Diferente das ondas que a equipe havia enfrentado no Rio de Janeiro e no teste de canoagem no Marrocos, o trecho final do remo tinha ondas de 4,5 m. O mar agitado e perigoso obrigou a organização a resgatar sete equipes em alto mar, que seguiriam de carro e sofreriam uma penalização para compensar a saída da água antes do previsto. Entre as equipes, uma da Croácia, que por pouco não registrou o primeiro óbito em corridas de aventura até então. Apesar da imprensa pouco divulgar o ocorrido na época, a mulher da equipe se afogou muito próximo da chegada da etapa e foi retirada desacordada do mar pelos guarda-vidas. Por muita sorte, a proximidade da equipe de resgate salvou a vida da atleta.
O acidente aconteceu pouco antes da chegada dos atletas da Brasil 500 anos, que foram recebidos como heróis pelos organizadores, que choravam enquanto abraçavam os brasileiros que não sabiam o que estavam acontecendo.
Passado o susto, Mark Burnet desabafou: “Hoje o Eco-Challenge esteve no limite entre o perigo aceitável e o inaceitável. O segundo dia de caiaque marcou todos os participantes daquela prova”.
Após a remada, na entrada para o terceiro dia de prova, as equipes encontraram pela primeira vez a caixa de reabastecimento, de onde partiriam para um trekking de 120 km, com um trecho de vertical no caminho, finalizando com 40 km de cavalgada.
Apesar do preparo físico, a falta de experiência começou pesar para a Brasil 500 anos no longo trekking. O treino de navegação em mapas com escala de 1:50.000 dificultou a navegação oficial da prova, que dispunha mapas de 1:100.000. Pra piorar, um terreno árido, sem trilhas e sem água pelo caminho.
Cansados do duro remo, os brasileiros receberam o segundo lote de mapas juntamente com as caixas de reabastecimento. Tinham que se dividir entre plotar os mapas, se alimentarem e separarem os equipamentos e alimentação necessária para a perna de 120 km.
Um bônus furado de 10 horas de carro até o início do trekking acabou atrapalhando ainda mais a vida da equipe. Como o motorista cedido pela organização resolveu parar para dormir, a Brasil 500 anos acabou fazendo o percurso em 11 horas e, na correria para o retorno à prova, acabaram esquecendo no carro a comida que levariam para o trekking. Famintos, os competidores pediram comida nas poucas vilas que passaram, com direito a pão árabe e batata.
Enquanto algumas equipes pararam para dormir e esperaram amanhecer, a preocupação com a alimentação escassa obrigou os brasileiros a seguirem noite adentro. Enquanto o Leo saiu para procurar a trilha que rumaria ao rapel, os outros ficaram dormindo. No retorno do navegador, os sonecas não ouviram os gritos e o Leo seguiu andando sozinho à procura dos companheiros, só encontrados ao amanhecer.
Como não acharam a entrada correta, a equipe resolveu azimutar por uma trilha alternatica e caminhar até um rio, que ficava há cerca de 2 km do próximo PC. Horas depois, ao chegarem ao ponto que levaria ao rapel, se depararam com um rio largo, profundo e congelante. A opção foi voltar literalmente correndo ao ponto inicial, buscar a trilha certa e ainda fugir do corte, programado inicialmente para as 17hrs.
Exaustos e fracos pela pouca alimentação, os atletas chegaram a desistir de procurar pelo PC por acharem que tinham sido cortados, mas o corte tinha sido alterado para as 10hrs do dia seguinte. Já sendo considerada equipe perdida pela organização, a Brasil 500 anos só encontrou o PC do rapel à noite, já no quarto dia de prova. De vigésimo para a penúltima colocação.
“Ficamos presos em uma encosta na trilha alternativa. Calculo que andamos pelo menos 90 km a mais neste Eco Challenge”, Uriel.
A situação da equipe brasileira ficaria ainda pior no trecho do rapel, que, pelo nível de dificuldade geográfica impedia a assistência da organização. Já na madrugada do quarto dia, os brasileiros tinham que enfrentar o rapel, sem acompanhamento de staffs e ainda tentar usar cordas de apoio no final do trecho para não se molharem. Cansada, a atleta Flavia não alcançou as cordas e caiu de costas na água, numa temperatura muito próxima de zero grau. Quase congelada, a atleta recebeu uma peça de roupa seca de cada um de seus companheiros e conseguiu se aquecer. Na saída do vertical, ovos doados pelos receptivos locais, antes da cavalgada de 40 km.
No fim do trecho, o segundo e último encontro com as caixas de reabastecimento e o conhecimento do que seria a etapa final da prova: 60 km de trekking em altitude que chegava a 4.100 m e 190 km de montain bike para encerrar.
A Brazil 500 years, como os gringos os chamavam, terminou a prova de 480 km percorridos em 10 dias 9h58min, na 27ª colocação. A primeira equipe, a americana Team Vail, fez o percurso em 6 dias 22h15min.
“É difícil descrever para quem nunca passou fome, sede, frio e medo do que é um Eco Challenge. A prova é um teste de sobrevivência e você tem pesadelos com ela depois que termina. Passamos por várias situações complicadas nestes 10 dias, mas por incrível que pareça sempre achamos uma saída. O mais incrível é que estávamos sempre felizes da vida. O Eco-Challenge foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida, depois dos meus dois filhos”, Uriel.
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