Relato de Thiago Mól (Trotamundo) na Brasil Wild 24 horas

Por Thiago Mól - 17 Set 2008 - 09h28
Há muito tempo esperava ser convidado por alguma equipe de grande projeção nacional para compor o seu quadro de atletas, e esse convite aconteceu em Junho, vindo da equipe mineira Trotamundo, que eu já admirava há algum tempo, pois nunca foram muito badalados pela mídia, mas estavam sempre incomodando e completando pódios pelas provas Brasil afora. A BW 24h foi a minha 3ª participação, nas duas primeiras havíamos terminado em 2º lugar e agora sabíamos que a dificuldade seria muito maior, pois praticamente todas as equipes tops do Brasil estariam em Gonçalves buscando o primeiro lugar. O time foi formado por mim, Thiago Mól (MG, mas residente no ES), Larissa Lima (DF), Alexandre Teles (Dino) e Flavio Vianna, ambos de BH. Seria a nossa 2ª participação juntos objetivando chegar ao Ecomotion com o time afiado, já que o nosso navegador principal Ézio Rubbioli, não poderá estar presente no mundial. Chegamos a Gonçalves na sexta-feira no final da tarde, ficamos hospedados na Pousada Kalevala (que seria o PC 6) juntamente com a equipe Quimera, amigos de longa data. O local era lindo, paradisíaco, realmente o Júlio e sua equipe sempre conseguem nos levar as cidades de imensa beleza em todas suas provas. No dia da largada acordamos cedo e nos preparamos para o desafio que seria vencer os grandes morros do município, seguimos para o centro de Gonçalves, que por sinal estava bem movimentado, tanto pelos atletas como pela população local, que vislumbrava aquele monte de gente eufórica, todas adrenalizadas e com roupas coloridas. Após uma breve conversa, decidimos ser um pouco mais conservadores na largada, deixando as equipes mais fortes irem mostrando o caminho para nós no início, já depois do PC6 tentaríamos puxar um pouco na bike e recuperar tudo no 2º trekking. Pois bem, como diz o velho ditado “na prática à teoria é outra”, pois assim que deu a largada já estávamos entre as primeiras equipes, realizando a ascensão para o PC1 buscando chegar ao topo para assinar o mais rápido possível e evitar o congestionamento que geralmente se forma no início das provas, acabou que assinei em primeiro, seguido muito de perto por pelos ponteiros (com certeza a Larissa deve ter me xingado muito). A partir desse ponto começaram a ser divididas as equipes e não fizemos diferente, deixamos o Flavinho e a Larissa livres para ir para o ponto 3 e seguimos para o PC2, passamos entre as primeiras de novo e seguimos para o PC 4, mas o caminho que descia do topo do morro para o PC 3 era muito melhor que a trilha que se estendia até o PC4, daí decidimos descer logo e chegamos ao ponto 3 na frente da nossa dupla, assinamos e seguimos em frente, rumo ao “fácil” ponto 4. Digo fácil porque era só seguir a estrada que subia até o colo do morro, subir uma trilha de terra a esquerda muito íngrime e depois regressar e subir o morro contrário, pronto, era só ter feito isso. Mas fica aqui um depoimento de navegador, quanto mais fácil o trecho, mais fácil será você errar nele, pois nesse momento nos só pensamos em socar e acabamos esquecendo a navegação. Pois bem, foi isso que aconteceu, me desconcentrei um pouquinho só e pronto, perdemos 45 minutos imprescindíveis, pois em uma prova que estavam presentes as melhores equipes do país, errar é pedir para perder. Caímos das primeiras para a 23º posição e a partir daí iniciamos a nossa prova de recuperação, pois chegamos ao PC6 e ficamos sabendo através da nossa dupla que as primeiras estavam 1:30 hs na frente. Saímos de bike em direção a Gonçalves e mal começamos a pedalar meu pneu furou a passar por cima de uma pedra, trocamos rápido e continuamos nosso caminho, seguíamos em direção ao PC7, onde seria realizado o vertical, começamos a passar várias equipes nesse trecho e algumas que também não víamos, pois pegamos o caminho que não havia sido atualizado pela organização, enquanto a grande maioria das equipes pegava o tradicional, teoricamente o mais curto, mas muito duro por sinal. Chegamos ao PC7 em 10º lugar, mas acompanhados de várias equipes a nossa frente que ainda se encontravam ali e algumas que estavam logo atrás, também esperando para realizar o vertical. Dino e Flavinho fizeram muito rápido, enquanto eu a Larissa ficamos comendo e estudando o próximo trecho, que teoricamente era fácil. Bom, já viram que tenho certo problema com trechos fáceis né e adivinhem o que aconteceu logo depois do rapel ??????........Isso mesmo, mais uma perdida básica, agora menor, de aproximadamente 20min, empolgados pela descida gigantesca, entramos a esquerda em uma bifurcação que nos induzia a descer e andamos 1km para baixo, para descer todo santo ajuda mesmo, mas para subir.......sem comentários. Retornamos a prova e seguimos para o PC8 onde para nossa surpresa, chegamos novamente em 10º lugar, bom, isso mostra que outras equipes também se perderam para trás, menos mal. Saímos para remar e os galhos não ajudavam, correnteza fraca, muitas árvores caídas e algumas portagens depois chegamos ao PC9, onde encontramos um achocolatado esperando a gente, bebemos, nos arrumamos e partimos para o trekking, que prometia ser duro, já deveríamos transpor 2 grandes serras para chegar ao ponto 10. Bem, na saída do trekking a equipe gaúcha Ratos de Trilha nos acompanhou, juntamente com o atleta solo Humberto Couto, nosso amigo de BH. Tentamos deixar a Ratos ir à frente, pois tínhamos uma tática de navegação diferente, que não era subir pela estrada plotada no mapa, mas sim pela crista de um morrote que ficava mais a esquerda e que nos exigia menos força fisicamente e automaticamente andaríamos mais rápido, porém, eles pararam para ajeitar algo ou foi uma estratégia de nos deixar ir à frente e acabamos passando por eles, com isso começamos a apertar o passo, pois não queríamos que nos vissem entrando pelo pasto. Mas não adiantou muito, eles também andaram muito bem atrás da nossa equipe e acabaram descobrindo a nossa estratégia. Lembro que quando chegamos no PC7, procurei saber o tempo da equipe que estava a nossa frente e até o momento era a Lontra Radical, a 45min na frente. Era praticamente impossível alcançá-los, mas não podíamos desistir, pois tínhamos que nos testar para o mundial e por isso que não paramos de correr um segundo durante a noite e também pelo frio, claro. Durante a corrida em direção ao primeiro morro, observamos lanternas no alto da montanha, isso nos deu mais energia e puxamos ainda mais o ritmo. Voltando à saga entre Trotamundo x Ratos de Trilha, seguíamos a frente pouca coisa e quando caímos na estrada eu escolhi uma opção, enquanto o grande navegador da Ratos, o Jean Finckler, escolheu ir por outra rota pois ele havia terminada o trekking em trilha mais próximo de uma entrada a esquerda, enquanto nos terminamos a nossa trilha próximo de uma casa, mais a direita e próxima de uma outra entrada. Acabou que no final deu praticamente na mesma, com pequena vantagem para eles. Nesse momento, sentimos que estávamos sobrando e apertamos ainda mais o passo, iniciando assim a subida rumo ao ponto 10 sozinhos, pois próprio Humberto Couto que nos acompanhava até ali ficou um pouco para trás para se alimentar e trocar suas roupas. Para nossa surpresa, quando iniciamos a subida, eis que se acendem algumas lanternas a algumas dezenas de metros da gente, era a Lontra Radical !!!!!!!!!!! Nossa vocês não podem imaginar o quanto isso dá moral a uma equipe. Recomendação? Nunca acendam as lanternas à noite, ainda mais quando estiver com lua cheia, no caso de se necessário, todos fiquem em volta do navegador e somente ele ligue a lanterna, pois naquele momento nossa moral subiu ate o fio mais alto de nossas cabeças. Passamos pela Lontra Radical, que possui por sinal atletas tarimbados na Corrida de Aventura, isso mostrava mais um sinal que se não fossem os meus pequenos erros de navegação poderíamos estar brigando um pouco mais a frente. Chegamos ao PC10 já em 6º lugar, isso após transpor um abismo de 10mt e deixarmos a Ratos, Lontra e Humberto para trás, agora era focar na frente e buscar a próxima equipe, claro que tomando cuidado com a galera que estava colada logo atrás. Na chegada ao PC10 vimos à equipe carioca Ecolabore saindo do ponto, nossa, havíamos recuperado muita coisa em uma prova teoricamente curta, mas muito dura, jogamos todas nossas coisas nas mochilas, comemos algumas frutas e saímos para o trecho final de prova, babando atrás da equipe carioca, mas mal andamos 5m uma ingrata surpresa, o pneu do Flavinho estava furado, mas não deixamos nos abalar por aquilo não, trocamos rápido o pneu e iniciamos a perseguição. Após sairmos do PC10, descemos algumas centenas de metros e posteriormente deveríamos pegar uma subida a direita, nessa hora observamos algumas lanternas se movimentando um pouco abaixo da entrada correta e acreditamos que poderia ser a Ecolabore. Iniciamos o trecho seguinte então alucinados, imaginando que poderia ser eles sim, mas também o solo Zé Reginato, que também havia saído do ponto na nossa frente. Bom, de qualquer maneira pouco importava quem era, pois focamos que faríamos força ou para abrir da equipe carioca ou para encostar na mesma......e foi essa última opção que aconteceu, infelizmente quem estava um pouco confuso pela entrada era o Reginato, pois na última subida da prova, podemos observar as lanternas da equipe rival. Terminamos a subida pilhados e ainda tentamos alcançar os caras, pois na minha cabeça passava um filme, se meu pneu havia estourado em uma descida no começo de prova, porque o deles também não poderia? Mas não foi isso que aconteceu e acabamos chegando em 6º lugar. Para surpresa da Eco, eles pensavam que a Lontra era quem estavam logo atrás e no final nos abraçamos e tiramos várias fotos juntos, pois todos já nos conhecemos a bastante tempo.  No fim, chegamos a conclusão que temos um poder de reação muito forte, que geralmente me desconcentro em trechos simples e que o time vai para o Mundial para fazer o seu melhor. Acabamos melhorando muito da ultima prova para essa, o que motivou todo o grupo e aprendemos que o nosso maior adversário é a nossa cabeça, pois a partir do momento que dominamos isso na prova, passamos a andar muito soltos, inclusive liderando parciais em alguns trechos de provas. Parabéns a todos os atletas e também à organização do Júlio, Alemão, Simone, Jeff e todo mundo envolvido direta e indiretamente, esperamos estar presente em todos os eventos Brasil Wild.
Thiago Mól
Por Thiago Mól
17 Set 2008 - 09h28 | relatos |
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