Ainda em 1999, os brasileiros foram convidados para o ‘Desafio Invierno’, na Patagônia, com modalidades totalmente desconhecidas por eles. Entre elas: snow shoes, esqui, caiaque glacial e corrida em trilhas com neve. Uma equipe de filmagem foi convocada para acompanhar a equipe e acabou se fartando com o festival de tombos dos brasileiros que nunca tinham esquiado.
“Fomos os caras mais filmados do evento, porque éramos um dos favoritos, mas os únicos que não sabiam esquiar”, Leo.
A experiência serviu de treinamento para a segunda participação da Brasil 500 anos no Eco Challenge. Na Patagônia de 1999, em apenas sete dias, os já experientes brasileiros, com a atleta Laura substituindo a Flavia, ficaram com a 17ª colocação, na etapa considerada até então, a mais dura de todas as Eco Challenge.
“O Eco Challenge era uma prova de milhões de dólares e que o mundo todo queria participar. Envolvia tanto dinheiro que nas duas edições os organizadores mandaram cinegrafistas pra filmar a nossa equipe treinando em Belo Horizonte”, Uriel.
O esporte no Brasil
A estréia da equipe em corridas de aventura no Brasil se deu ainda em 1999, na EMA Petar, porém marcou a primeira desistência da equipe, formada por Uriel, Tony e a canoísta Carmen, que entrou para a equipe na véspera da prova. Embora tivesse chegado a liderar aquela EMA, a Brasil 500 anos precisou abandonar a prova devido a um problema em um dos joelhos do Tony.
No ano seguinte, já acostumada às câmeras no exterior, a Brasil 500 Anos acabou frustrando a equipe de filmagem da EMA 2000, Paraty-Ubatuba. O grito de guerra da equipe desanimou os cinegrafistas loucos por uma provocação: “Vacas mugindo, ruminando no pasto, com um mosquito assentado, dormindo no chifre". Enquanto eles brincavam, as outras equipes disputavam a preferência com gritos e insinuações.
“Acho que por estarmos afastados das outras equipes, não participávamos do tititi que existia em São Paulo como ‘quem está treinando o que ou quem disse o que de quem’. Simplesmente vínhamos bem treinados e já com alguma experiência para competir. Como treinávamos muito e sempre juntos, isto trazia certos vícios e também brincadeiras, que integravam a equipe e criava um clima todo especial de amizade entre todos”, Leo.
A integração da Brasil 500 anos de 2000, desta vez composta pelos atletas Uriel, Leo e Rosane, a colocou na briga da liderança com a norte-americana Epinephrine. Num longo trekking, eles estavam apenas 2 horas atrás da equipe americana e há 8 horas na frente da terceira colocada. A Brasil 500 anos estava decidida a buscar a vitória e a fugir de um corte estipulado no fim do trekking e entrada do rafting. No desespero pelo objetivo, a equipe seguiu a todo vapor saindo da cota zero até 1.300 m pela Serra do Mar, na divisa entre Rio de Janeiro e São Paulo. No frio da madrugada em altitude, os atletas simplesmente cortaram o forro isolante da água da mochila e o usaram sobre o peito, para se protegerem do vento e da baixa temperatura.
Além do frio, o cansaço do terceiro dia de prova e o excesso do esforço físico para fugir do corte acabaram atrapalhando a navegação e a equipe se perdeu. A equipe se abateu quando deu o horário do corte e acabou desistindo da prova. Na chegada ao PC do rafting, machucados e abalados psicologicamente, descobriram que o corte havia sido transferido para às 10 horas da manhã do dia seguinte.
“Ficamos muito chateados com a maneira que as outras equipes e a imprensa tratou a nossa desistência. Falaram muitas bobagens e ninguém procurou saber a verdade. Acho que poucas pessoas conheceram as razões que levaram a nossa equipe a abandonar aquela prova. A Brasil 500 anos iria ganhar e até hoje fico sem dormir quando lembro do que aconteceu naquele dia”, Uriel.
“Fomos prejudicados! Poderíamos ter ido tranqüilamente, administrando nossa vantagem sobre o terceiro colocado”, Leo.
Os últimos tempos
Desde 2001, a Brasil 500 anos tem alternado seus integrantes. Mesmo longe das corridas de aventura, os ousados amigos Uriel e Leo percebem a evolução lenta, mas gradual do esporte e dos atletas no país. Para eles, além das lembranças daqueles tempos, fica a marca da primeira equipe brasileira a participar de uma corrida de aventura, da maior corrida de aventura de todos os tempos: o Eco Challenge.
Uriel e Leo chegaram a se arriscar como organizadores, ao promoverem a única etapa do Desafio das Geraes, em 2000. No ano seguinte, diagnosticado com hérnia de disco, Uriel abandonou as corridas de aventura e passou a se dedicar à sua empresa MySky Tecnologia, cujo atual sócio, João Lisboa, ele conheceu ao apresentar um projeto de patrocínio para o Eco Challenge 1999.
“Não está sobrando tempo, mas um dia volto a correr aventura. Sem o compromisso de ganhar, simplesmente por pura diversão”, Uriel.
A última participação de Uriel em corridas de aventura foi em 2004, na Ecomotion Serra do Cipó, quando correu pela primeira vez fora da Brasil 500 anos, numa equipe de novatos, chegando na sexta colocação. A participação naquela Ecomotion deu a Uriel a percepção de como as corridas de aventura estavam evoluindo no país. Para ele, quando a EMA acabou pelos problemas de saúde do organizador, Alexandre Freitas, a prova era melhor organizada que a Ecomotion em seus primórdios.
“A etapa Serra do Cipó foi a melhor prova que fiz no Brasil, contraste com as primeiras Ecomotion, que foram as piores provas de aventura que fiz. Naquela etapa do Cipó, a organização foi perfeita e já existiam equipes profissionais no país. Tudo tinha mudado! A EMA acabou, mas tinha tudo pra evoluir, assim como o Ecomotion, e virar uma das melhores provas do mundo. Hoje temos excelentes corredores e equipes e a Ecomotion virou uma das melhores corridas do mundo. E isto em menos de 10 anos. Todos estão de parabéns! Pelas características geográficas do Brasil, temos a matéria-prima pra fazer as melhores corridas de aventura do mundo”, Uriel.
A saída do Leo da Brasil 500 anos aconteceu de forma mais gradual. O primeiro passo foi justamente a partir do afastamento do amigo da equipe, quando o Leo precisou assumir as tarefas logísticas tão bem executadas pelo Uriel até então. O que o Leo considerava um dom natural do Uriel, para ele era a parte mais chata. Na seqüência começaram as trocas de integrantes, com a mudança da Laura para os Estados Unidos e as infinitas tentativas de substituí-la.
“O nível das corridas estava se elevando e já não admitia amadorismos como integrantes novos disputando a ponta”, Leo.
A participação do Leo nas competições se tornou menos freqüente também com o lado profissional pesando. Apesar disso e com um novo parceiro, um dos três filhos, então com 12 anos, o Leo ainda venceu o circuito mineiro de aventura. A nova dupla chegou a participar também de um Iron Biker e, ao lado do Uriel, tentaram subir o Aconcágua. Em 2004, a Brasil 500 anos foi campeã mineira de corridas de aventura.
“Aconteceu com a gente o que acontece de maneira rotineira com as pessoas por aí: A vida profissional começa a devorar a vida esportiva. Eu até que segurei bastante. Dividi meu tempo com as três coisas principais: 1º família (mulher e 3 filhos); 2º treinos e provas; 3 trabalho. Sou oftalmologista e, assim como nas competições, não gosto de andar atrás. Preciso estar em constante contato com a evolução da profissão”, Leo.
A última prova do Leo? Um concurso de vídeos, num congresso internacional de catarata e cirurgia refrativa, em abril deste ano. Premiado na principal categoria, o oftalmologista levou pra casa 40.000 dólares.
“Jamais ganhei tudo isto nas Corridas de Aventura”, Leo.
A última aventura? Antes das férias de julho no Ushuaia com a família, onde reaprendeu a esquiar e se recordou das provas na Argentina, ele foi viajar de moto com os amigos pela América do Sul. Alguns momentos ficaram registrados no blog: www.machupicchudemotoviaatacama.blogspot.com
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