvido e participando ativamente em grupos de estudos de pesquisa na área de fisiologia e bioquímica do exercício. A curiosidade pelos estudos acadêmicos e pela pesquisa me despertou a vontade de continuar estudando e hoje, a minha mais recente titulação, um mestrado em Ciência do Movimento Humano, fez com que eu adquirisse mais ferramentas para o meu trabalho na área de treinamento. E é obvio que o tema da minha dissertação envolveria corrida de aventura.

Conciliar estudo e a vida de atleta, não é um trabalho fácil. O Marcio, meu amigo, sócio e parceiro desde o início da equipe Selva que diga... noites em claro estudando semanas antes do Ecomotion 2007, treinos desmarcados no final de semana devido a elaboração da dissertação, minha defesa marcada 3 dias antes da viagem para o Brasil Wild Extreme mostrou, mais uma vez, que somos uma equipe forte em qualquer situação, pois a paciência de todos foi colocada a prova fora das trilhas e vara matos. Eu falo isso porque sempre contei com total apoio da minha equipe.......e deu certo. Hoje eu consegui atingi o objetivo ser Mestre.

Gostaria de apresentar resumidamente alguns dos meus resultados, pois acredito ser importante ter informações científicas sobre o esporte que praticamos e tanto adoramos.

Tema: Atividade da creatina quinase (CK), lactato desidronenase (LDH) e nível de citocinas no plasma de atletas após 4-5 dias de competição de uma corrida de aventura (444 km)

Justificativa: A corrida de aventura é um esporte de ultra-endurance caracterizado pela prática intermitente de modalidades de esportes de aventura (outdoor). diferente das modalidades convencionais, os atletas permanecem vários dias praticando atividades físicas continuamente, muitas vezes com privação do sono, caracterizando-a como modalidade extenuante. Por ser uma modalidade recente, são poucos os estudos que verificam as alterações fisiológicas dos atletas praticantes, nos períodos após a competição e recuperação. Além disso, esse é o primeiro estudo sobre os efeitos da competição na atividade da CK e LDH e na resposta inflamatória determinada pela concentração das interleucinas IL-1β, IL-6, IL-8, IL-1ra e TNF-α e do hormônio cortisol.

A creatina quinase (CK) e lactato desidrogenase (LDH) são enzimas catalisadoras do sistema energético que possuem uma relação direta com lesão muscular do tecido cardíaco e estriado (muscular). Quanto mais elevados os valores no plasma, maior é o indicio de que há lesão muscular. Por isso, estas enzimas são utilizadas como marcadores bioquímicos. Por outro lado, as citocinas são proteínas secretadas pelas células do sistema imune que atuam como substâncias sinalizadoras entre elas. Quando ocorre lesão na fibra muscular, as citocinas são secretadas com o intuito de comunicar algumas células do sistema imune para restaurar a porção que foi lesada durante o exercício. Baseado nisso, a alta concentração desses marcadores acima descritos, mostra a extensão da lesão e inflamação causada pela atividade física.

Com isso, o objetivo do meu trabalho foi verificar se há lesão muscular durante a realização de uma corrida de aventura e verificar as concentrações de citocinas como marcadoras de inflamação e do processo de regeneração muscular.

Metodologia: Foram selecionados atletas que iriam participar do Ecomotion/Pró 2005, Serras Gaúchas, com um critério vigoroso, porém simples, para participar do estudo: todos os atletas deveriam ser voluntários a retirar sangue antes e depois da prova e deveriam completar a competição independente do tempo. Assim, dos 18 atletas pré-selecionados somente 11 participaram do estudo, já que nem todos conseguiram terminar a prova.

Meu trabalho foi realizado em 3 fases:
Fase I – os atletas passaram por uma entrevista participativa, realizaram mediadas antropométricas e testes funcionais para caracterização da amostra;
Fase II – coleta de sangue 3 dias antes da largada da prova para análises bioquímicas no período de repouso
Fase III – coleta de sangue imediatamente após o termino da prova, 4 e 16 hs do período de recuperação

Resultados:

Como existem poucos artigos científicos sobre corrida de aventura, tive muita dificuldade em relacionar e basear meus dados.

Quando começamos este estudo traçamos algumas hipóteses em cima de alguns trabalhos publicados com modalidades de ultra endurance (ultra-maratona e Ironman.), já que a literatura relacionada a artigos científicos de corrida de aventura é quase escassa. Verificamos de um modo geral, que as modalidades de ultra endurance provocava um aumento exacerbante nas concentrações de LDH e CK no término das modalidades. Assim, apostamos que os atletas de corrida de aventura também terminariam a prova de 5 dias com altas concentrações de CK e LDH , o que significaria um alto grau de lesão muscular, e com concentrações de citocinas plasmática pró e anti-inflamatória bem elevadas, indicando uma possível reação inflamatória aguda. Para a surpresa de todos isso não aconteceu. Os atletas apresentaram no término da prova e durante o período de recuperação, baixa concentração das enzimas, e as citocinas não apresentaram diferença entre as coletas sanguíneas.

Conclusão: Uma questão ficou e é bastante claro para mim: durante a prática de exercícios extenuantes e de longa duração, o organismo lança mão de alguns mecanismos de “adaptação” e principalmente de proteção, para combater o excesso de fatores bioquímicos e celulares liberados durante este longo período de estresse. Ainda é cedo para afirmar qualquer algum, pois é um estudo inicial do assunto...com isso muita outras dúvidas surgiram e surgirão ainda sobre esse esporte.

.....O QUE É MAIS PREJUDICIAL, FAZER UMA PROVA DE 500 KM... - TREINADO É CLARO!!!!! - OU JOGAR FUTEBOL NA SEGUNDA À NOITE E DEPOIS FICAR SE RECUPERANDO DA DOR MUSCULAR O RESTO DA SEMANA?

Gostaria de agradecer a todos os envolvidos nesse trabalho:
Aos atletas que fizeram parte desse estudo, ao enfermeiro Marcelo Santos, aos membros do laboratório de Fisiologia Celular do ICB/USP - principalmente ao Prof. Dr. Rui Curi, minha orientadora Profª Dra. Tânia Pithon-Curi, minha namorada Profª Ms Fernanda Bredariol, Prof. Marcio Campos, pelo apoio em todos esses anos, e a todos integrantes da FAMÍLIA SELVA que ganhou um novo reforço Bento Dinamite, filho da Carol Hess e Duda Bley.

Prof. Ms Carlos Fonseca
Atleta e navegador da equipe Selva NSK Kailash

Carlos Eduardo Fonseca (Caco)
Por Carlos Eduardo Fonseca (Caco)
19 Ago 2008 - 21h25 | Cientifico |
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