Relato da Kayapó SsangYong na Trilhas Pé de Poeira - categoria Aventura

Por Jalon Medeiros - 02 Set 2008 - 16h58

Por parte de nossa equipe, a expectativa para essa prova era muito grande. Após bater na trave nas duas últimas etapas, estávamos bastante motivados a tentar fazer melhor dessa vez. Mas após o briefing, ao conhecermos o percurso, as distâncias e ao vermos como algumas equipes vinham bem reforçadas, tínhamos consciência de que completar a prova já seria um grande feito.

O atraso na largada só serviu para aumentar ainda mais a ansiedade. Confesso que jamais estive tão nervoso antes de uma prova. Largamos do pórtico de entrada da cidade de Tibau do Sul num pedal muito forçado até o distrito de Cabeceiras onde faríamos a transição para uma alça de uns 8km de trekking. Toda essa ansiedade acabou se refletindo em um erro de navegação que nos fez bater o PC01/AT01 em sétimo. Tentamos conter a euforia inicial para atacar os 3 PCs seguintes com mais tranqüilidade. No percurso, muita lama e areia fofa trataram de maltratar nossos pés logo de começo e, para nossa surpresa, assinamos o PC3 em primeiro, sem ter ultrapassado ninguém. De volta ao PC onde deixamos as bicicletas, partimos pra um trecho bem pesado de se pedalar, com mais lama e areia. No caminho outra bobeira na navegação, e a insistência no erro nos fizeram perder mais tempo.

O dia já estava claro quando encontramos os Bichos do Mato. Dali em diante, fizemos um longo trecho juntos, conversando sobre a prova, algumas brincadeiras, compartilhando comida. Passamos pelo distrito de Catu, pela cidade de Vila Flor e chegamos à bela cidade de Barra de Cunhaú, PC09/AT03, depois de uns 33km de pedal. Ali faríamos a travessia do rio Curimataú, o que pareceu preocupar os moradores locais. A correnteza era muito forte e várias pessoas nos recomendaram subir o rio para não correr o risco de ficar à deriva na boca da barra. Ao chegarmos do outro lado, arrisco dizer que havíamos sido empurrados mais de meio quilômetro rio afora.

O sol começava a esquentar quando iniciamos um trekking por praias paradisíacas, praticamente desertas. Após quase 8km, paramos em Baía Formosa, PC10, onde um dos atletas realizaria um bate-e-volta a nado e aproveitamos para nos alimentar e reabastecer. Mais 8km pelas belas praias até encontrarmos a trilha de entrada na Mata Estrela, onde após mais de meia hora de caminhada subindo dunas, encontramos a famosa Lagoa da Coca-Cola, com suas águas curiosamente escuras. O sol já castigava demais e foi nesse ponto que nos separamos dos Bichos do Mato, que abriram alguns minutos de vantagem sobre nós.

Mais um longo trecho de trekking pelas trilhas da Mata Estrela nos faziam desejar chegar logo à transição para o remo. Ninguém agüentava mais andar, mas o engraçado é que naquele ponto nós reclamávamos sem saber o perrengue que ainda vinha pela frente. Toda a felicidade que tivemos ao chegar ao PC13/AT07 por finalmente poder descansar as pernas e receber a notícia de que os Bichos do Mato ainda não passaram por ali foi logo embora quando começamos a carregar os caiaques. Aqui caberia um belo palavrão pra expressar o quanto pesavam e o quão longe ficava o rio. Mas tudo bem, acreditávamos que depois disso, não haveria outro trecho tão difícil...

Porém, nada é tão ruim que não possa piorar. Entramos no rio remando com maré morta, e apesar de torcermos para que a correnteza demorasse a virar, sabíamos que isso logo aconteceria. Quando saímos dos pequenos afluentes e entramos no braço principal do rio, a força que fazíamos para vencer a corrente era absurda para quem já vinha com quase 12h de prova. Se parássemos de remar, andávamos pra trás. Além disso, o caiaque oceânico não é um exemplo de conforto e ergonomia, e logo ficamos com as pernas travadas e as costas pra lá de doloridas. De longe a pior parte da prova.

Após muito sofrimento e 11km que mais pareciam 111, chegamos ao PC14 para voltar às bicicletas. Seguimos por Sibaúma, onde atravessamos o rio de balsa e pegamos um bom trecho de asfalto onde pudemos acompanhar o belo espetáculo que o sol dava ao mergulhar rapidamente no horizonte. Entramos então em uma estrada de barro bem acidentada para voltarmos a Cabeceiras e de lá finalmente para a chegada. O cansaço, o esgotamento e a fome eram tão grandes que mal conseguíamos comemorar, mas o sentimento de realização e o espírito de dever cumprido que só sente quem conclui um perrengue desses eram muito maiores do que qualquer coisa.

Jalon Medeiros
Navegador Equipe Kayapó SsangYong

Jalon Medeiros
Por Jalon Medeiros
02 Set 2008 - 16h58 | nordeste |
publicidade
publicidade
publicidade
publicidade
Cadastro
Cadastre seu email e receba as noticias automaticamente no seu email diariamente
Redes Sociais